Antero de Quental
«Antero Tarquínio de
Quental (1842-1891) nasceu em Ponta Delgada, Açores.
Frequentou a Universidade de Coimbra, tendo passado depois algum tempo em
Paris. Viajou pelos Estados Unidos e Canadá, fixando-se em Lisboa. Pertenceu à
chamada Geração de Setenta, grupo que pretendia renovar a mentalidade
portuguesa, e participou nas Conferências do Casino. Foi amigo, entre outros,
de Eça de Queirós e Oliveira Martins. Atacado por uma doença do foro
psiquiátrico, regressa aos Açores onde se suicida. As suas obras vão da poesia
à reflexão filosófica: Raios de
Extinta Luz, Odes Modernas, Primaveras
Românticas, Sonetos, Prosas e Cartas.» (http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/antero.htm).
As leis do universo são as leis do Espírito. O
espiritualismo resolve-se num “Dinamismo
Psíquico. Conciliação do Dinamismo Psíquico e Mecânico, forças perfeitas e
imperfeitas. A filosofia científica, opõe-se ao empirismo, o transcendente dá
lugar ao realismo, a dedução à indução. Esta filosofia da natureza tem como
alma o “Realismo” que assenta no “Mecanicismo”. Em duas obras importantes,
a nível filosófico, pode-se delinear um pouco melhor o pensamento de Antero de
Quental.
Causas da Decadência dos Povos Peninsulares –
Analisa a decadência em três níveis: Moral e Religioso, que tem como causa a
Contra-Reforma; Político, que resultou da centralização e absolutismo; económico,
cujas consequências se podem atribuir à expansão marítima e na ausência de
indústrias.
A Religião era a criação da Península Ibérica, e as
pessoas adoravam os santos padroeiros de cada terra. De uma Fé e de um
Cristianismo passou-se a um dogmatismo, de sentimento passa-se à
institucionalização, o cristão transforma-se em católico.
O Concílio de Trento sujeita o homem na terra ao
poder da Igreja, pelo dogma do pecado original, a razão humana torna-se um
pecado, uma falta. A Eucaristia é uma sujeição, uma idolatria. Na confissão, a
alma é incapaz de comunicar com Deus, sem ser através dos padres. Sujeição dos
Governos e das Nações ao poder de Roma. O catolicismo tornou-se o maior inimigo
das nações.
Política – O fanatismo e a intolerância geram a
indiferença, a inércia política e a redução das liberdades constitucionais,
horror ao trabalho, países de ociosos. O socialismo de Antero baseia-se na
Justiça, na liberdade de pensamento, na igualdade de oportunidades, revolução
em paz, em ordem, em liberdade. Mas a centralização e o poder régio absolutos,
que caraterizam o despotismo político, foram outros dos motivos da decadência.
Economia – É manipulada com a eliminação da burguesia dos
grandes negócios nacionais, a inexistência de estruturas para a indústria e
ausência desta, a Politica de transporte das especiarias orientais, em que
Portugal era apenas um intermediário transportador e não o detentor de tais
produtos, são outras tantas causas da decadência.
As tendências gerais da Filosofia do Século XIX –
Procurou Antero esboçar o seu sistema filosófico, buscando sempre a verdade,
que estaria na síntese de ideias contrárias, na conciliação possível entre os
opostos e, neste sentido, foi um eclético.
O seu principal problema
consistia na conciliação das antinomias: Determinismo-Liberdade; Absoluto-Realidade.
A primeira antinomia
(Determinismo-Liberdade), resumia-se ao seguinte problema: «a crise pode exprimir-se por estas
antíteses: Espiritualismo e Liberdade por um lado; Mecanicismo e Determinismo,
por outro».
A Filosofia é uma equação “Pensamento-Realidade”. A
Razão é sempre a mesma e a experiência é que muda. Há uma metafísica comum
entre todos os sistemas filosóficos, porque procuram uma teoria geral para o
universo. A Filosofia moderna avança a partir do progresso da ciência.
As ideias do espírito são as leis do universo. A
nova Filosofia funda-se na identidade do ser e do saber. A Ciência desenha com
traços finos as leis positivas do universo; a Filosofia interpreta as leis
superiormente.
A Espontaneidade – É a ideia-chave de toda a elaboração filosófica
de Antero de Quental, sendo a consciência o termo último e a mais enérgica
expansão da força espiritual, mas não o espírito. A força da espontaneidade constitui
a natureza dos seres e a própria natureza humana. Como critério de verdade e
fonte do conhecimento adotou o sentimento moral e o testemunho da consciência.
A Moral – É a perfeição da vida da consciência, que tende
para a realização de si mesma como a liberdade, e esta é a autodeterminação de
um ser agir, a partir de si próprio. Deus seria o ser mais livre se se pudesse
falar de Deus, mas Ele é o ideal de liberdade que atrai o homem. O progresso
está dependente da Lei Moral e esta é a perfeita Liberdade, tornando-se o
Dever, através desta Lei, “eu-amor”.
A Imortalidade – É a denúncia do egoísmo. O justo libertando-se,
liberta a Humanidade. A perfeição ou a perfeita virtude define a Liberdade e se
esta é o fim do Universo, a Santidade é o termo final de toda a evolução.
A Missão da Filosofia – É definir o espírito de uma civilização,
torná-la consciência de si mesma, de uma construção coletiva. As ideias
diretoras da vida devem ser flexíveis, para acompanhar as vicissitudes da vida,
e a síntese do pensamento moderno deve ser uma obra coletiva.
Bibliografia
ARRIAGA,
José de, (1980). “A Filosofia Portuguesa 1720-
PRAÇA,
J. J. Lopes, (1988). História da Filosofia Em Portugal. 3ª Edição. Lisboa:
Guimarães Editores.
RODRIGUES,
Anna Maria Moog, (1982) A Filosofia de Antero de Quental. In: Atas do I Congresso Luso-Brasil de
Filosofia. Revista Portuguesa de Filosofia – Tomo XXXVIII-II – Separata. Braga:
Faculdade de Filosofia.
Venade/Caminha –
Portugal, 2020
Com o protesto da minha perene GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de
Portugal
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