Começa a ser preocupante a frequência com que se
esquecem princípios, valores, sentimentos e emoções, depois de serem atingidos
objetivos, estes, quantas vezes delineados em equipa onde, supostamente, todos
os elementos estarão de boa-fé, se revelam sem máscaras, sem “falinhas mansas”, “sem filtros”, de
aparente boa-educação, sem palmadinhas nas costas, que se destacam por condutas
de respeito, de camaradagem, de consensos, no âmbito dos valores da
solidariedade, da amizade que entretanto se estabelece, da lealdade e da
cumplicidade.
O mundo, as nações, as comunidades, as instituições,
os grupos, as famílias e as pessoas funcionam em cadeia, em rede, em equipas,
especializadas numa determinada matéria, ou multidisciplinarmente, com grande
interdependência dos elementos entre si considerados, desejando-se que não haja
ninguém insubstituível, reconhecendo-se, porém, que existem pessoas de maior ou
menor dificuldade de substituição, seja pela perfeição com que exercem as suas
funções, e/ou pela especificidade dos respetivos conhecimentos e experiências.
Atualmente, vive-se numa sociedade de interesses, de
resto, como tem acontecido ao longo da História, todavia, a sofisticação para
concretizar objetivos inconfessáveis é uma especialização que supõe o que
vulgarmente se designa, em certos ambientes, e por especialistas na matéria,
como o “jogo de cintura”,
significando tal “jogo” que se deve “dar uma no cravo, outra na ferradura”,
prometendo-se a um e faltando-se a outro, porque o importante é atingir o
objetivo, um resultado, nem que para isso: se tenha de apunhalar, pelas
costas, quem nos lançou no caminho do
sucesso e nos ajudou, com todos os riscos; quem nos deu a mão; quem esteve
solidário e fielmente ao nosso lado; quem nos facultou todos os meios, recursos
materiais e sugestões, para se preparar o “combate”.
Na verdade: «É
triste ficar oscilando descontroladamente para aqui e para ali, com tal
instabilidade que desemboca, infalivelmente, naquela fossa tão nauseante como a
expressão catastrófica da “pessoa que morreu e esqueceu de ser enterrada” (…) O
homem oco e vazio é caracterizado por atitudes de total passividade e de
apatia, obedecendo a uma rotina enfadonha e enfastiante, com normas e espaços
rigidamente reservados para tudo, sem alterar aquele surrado e batido programa,
geralmente medíocre, pouco importando o interesse e os desejos das pessoas que
vivem ao seu lado. Tudo na sua vida gira em torno dele próprio, com uma rotina
só sua, massificante e doentia, que o acompanha até à morte.»
(FRANCESCHINI, 1996:29-30).
Hoje existem muitos líderes, nas mais diversas
instituições, que se consideram o “foco
central e luminoso”, à volta do qual devem “esvoaçar” os restantes colaboradores, não enquanto pessoas
titulares de inquestionável dignidade, mas como meros objetos, ou servidores
das mais absurdas e inaceitáveis elites, ou, ainda, como meros executores de
ordens arbitrárias e desumanas.
Hoje, alguns líderes, pretendem afirmar-se: pela
intransigência das suas posições; pela unilateralidade das suas decisões; pela
alegada “exemplaridade” das
resoluções; pela inqualificável insensibilidade social e profissional; enfim,
pensam que humilhando quem deles, ou das instituições que dirigem, precisam, se
tornam exemplo de excelentes lideranças, de executivos fortes e eficazes.
Ao contrário do passado, hoje: a palavra dada; a
decisão escrita, e assinada; não oferecem qualquer garantia, porque: os “trocadilhos” da linguagem; a semântica
dos vocábulos; os contextos; a intencionalidade sub-reptícia que se dá à frase;
as interpretações das entrelinhas, levam a situações verdadeiramente perversas,
nas quais as pessoas, que agem de boa-fé, são apanhadas, julgadas, condenadas e
sem direito à legítima e justa defesa. O contraditório, pura e simplesmente,
não existe e a mentalidade do “quero,
posso e mando”, impõe-se violentamente, ainda que sob a capa de um qualquer
aparente legalismo e/ou de aparentes “boas-maneiras”
Muitas pessoas procuram o protagonismo, o exacerbar
do egoísmo, contudo, recorrendo aos mais incompreensíveis processos de conduta
humana, à deslealdade e ao abuso de confiança, porque o importante é o “triunfo” do indivíduo, mesmo que para o
obter recorra a uma qualquer supremacia estatutária, legal, elite,
profissional, de um cargo mais elevado na sociedade, na instituição e na
equipa.
Em bom rigor: «O
individualismo é a crença na autoconfiança e na independência. Aqueles que
acreditam no individualismo, enfatizam a realização e o sucesso pessoais sem
precisar depender dos outros. Se qualquer coisa (ou pessoa,
sublinhado do autor) viola seus direitos
individuais, eles se livram dela. Sentem que têm o direito de alcançar
excelência pessoal a qualquer custo. Os seres humanos, na verdade, não
funcionam dessa maneira. Nós, seres humanos precisamos fundamentalmente das
outras pessoas para poder saber quem somos.» (BAKER, 2005:42).
A importância do se saber lidar com as pessoas, numa
perspetiva antropológica, é essencial para um bom relacionamento interpessoal,
e também para se evitarem conflitos e ofender os nossos semelhantes os quais,
quantas vezes, ou em algum momento, nos ajudaram, deram a cara por nós, em
projetos que, beneficiando um determinado público-alvo, ou resolvendo uma
situação, praticamente arriscaram muito nos diferentes contextos de suas vidas,
e até de seus familiares, são depois ignoradas, afastadas, através de
estratégias de autoritarismo, teimosias delirantes, recusa sistemática do
diálogo e não-aceitação de pontos de vista diferentes.
Liderar uma situação, um projeto, uma equipa, não é
capacidade de uma só pessoa, por muito “iluminada”
que ela se julgue ser, por muitos conhecimentos que revele, por muita
experiência que já tenha demonstrado, por mais avançada que seja a idade. O
líder, por si só, nada vai conseguir, se a equipa de colaboradores não estiver
motivada, se não for respeitada nos seus direitos, capacidades, princípios,
valores, sentimentos e emoções.
O dirigente que se preze, tal como o árbitro de um
jogo, deve passar despercebido, na circunstância, deve confiar nas equipas,
deixá-las darem o seu melhor, respeitar as suas iniciativas, principalmente,
quando estas visam melhorar os projetos, os objetivos, os resultados, enfim o
prestígio da instituição, do grupo, da sociedade e dos cidadãos em geral.
Liderar pessoas, não é a mesma coisa que liderar
objetos, conjugar números, manipular estatísticas, realizar “malabarismos” para impressionar e
captar, dissimuladamente, simpatias, colher a adesão a determinadas ideias,
para serem implementadas e, depois tirarem-se os dividendos dos respetivos
resultados, como sendo fruto de uma inteligência superior.
E se é verdade que as experiências acumuladas
noutros setores, tenham produzido bons resultados, isso não significa que em
instituições diferentes, tais práticas e conhecimentos sejam os que se devem
aplicar, podendo-se excluir aqui diversas normas ético-deontológicas, alguns
princípios e valores essenciais ao bom relacionamento e válidos em quaisquer
contextos porque: «As pessoas terão de
compreender que somos todos iguais, que somos todos o mesmo, que todos nós
lutamos por um pouco de paz, de felicidade e segurança no nosso quotidiano. Não
podemos continuar a lutar e a matarmo-nos uns aos outros.» (WEISS, 2000:140).
A vontade desenfreada de protagonismos, não olhando
a meios para se atingirem determinados fins, não é compatível, por exemplo, com
atitudes de cariz social, religioso, caritativo, nem sequer com a política no
seu sentido mais nobre, de resto nem deveria ser admissível, em nenhuma
circunstância, todavia é o que mais se verifica nas sociedades modernas, ditas
“civilizadas”, e, infelizmente, tais
condutas já invadem instituições, grupos de amigos e muitas famílias.
É necessário que as pessoas que sofrem destes
comportamentos, obcecadas pelo domínio sobre as outras, cuidem destes
transtornos de personalidade, que tenham a humildade de reconhecer que não são
mais, nem menos, do que os seus semelhantes, por mais destacados e exigentes
que sejam os cargos que ocupam, o estatuto socioprofissional e económico que
lhes sejam atribuídos.
Hoje, talvez mais do que no passado, o equilíbrio, o
bom-senso, a moderação, a tolerância, o sentido da entreajuda, fazem-se tão
necessários quanto determinantes para a resolução de inúmeros problemas, de
diversa natureza e também para uma convivência sadia, aberta, amiga, cúmplice,
não só interpares, como também na sociedade em geral. O conflito só é
importante quando, pelas ideias em confronto, encontram soluções para os
problemas e nos une cada vez mais.
Pretende-se com a presente reflexão, apenas, e tão
só, manifestar uma preocupação que atormenta muitas pessoas que, de alguma
forma, dependem de lideranças imponderadas, porque não buscam a moderação, a
tolerância, o bom-senso, a compreensão dos problemas individuais que, uma ou
outra vez, agem de determinada forma, contrária aos superiores valores e
interesses legítimos da dignidade da pessoa realmente humana.
É fundamental que tais chefias, à cabeça das quais
os respetivos líderes, se esforcem por utilizar uma democracia de boas
condutas, pelo respeito, pela iniciativa dos seus colaboradores, pela
dignificação dos princípios, valores, sentimentos e emoções, que em cada
momento eles manifestam.
É imprescindível atualizar procedimentos,
verdadeiramente humanos, para que toda a pessoa se sinta confortável,
estimulada no exercício das suas funções, quaisquer que estas sejam. Haja
respeito pela dignidade da pessoa genuinamente humana.
Bibliografia.
BAKER, Mark W., (2005). Jesus o
Maior Psicólogo que já Existiu. Tradução, Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro:
Sextante.
FRANCESCHINI, Válter, (1996). Os Caminhos do
Sucesso. 2ª Edição, Revista e Ampliada. São Paulo: Scortecci.
WEISS, Brian L., M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. A Descoberto do Poder do Amor. Tradução,
António Reca de Sousa. Cascais: Editora Pergaminho.
Venade/Caminha –
Portugal, 2021
Com o protesto
da minha permanente GRATIDÃO
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do
Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
NALAP.ORG
http://nalap.org/Directoria.aspx
https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1
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