Dando por adquirido, salvo as deploráveis e, eventualmente, cada vez mais exceções, que a Política também se desenvolve na busca da realização de utopias, a verdade é que, muitos são os exemplos de que os sonhos, transformados em promessas, não passam disso mesmo, com graves consequências negativas, para a imagem nobre que a Política deveria transmitir.
A sociedade atual, primeiro quarto do século XXI, é
extremamente complexa, exigente, e, cada vez mais, melhor preparada para
enfrentar um novo mundo de avanços científicos e tecnológicos, de satisfação de
necessidades, nem todas de natureza essencial, porque muitas têm uma dimensão
supérflua, que tentam preencher vaidades desmedidas, incompatíveis com o
sofrimento, resultante da miséria em que ainda vivem milhões de pessoas.
O conceito, usualmente conotado ao vocábulo
“utopia”, de facto leva o Ser Humano a sonhar para além da realidade que o
circunda, permite-lhe elevar-se a um mundo que, dificilmente, alguma vez,
conseguirá construir, porque: «As
religiões prometem esse mundo onde não haverá iniquidade, sofrimento e dor. Um
mundo de felicidade, e uma só palavra para paraíso. A política, de igual,
promove a crença de que o futuro será melhor do que o presente, satisfazendo as
necessidades psicológicas do homem, obtendo renovadamente a adesão do povo.»
(SANTANA, 2003:11).
A atividade política, no âmbito de um Governo, que
dirige um país, está sempre sob escrutínio e, também, pressionada por
interesses de vária ordem que, por sua vez, influenciam os políticos das
diversas áreas de intervenção, podendo-se admitir que: «Amordaçada, a classe política é presa fácil dos interesses económicos
(deste ou daquele grupo de empresas) ou de interesses de “categorias” de todo o
género (da superestrutura tecnocrata que, de fato, controla o país, ou das
diferentes “comunidades” regionais, religiosas etc. que o compõem), todos
buscando domínio e poder político, para dirigi-lo no sentido de suas
ideologias, nem sempre compatíveis com a vontade da nação.» (Ibid.:13).
É sabido que, seja em ditadura, seja em democracia,
os povos são governados por uma minoria. Na primeira situação, uma minoria que,
pela violência, repressão, perseguição e golpes, os mais diversos, se
apoderará, ilegal e ilegitimamente do poder; no segundo caso, uma minoria,
porém, eleita pela maioria do povo, em eleições livres, justas e transparentes.
Obviamente que, qualquer que seja o governo: Autocrático,
Democrático, Oligárquico, Teocrático, Comunista, entre outras formas possíveis,
puras ou híbridas, deveria preocupar-se com o “Bem-Comum”, com a melhoria, sempre renovada e consolidada das
condições de vida do povo que pretende servir, ou melhor, que tem o dever
indeclinável de proteger, de lhe proporcionar conjunturas favoráveis à realização
plena da felicidade.
Nenhum Governo se constrói sem o contributo dos
cidadãos (mulheres e homens, naturalmente), e estes são indispensáveis para a
realização dos sonhos e das utopias da comunidade em geral, e de cada pessoa em
particular. As/os cidadãs/ãos são a parte nuclear da cidadania plena, por isso:
«Reduzir o cidadão a mero sujeito
econômico é retirar-lhe a condição de cidadania e reduzir a política à luta
pelo poder entre as elites; é intolerável à democracia, que não prospera nesse
contexto, estando a exigir plena e absoluta independência, caso não queira esfacelar-se
em meio à globalização.» (Ibid.:18).
O exercício do poder democrático, implica a disputa
eleitoral, observando princípios, valores e condutas ético-políticas,
consentâneos com os interesses legais e legítimos do povo, nunca, em
circunstância alguma, contra aqueles que, afinal, através da “arma” mais
poderosa, em democracia, tem a possibilidade de decidir, que é o voto livre,
secreto, direto e responsável.
A
utopia, por vezes, tenta passar por uma realidade possível de materializar, a curto
e/ou médio prazos. A verdade é que qualquer cidadão (mulher ou homem), não
deveria ignorar a situação do organismo ao qual concorre, salvo se existem
aspetos que estão “escondidos”, porém, ainda assim, a probidade e o respeito
pelo cidadão eleitor, sempre aconselham a que não se prometa aquilo que não se
tem a certeza de poder cumprir no mandato, para que se candidatou.
É do
conhecimento generalizado que alguns pretendentes a um cargo político, aquando
em campanha eleitoral, recorrem, frequentemente, a “esquemas” ardilosos, para
conquistarem o maior número de votos, sabendo eles que estão a faltar à
lealdade para com os seus eleitores e, daqui à inverdade é um “salto de pardal”, ou seja, quase nada.
Considera-se serem ilegítimas a opacidade e a
ambiguidade de alguns políticos, e outros candidatos a um qualquer poder, para
além da imagem negativa e prejudicial que passam para a democracia: «Por conseguinte, a arte da mentira e da
astúcia é praticada com êxito na referida ambiência política e não se convencem
os mandatários de que não há maior castigo que uma mentira desmascarada. Na
verdade, a mentira produz mais mal do que bem para a política, porque, embora
possa ensejar sucesso no presente, criará, inevitavelmente, uma atmosfera de
suspeita que será sério obstáculo ao sucesso no amanhã.» (Ibid.:24).
Enquanto alguns políticos, e quaisquer outros
candidatos a cargos públicos, e instituições privadas, de diversa natureza, onde
se incluem as de Solidariedade Social, utilizarem processos de persuasão para a
captação dos votos, sem que depois assumam a responsabilidade por cumprir o que
entretanto haviam prometido, não restam
grandes dúvidas que a política, em muitos domínios, não passará de uma utopia
que, dificilmente, se concretizará em realidade.
Apesar de todas as dificuldades apontadas, é
importante, urgente e necessário não descredibilizar a política, e os que dela
fazem o seu modo de vida, com rigor, seriedade, “profissionalismo” e humanismo,
por isso, é nestes cidadãos (mulheres e homens) que é preciso apostar,
acreditar e incentivar, porque: «O
político é, antes de tudo, um amante do poder. Para ele, o poder é uma paixão
pela qual se sacrifica, arrisca-se e negligencia a própria vida. Sabe
conquistar o favor das massas. Desse modo, quem entra em política logo sabe que
está jogando com a vida e a morte; aceita esse jogo e não mais controla o seu
destino.» (Ibid.:26-27).
Nos tempos difíceis que o mundo atravessa, em que a
ganância pelo poder, qualquer que este seja, principalmente quando dele se
retiram benefícios pessoais, não olha a meios para se atingir certos fins,
logo, há todo o interesse em afastar quem não está imbuído de princípios,
valores, dimensões humanistas, sentimentos nobres e projetos para o Bem-comum,
porque a carência de cidadãs/ãos íntegras/os, altruístas e desinteressadas/os
de notoriedade, mordomias e benefícios materiais será, efetivamente, o ponto de
partida para uma sociedade de sonhos, de felicidade, de paz, enfim, de utopias,
desejavelmente, possíveis de realizar a curto prazo.
Selecionar as boas pessoas, para o exercício dos
diversos poderes na sociedade, deve ser um primeiro requisito, justamente a
partir de critérios pré-estabelecidos, e do conhecimento que se tem dos
candidatos, nas suas diferentes vertentes humanas, porque: «Hoje, mais do que nunca, faz-se necessária a compreensão da arte de
governar em benefício do Estado e dos cidadãos, com arrojo e determinação,
buscando satisfazer aos interesses e aspirações da sociedade, resistindo aos
insidiosos convites à administração desidiosa.» (Ibid.:40).
Todos
seremos poucos para construirmos uma sociedade de sonhos, de utopias, enfim, um
mundo bem melhor do que aquele que nós, os mais “velhos”, estivemos a tentar
construir, certamente com alguns aspetos negativos, mas também com muitos
pontos positivos.
É necessário manter ativas/os as/os cidadãs/ãos que
desejem participar neste projeto, porque muitas serão as vantagens nesta
simbiose de gerações. Seria de uma insensatez imensa, continuar a manter as
pessoas mais idosas inativas, a definhar num qualquer estabelecimento de
terceira idade, quando muitas delas têm, ainda, muito para dar à sociedade.
É urgente promover o “Envelhecimento Ativo” da nossa população sénior, porque todos temos
uma dívida de gratidão para com essas pessoas, além de se vir a perder um
património de conhecimentos, experiências e sabedoria, que elas transportam ao
longo de décadas.
SANTANA, Edilson, (2003). Arte da Política Mundana:
reflexões sociopolíticas e filosóficas. Campinas, SP: Edicamp
Venade/Caminha –
Portugal, 2021
Com o protesto da
minha permanente GRATIDÃO
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do
Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
NALAP.ORG
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