Faz parte da existência humana viver em sociedade,
de forma organizada, com normas sociais e jurídicas, muitas delas suportadas,
e/ou alimentadas pelos usos, costumes e tradições, a que se juntam princípios e
valores de vária natureza, nomeadamente: políticos, religiosos, civilizacionais,
ético-morais, entre outros, que regulam as diversas atividades profissionais, culturais,
e de lazer/ocupação dos tempos livres.
Igualmente, é da natureza de toda a pessoa humana,
quando no exercício pleno das suas capacidades psicológicas, intelectuais e
físicas, ambicionar posições e estatuto: sócio-profissional,
político-influenciador e económico-financeiro e, a partir daqui, alcançar o
poder para assim controlar, influenciar e decidir sobre o destino dos seus
semelhantes e, inclusive, de grupos de diversas atividades.
O Poder atrai, com maior ou menor intensidade, a
esmagadora maioria das pessoas, e haverá processos pelos quais se adquire,
sendo no âmbito de uma carreira profissional, eventualmente, o mais frequente –
funcionalismo público, quaisquer que sejam os setores; forças armadas e de
segurança, empresarial, político, religioso, apenas para referir apenas alguns.
É fundamental, contudo, nunca se ignorar que todo e
qualquer Poder é transitório, exerce-se enquanto não se é substituído, ou por
motivos de aposentação, ou ainda, por doença impeditiva, temporária ou definitiva,
a que se lhe pode seguir a morte ou qualquer outra circunstância imprevisível.
Quem pensar que ao assumir um cargo de Poder,
independentemente da natureza deste, vai conseguir fazer o que quer, para o bem
ou para o mal, durante o resto da vida, seguramente que poderá equivocar-se,
por isso, a melhor forma de conservar o Poder, por longos períodos de tempo,
será pela prática do bem, no respeito e consideração pelas pessoas, sem olhar
ao estatuto destas.
O exercício do Poder, recorrendo à prepotência, à
perseguição, à vingança e à humilhação, revela-se uma prática própria de
pessoas inferiorizadas, de baixa ou nenhuma formação humanista, com presumível
má educação, caraterísticas de quem procura esconder as suas incapacidades,
incompetências, recorrendo, portanto, à arrogância, à vaidade paroquial e,
quantas vezes, ao assédio, nas suas diferentes formas.
Frequentemente, já no primeiro quarto do século
XXI, deparamo-nos com pessoas que, por diversos processos: uns, legítimos e
legais; outros, nem tanto, conseguiram uma situação socioeconómica confortável,
exibindo, ostensiva e “babosamente”, os “anéis” conquistados, também, muitas
vezes, com apoio substancial de familiares e amigos.
Naturalmente que se reconhece mérito a tais
pessoas, quando pela inteligência, trabalho, organização e gestão dos seus bens
patrimoniais e financeiros alcançam cada vez mais Poder, todavia, quando se
perde a noção: das origens, princípios e valores; da sinceridade, da humildade
e da gratidão, estaremos perante os chamados “novos-ricos” que, axiologicamente, continuam a “não ter onde caírem mortos”, não
passando, afinal, de “uns pobres de
espírito”
O Poder, ainda que seja na sua forma de capacidade
de sedução, pelas maneiras excessivamente sofisticadas, supérfluas,
interesseiras e hipócritas, com o objetivo de “Agradar a Gregos e a Troianos” e, mais concretamente, a outras
pessoas consideradas “importantes” na
sociedade, não passa de uma pretensão pacóvia, própria de quem não se dá conta
do ridículo a que se expõe.
O
exercício do Poder a partir da atividade política, é extremamente difícil, na
medida em que, o Poder Político é, ainda, mais precário e vulnerável, porquanto
se desenvolve por ciclos temporais e, no final de cada período, fica sujeito à
votação dos eleitores os quais, pelos mais diversos motivos, tanto podem
reconfirmar, como recusar o apoio ao respetivo candidato.
A
atividade política, sendo interessante, só será, contudo, gratificante quando
através do Poder que ela confere, os problemas das pessoas são resolvidos
favoravelmente, a contento das mesmas, porém, importa não ignorar, e sem
generalizar que: «No mundo da política é
comum deparar-se com determinados homens de poder, revestidos de eminência
política e social, superficialmente virtuosos, politicamente respeitados em
face do seu acentuado patriotismo, do seu profundo sentimento cívico, de sua
grande benevolência. Todavia, quase sempre, essa aparente virtuosidade nada
mais é do que um fino verniz mascarando um personagem cínico. Alguns visando
assegurar seus interesses, chegam a condenar inocentes, para depois libertá-los
da prisão sob a falsa ética de aparente misericórdia. Passando sempre a imagem
de integridade moral e social, praticam fraudes psíquicas ininterruptamente,
parecendo ser justos sem os serem. A rigor, toda essa vivência alcança o ápice
de injustiça.» (SANTANA, 2003:37).
É
relativamente fácil, e pacífico, considerar a política como uma atividade que
deve ser exercida por pessoas de bem, competentes, isentas, para que posam
resolver com sucesso os diversos problemas que afetam as pequenas comunidades
em particular, e a sociedade no seu todo. O que acontece, algumas vezes, é que
nem todas as pessoas que se dedicam, a tempo inteiro, ou mesmo parcial, à
política, o fazem imparcialmente.
É por
isso que: «Hoje, mais do que nunca,
faz-se necessária a compreensão da arte de governar em benefício do estado e
dos cidadãos, com arrojo e determinação, buscando satisfazer os interesses e
aspirações da sociedade, resistindo aos insidiosos convites à administração
desidiosa.» (Ibid.:40).
A
verdade é que, não obstante a nobreza da política, ainda há quem não se adapte
a este valor tão importante, e mendiguem aos santos e demónios um lugar na
política para alcançarem influência, domínio, estatuto. Com efeito: «Muitos alcançam o poder com a ajuda e a
solidariedade dos outros e, logo em seguida, voltam-se contra estes, em um
gesto de fria e calculista ingratidão. A criatura volta-se contra o criador.» (Ibid.:42).
A
preparação para exercer um cargo político deveria, portanto, ser um dos requisitos
preferenciais para toda e qualquer pessoa que pretenda entrar na vida política.
A eleição maioritária, ou a nomeação legal, para uma determinada função
política, ou técnico-administrativa, respetivamente, por si sós, não garantem
que o tal titular, venha a ter um sucesso e, muito menos, os que dele venham a
depender.
Acontece,
frequentemente, que a ganância pelo poder, muitas vezes, é mais forte do que
quaisquer princípios, valores e sentimentos, nestes se incluindo a
fraternidade, a amizade, a lealdade e a gratidão. Realmente: «O maior mal que se faz a um amigo sincero é rejeitá-lo em benefício
de velhos desafectos. Somente os ambiciosos são capazes de conspirar contra
aqueles que lhes deram a mão e emprestaram a solidariedade nos momentos
adversos.» (Ibid.:43).
Na
política, é inaceitável que se recorra a todo e qualquer expediente para se
atingirem determinados fins, como será censurável que quem a exerce altere as
suas caraterísticas, princípios, valores e sentimentos, constituintes da sua
personalidade, para alcançar objetivos pessoais, quantas vezes obscuros,
ilegítimos e, eventualmente, ilegais.
Infelizmente,
tem-se conhecimento que haverá pessoas que: «Mudando
de personalidade facilmente, à medida que captam sinais do que as cerca, para aparecerem
e fazerem-se gostar, são capazes de induzir pessoas de quem não gostam a pensar
que são suas amigas. Moldam seu comportamento de acordo com as situações
individuais e sociais, a depender das circunstâncias do momento, a partir do
que alcançam alto índice de valorização, sobretudo na política.» (Ibid.:44).
Bibliografia.
SANTANA, Edilson, (2003). Arte da Política Mundana: reflexões
sociopolíticas e filosóficas. Campinas, SP: Edicamp
Venade/Caminha –
Portugal, 2021
Com o protesto da minha perene GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de
Portugal
NALAP.ORG
http://nalap.org/Directoria.aspx
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