domingo, 27 de fevereiro de 2022

Ética. Ciência do que se deve fazer na vida.

            Pode dizer-se que no tempo dos antigos, a obrigação é antes vivida como um dado da experiência ético-religiosa, que cientificamente desenvolvida. Ela fica, em geral, sob o plano da expressão popular, ou da interpretação mítica, e não intervém muito na sistematização racional da moral. Esta ideia, ao contrário, tem um grande lugar nas teorias elaboradas sobre a influência, direta ou não, do cristianismo e, em particular, na Ética Kantiana, donde é a noção-chave.

Estas duas conceções da moral não se excluem nem anulam. À priori, nada impede que uma vida conforme o ideal do homem seja, também, para ele, o caminho e o único caminho da felicidade, e de fato nos mostremos – reencontrando nesta afirmação espontânea a consciência comum – que isso é bem, assim de forma que um dos dois aspetos da Ética, não pode ser adequadamente do outro.

Verificaríamos, comodamente, isso considerando as grandes doutrinas morais. A dos escolásticos, por exemplo, e nomeadamente a de S. Tomás que se apresenta de ordinariamente como uma Ética da beatitude, mas ela inclui uma Ética de obrigação. E, por seu lado, a Ética Kantiana acaba por reintroduzir, como elemento de soberano bem, a ideia de felicidade.

Vemos que a definição de Ética, por pouco que ela queira sair das generalidades vagas, depende, parcialmente, menos da maneira como são abordados e resolvidos os problemas morais. Isto é dizer que a nossa própria definição não se justificará, plenamente, se não no desenvolvimento do nosso tratado.

De saída ela está de qualquer maneira postulada. Admitamos, então, que a Ética é uma ciência normativa das ações, e para lá da existência humana – normativa no segundo sentido, não do modo de uma arte de viver feliz, mas contanto que ela comporte uma regra válida para si, um dever propriamente dito, uma obrigação absoluta ou categórica (sem pretender, todavia, que esta obrigação seja elemento essencial da moralidade).

A Ética é a ciência: do que o homem deve fazer para viver como ele deve viver; para ser o que ele deve vir a ser; para que ele atinja o seu valor supremo; para que ele realize, na sua natureza, o que se apresenta como a justificação da sua existência – O para quê e porquê ele existe. Em duas palavras – a Ética é uma ciência categoricamente normativa.

Numa Ética assim entendida, a matéria é mais determinada, mais restrita do que se procedesse simplesmente de uma descrição dos costumes, ou de uma técnica da vida feliz, segundo a nossa definição. Com efeito a ação é considerada sob um aspeto mais subjetivo, ou melhor, pessoal. Como procedendo da vontade livre.

Este caráter não teria tanta importância, no caso, por exemplo, duma arte de viver feliz, porque ele não está excluído dum ato posto sem advertência, sem decisão livre, colhido pelo seu conteúdo material, favorecer a felicidade e colocar obstáculos. Um sonâmbulo pode mordiscar-se, como pode também, por uma sugestão oportuna, executar uma ginástica salutar, para a qual a coragem lhe faltou no estado de velho, ou se desfez de um hábito nocivo à sua saúde.

Uma Ética da felicidade parece, então, à primeira vista, menos conciliável com a negação da liberdade, a história nos diz que este acordo verificou-se muitas vezes. Pela mesma razão uma Ética da felicidade se mostrará, por vezes, pouco suscetível, sob o respeito da autonomia pessoal.

Ela crera entregar aos homens um bom ofício, determinando-lhes o lugar nos caminhos da felicidade, e neles impelirem a força se eles são bastante tolos para, de modo algum, se comprometerem eles mesmos. Lá, ao contrário, onde colocamos a obrigação, é preciso pousar, também, a liberdade, sem a qual aquela não tem sentido.

Por outras palavras, a Ética, tal como nós a entendemos, não considera os atos postos pelos homens, no entanto eles procedem deles, lhes pertencem, que eles são sentidos dum modo qualquer, mas, todavia, que são postos por eles, segundo o modo de agir, próprio ao homem e que o distingue de todos os outros seres da nossa experiência, isto é, o mesmo que dizer, com advertência e liberdade, como vamos ver, no entanto eles são, no pleno sentido da palavra, atos humanos.

A nossa definição da filosofia moral, para ser completa, requere uma última precisão. Na maior parte dos homens as prescrições morais revestem, também, um caráter religioso. Elas são consideradas como intimações da divindade. O seu conhecimento é, muitas vezes, atribuído a uma revelação divina.

No que respeita a filósofos, nós admitimos, sem hesitar, que uma tal comunicação é possível, muito mais, que ela é altamente desejável. No que respeita aos cristãos, nós sabemos e cremos que ela se realizou.

Portanto, a Ética Filosófica, precisamente no que respeita à Filosofia, não considera a realidade moral tal que a revelação nos fá-la conhecer, mas tal que ela se apresente pela razão, usando a sua luz natural, tal que a razão pode escrevê-la, interpretá-la, reconhecer, e em justificar as exigências. Isso cria, algures, um problema do qual nos vamos ocupar, entretanto.

Nós diremos, então, para ser completos, que a Ética é a ciência categoricamente normativa dos atos humanos, segundo a luz natural da razão. O caráter racional da Ética não significa, de modo nenhum, que ela deve proceder de um modo racional e laico, ignorando, sistematicamente, o fato religioso e nada mais, que ela seja sem interesse para a formação do espírito cristão.

Pelo contrário, a Ética como as outras disciplinas filosóficas, é assumida na síntese da fé, contanto que ela estude estruturas, e exigências essenciais ao homem que, porque fundamentais, moram na ordem cristã, e funda a possibilidade de um reencontro e um diálogo com os de fora. A Filosofia entregará tanto mais serviços à fé que ela seria mais autêntica, racional, mais recíproca, todas as coisas iguais algures, a filosofia perceberá tanto melhor as exigências profundas da razão que ela será mais cristã.

 

«Protejam-se. Vamos vencer o vírus. Cuidem de vós. Cuidem de todos». Cumpram, rigorosamente, as instruções das autoridades competentes. Estamos todos de passagem, e no mesmo barco chamado: “Planeta Terra”, de onde todos, mais tarde ou mais cedo, partiremos, de mãos vazias!!! Tenhamos a HUMILDADE de nos perdoarmos uns aos outros, porque será o único “CAPITAL” que deixaremos aos vindouros: “O PERDÃO”. 

 

Alimentemos o nosso espírito com a ORAÇÃO e a bela música:

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Venade/Caminha – Portugal, 2022

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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