Sabe-se que, sociologicamente, a composição das
comunidades humanas, integra pessoas com os mais diferentes, quanto mais, ou
menos, relevantes estatutos: sociais, profissionais, académicos, políticos,
religiosos e muitos outros, de tal forma que a interligação entre os seus
titulares é um dado adquirido, assim como no que concerne às diversas
instituições. O mundo atual já não é um espaço onde se consiga viver
isoladamente.
Poder-se-ia trazer para esta análise: ricos e
pobres; letrados e analfabetos; políticos e indiferentes a esta atividade;
religiosos, ateus, agnósticos; cientistas e técnicos; especialistas e leigos,
entre muitos outros intervenientes na sociedade. Igualmente uma abordagem para
instituições com diferente natureza: empresas comerciais, industriais;
organismos do Estado/Governo, organizações não-governamentais, instituições
privadas de solidariedade e muitas outras.
O que se pretende é refletir sobre a inevitabilidade
do relacionamento entre pessoas, estas com a natureza, com o mundo. Viver-se
isoladamente, qual época das cavernas, é impossível, porque, em bom rigor,
todos dependemos uns dos outros, por mais que alguém pense que por ter sorte: em
saúde, em dinheiro, em recursos materiais diversos, um bom emprego, uma
habitação apalaçada e tudo quanto é necessário a uma existência confortável e
luxuosa, não carece de ninguém, isso não corresponderá à verdade, porque, ainda
assim, vai precisar de muitas outras pessoas, com os mais diversos estatutos e
atividades.
Considerar que somos, absolutamente, independentes, é uma falsa perspectiva, até porque:
«É
necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma
responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e
honestos. Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à
bondade, à fé, à honestidade; chegou o momento de reconhecer que esta alegre
superficialidade de pouco nos serviu. Uma tal destruição de todo o fundamento
da vida social acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos
próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade
e impede o desenvolvimento de uma verdadeira cultura do cuidado do meio
ambiente.» (PAPA FRANCISCO, 2016:168).
A interdependência entre pessoas, povos e nações é,
portanto, um facto incontornável, uma situação irreversível e, pode-se afirmar,
com relativa segurança, que fundamentando e alimentando esta dependência entre
pessoas, instituições e a própria natureza, tem vindo a desenvolver-se um
fenómeno, eventualmente, avassalador, mesmo no melhor sentido do termo:
Globalização.
Os meios mais sofisticados, inventados, produzidos e
utilizados pelo ser humano, constituem, realmente, um fator de progresso, tanto
para o bem, como, igualmente, algumas vezes, para o mal. A importância dos
transportes, os avanços rapidíssimos da ciência e da tecnologia, os meios de
comunicação e, agora muito em uso, as redes sociais, possibilitam um contacto
em tempo real, o conhecimento, ao segundo, de um terminado acontecimento, numa
qualquer parte do mundo.
Impossível viver-se isoladamente. Inviável ser-se
autossuficiente. Desaconselhável fugir destas e de outras realidades. Quem
pretender colocar-se à margem desta nova sociedade, pós-moderna, certamente vai
“morrer na praia”, porque por si só
não conseguirá sobreviver, por muito tempo. Sempre vai precisar de alguém, para
alguma tarefa que lhe seja necessário realizar, para alguma coisa que lhe faça
falta, para algo que não seja capaz de fazer.
Quem ignorar que: cada vez está mais dependente de
tudo o que gira à sua volta; quem desejar viver à margem de princípios, valores
e leis estabelecidos; quem pretender impor algum tipo de domínio absoluto sobre
os seus semelhantes, e até sobre a sociedade no seu todo, certamente que
acabará marginalizado, sem quaisquer possibilidades de implementar as suas
ideias, eventualmente, incompreensíveis para a maioria da população.
Hoje habitamos uma denominada “Casa Comum”, na qual
cada “morador” tem um papel a desempenhar, e quanto melhor o souber executar,
tanto melhor para ele, como para os restantes “residentes”, que é o mesmo que
dizer, para a sociedade. A época da Globalização está aí, em força,
irreversível, com avanços e consequências imprevisíveis, até porque a
proximidade cada vez se estreita mais.
Por isso:
«A
casa comum de todos os homens deve continuar a erguer-se sobre uma reta
compreensão da fraternidade universal e sobre o respeito pela sacralidade de
cada vida humana, de cada homem e de cada mulher, dos pobres, dos idosos, das
crianças, dos doentes, dos nascituros, dos desempregados, dos abandonados,
daqueles que são vistos como descartáveis porque considerados meramente como
números desta ou daquela estatística. A casa comum de todos os homens deve
edificar-se sobre a compreensão de uma certa sacralidade da natureza criada.» (Ibid.:169).
Cada vez se torna mais evidente, que vivermos de
costas voltadas uns para com os outros, só serve para estimular e exacerbar posições
e comportamentos egocêntricos que, mais tarde ou mais cedo, provocam
consequências nefastas para o bem comum em geral e, particularmente, para as
pessoas que assim procedem. Obviamente que não será fácil oferecermos a face da
cara à mesma pessoa que nos agrediu na outra. Este gesto de magnânima
generosidade e de perdão, é uma virtude, praticamente, inacessível à maioria
das pessoas.
É essencial: estarmos unidos, sim; sem abdicarmos dos nossos princípios, valores e sentimentos; da nossa dignidade e tudo fazermos para sermos tolerantes, compreensivos e humildes, dentro dos limites que a fraqueza humana comporta, na medida em que:
«O
mundo contemporâneo, aparentemente interligado, experimenta uma crescente,
consistente e continua fragmentação social que põe em perigo “todo o fundamento
da vida social” e assim “acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa
dos próprios interesses”» (Enc. Laudato si’, 229, in: Ibid:170).
Importa, também, refletir na condição humana que,
com o devido respeito por outras opiniões, mais fundamentadas, por quem conhece
melhor a composição da pessoa, na possibilidade da dupla dimensão do ser
humano: física e espiritual, para se poder aquilatar da superioridade que temos
em relação à restante natureza.
E se é crucial, e correto, respeitar outras posições diferentes, também se afigura legítimo defender a dualidade da pessoa humana, desde logo porque:
«O edifício da
civilização moderna deve construir-se sobre princípios espirituais, os únicos
capazes não apenas de o sustentar, mas também de o iluminar e de o animar.»
(Discurso aos Representantes dos Estados, 4 de outubro de 1965, n. 7, in:
Ibid.:170).
A esmagadora maioria da humanidade, certamente,
perspectiva, e deseja, um futuro melhor, onde os valores da saúde, do trabalho,
da segurança, do amor, da felicidade e da paz sejam os alicerces da grande
“Casa Comum”, na qual se possa viver com fraternidade, liberdade, igualdade e
conforto, independentemente das faixas etárias em que cada pessoa esteja.
É urgente e necessário compreendermos que:
«O tempo presente convida-nos a privilegiar
ações que possam gerar novos dinamismos na sociedade e frutifiquem em
acontecimentos históricos importantes e positivos.» (Cf. Exort. Ap.
Evangelii Gaudium, 223, in: Ibid.).
Entende-se, perfeitamente, que as relações
interpessoais, assertivas, transparentes e leais, na observância do mais
rigoroso respeito de uns para com os outros, é o caminho a seguir para se
vencer as interdependências, porque, efetivamente, é impossível qualquer forma
de vida que exclua o contacto com os nossos semelhantes.
Pode-se avançar com alguns ingredientes que
facilitam a boa convivência nesta “Casa Comum”: Respeito pelos nossos
semelhantes, quando intervimos na sociedade, seja qual for o meio utilizado, os
objetivos e os argumentos; Gratidão para com todas as pessoas que de alguma
forma já nos ajudaram; Humildade para com quem é igualmente humilde connosco,
nos deseja bem e nos defende.
Bibliografia
PAPA
FRANCISCO, (2016). Proteger a Criação. Reflexões sobre o Estado do Mundo. 1ª
Edição. Tradução, Libreria Editrice Vaticana (texto) e Maria do Rosário de
Castro Pernas (Introdução e Cronologia), Amadora-Portugal:20/20 Nascente
Editora.
“NÃO, à violência das
armas; SIM, ao diálogo criativo. A Regra é simples, para se obter a PAZ”
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=924397914665568&id=462386200866744
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do
Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
NALAP.ORG
http://nalap.org/Directoria.aspx
https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1
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