domingo, 12 de fevereiro de 2023

Figura Relevante da Luso-Brasilidade.

O exemplo e a obra deste homem, - Silvestre Pinheiro Ferreira – 1769-1846 - português de nascimento, brasileiro de coração e universal pelas suas ideias, serão o ponto de convergência das reflexões acerca da Filosofia, Educação e Formação para a Cidadania Luso-Brasileira a implementar neste novo século, que se deseja de progresso, paz, ordem, respeito pelos direitos humanos e felicidade.

Filosofia, Educação, Política e Religião estarão assim “condenadas” a conviver, inter-convivendo em discreta cumplicidade, visando, nesta perspetiva, um espaço ecuménico de respeito recíproco entre os Homens, com observância por aquilo que, no passado, tal como no presente, (e se deseja no futuro), sempre preocupou os pensadores mais moderados: cidadania, deveres e direitos humanos, responsavelmente assumidos.

Embora as ideias políticas, sociais e filosóficas de Silvestre Pinheiro Ferreira não sejam absolutamente originais, distinguem-se por uma contínua preocupação de independência intelectual, de críticas pertinentes e de positividade. Atitudes que o estimularam a construir um sistema filosófico: por um lado, abrangente das diversas áreas do conhecimento, da intervenção social, política, educativa, económica e religiosa; por outro lado, que combatesse a incoerência dos empiristas que o precederam.

A sua obra filosófica teve influências no pensamento brasileiro, imediatamente subsequente à independência deste País. Mas, pese embora a sua ânsia de coerência, não conseguiu clarificar o problema da liberdade, conduzindo a geração posterior à meditação e à busca de um ideal liberal, moderado e conciliador, a que aderiram fervorosos defensores que, aceitando tais valores e princípios, os integrariam nas instituições régias brasileiras.

Politicamente, é importante, nesta reflexão, referir aspetos interessantes e reveladores da personalidade deste diplomata, principalmente, durante a sua estada no Brasil. Como já foi referido noutro ponto, a comemoração dos Quinhentos anos do estabelecimento de relações entre Portugal e o Brasil e a década que assinalou a sensibilização para os Direitos Humanos, iniciada em 1998 e que se prolongou até 2008, justificam uma atitude solidária com as grandes figuras da Lusofonia, das quais se destaca Silvestre Ferreira que no Brasil é analisado, ao pormenor, por diversos investigadores.

Em dois mil e vinte e dois, ocorreu a comemoração dos dois séculos da independência do Brasil (1822-2022). Naturalmente que, Brasileiros e Portugueses, uma vez mais, vão estar unidos na celebração de tão importante quanto significativo evento, ao qual e desse já, antecipadamente, desejo associar-me.

Entretanto, anote-se a perspicácia, a sensibilidade e a nobreza de sentimentos deste político: 

«Conta Debret que levada a S. Cristóvão a falsa notícia de opor-se a assembleia dos eleitores, reunida na praça do comércio em Abril de 1821, à partida do Rei para Lisboa, e de ter deliberado apoderar-se da sua pessoa, foi D. João acometido de terror pânico do qual resultou, por excesso de zelo dos que o cercavam reacção escusada e sanguinolenta. Silvestre Pinheiro Ferreira que foi então procurá-lo, por ser seu ministro, refere tê-lo encontrado já extremamente comovido.» (in: MONTEIRO, 1972:104). Situações e factos desta natureza encontram-se, frequentemente, ao longo da vida de Silvestre Ferreira, que são reveladores da sua estatura moral, do seu caráter leal e sensível e da sua grande paixão pelo Brasil.

 Na verdade: 

«Silvestre Pinheiro Ferreira escrevia que apenas El-Rei deixasse o país outra coisa não se poderia esperar senão desastres sobre desastres, partidos, guerras civis, guerras implacáveis entre diferentes castas, e enfim a total exterminação da raça branca pelas outras, incomparavelmente mais numerosos, de pretos e pardos, e o abandono das cidades e engenhos, voltando este formosíssimo país à bárbara condição das castas da África.» (RODRIGUES, 1975a:86) ([1])

É pelas convicções nos valores, princípios e atitudes que melhor se desenvolverá a sociedade cada vez mais globalizada, complexa e heterogénea, para o que se torna necessário personalidades psicológica e intelectualmente abertas (sem complexos de nenhuma ordem) à tolerância, no respeito pelas diferenças étnicas, políticas, filosóficas e religiosas, num quadro de permanente cooperação entre pessoas, povos e nações.


Excluindo-se raras e dramáticas exceções, onde a força das armas foi necessária para defender direitos fundamentais da humanidade, violados por minorias elitistas, está provado que terá de ser pela força da razão, do diálogo, da democracia e da solidariedade que o homem resolverá os problemas mais prementes. Os conflitos resolvem-se pelo convencimento das partes, através do diálogo e não pela prepotência de uma em relação a outra, pelo método do ganha/ganha: ambas cedendo; ambas ganhando.


Trata-se de um caminho difícil, de paciência, de persistência, de cedências recíprocas, mas que conduz à sublime dignidade de se poder ser, finalmente, “pessoa humana civilizada”. Não é fácil, a um qualquer cidadão, optar por caminhos tão complexos e assumir papéis públicos e privados em coerência com as metodologias que são indispensáveis aplicar para, ao fim de um determinado tempo e percurso, se conseguir atingir alguns objetivos, por pequenos que sejam, porque o resultado final há-de ser um produto inacabado, ainda que em constante esforço de aperfeiçoamento.


Ao longo desta caminhada, cada um terá de assumir-se como um paladino dos valores e princípios que deverão nortear as sociedades modernas, onde quase nada de material falta, mas também onde reina a discórdia, onde os espíritos não sossegam e vivem em profunda ansiedade. 


É difícil abdicar-se de posições individualistas; custa, por vezes, aos seres humanos, perderem privilégios que obtiveram com esforço próprio, mas nem sempre por processos legítimos, transparentes e não prejudiciais a terceiros. Age-se, em algumas circunstâncias, a partir de velhos e desajustados preconceitos, utiliza-se, em certas situações, o autoritarismo, para dominar e humilhar aqueles que podem obstaculizar os projetos egoístas, individualistas, hipócritas e desmesurados.

 

Bibliografia.

 

MONTEIRO, Tobias, (1972). História do Império – A Elaboração da Independência, 2a Ed., Tomo I, Brasília: Instituto Nacional do Livro.

RODRIGUES, José Honório, (1975a). Independência: Revolução e Contra-revolução: A Evolução Política. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A. Vol. 1. Pp.43, 65-90, 220.

 

Venade/Caminha – Portugal, 2023

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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[1] «Num estudo político sobre o Brasil, a apresentação às Cortes, logo que D. João VI voltou a Portugal, o Conselheiro Silvestre Pinheiro Ferreira, que ouvira e tratara com grande número de pessoas de todas as classes, dizia que o desejo comum de todos era que o Brasil tivesse um governo Central. O povo não possuía esta generalíssima ideia de um governo-geral, senão por uma espécie de instinto; Foi a classe pensante que se adiantou a marcar o modo de estabelecimento daquele governo. O povo, explicava, é uma classe, no Brasil, proporcionalmente muito menor do que na Europa, porque tirada a classe dos escravos e libertos, quase todo o resto se compõe de homens que receberam aquele grau de educação que nos outros países eleva certa classe acima do que se chama povo! Como se vê, havia escravos, libertos, povo (indefinido, nem escravos nem libertos, talvez caixeiros, artífices, pequenos funcionários) e uma classe educada: esta a estrutura social exposta por Silvestre Pinheiro Ferreira.» (RODRIGUES, 1975a: 133)

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