sábado, 18 de fevereiro de 2023

Trabalhar em Equipa de Valores

A população em geral, as pessoas em particular, constituem as famílias, as pequenas comunidades, a sociedade. O povo é inteligente, prudente, sábio e, por que não o dizer, quando se apercebe que o querem enganar, também sabe ser “manhoso”, justamente para salvaguarda dos seus legítimos interesses e da sua própria dignidade. Que ninguém pense que engana, sistematicamente, o povo, porque ele, mais cedo ou tarde, sabe fazer justiça salomónica, portanto, todo o cuidado é pouco quando se tenciona constituir uma equipa de trabalho, na circunstância, para prestação de serviço público.

A juventude constitui uma faixa etária da sociedade muito importante e promissora, porque é generosa, inteligente, voluntariosa, sonhadora, criativa, convicta e irreverente, teoricamente, bem habilitada em vários domínios do conhecimento técnico-científico, que pode ajudar a mudar o mundo com os seus novos valores, obviamente, coerentes com a dignidade da pessoa humana.

O mundo e o futuro, pertencem às crianças e aos jovens de hoje que, por sua vez, serão idosos, um dia mais tarde, na linha irreversível do tempo e da vida. A juventude talvez ainda não esteja adequadamente preparada, para assumir determinadas funções, por isso a responsabilidade das gerações seniores é muito grande, para auxiliarem os jovens a consciencializarem-se de que o futuro será deles, com responsabilidade, competência e humanismo. São eles que vão criar as condições para darem uma melhor qualidade e nível de vida aos seus avós, pais, familiares, amigos e cidadãos em geral, que caminham para o “fim da linha da vida”.

É necessário instruir a juventude para os valores, normas, sentimentos nobres, emoções, próprios de um povo, de uma cultura humanista, enfim, de uma civilização milenar, extremamente rica e, eventualmente, ímpar. Com este objetivo, os mais novos terão todo o interesse em escutar, atenta e respeitosamente, os seus progenitores, amigos verdadeiros, colegas idóneos.

Tentar colocar os seniores à margem do processo de desenvolvimento e equilíbrio da sociedade, é um tremendo equívoco, sinal de inexperiência, de imaturidade, de irresponsabilidade e de arrogância na medida em que: «Temos que aprender a escutar os mais velhos. Nós excluímo-los da vida social. Utilizámo-los para suprir as nossas carências e resolver as exigências da vida quotidiana, mas não estamos dispostos a escutá-los. Falta-nos tempo, paciência e disponibilidade para o fazer. Temos um preconceito contra o que podem dizer e isso atira-nos para um mundo de iguais onde se não produzem novidades nem se altera a endogamia.» (TORRALBA, 2010:126).

A organização de uma equipa de trabalho implica, portanto, ter a plena consciência das caraterísticas dos seus elementos, de tal forma que as qualidades de uns, sendo, talvez, insuficientes, possam ser complementadas por outras virtudes dos restantes membros e, pelo mesmo raciocínio, os defeitos de outros, possam ser colmatados pelas capacidades virtuosas dos restantes, funcionando nesta lógica as faixas etárias, as proveniências profissionais, culturais e familiares. Claro que é extremamente difícil conjugar todos os requisitos: “o ideal é inatingível”; e “o ótimo é inimigo do bom”.

A humildade e a gratidão são, porventura, dois dos grandes valores e virtudes que se podem concentrar numa pessoa e, com relativa frequência, nelas, a humildade e a gratidão, como que se envergonham de se revelarem, ou então, simplesmente, não existem em diversas pessoas, normalmente, naquelas em que predomina um ego exacerbado, um desejo incontido de protagonismo, de ânsia de domínio, uma sistemática invocação de alegada superioridade.

Por vezes, defrontamo-nos com pessoas que nos deixam numa situação desconfortável, eventualmente, humilhante, porque elas parece que tudo sabem, tudo conseguem, não conhecem os fracassos da vida, porque sempre tiveram uma “almofada”, que alguém lhes colocou por baixo das asneiras que iam cometendo, apenas sabem, presunçosamente, alardear vitórias (quantas vezes à custa dos outros), enfim, um rosário de autoelogios: “insubstituíveis “salvadoras da pátria”, isto é, o narcisismo e o egocentrismo, elevados ao seu expoente máximo.

Na verdade, é muito difícil assumir a humildade, porque: «A humildade é um valor esquecido do mundo contemporâneo, teatro do parecer. As revistas continuam a dar conselhos para “se afirmar”, “ter um ar combativo”, à falta do ser. Esta obsessão pela imagem que se deve dar de si é tal que já nem mesmo se levantará a questão do bem fundamentado parecer, mas apenas a de como parecer bem.» (RICARD, 2005:167).

Por outro lado, a gratidão é um sentimento que se funda na virtude do reconhecimento, da homenagem e da amizade, porque quem é objeto de gratidão é porque: primeiro, procedeu para com outrem de forma excecional, a que, eventualmente, nem estaria obrigado a tal; então, o beneficiário da atenção recebida, sente-se como que realizado na sua capacidade de reconhecer, quando manifestar gratidão, ao ponto de o fazer com um misto de amizade, orgulho e admiração; depois, entre as pessoas envolvidas, estabelece-se, de ora em diante, como que um cordão umbilical duradoiro, pelo qual circulará uma amizade e benquerença que, obviamente, conduz a uma maior harmonia, tranquilidade e realização pessoal. A gratidão não humilha, nem minimiza quem a manifesta, pelo contrário, enobrece e dignifica, a pessoa que sabe ser grata.

Uma equipa de trabalho não pode comportar os “ego-iluminados”, sob pena de se autodestruir e, pior do que isto, provocar graves cisões e prejuízos no seio do grupo e da própria população que espera dela medidas, atos e resultados favoráveis à resolução dos problemas. Que deseja compreensão e generosidade.

É sabido que: «O sabichão prepotente acredita que ninguém lhe pode dar lições, porque mais ninguém viveu a sua experiência. Acha que é o único que vive situações únicas, que tudo na sua vida é novo. Ignora que os outros já passaram por experiências afins, pelos mesmos problemas e pelas mesmas contrariedades.» (TORRALBA, 2010:126-127).

Com efeito, não será muito fácil analisar e resolver problemas que afetam a vida das pessoas, quando não experienciamos tais situações, e, é por isso mesmo que se deve incluir, em quaisquer equipas de trabalho, uma juventude dotada de ciência e técnica, mesmo sem experiência e uma outra parte com pessoas seniores, se o líder considerar que: «Os mais velhos são a voz da experiência, viveram uma longa vida e viram um pouco de tudo. Sabem o que nos espera, sabem o que vai ceder. Desfrutaram da vida e tiveram a experiência que nós iniciamos depois e na qual nos falta a perspetiva que só os anos podem dar.» (Ibid.:126).

Indubitavelmente, acredita-se que qualquer equipa de trabalho procura, e luta por alcançar objetivos concretos, que são o resultado da dedicação, da competência, da seriedade e do entusiasmo de todos os seus componentes. É crível, até prova em contrário, que nenhuma equipa se sente realizada com os prejuízos dos outros, com os insucessos, com as intrigas e com as desavenças porque, no limite, perdem todos, os próprios elementos da equipa e o público-alvo a quem se destinava o seu trabalho, e que, de resto até acreditou nesta equipa.

É muito importante refletir na seguinte lógica: «Não nos prejudicarmos a nós próprios nem aos outros no início, não nos prejudicarmos a nós próprios nem aos outros no meio, não nos prejudicarmos a nós próprios nem aos outros no fim, constitui a base da sociedade iluminada. É assim que pode existir um mundo são. Ele começa com cidadãos saudáveis, que somos nós. A agressão mais fundamental que podemos fazer a nós mesmos é permanecermos ignorantes por não termos a coragem e o respeito de nos encararmos com sinceridade e gentileza.» (CHODRON, 2007:51).

A constituição de uma equipa de trabalho, para exercer o poder, analisar situações, resolver problemas, produzir novas e favoráveis situações para a sociedade, em última instância, tem por objetivo supremo, proporcionar a maior felicidade ao coletivo que se predispôs a servir. Concordar-se-á que a felicidade é um bem imaterial, subjetivo, inquantificável para uns, medível para outros, mas se uma tal equipa de trabalho, estabelecer o seu próprio conceito de felicidade, que é partilhado pela maioria do seu público-alvo, então será muito mais gratificante a sua atividade.

Deseja-se que a ideia central, que poderá prevalecer à constituição de uma equipa de trabalho, que logo que entra em atividade, se circunscreverá ao imperativo do trabalho conjunto, à tomada de decisão coletiva, à assunção de responsabilidades por todos os membros, e que para se analisar adequadamente situações, resolver problemas com eficácia e justiça, criar, inovar e implementar novos projetos são necessárias pessoas equilibradas, portadoras de valores humanistas, que tenham passado pela “Universidade da Vida” com “aproveitamento”.

São indispensáveis colaboradores que saibam ser pessoas, verdadeiramente humanas, sem preconceitos de alegadas superioridades, que demonstrem nos pensamentos, nos atos e na prática da vida corrente, que são genuinamente solidárias, amigas, leais, compreensivas, tolerantes, humildes e gratas. Com tais pessoas, a equipa ficará excelente, será imbatível.

 

Bibliografia

 

CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis. Tradução, Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.

RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Tradução, Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ld.ª.

TORRALBA, Francesc, (2010). A Arte de Saber Escutar. Tradução, António Manuel Venda. Lisboa: Guerra e Paz, Editores S.A.

 

“NÃO, à violência das armas; SIM, ao diálogo criativo. As Regras, são simples, para se obter a PAZ”

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Venade/Caminha – Portugal, 2023

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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