sábado, 30 de setembro de 2023

Globalização de Valores

Analogicamente é possível, tal como nas ciências em geral, tomar o conceito de poder, entendido como a influência que alguém exerce sobre outrem, e fragmentá-lo nas muitas especializações que se verificam na sociedade atual, designadamente, os poderes: matrimonial, paternal, filial, religioso, político, financeiro, militar, económico, social, profissional e tantas outras formas e especificações.

Igualmente se reconhece a existência de poderes mais ou menos influentes, decisivos, fundamentais para a vida física, e/ou espiritual, materialmente importantes e condicionantes do progresso. A sociedade moderna, construída nos preconceitos do mediático, da aparência, do TER concreto da coisa materialmente valorizada, caminha para objetivos que se desviam dos projetos de vida, verdadeiramente humana.

O homem (humanidade) tem-se deslumbrado com um mundo que ele vem construindo: que lhe proporciona bens de primeira necessidade; mas também muitos outros que são supérfluos; e ainda outros que lhe são prejudiciais e, em algumas situações, lhe são fatais. O homem, porém, tem-se esquecido de outros bens que, cada vez mais, se consideram essenciais, justamente, compatíveis com a sua condição superior, em todo o reino animal.

Este mundo, parcial e artificialmente construído pelo homem, é o resultado das imensas capacidades e poderes que o ele dispõe, e não se pode ignorar que: «Por suas extraordinárias realizações, o mundo moderno é prodigiosamente grande e belo. O homem, orgulhoso de seu poder sobre a matéria e sobre a vida, parece dominá-las cada dia melhor. Ora, na medida em que pela ciência e pela técnica o homem vai se apoderando do universo, vai também perdendo o domínio do seu universo interior. À medida que penetra no mistério dos mundos, tanto dos infinitamente grandes como dos infinitamente pequenos, perde-se nos seus próprios mistérios. Pretende dirigir o universo e não sabe dirigir a si mesmo.» (QUOIST, 1985:7-8).

O mundo natural, oferecido pelo Criador, o mundo artificial construído pelo homem e a vida humana, são bens de um valor inestimável, impossível de, materialmente, se avaliar. Os mundos e a vida podem, e devem, ser belos, no sentido daquela beleza que proporciona bem-estar interior, alegria, felicidade no seu conceito de tranquilidade, paz e segurança, conforto e realização pessoal.

O poder interior que brota de cada pessoa, resultante da convicção profunda dos deveres cumpridos, da realização plena de projetos dignos da espécie humana, que elevam o homem à condição de divinizável, em relação a todos os outros animais, constitui um privilégio que deve ser orientado para o bem, para o que é superior, para a vida boa.

Construir o mundo e o homem, é uma tarefa que se impõe a cada pessoa, e à sociedade no seu todo, que implica o bom uso dos muitos e diversos poderes, desde logo todos aqueles que se sustentam numa axiologia sem preconceitos: os valores, como referenciais de vida. Por exemplo, o valor “Dignidade Humana” poderá ser um argumento poderoso: contra a injustiça, contra a violência, contra a humilhação, porque para além da dignidade de ser pessoa, só existe Deus, seu Criador, isto é: «A pessoa é em toda a natureza, o que há de mais perfeito. De todas as naturezas é a mais digna. E esta dignidade resulta da sua perfeição interna, da sua bondade autóctone, anterior a bens secundários, reflexos de relações sociais.» (S. TOMÁS, in: FRANCA, 1955:149).

A sociedade deste novo século, que progride para a globalização em vários domínios: cultural, científico, tecnológico, económico, mercantil, infelizmente, não está no mesmo rumo, no que se refere à axiologia, designadamente, nos valores que ela comporta e são específicos das diversas dimensões da pessoa humana, revelando-se, uma vez mais, interessada em práticas que menorizam e humilham a pessoa.

Globalizar a paz, a democracia, a saúde, o trabalho, a distribuição equitativa das riquezas naturais, a liberdade em todas as suas vertentes, a igualdade de oportunidades e de tratamento, a fraternidade, independentemente de etnias, religiões, ideologias políticas, o respeito, bem como quaisquer outras convicções filosóficas, culturais e sociais, de estatutos e formas de estratificação societária, universalizar a segurança e a integridade física e psicológica de cada pessoa, e das comunidades, reconhecer e preservar a propriedade privada, legítima e legalmente adquirida e usufruída, serão medidas que se impõem aos dirigentes e à humanidade.

 

Bibliografia

 

FRANCA, Leonel, Padre S.J., (1955). A Crise do Mundo Moderno, 4ª Ed. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora.

QUOIST, Michel, (1985). Construir o Homem e o Mundo, Tradução, Rose Marie Muraro, 34ª. Ed. (332º milheiro), São Paulo: Livraria Duas Cidades.

 

 

“NÃO, à violência das armas; SIM, ao diálogo criativo. As Regras, são simples, para se obter a PAZ”

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Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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