domingo, 22 de outubro de 2023

CULTURA DA INTERDISCIPLINARIDADE.

 Os avanços científicos e tecnológicos são dois vetores fundamentais para o progresso e bem-estar das pessoas e da humanidade, e quanto mais forem acompanhados pelo pensamento reflexivo e profundo, melhores serão os resultados. O ser humano, em parte, continua um mistério, na vida e na morte e esta é a convicção da maioria das pessoas, em todo o mundo religioso.

E se a ciência e a tecnologia não devem intrometer-se nesta dimensão, algo misteriosa, também a fé e a religião não terão condições materiais para colocar em dúvida os resultados a que aquelas vão chegando. A alternativa consiste numa de duas soluções: complementaridade ou divergência.

Optar pela primeira alternativa – complementaridade – afigura-se a mais correta, sem prejuízo por outras opiniões, mais fundamentadas, como é óbvio. De resto, o ser humano não é só dimensão religiosa, nem dimensão corpórea, e nesta incluídos os aspetos técnicos e científicos, é tudo isto e muito mais, ainda que em momentos e contextos diferentes.

Desvalorizar uma das muitas dimensões do homem significa amputar-lhe um pouco da sua cultura, que constitui, afinal, toda a sua riqueza e diferença em relação ao resto da natureza existente, e conhecida na terra. Dificilmente se poderá imaginar o homem inculto, seja na perspectiva antropológica, seja no conceito elitista, porque pelo menos uma daquelas culturas será possível detetá-la. Evidentemente que a dimensão cultural é, apenas, uma entre diversas outras, igualmente importantes.

A vida humana só faz sentido quando vivida em todas as suas dimensões ou, pelo menos, com mais intensidade numa delas, todavia, o ser humano poderá tentar melhorar o seu desempenho, mais numas do que noutras, sendo, todavia, certo que dificilmente, alcançará a perfeição.

Na verdade, todas as dimensões humanas acabam por identificar e distinguir o ser humano, dos restantes seres da natureza e, seguramente, o homem, tem plena consciência do poder que a cultura lhe confere, desde logo em toda a sua pessoalidade.

Com efeito: «Tornar-se pessoa não é meramente integrar-se às pautas de conduta e de valores predominantes, assumindo a responsabilidade, deveres e direitos que se reconhecem às pessoas (não a todos os indivíduos); é também ter consciência da sua singularidade enquanto sujeito e agente de sua vida. Outro tanto acontece com a individuação. Tornar-se indivíduo é algo mais que saber-se único e intransferível; é também reconhecer-se no outro como ente semelhante na diferença. O indivíduo é consciente de sua diferença na sua semelhança com os outros. » (ROMERO, 1998:73).

Será, portanto, nesta cultura de interdisciplinaridade, de conjugação das várias dimensões, que uma sociedade mais compreensiva poderá desenvolver-se, justamente a partir do homem cultural, com todos os seus valores, presentes e passados, adaptando aqueles a um novo tempo, mantendo outros e, se possível, reforçando-os. O caminho para se instaurar uma cultura para a vida não será fácil, e se o seu início poderá ser apontado, logo na família, o seu fim talvez não se vislumbre, porquanto ele poderá entender-se como uma herança que passa de geração em geração.

A pessoa, culturalmente interessada numa sociedade melhor, certamente, terá de abdicar de algumas práticas e pensamentos que, eventualmente, não se ajustam a estes tempos modernos, onde todos clamam por melhores condições de vida, mas poucos contribuem para tal objetivo, principalmente aqueles que teriam todos os recursos e capacidades intelectuais e, elitistamente, culturais para o fazer.

Significa isto que, uma cultura para a vida constrói-se de cima para baixo, de quem governa para quem é governado, seja qual for o setor dessa governação, porque investindo-se na educação, na formação e na cultura, os governados conseguem adquirir hábitos que os conduzem a melhores situações de vida.

Claro que aqui surge esta dificuldade: muitas vezes quem governa, também não está culturalmente preparado para governar e, inevitavelmente, as condutas menos boas, partem, justamente, de tais pessoas. Entra-se, então, num círculo vicioso, que é necessário romper com ele. Como? Sensibilizando todas as pessoas de boa-vontade, independentemente da idade, estatuto e poder, para desencadearem o projeto cultural, que conduzirá à elaboração de boas-práticas, e a objetivos consentâneos com uma sociedade civilizada: da mais pequena aldeia ou bairro à maior cidade ou área metropolitana. Na sua origem, devem intervir as famílias, a Igreja e as Escolas, pelo menos.

Institucionalizar: numa sociedade em particular; e no mundo em geral, uma cultura para uma vida digna, de respeito, tolerância e entreajuda entre os cidadãos é um projeto que se reconhece extremamente ambicioso e, eventualmente, utópico, tanto mais difícil de concretizar, quanto menos a sociedade estiver preparada, todavia, as dificuldades não devem constituir obstáculo para a desistência.

O homem continua a ter uma imensidão de potencialidades, que é necessário explorá-las e passá-las a atos concretos. A intolerância só tem conduzido à explosão da violência em todo o mundo, com consequências dramáticas para as populações inocentes, sofrimento atroz para crianças, idosos, mulheres e pessoas indefesas.

O homem não se tem revelado em todo o seu esplendor, ainda que se considerem os grandes avanços científicos e técnicos, porque os conflitos, a guerra, a exclusão e a fome continuam presentes em todo o mundo. Então deve-se perguntar: que cultura pode a humanidade esperar para a sua vida?

A esperança, enquanto atitude positiva de perspectiva futura, deverá acompanhar cada pessoa, cada grupo, cada comunidade e a sociedade global, portanto importa acreditar num mundo melhor, apostando na valorização das pessoas, pelos valores culturais. É com um pensamento otimista que melhor se poderá construir um futuro mais justo, uma sociedade que, verdadeiramente, respeite a dignidade humana.

Acreditar numa vida humana diferente, para muito melhor, daquela que milhões de pessoas continuam a ter, é um imperativo que se exige, justamente pela preparação cultural, nas suas diversas vertentes. Certamente que haverá outras soluções, igualmente viáveis e, provavelmente, com a previsão de melhores resultados, todavia, o princípio do qual se deve partir poderá ser o mesmo.

Na verdade: «A vida humana se distingue da dos animais e dos outros seres viventes pelos níveis espirituais que atinge e pelas dimensões sociais que alcança: por isso se pode falar em vida espiritual, vida intelectual, vida social, vida política, etc. (…) Ele pode elaborar o seu próprio conceito de vida perfeita e é por essa vida que ele sente um fascínio ardente. O homem é dono da própria vida, pode em larga escala controlá-la, dirigi-la, aperfeiçoá-la. » (MONDIN, 1980:60).

 Uma cultura para a vida verdadeiramente digna passa, indiscutivelmente, pela luta por um aperfeiçoamento constante, em todas as dimensões que são específicas do ser humano, onde todas as pessoas se saibam respeitar, compreender e ajudar. Passa por uma educação bem precoce, no seio das instituições com mais influência na vida de cada um – família, Igreja, escola, coletividade, empresa, comunicação social, entre outras -, pese, embora, a circunstância de se verificar, em certos meios e mentalidades, alguma desvalorização daquelas instituições, concretamente, das famílias.

 

Bibliografia

 

MONDIN, Battista, (1980). O Homem quem é ele? Elementos de Antropologia Filosófica, Tradução, R. Leal Ferreira e M. A. S. Ferrari; revisão de Danilo Morales, 3ª Edição, São Paulo: Edições Paulinas. (Coleção Filosofia 1)

ROMERO, Emílio, (1998). As Dimensões da Vida Humana: Existência e Experiência, São José dos Campos: Novos Horizontes Editora.

 

“NÃO, ao ímpeto das armas; SIM, ao diálogo criativo/construtivo. Caminho para a PAZ”

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Venade/Caminha – Portugal, 2023

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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