domingo, 28 de maio de 2017

A Escola do Século XXI

A escola do futuro, qualquer que seja o seu nível, e que tenha por objetivo educar e formar o cidadão do mundo, não pode continuar a rejeitar o professor crítico, reflexivo, caracterizado por três tipos de desenvolvimento: pessoal, profissional e organizacional, produzindo a transformação da cultura escolar, que inclui a implementação e consolidação de novas práticas participativas e de gestão democrática.
Além disso, necessita de analisar as condições de produção do seu trabalho, tendo em conta as circunstâncias sociais, políticas e económicas, que interferem na sua prática pedagógica, porque numa sociedade étnico-intercultural é essencial a reflexão sobre a dimensão política do ato educativo, na medida em que: «Sobre a educação para o século XXI é apontada a necessidade de educação para a diversidade e para a cidadania, assumindo o sistema educativo a responsabilidade de preparar cada pessoa para esta participação mostrando-lhe os seus direitos e deveres, mas também desenvolvendo as suas competências e estimulando o trabalho em equipa na escola.» (GUEDES & MIRANDA, 2005:19).
Neste sentido estratégico revela-se de fundamental importância uma metodologia de trabalho centrada na prática, partindo de problemas que se apresentam na sua situação concreta, contribuindo para o desenvolvimento profissional enquanto professor, permitindo um maior envolvimento para aprofundar a capacidade de análise crítica e das condições em que exerce a sua atividade, procurando a cumplicidade da escola, gerando assim mais e melhor conhecimento.
Uma tal estratégia, suportada na dupla metodologia investigação-ação e observação-participação, é incompatível com tarefas meramente administrativas e rotineiras que, por vezes, as escolas exigem aos seus professores, que assim se tornam funcionários administrativo-burocráticos.
Deixe-se ao professor a difícil, mas muito importante, tarefa da investigação, pois só assim poderá aumentar ou interpretar os conhecimentos. Para isso é essencial que ele tenha condições de grande envolvimento, porque a técnica da observação-participante: «Consiste na inserção do observador no grupo observado, o que permite uma análise global e intensiva do objecto de estudo.» (ALMEIDA & PINTO, 1995:105). 
Formar o cidadão do mundo, para a mudança que se vem operando ao longo dos séculos, que no período de transição para o século XXI se fez sentir com uma extraordinária velocidade, exige professores/formadores/educadores exclusivamente ao serviço dos objetivos educacionais, em ordem à construção de um mundo mais humanizado, em todos os setores das diversas atividades humanas.
Impõe-se aos responsáveis pela organização do sistema educativo que criem todas as condições, necessárias e bastantes, para que se possa beneficiar do trabalho do professor que pensa: «Professor reflexivo, que medite sobre as suas próprias práticas, apoiando-se na experiência, na investigação, noutros recursos disponíveis e importantes para a avaliação do seu desenvolvimento profissional, nomeadamente no seu próprio projecto de formação, desenvolvendo competências sociais e profissionais, numa perspectiva de formação ao longo da vida, participando em projectos de investigação relacionados com o ensino, aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.» (SILVA, 2005:25).
Discute-se, atualmente, um pouco por todo o mundo, o sistema educativo ideal ou, pelo menos, o mais perfeito possível. Alteram-se processos de avaliação, introduzem-se novos conteúdos programáticos, exigem-se professores competentes, dedicados, em regime de exclusividade na escola onde estão colocados, e determina-se que executem tarefas que seriam melhor realizadas por outros profissionais.
Por outro lado, quando os resultados das avaliações nacionais são, globalmente, fracos, procura-se, sempre, encontrar alguns responsáveis pelo setor, ou seja, os agentes intervenientes no sistema educativo, ficando o insucesso a dever-se ao Ministério, aos alunos, aos pais e aos professores, esquecendo-se que, a sociedade, no seu todo, é igualmente culpável. Em todo o caso, é com muita frequência que, parte significativa do insucesso, se atribui aos professores, quantas vezes, injustamente.
É uma situação que não pode ser aceite e há fortes razões para se concordar com o seguinte raciocínio: «Os professores vivem numa encruzilhada (…). Alguns chegam a apelar para que os professores deixem de assumir a posição, se é que ainda têm, de que são os detentores da verdade científica, humanística e artística e adoptem uma atitude socrática: humildade perante a vastidão e a constante criação do saber; quando se trata de definir as novas funções dos professores sucedem-se as ideias de que estes devem ser catalisadores da procura do conhecimento; gestores da informação; mediadores entre o aluno e o mundo caótico da informação; auxiliadores na estruturação da diversidade das experiências; mestres no sentido socrático, isto é, partes activas na procura do saber, tendo como única certeza as limitações do seu próprio saber.» (ARAÚJO, 2005: RIT-8). 
As preocupações avolumam-se ainda mais quando a reflexão envolve a própria instituição Escola, na medida em que se verifica, com relativa frequência, um manifesto desinteresse, quando confrontada com atividades materialmente lucrativas. A mentalidade que parece imperar, em grandes círculos da sociedade, afigura-se ir no sentido do abandono escolar, a favor das atividades que proporcionam remunerações substanciais e enriquecimento rápido e significativo.
Eventualmente, a Escola não tem sido capaz de cativar jovens e adultos. Na verdade: «Quando pensamos nas nossas escolas não apenas como instrutivas do raciocínio lógico ou das capacidades linguísticas, concluímos que há urgência de as tornar educativas, motivadoras e sedutoras. (…) Desta forma há necessidade de novas tentativas centradas na orientação dos percursos individuais no saber, na facilitação da aprendizagem personalizada, mas também em redes interactivas e à distância» (MOREIRA, 2000:180-81).
Impõe-se, cada vez com mais acuidade, uma Escola educativo-formativa no sentido de educar e formar cidadãos com: princípios e valores, determinados por objetivos coletivos, sem prejuízo das legítimas aspirações individuais, com a salvaguarda de não colidirem com os superiores, bem como, igualmente, legítimos interesses de todos, onde, afinal, o indivíduo se inclui e é parte integrante, portanto, beneficiário dos progressos que afetam o todo.
Pode-se concordar, sem grandes dificuldades, com a seguinte análise, justamente, de quem tem longa experiência de vida profissional docente: «As desigualdades, as tensões inter-étnicas, a competição desenfreada, a sobrevalorização dos valores materiais tem promovido um abandono escolar crescente, sistemático e localizado nos grandes centros urbanos e naqueles que são economicamente excluídos. As respostas educativas dadas nas últimas décadas apontam, essencialmente, para: a) alargamento progressivo da escolaridade obrigatória básica; b) Desenvolvimento de novas atitudes e processos de educação para todos e formação ao longo da vida; c) Defesa dos valores da tolerância e de envolvimento cívico.» (ROCHA, 2005:2).
Reconhecendo-se, muito embora e respeitando outras opiniões, que por muito bem elaborados que estejam os programas de formação inicial de professores, também se pode admitir que a preparação académica já não confere, por si só, um saber total, que se possa utilizar ao longo de toda a carreira.
Pelo contrário, o professor para uma Nova Escola e para formar este cidadão do mundo, vai ter que prosseguir os seus estudos, realizar quantitativa e qualitativamente a investigação inerente aos domínios que pretende transmitir e orientar, até porque o conhecimento, a ciência e a tecnologia estão a progredir de tal forma que já é difícil acompanhar a sua evolução.
Hoje, mais do que nunca, uma das finalidades das formações: inicial e contínua do professor é incrementar neles as qualidades de natureza ética, intelectual e afetiva. Tal como o médico, o advogado, o arquiteto e outras profissões liberais, também o professor, até por maioria de razão e motivos óbvios, tem de se manter, permanentemente, atualizado, porque é ele que vai ministrar a formação inicial, exatamente, àqueles profissionais liberais.


Bibliografia


ALMEIDA, J. F., PINTO, J. M. (1995). A Investigação nas Ciências Sociais (5ª ed.). Lisboa: Editorial Presença.
ARAÚJO, M. I. (2005: Rit-8). Novas tecnologias nas Escolas. Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya. (Curso ISC: 3º ano. “Projectos e Tecnologias Educativas”)
GUEDES, J. A. D. e MIRANDA, M. R. (2005). A Capacidade de Auto-aprendizagem do Professor, no domínio da Formação e Desenvolvimento Profissional dos Professores. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar). Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya.
MOREIRA, V. (2000). Escola do Futuro, Sedução ou Inquietação? As Novas Tecnologias e o Reencantamento da Escola. Porto: Porto Editora.
ROCHA, A. F. S. (2005). Abandono Escolar: Respostas Educativas. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar). Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya. (Não publicado)
SILVA, E. D. M. (2005) O Professor Reflexivo. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar). Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

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