domingo, 1 de abril de 2018

Páscoa. Farol que nos ilumina

Acredita-se que na maioria dos países de civilização ocidental, com matriz religiosa católica, a Páscoa seja celebrada com os rituais, e a dignidade que a tradição nos vem transmitindo ao longo dos anos e, neste domínio, Portugal não fugirá às regas, ou seja: A Páscoa, designadamente nas aldeias é, ainda, celebrada como uma festa, não só da família, mas também comunitária.
Vivenciar a Páscoa nas suas dimensões religiosa e profana, numa aldeia portuguesa, nomeadamente na província do Minho, é uma experiência que não mais se esquece na vida. As cerimónias religiosas têm o seu tempo próprio e ritual ancestral, desde logo durante o longo período da Quaresma, que decorre durante os quarenta dias posteriores ao Carnaval, onde os preceitos católicos ainda vigoram, como jejuar de carne às sextas-feiras, a “queima do Judas”, entre outros.
Importará referir que haverá três dias que antecedem o dia de Páscoa que são respeitados e vividos com intensidade, pelos crentes mais fervorosos. Assim: na quinta-feira santa é o dia de endoenças, ou seja, o dia que antecede a celebração da morte e ressurreição de Jesus; segue-se a sexta-feira santa que corresponde a uma data religiosa católica, que recorda a crucificação de Jesus Cristo e sua morte no Calvário; no sábado de aleluia, é o último dia da Semana Santa, no qual os cristãos se aprontam para o festejo da Páscoa. Nele se celebra o dia que o corpo de Jesus Cristo permaneceu sepultado no túmulo e, finalmente, o domingo da ressurreição que, segundo a liturgia,  nos garante que a vida em plenitude, resulta de uma existência feita de um dom e serviço em favor dos irmãos. A ressurreição de Cristo é o exemplo concreto que confirma tudo isto.
É, justamente, no domingo que o “compasso pascal” visita as famílias nas suas casas, onde comparecem, também, os amigos, não havendo convites, porque neste ritual, a porta da casa está aberta para quem desejar entrar, e beijar Jesus crucificado na Cruz. Beijar a Cruz, é uma cerimónia em que o pároco dá a cruz a beijar ao dono da casa e depois a entrega para este percorrer os aposentos da casa e cumprir, igualmente, com este ritual, com todas as pessoas presentes.
Em seguida os convivas, dirigem-se para a mesa, onde foram colocadas as iguarias próprias da época, e assim se realizar a confraternização com alegria, tolerância e paz. Neste ritual profano, é normal que os donos da casa “caprichem”, no bom sentido, de apresentarem a melhor mesa de guloseimas. Faz parte da boa tradição das nossas aldeias.
A Páscoa Portuguesa é uma festa móvel, como em todo o mundo católico, muito interessante, que mobiliza milhares de pessoas que vivem nas cidades, para as aldeias onde possuem habitação, onde residem familiares e amigos, para matarem saudades e confraternizarem, entre si, com muita alegria, certamente, também com amizade e respeito, afinal, mais uma festa da família, de amor, de convívio, de exultação e, se quiserem, de ressurreição para uma nova vida.
O que fica exposto, em relação às várias dimensões positivas que a Páscoa nos oferece, infelizmente, ainda existem situações de nossos compatriotas que não têm quaisquer possibilidades de confraternizarem com familiares, amigos ou, talvez agora, sejam ex-amigos, neste dia tão especial para a comunidade dos crentes católicos.
É urgente, constitui um imperativo nacional, revela-se fundamental para a dignificação da pessoa humana, tomarem-se medidas rápidas e eficazes, para se acabar com esta chaga social que a todos nós constrange e envergonha, porque a situação em que se arrastam quase dois milhões de portugueses e estrangeiros residentes, constitui o maior libelo com que algum governante pode confrontar-se.
E inaceitável, incompreensível e injusto que se empresta, ou atribua, a fundo perdido, quaisquer tipos de apoios financeiros a instituições falidas, ou em vias de insolvência, em muitas delas: por má e negligente gestão; consignação de privilégios a titulares de cargos de administração; e se descartem os apoios necessários para quem mais necessita, nomeadamente: a construção de habitações condignas, constitucionalmente consagradas na Lei Fundamental; a melhoria substancial das reformas, pensões e outros benefícios sociais; a construção e funcionamento profissional de lares, casas de recuperação para doentes com patologias degenerativas; a colocação em atividades produtivas por parte de pessoas que, embora reformadas, ainda podem e querem dar o seu contributo para uma sociedade mais justa e confortável. Assim mesmo, a Páscoa, deveria ser tudo isto.
Aproximamo-nos do final do primeiro quarto do século XXI. Reconhecendo-se que muito tem sido feito, em diversos domínios da sociedade, é intelectualmente honesto, admitir-se que ao nível do Estado Social, ainda há muito por realizar, e é aqui que a Páscoa faz todo o sentido.
Uma Páscoa que se equipare: a uma Ressurreição da sociedade, em geral; e do Estado, em particular, para os valores do humanismo, da dignidade da pessoa humana. Ninguém pode ser descartado, só porque idoso, pobre, doente, sem-abrigo ou qualquer outra situação desfavorável. A exclusão social bem como quaisquer outros tipos de descartes, são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito.
Nesta Páscoa, ficam aqui os votos muito sinceros do autor desta reflexão, apontam no sentido de desculpabilizar todas as pessoas que, por algum meio e processo, o prejudicaram, ofenderam e magoaram, não significando esta atitude: “passar uma esponja”; esquecimento total, mas apenas a vontade de reconciliação, de tentar novos diálogos, novas abordagens, para um melhor e mais leal relacionamento.
Páscoa que se pretende para todas as pessoas, como um dia, pelo menos um dia no ano, de reflexão, de recuperação de valores humanistas universais, um dia para festejar e recomeçar com novas: Precaução, Moderação, Robustez, Justiça, Fé, Confiança, Caridade, Comiseração e Generosidade. Uma nova Esperança Redentora, entre a família, os verdadeiros e incondicionais amigos. A todas as pessoas: Páscoa Muito Alegre e Feliz.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

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