Podemos encontrá-la no misticismo, isto é, na
atitude que conduz a pessoa ao êxtase, à profundeza dos seus sentimentos, ao
elevar-se das suas aspirações, ao fervor com que defende as suas convicções.
O místico manifesta, também ele, uma expressão vital
em todos os atos objeto da sua sinceridade, mas é uma expressão vital de tal
forma profunda e concentrada, que em nada se assemelha àquela outra expressão
vital espontânea, desarticulada, irrefletida.
Assim, e a título de exemplo, o autor investigado alude
que «… pela sua intensidade e profundeza,
pode o amor místico inspirar (…) acentos cuja vibração ultrapasse a da mais
viva expressão do amor humano; da própria expressão ou paixão sensual.»
(RÉGIO, 1980:33). Um místico pode coexistir no artista e, nesta situação,
poderia dar expressão artística às suas experiências místicas, mas é como
artista que ele exprimirá o seu misticismo, mas nunca, simultaneamente, as duas
atitudes, isto é, místico e artista.
A expressão mística transcende a expressão
artística, porque o místico deixará de o ser, quando tentar explicar e
comunicar aos homens aquele estado tão íntimo em que se encontra, sempre que em
silêncio, ou em oração, muda perante Deus, ou num envolvimento de Graça com
Deus, enfim, sempre que numa dádiva profunda e entrega total a Deus, porque
tais expressões, profundamente íntimas, não são traduzíveis pela arte, não são
explicáveis, nem comunicáveis para os vulgares humanos, por mais artísticas que
sejam.
O conceito de místico, até agora discutido é,
talvez, demasiado seletivo, e por isso, se degradarmos um pouco tal conceito,
então, poderemos admitir o artista místico, se ele realiza a sua obra a partir
de uma vida intensa e profunda, de autêntica inspiração, encontrando-se tais
estados envolvidos em algum mistério, deixando, porém, de o ser quando o
artista se mistura à vida, e desta adquire uma experiência que vai permitir-lhe
realizar uma obra, para cuja concretização se tem de especializar, ou seja,
separar-se e elevar-se da vida, encerrar-se numa “torre de marfim”, e esquecer tudo o que não seja aquela
realização.
Ora, o autor considera que: «sem torre de marfim não chegaria a haver expressão conseguida, obra de
arte realizada. Sem a descida à vida, nem essa expressão seria expressão
artística: pois seria o continente sem conteúdo, a expressão sem o expresso –
expressão retórica em seu sentido pejorativo.» (Ibid. 43).
Bibliografia
RÉGIO,
José, (1980). Três Ensaios sobre a Arte. Em Torno da Expressão Artística. 2ª
Ed. Porto: Brasília Editora.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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