Se a expressão vital: na sua manifestação mais
originária e espontânea, não chega a ser arte, por lhe faltar a
intencionalidade, a fixação e a comunicação; então, a expressão mística
ultra-humana, enquanto atitude sincera de diálogo em silêncio, oração sem
palavras, êxtase perante Deus, recolhimento profundo, fé sublime e esperança
numa outra vida, também não é arte, porque a transcende.
Igualmente, a expressão retórica no seu significado
mais pejorativo e corrupto de verbalidade fútil, de jogo de palavras, cores,
linhas, planos e volumes, pretende ser arte, mas não o sendo, por insuficiente
e desequilibrada.
Tomando para a expressão retórica um outro
significado, para o seu vocábulo, no sentido mais puro e lato, em que se manifesta
pelos vários ramos da arte, também aqui a mesma expressão pretende ser arte,
não o sendo por excesso de formas, numa multiplicidade que desunifica o ser,
que distingue o fundo da forma, o homem do estilo, enfim, que não é a
totalidade do ser interior, todo em si mesmo.
Então o que é a arte? Intenção profunda e jogo,
transfiguração do real, fixação e comunicação! Creio que arte pode ser, também,
algo de supremo na simplicidade da expressão multifacetada da natureza,
enquanto criação perfeita, primordial e originária, espontânea, intencional e
comunicativa.
Nesta simplicidade multifacetada da natureza,
encontramos a expressão artística do Criador, obviamente a Arte em si, desde a
conceção, desenvolvimento e morte da simples planta, ao mais complexo dos seres
animais – o Homem –, deparamo-nos com a arte, beleza perfeita, porque
originária do Criador incriado, intencional e comunicativa, porque Ele, ao
colocar no mundo tudo o que à nossa volta encontramos, fê-lo com a intenção de
propiciar a todos os entes as melhores condições de existência, num círculo
eterno hierarquizado, segundo a Sua Vontade.
Disposição dos astros, da terra, da água, do fogo,
do ar, da fauna e da flora, são a cabal prova da arte que preexistiu à criação
do mundo, não olvidando a comunicabilidade entre cada uma das espécies, e entre
estas e o Mundo, nas suas mais diversificadas formas, desde o contacto do vento
com a terra, as coisas, as plantas e os animais, à convivência entre os homens,
qualquer que seja a sua situação, posição geográfica, existe sempre uma
possibilidade de comunicação. Não será isto arte? Creio que sim. E tanto mais
creio, quanto é certo, que a arte humaniza a vida concreta, porque ela é
expressão universal aplicada ao condensado da existência ecuménica.
É claro que não se pode descurar a intervenção da
ciência e da técnica, na explicação de inúmeros fenómenos que hoje esclarecem,
de forma verificável, o funcionamento físico do mundo, todavia, ainda parece
estarmos muito longe de uma elucidação cabal de alegados acontecimentos, se
realmente existem, como alguns afirmam: Extraterrestres, Ovnis. Alguns
“mistérios” da antiguidade, deixaram-no de o ser, justamente, graças à
inteligência e capacidades humanas.
A arte é, efetivamente, expressão vital porque ao
fabricar a beleza e provocar a emoção estética ela atinge o homem todo, em
corpo e alma, possibilitando-lhe a experiência de vida, o que o torna distinto
e superior a todo outro qualquer ser conhecido neste Planeta Terra.
Por outro lado, a arte, a expressão perfeita, dá um
gozo espiritual tão profundo que o homem, portador deste privilégio, bem pode
considerar-se a caminho da sua realização plena, porque ao sentir o êxtase de
tal prazer, ele dá-se conta que um maior deleite o espera se, lógica e
esperançadamente, acreditar no Artista que idealizou e realizou obra tão
maravilhosa, como é a própria Natureza, da qual aquele mesmo homem é uma peça
importantíssima.
A Arte, expressão vital; a Arte, expressão mística;
a Arte expressão retórica, não é mais, nem menos, do que uma ínfima parte da
Arte que nos transporta ao gozo de um mundo melhor, à plenitude inefável duma
companhia eterna, infinitamente bela, prodigiosamente perfeita. A Arte que
assim nos pode conduzir a uma vida plena e puramente realizada é a Arte
Espiritual, pela qual o homem se concretiza à imagem e perfeição do seu próprio
Criador.
A espiritualidade das vivências vitais, concretas e
sinceras, mas também intencionadas, orientadas, interessadas num supra-humano
é, decididamente, a Arte de hoje, de amanhã, do agora e sempre. Em suma, a
expressão artística é a síntese da alma e corpo, espiritualização de imagens,
jogo puro da vida.
É, portanto, indispensável viver a vida com arte,
aperfeiçoando a nossa humildade, aprofundando a nossa espiritualidade, até que
possamos ser uma verdadeira obra de arte que Deus pôs no Mundo, à sua própria
imagem. Pela Arte de sermos Pessoas e com a Arte da nossa expressão vital e
espiritual, aproximamo-nos da Arte-em-si, para com Ela unificarmos a
Arte-Final, a identidade homem-Deus.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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