São muitos os dias nacionais e internacionais que
ao longo do ano se evocam e festejam, com a pompa e circunstância que são
possíveis. Para cada tema, a efeméride celebra-se no dia que, consensualmente,
tem sido aceite, embora, também, já se tenham verificado alterações, como por
exemplo em relação ao dia da mãe, todavia, a maioria das comemorações, nos
respetivos países e/ou em todo o mundo se mantenha em data fixa.
Estabeleceu-se, internacionalmente, o dia oito de março,
para se festejar a importância da Mulher em todo o mundo, para que todos os
seres humanos rejubilem e prestem homenagem às Mulheres: elas próprias,
incluídas nas homenagens que lhes são, justamente, dirigidas; elas mesmas, o
centro de todas as atenções, naquele dia.
Paradoxalmente, aquele dia não é universalmente
vivido, sentido e festejado, porque a Mulher, infelizmente, ainda não ocupa o
lugar, no seio da sociedade que, por mérito próprio, tem direito,
reconhecendo-se, entretanto, que, ainda que timidamente, tem havido alguma
evolução favorável ao reconhecimento da sua dignidade.
Numa visão generalista, e de muito fácil
entendimento, pode-se admitir, como regra universal, que a Mulher é a pessoa
que primeiro se ama, por quem se tem um grande carinho, a quem se pede refúgio,
que dela se recebe amor incomensurável, proteção incondicional, compreensão e
tolerância sem limites. Esta Mulher, que a maioria dos seres humanos começa a
amar, e por ela a ser amado, é o primeiro porto-seguro, a nossa fonte de alegria,
o nosso primeiro e grande amor, é a nossa mãe.
Esta função, este elevado e nobilíssimo estatuto,
sublime e inigualável, só a ela pertence, é como que uma bênção divina, uma dádiva
do Criador, a admirabilíssima
missão de ser mãe, por isso, mas não só, se deveria reconhecer, na Mulher, o
seu papel insubstituível, a premente necessidade do reconhecimento da sua
importância e da sua dignidade, a Mulher que pelo seu “sexto sentido” consegue,
quantas vezes, evitar as piores desgraças e resolver, carinhosamente, problemas
extremamente complexos, no seio da família e da sociedade.
Dia internacional da Mulher, pelo qual, em todo o
mundo civilizado, os valores do amor, do matrimónio, da maternidade, da dádiva
total, se festejam, com mais ou menos autenticidade, sinceridade, respeito e
reconhecimento. A Mulher-Filha, a Mulher-Esposa, a Mulher-Mãe, afinal, a
Mulher, como que glorificada, merecidamente, afirme-se, desde já, porque ela,
que gosta e respeita os pais, que ama o seu companheiro, a mãe extremosa, que gerou
e transportou o filho no seu ventre, a Mulher-Trabalhadora que, no limite das
suas forças, é capaz de dar a vida por aqueles que verdadeiramente ama. A
Mulher em todo o seu esplendor.
Mas a Mulher, enquanto filha, é importante para os
seus pais, seguramente, para a sua mãe, também esta Mulher, que ouve da filha
todos os seus choros, tristezas, alegrias, aspirações, dificuldades. Como esta
Mulher-filha ama a sua mãe, como que numa simbiose de amor, a ela está,
demiurgicamente, ligada, mesmo quando a vida é adversa, ela procura na mãe, ou
esta na filha, uma interpretação, os conselhos, ensinamentos e compreensão,
porque esta filha sabe muito bem que um dia, também poderá vir a ser mãe, e
conhece o aforismo popular, segundo o qual: “Filha és, mãe serás, como fizeres,
assim receberás”.
Existe, na maior parte das pessoas, uma espécie de
cumplicidade entre estas duas mulheres: mãe e filha, e/ou vice-versa. Em oito
de março festeja-se o dia da Mulher, não o dia da mãe, nem o da filha (haverá o
dia da filha?), não o dia da esposa, não o dia da avó ou de qualquer outro
parentesco, o que se comemora é o dia da Mulher, em todo o seu esplendor, na
plenitude das suas capacidades, dos seus valores, dos seus direitos e deveres,
dos seus sentimentos, sem dúvida.
É a mulher que está em nossas vidas: mais ou menos
profundamente; mais ou menos amada, querida, desejada, protegida, acarinhada;
mas também ela protetora, vigilante, trabalhadora, rainha dos nossos corações.
Mulher com letra grande, que sabe perdoar, que quando ama se entrega
totalmente, sem reservas, com esperança e determinação em conceder a maior
felicidade ao ser amado. Mulher que se revela em toda a sua plenitude.
É impossível conceber o mundo sem a mulher, também
ela na sua qualidade de esposa, companheira indefetível e amante do seu marido,
cúmplice, na vida externa como na intimidade do leito conjugal, conhecedora das
dificuldades mais íntimas do seu cônjuge, compreensiva, tolerante nos fracassos
e incentivadora para vencer obstáculos.
Mulher que ao lado do seu amor conjugal, com ele
enfrenta as adversidades da vida, com ele soluciona a maior parte dos problemas
e com ele tanto vive as alegrias, quanto as tristezas. Mulher que não está
atrás nem à frente dos êxitos do seu companheiro, mas está sempre ao seu lado, com
os mesmos méritos, com idênticas capacidades, com iguais possibilidades de
vitória. Mulher que é capaz de dar a vida por quem ama verdadeiramente.
É esta Mulher, enamorada, esposa, companheira que,
ao lado do seu ente amado, enfrenta o mundo, sem medos, com firmeza, com amor e
com sentimentos nobres. É esta Mulher que sabe guardar, num “cantinho do seu
coração”, os mais profundos, quanto notáveis e sublimes sentimentos, que jamais
praticará qualquer ato de deslealdade contra a pessoa que, autêntica e intimamente
ama ou, ainda, que admira, gosta, acarinha ternamente a quem ela sabe que lhe
quer bem, que também aprecia e ama com respeito e preocupação.
A Mulher de sentimentos profundos, de sensibilidade
extremamente apurada, que tem o seu próprio e salutar orgulho, para o bem, como
também para a sua defesa, quando se sente ou é atacada por quem quer que seja.
Mulher que no fundo da sua alma, quantas vezes sofre, em silêncio, ferida no
seu próprio amor, na sua dignidade, precisamente por quem não tem quaisquer
motivos para a agredir e seja qual for o tipo de agressão.
Admiremos a mulher que, mesmo perante um amor
proibido, ou não correspondido, consegue sofrer em sossego ou, quando sabe que
é amada, não pode corresponder, contudo, tem a generosidade de sorrir, de
compreender, de tolerar, aceitando, mesmo assim, com respeito pelo seu legítimo
cônjuge, uma amizade muito sentida, de um amigo muito especial. Que grandeza de
alma.
Dia oito de Março, dedicado, universalmente, à Mulher, em todas as suas
dimensões: filha, namorada, esposa, mãe, companheira mas, certamente,
trabalhadora incansável, quantas vezes desempenhando diversos papéis, quase em
simultâneo, acumulando trabalho, responsabilidades, enfrentando dificuldades
que derivam da organização, gestão e conforto do lar, no qual, frequentemente,
é ela a única a zelar por tudo e por todos, quase sempre, com um sorriso, com
um semblante de alegria, de felicidade e, carinhosamente, auxiliadora.
Qualquer pessoa, minimamente informada sabe que: «Uma das principais dificuldades das mulheres que trabalham é
equilibrar a carreira e a família numa escala de interesses e prioridades em
que, se uma pode ser mais importante do que a outra, se uma pode em determinado
momento exigir maiores atenções do que a outra, sem ambas a realização não é
plena.» (DUARTE, in: CANHA, 2010:74).
Neste dia mundial, especial e meritoriamente dedicado à Mulher,
compete-nos, de uma vez por todas, reconhecer-lhe a grandiosidade dos seus
valores, a profundidade dos seus sentimentos, as dimensões em que ela é capaz
de se desdobrar, pensando e agindo em favor dos mais carenciados, dos mais
frágeis, daqueles que ela verdadeira e intensamente ama.
Mas a Mulher não se circunscreve, apenas, aos papéis de filha, namorada,
esposa, mãe, companheira. A sua intervenção, na sociedade, tem outra vertente,
igualmente, essencial à construção de um mundo melhor, mais abastado e
confortável, porque ela também produz, contribui para a riqueza da família, da
empresa, da instituição, do país. A Mulher trabalhadora.
Ela exerce, atualmente, profissões que, até há pouco tempo, estavam
reservadas aos homens e, tanto quanto provam os estudos científicos, com resultados
idênticos, aos daqueles, na maioria das atividades em que se envolve.
Evidentemente que não há regra sem exceção, mas também é bom recordar que: «A compatibilização da vida pessoal com a
profissional é um dos principais desafios que têm de enfrentar as mulheres que
apostam numa carreira – e, fruto da alteração de mentalidades, os homens
também, justiça lhes seja feita.» (Ibid.:85).
A título, meramente ilustrativo invoquem-se alguns bons exemplos de
profissões exercidas por Mulheres, que, inequivocamente, revelam as suas
capacidades intelectuais, e também físicas, incluindo aquelas atividades que,
desde sempre, desde logo na antiguidade, época medieval até, praticamente, aos
nossos dias, estiveram reservadas aos Homens, como as Forças Armadas e de Segurança,
medicina, magistraturas, construção civil, pescas, entre muitas outras que,
agora, seria exaustivo elencar.
Recorramos, então, algumas reflexões, provenientes de quadrantes
profissionais do ensino e formação, embora de domínios do conhecimento diferentes,
dos dois sexos, relativamente à igualdade de género para ficarmos com uma ideia
sobre a importância da Mulher no mundo atual.
«Analisando a evolução da sociedade portuguesa a
situação das mulheres melhorou e muito, globalmente houve mudanças que devem
ser consideradas como altamente positivas para a situação das mulheres, mas em
comparação com a situação dos homens, em algumas áreas, ainda existe muita
desigualdade de oportunidades (quer no género, no acesso ao emprego, na
evolução da carreira, igualdade salarial, articulação vida profissional e vida
familiar.» FERNANDES, 2010, in: http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/25.02.2017).
«O grande desafio do século XXI é sem dúvida o
estabelecimento do mainstreaming, ou seja, a criação de uma cultura política e
administrativa onde os princípios de igualdade sejam colocados em prática e não
apenas aceites ou promovidos. É vital promover, defender e resgatar os direitos
da mulher, buscando garantia de igualdade no exercício de direitos e deveres,
principalmente aumentar os níveis de representatividade política, articulando
os meios que favoreçam a inserção da mulher na sociedade civil organizada,
elevando a cidadania.» (NASCIMENTO, 2010, in: http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/25.02.2017).
«Não só as mulheres maltratadas como, muitas vezes, as/os filhas/os
também são maltratadas/os. O desrespeito e a humilhação levam à vontade de não
ir à escola, levando ao consequente abandono escolar. (…). Estando inseridos
numa sociedade que discrimina em termos de igualdade de género, a escola
desempenha um papel muito importante na construção de um espaço generalizado
para, assim poder acabar com este problema de desigualdade contínua e
evolutiva.» (RAMALHOSA, 2010, in: http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/25.02.2017).
«O futuro do mundo passa,
igualmente, pelas mulheres e pelos homens. Ninguém poderá afirmar, com rigor
científico, qual dos géneros vai ter mais influência e/ou importância,
sabendo-se, contudo, que ambos vão ser decisivos para o bem ou para o mal. As
instituições públicas e privadas ao não praticarem a discriminação sexista só
terão a ganhar, como de resto já afirmaria ROMÃO, (2000:32): “Ao difundir que a sua empresa
pratica uma política de igualdade estará a aumentar as possibilidades de atrair
uma gama mais vasta de candidatos/as qualificados/as e de conservar o seu
pessoal. Tornar-se-á também mais competitiva, porque reduzirá os custos de
recrutamento e formação inerentes a uma grande rotação de pessoal.”» (BÁRTOLO, 2010, in: http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/ 25.02.2017).
Hoje,
primeiro quarto do século XXI, a Mulher não se circunscreve, apenas, ao mundo,
com todas as suas faculdades e exuberância, em todo o seu esplendor e carisma,
cada vez mais acentuado. Podemos considerar, a partir de agora, que a Mulher
pertence, efetivamente a uma elite, no sentido em que: «Uma elite é constituída por pessoas que pelo seu valor, pelo seu
trabalho, pela sua inteligência, se notabilizam e se diferenciam das restantes.
Têm uma autoridade, não um poder.» (BALDAQUE, in CANHA, 2010:214).
Bibliografia.
BÁRTOLO, Diamantino Lourenço
Rodrigues de, (2010). Liderança Feminina Empresarial, in http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/,
consultado em 03.03.2013.
CANHA Isabel, (2010). As Mulheres Normais Têm
Qualquer Coisa de Excecional, histórias inspiradas de vidas extraordinárias,
Lisboa: Bertrand Editora
FERNANDES, Cecília Manuela Gil
Carrondo, (2010). Profissões têm sexo?, in http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/,
consultado em 03.03.2013.
NASCIMENTO, Sílvia Castro Paço,
(2010). A Mulher na Política, in http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/,
consultado em 03.03.2013.
RAMALHOSA, Rui José Gomes,
(2010). Educação para a Igualdade de Género, in http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/,
consultado em 03.03.2013.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de
Portugal
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