O texto nietzschiano, inserto na obra “A Genealogia da Moral”, pretende perspetivar os processos mais importantes do idealismo, numa dialética metafísica entre: o significado, o valor e suas equivalências, o que corresponde a afirmar que a «metafísica e a religião nos seus esforços conjugados lançaram uma proibição sobre qualquer ciência do corpo, ao mesmo tempo que sobre qualquer prática filológica» (cf. NIETZSCHE, 1976: op. cit.), relegando o corpo e o significante para uma posição de dominados, o que resulta num recalcamento, cuja lógica se inscreve numa leitura do código linguístico, moral e religioso, colocando a descoberto o simbolismo cristão.
A linguagem serviu, ainda,
para o homem situar o seu próprio mundo e a partir deste construir o resto do
mundo e tornar-se o seu senhor. O conhecimento do mundo fundamentava-se na
língua. A crença na linguagem, tornou-se um dogma, e o homem o detentor
orgulhoso que se elevava acima do animal.
Pela língua se
estabeleceram os conceitos, e por estes o conhecimento universal, fundamentos
que fora do seu tempo se reconhecem, no entanto, errados. Na verdade, e a
título de exemplo, o conceito de “castigo”, em termos semióticos, o que implica
que qualquer significado só pode ser decifrado na posição de significante.
É, portanto, e uma vez mais, o problema da
língua que é tomado em consideração pela genealogia, e a deformação de um texto
assemelha-se a um assassínio, porque suprime os seus vestígios. A perspetiva
genealógica terá como consequências marcar a ruptura histórica, da qual tais
processos constituem contragolpes.
A arte incomparável de ler
bem, já estava fixada na cultura antiga, condição prévia da tradição cultural:
«Os métodos são o essencial e o mais
difícil, e aquilo que tem durante mais tempo contra si os hábitos e as
preguiças» (Ibid.).
Devido
à opacidade dos textos metafísicos, a genealogia tem de abrir caminhos, entrelaçar
códigos, numa perspetiva desenvolvimentista, colocando em relação as diversas
figuras de representantes dos vários códigos: moral, religioso e até estético,
pondo-se em questão o privilégio da “eterna
presença do código”.
Por
isso há que evitar a busca da experimentação dos valores, escudando-se na dupla
defesa da revelação e da tradição, isto é, a sabedoria das leis é de origem
divina, total, perfeita, um prodígio, e a afirmação de que a lei existe desde
tempos imemoriais. Deus deu a lei aos antepassados, e eles viveram-na.
Parece
pertinente apresentar o contra-ponto ao pensamento Nietzschiano, porque o homem
não é só subjetividade vazia, linguagem opaca ou, pior do que isso, um ser sem
sentido.
Na
verdade, o homem de qualquer época, de qualquer religião ou raça, evoluiu ao
longo dos séculos, graças à sua capacidade de construir o seu próprio mundo, no
qual tem buscado, incessantemente, uma verdade absoluta e que só a poderá
encontrar se tiver um projeto de salvação coletivo, num ideal comunitário de
bem-comum, num projeto de felicidade universal, em completa liberdade, numa
aproximação ao outro, que com ele se relaciona, mas que o transcende, que o
ilumina mas não se desvela.
Bibliografia
NIETZSCHE,
Friedrich Wilhelm, (1976). A Genealogia da Moral. 3ª
Edição. Tradução de Carlos José de Meneses. Lisboa: Guimarães & Cª Editores
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Venade/Caminha
– Portugal, 2021
Com
o protesto da minha permanente GRATIDÃO
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente
do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
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