O último período da vida
humana, que se poderia iniciar a partir dos sessenta anos de idade, será,
porventura, o mais sensível, estimulante e enriquecedor, para o próprio e para
os que com ele convivem, nas diversas situações: família, ocupação, convívio,
defesa de valores, convicções e boas-práticas, em diversas modalidades.
Na verdade, é legítimo,
justo e de direito que aos sessenta anos, o cidadão que, durante décadas se
sujeitou ao exercício de uma atividade profissional, cumprindo inúmeras regras,
desde logo, horários rigorosos, submetendo-se às mais diversas e difíceis
situações hierárquico-funcionais, possa desligar-se dessa atividade, por via de
uma reforma compensadora, que lhe permita uma vida confortável, extensivamente
àqueles que, de alguma forma, dele dependem, porque para isso já investiu,
coercivamente, pelas contribuições que pagou, ao longo do tempo ativo
produtivo.
O cidadão que reunindo os
requisitos legais para a aposentação, está no seu direito de a requerer e de
lhe ser atribuída mas, querendo, poderá (e, para bem da sua saúde, até deverá) continuar
a trabalhar na mesma atividade, empresa/instituição em condições que,
certamente, devem ser acordadas com a entidade patronal, incluindo um novo
salário e outros benefícios sociais.
Uma outra alternativa,
seguramente, se colocará ao cidadão idoso, terminado que seja o seu percurso
profissional, e passando à situação de reforma. Com efeito, o reformado,
enquanto se considerar válido e pretender manter-se útil à sociedade, deve
usufruir de outras e novas oportunidades de trabalho, justamente, em domínios
que conhece, que gostaria de realizar e que pode, igualmente, ser produtivo,
destacando-se aqui, algum género de voluntariado, devidamente reconhecido.
A opção por retomar uma atividade
que teria sido interrompida, prosseguir na mesma profissão que exerceu durante
o período normal de trabalho, ou iniciar uma nova ocupação, deve ser livremente
tomada, sem constrangimentos, nem imposições legais, inibidoras de o fazer e
sem a necessidade que o obrigue a continuar a trabalhar.
As oportunidades para o
prosseguimento de uma vida ativa, a todos os níveis, devem ser garantidas aos
idosos, logo no início desta fase das suas vidas, o que pressupõe alterações
profundas nas mentalidades, ainda preconceituosas, sobre o juízo que fazem,
acerca da utilidade/inutilidade destes novos colaboradores.
Há toda uma educação que
é necessário transmitir, não só aos próprios idosos, como a todos aqueles que
integram a sociedade, dita ativa, no sentido: da inclusão dos mais velhos na
resolução dos problemas da humanidade; no enriquecimento dos cidadãos; no
aproveitamento de todas as capacidades disponíveis desta nova faixa etária,
cada vez mais numerosa e marginalizada, principalmente aqueles que se integravam
nos escalões sociais médio-baixos e baixos, porque os restantes, aqueles que
durante a vida ativa se posicionaram na denominada classe alta, por via dos
rendimentos, estatuto social, habilitações, ocupação, intervenção política e
outros processos de ascensão social, não terão dificuldades em conseguirem
novos postos de trabalho.
Porque é sabido que: «O processo de envelhecimento confronta-se
com os mitos e crenças pessoais e sociais de que nesta idade madura, as pessoas
são incapazes de aprender, de desenvolver qualquer tipo de trabalho convincente
e útil, de ter opções válidas sobre o que querem e igualmente incapazes de se
adaptarem às novas formas de vida, a que chamam de actualidade.» (SALDIDA,
2004:108).
O estigma paradigmático,
que recai sobre esta numerosa população, deve ser desmontado, rapidamente, sob
pena de se perder a própria memória coletiva que une todo um povo, pelo menos
na história, na língua, na cultura e nos valores.
Desprezar o valioso contributo das pessoas
que, não obstante terem entrado na reta final de suas vidas físico-biológicas,
continuam válidas, disponíveis para manterem uma boa colaboração: com a
sociedade em geral; com as gerações mais novas, em particular, constitui um
grave erro, para além de uma mesquinha ingratidão daqueles que, de alguma
forma, detêm determinado poder de decisão.
Defende-se aqui a teoria
contrária, a que se adequa aos novos tempos, caraterizados por uma crescente
desestruturação da família, com a brutal redução da taxa de natalidade e o
aumento da esperança de vida, com um Saber-ser e um Saber-estar cada vez mais
artificias, inseguros e inexperientes.
Apoia-se, portanto, uma
teoria e uma prática que privilegiem os idosos, que lhes deem a oportunidade de
passarem o testemunho de vida e de saber, em condições dignas, ao longo deste
período de vida, que se considera o mais caraterístico da vida do Ser Humano,
no qual coexistem capacidades, conhecimentos, experiências, sabedoria,
prudência, valores e segurança nas convicções, onde toda uma existência se
consolidou numa postura rigorosa, severa, mas também tranquila, confiante e
estimulante para as gerações vindouras.
Isto mesmo, ou seja, o
elevado apreço pelos mais velhos ainda se verifica em determinadas situações, por
exemplo: «Em algumas sociedades de
pequena escala o significado da idade é exatamente o inverso, é sinónimo de
experiência, de sabedoria. São os velhos que formam o conselho máximo da tribo,
do clã. Os tempos mudaram, hoje se diz que a antiguidade não é posto. No
entanto, no sistema de remuneração de algumas empresas, ainda predomina o tempo
de serviço, como um critério de melhoria salarial e funcional.» (MELLO,
1980:308).
Bibliografia
MELLO Luiz
Gonzaga de, (1980) Antropologia Cultural:
Iniciação, Teoria e Temas, 7ª Ed. Petrópolis: Vozes
SALDIDA,
Isabel. (2004). “Envelhecimento, a Vida sem Trabalho e o Direito à Escola”. in: Integrar, Lisboa: Instituto do Emprego e
Formação Profissional, Nº Especial, 2003-2004. Págs. 107-110
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de
Portugal
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
https://www.facebook.com/ermezindabartolo
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