Nesta postura, uma vez mais é dada uma lição de democracia e liberdade,
como por exemplo, quando foi necessário ouvir os brasileiros, acerca de umas
instruções a emitir por D. João VI, a propósito da partida da Corte para
Lisboa, ficando o Príncipe Real no Brasil, com a regência deste imenso
território: «No intuito de inspirar confiança a esses eleitores quando a
sinceridade das régias intenções propôs Silvestre Pinheiro em Conselho que se
ouvisse o voto da Assembleia Eleitoral acerca das instruções com que deveria
ficar o Príncipe regente. Deixemos falar o sábio publicista: …» (PINHEIRO,
1980:381).
E se é certo que Pinheiro Ferreira, em Portugal e
noutros territórios sob domínio colonial nacional, nem sempre foi compreendido
por determinados setores da vida política, também é verdade que, no Brasil, a
maioria das pessoas, com quem convivia, o estimavam e admiravam, com exceção de
alguns elementos da Corte, precisamente, porque participou, com a sua moderação
e conhecimentos, para que um dos mais sagrados direitos humanos se exercesse: a
Independência do Brasil, sem sobressaltos, num clima de tranquilidade e com
justiça, porque Silvestre Pinheiro Ferreira: «Muito se
preocupa com o princípio do justo, para ele a única base moral para os
indivíduos e as nações.» (CERNEV, 1986:19).
Entendia que este estaria vulnerável às tentativas feitas junto dele
para se declarar, de imediato, a Independência do Brasil, em condições que
muito poderiam prejudicar a segurança e sossego do povo: «Nem devia ser
estranho ao que se preparava o herdeiro da Coroa, pois que Silvestre Pinheiro
Ferreira aconselhou ao rei sua detenção na Fortaleza de Santa Cruz como o
melhor meio de acabar com o desassossego público.» (LIMA, s.d:55).
Pelo contrário, aceitaria Pinheiro Ferreira como Ministro quando lhe foi
entregar a lista com os nomes dos futuros governantes, proposta pelo povo e que
ele, D. Pedro, levaria a seu pai D. João VI, para aprovação: «Surpreendido,
também ele, D. Pedro, receberia do Tribuno do Povo, a lista desejada, e
retomaria a galope o caminho de S. Cristóvão onde se designariam ministros,
realmente, (...) e para os Estrangeiros e a Guerra, Silvestre Pinheiro
Ferreira, que vinha de outros ministérios, esse Silvestre Pinheiro, doutor de
Coimbra, filósofo liberal, que desde 1814 vinha aconselhando o Rei a se
constitucionalizar – e pele primeira vez designando-se para cargos equivalentes
dois brasileiros: o futuro marquês de Inhambupe para Intendente-geral da
Polícia, e o futuro Visconde de Cairu, Inspector-Geral dos Estabelecimentos
Literários.» (GERSON, 1971:38).
É conhecida a sua atitude perante os planos portugueses, no sentido de
vencer a insubmissão das províncias coligadas, a partir da adesão da Baía à
causa das Cortes Portuguesas de Lisboa. Nesse sentido, ele anteviu o que mais
tarde viria a suceder: «A defecção da Baía causou um susto, mas provocou a
reacção brasileira, pois o partido brasileiro, como viu Silvestre Pinheiro,
estava certo de que o resultado da Revolução seria a favor dos brasileiros e
não dos portugueses.» (RODRIGUES, 1975c:18).
Neste primeiro quarto do século XXI, do terceiro
milénio, o mundo, na globalidade da sua composição, funcionará de forma diferente
e natural, se a intervenção humana contribuir para a harmonia, para a
tolerância, para a solidariedade. Através do estudo que ficou para trás, fácil
de comprovar é o facto de, ao longo da história do pensamento humano, sempre
terem existido pessoas que se preocuparam com princípios, valores e ações.
Na mesma linha do autor luso-brasileiro (assim o poderemos considerar),
compreensivelmente, por metodologias e teorias diferentes, analisar-se-á,
oportunamente, que preocupações, desenvolvimentos, teses e sistemas vêm sendo
uma constante, não só no domínio das ciências sociais e humanas, como também no
âmbito de outras áreas e contextos do conhecimento, sendo possível refletir, em
todas elas, e/ou a partir delas, na importância do respeito pelos Direitos Humanos,
no mundo contemporâneo.
Com efeito, tendo tido o cuidado de se inteirar da situação em Lisboa,
nomeou Frei Francisco de S. Luiz para colher as informações desejadas, porque
tinha sido incumbido, por D. João VI, para esta delicada tarefa: «Para esta
missão diplomática de vanguarda, fora escolhido Sylvestre Pinheiro Ferreira,
experimentado em cargos ministeriais, homem de valor real, cuja biographia se
deveria divulgar, pela provisão política de que deu provas e pela cordialidade
de seus sentimentos para com o Brasil.» (CALOGERAS, 1928:179-180).
Atualmente, (2020), pode-se afirmar que Silvestre Pinheiro, no campo dos
Direitos Humanos, e no que respeita à liberdade dos povos escolherem o seu
destino, foi um incondicional e persistente amigo do Brasil.
Tem-se conhecimento de um episódio, muito íntimo, entre ele e D. João
VI, após a votação que se realizou, sobre se a Corte, instalada no Rio de
Janeiro, deveria ou não voltar a Portugal, principalmente o monarca, em que
Pinheiro Ferreira foi o único a votar contra o regresso: «No Conselho de
Estado, a respeito da partida de el-rei, fôra Silvestre Pinheiro o único a
votar contra, de que resultou dirigir-se no fim el-rei para o mesmo
conselheiro, dizendo-lhe: “Que remédio Silvestre Pinheiro! Fomos Vencidos”.
Honra muito a este publicista a lealdade do seu voto...» (VARNHAGEN,
1916:74).
Bibliografia
CALOGERAS,
João Pandiá, (1928). “A Política
Exterior do Império: II-O Primeiro Reinado”, in: Revista do IHGB. Tomo especial. Parte 2ª. Rio
de Janeiro: Imprensa Nacional, págs. 179-199
CERNEV,
Jorge, (1986) “Silvestre Pinheiro Ferreira: Um Teórico Liberal da Monarquia
Representativa”, in: Convivium,
Vol. 29, (1), São Paulo: Convívio, jan./fev. págs. 19-33
GERSON,
Brasil, (1971). A Revolução Brasileira de D. Pedro I, São Paulo: s. Editor.
LIMA,
Oliveira, (s.d.). O Movimento da Independência – O Império Brasileiro (1821-1889), 2a Ed. São Paulo:
Melhoramentos, págs. 15,44,52,55-60,64-71,119,245.
PINHEIRO,
(Cónego) Fernandes, (1980). Estudos Históricos. Acrescidos de Estudos Avulsos,
Brasileiros Ilustres, 2a Ed., Rio de Janeiro: Livraria Editora
Cátedra, págs. 380-384.
RODRIGUES, José Honório, (1975c) Independência: Revolução e Contrarrevolução:
As Forças Armadas, Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, Vol. 3.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo de, (1916). História de Independência do Brasil, São Paulo: s. Editora.
Venade/Caminha – Portugal, 2020
Com o protesto
da minha perene GRATIDÃO
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do
Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
NALAP.ORG
http://nalap.org/Directoria.aspx
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