domingo, 25 de dezembro de 2011

Natal: Festa da Família e do Amor


Não vou transcrever para esta reflexão, dedicada a um dos dias mais simbólicos do ano, em que a saudade pelos ausentes se faz sentir de forma particularmente dolorosa, muitas das inúmeras notícias sobre o estado profundamente degradante em que vivem milhões de pessoas por esse mundo fora em geral e, milhares de outras que, em Portugal, sofrem as mais cruéis privações de uma vida que nem sempre lhes sorriu, e que não podemos nem devemos ignorar esta realidade que a todos, de alguma forma, também nos culpabiliza.
Natal é festa da família, de alegria, de esperança num futuro melhor, no acreditar que temos capacidades, determinação e entusiasmo suficientes para vencermos, uma vez mais, as dificuldades presentes e reconstruirmos um futuro digno da pessoa humana, novos horizontes de prosperidade, com saúde, paz, amizade, trabalho e felicidade. Nós, portugueses, já demos provas ao mundo do que somos capazes, eventualmente, em situações bem mais complexas.
Os valores que tanto nos caracterizam, alguns dos quais sentidos e vividos de forma muito singular, como a saudade por todos aqueles que, por diversas circunstâncias da vida, não nos podem acompanhar neste dia que, apesar de tudo, teremos de nos esforçar para que seja de festa, com mais ou menos abundância material, com mais ou menos conforto, mas que possa ser de Amizade sincera e de perdão, no calor do amor dos que verdadeiramente se amam, qualquer que seja a natureza do amor: conjugal, maternal, paternal, filiar, fraternal e naquele que também nos deverá acompanhar diariamente que é o «Amor-de-Amigo».
Festa da família, tempo para reflectirmos no passado, no presente e no que tencionamos ser, fazer e viver, num futuro que, no presente, projectamos com esperança, com projectos, com desejos, com ambição legítima, para nós, para os nossos familiares, mas também para os nossos verdadeiros amigos, sim porque estes, quando leais, solidários, confidentes, conselheiros, cúmplices e que, sempre e inequivocamente estão do nosso lado, são como os nossos familiares mais íntimos.
Tempo de Paz, de Saudade, de Amor, de Felicidade e de Solidariedade, sentimentos entretanto mitigados pelos que nos são especialmente queridos, estando fisicamente longe ou que já se partiram para uma vida eterna, mas que continuam nos nossos corações, bem presentes, bem vivos, que nos acompanham e protegem, lembrando-se e intercedendo por nós, onde quer que estejam.
O mundo, nas pessoas das mais destacadas entidades políticas, empresariais, religiosas e da sociedade civil em geral, não pode aceitar esta quadra natalícia como mais uma festividade que o calendário assinala e, passada que seja, tudo volta às mesmas situações durante mais 360 dias. Todos, de mãos dadas, teremos de dizer um rotundo NÃO a quaisquer situações que degradam a pessoa humana. O Natal da Família e do Amor, não comporta nenhum tipo de humilhação.
Chegou o tempo de banirmos, irreversivelmente, ódios, vinganças, obscurantismo, fome, guerras e a morte resultante daqueles «sentimentos» e situações. Está na hora da inversão de tudo quanto é indigno para o ser humano, a começar em cada um de nós, até para connosco próprios. É tempo de dar voz ao «tribunal» da nossa consciência, porque é o único que nos julga imparcialmente, mesmo que, depois, não tenhamos a coragem de cumprir a «pena» ou seguir os seus conselhos.
Mas é claro que, todos os dias deveriam ser Natal, todos os dias deveríamos reflectir na vida e na morte; na nossa origem mas também no nosso destino; no que fazemos e no que deveríamos fazer; pensarmos que a vida é efémera, que não somos os donos do mundo, nem da verdade, nem da vida de ninguém, nem sequer da nossa própria existência. De onde vimos? Quem Somos? Para onde Vamos?
Independentemente das nossas convicções políticas, filosóficas, religiosas ou outras, a verdade é que não nos conhecemos suficientemente bem par, enquanto pessoas humanas, detentores de imensas capacidades, poderes e oportunidades, sabermos tomar as melhores decisões, quantas vezes, nem sequer somos capazes de orientar as nossas próprias vidas, com sentimentos verdadeiramente altruístas, em proveito dos nossos semelhantes e dos benefícios que nos dizem respeito.
Em boa verdade, ALGUÉM nos deu tantas faculdades, tantas ocasiões, tanto domínio, infelizmente, nem sempre aproveitados da melhor maneira e, então, surgem os dias festivos, na circunstância, o Natal, para revelarmos uns aos outros e ao mundo, de que estamos solidários, temos boas intenções para resolver as situações mais prementes dos que estão abaixo do limiar da dignidade humana.
No rigor da consciência de cada um, todos sabemos que não somos absolutamente perfeitos, que gostaríamos de ser melhores familiares, amigos, cidadãos. Eu próprio me considero um «pecador» em todos os sentidos, porque sou fraco, não tenho a coragem suficiente para impor a mim próprio o cumprimento integral dos valores que defendo, mas luto a cada momento da minha vida, por aquilo em que acredito, pelo exercício dos sentimentos que nutro pelas pessoas que me são especialmente queridas, pelo bom relacionamento que deve existir na sociedade em geral e no exercício dos diversos papeis que vou desempenhando ao longo do dia e da vida. Natal também pode ser este esforço permanente.
A festa da família é, afinal a festa do mundo, porque este é constituído por famílias, extensas, nucleares e também por pessoas que vivem sozinhas, quantas vezes nas margens da sociedade, ou porque esta os excluiu impiedosamente, ou porque as próprias pessoas se auto-afastaram, por já não acreditarem em nada, nem em si próprias. Natal, também deverá ser a reconciliação com a vida, com os nossos semelhantes, com a natureza em geral.
Pensar o Natal, não tanto no tradicionalismo do consumo, embora este seja necessário, desde logo para aqueles que podem, adquirirem os bens materiais de primeira necessidade para doarem aos que não têm esta capacidade, mas no sentido da construção de um mundo mais justo, mais tolerante, mais humano. Um Natal com humanismo, no respeito pela nobreza da pessoa humana que nasce portadora de iguais direitos de liberdade e dignidade.
Caminhar para Natais de progresso a todos os títulos, no aprofundamento, consolidação e boas-práticas dos mais elementares Direitos Humanos, desde logo os direitos: à vida; à saúde, em condições justas, com especiais preocupações para as pessoas mais carenciadas; à educação e formação; ao trabalho; à habitação em condições dignas; à justiça, enfim, aos direitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A Humanidade está cansada de discórdias, de injustiças, de exclusões de toda a natureza. A comunidade global não pode continuar no rumo que tem vindo a seguir, onde o «porto seguro» não se vislumbra. O mundo não pode desperdiçar as pessoas de boa-vontade, que desejam e lutam pela Paz, pela Amizade, pela Felicidade e pela Harmonia entre todos os seres. O Natal é isto mesmo.
Finalmente, a minha reflexão muito especial, muito particular, embora a deseje tornar pública, como uma espécie de contributo para que o Natal seja verdadeiramente a Festa da Família Humana, mas a começar por mim próprio, pela minha família, amigos e todas as pessoas que comigo se relacionam.
Um Natal com verdade, com lealdade, com reciprocidade, seja no seio da família, seja com outras pessoas, com aquela amizade de um sincero «Amor-de-Amigo», com um sentimento de tolerância, de perdão e muita gratidão para com todas as pessoas que, ao longo da minha vida me têm ajudado, compreendendo-me e nunca me abandonando. É este Natal que eu desejo festejar com muita alegria.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)

domingo, 18 de dezembro de 2011

Universalização dos Direitos Humanos

Quer queiramos ou não, quer gostemos ou não, movemo-nos num mundo de valores, o homem não pode negar-se enquanto ser cultural, apto a transformar a natureza, ainda que parcialmente, em função das suas carências, com a possibilidade de poder escolher os meios e os fins, a partir de valores que a sua cultura lhe oferece. É em função de tais valores que reagimos, que vivenciamos certas experiências, sejam físicas ou psicológicas.
O termo Direitos Humanos focaliza a nossa atenção nos indivíduos humanos e numa Dimensão chamada Direitos. Se os direitos nos são concedidos pelo Estado, então a reciprocidade tem de existir sob a forma de deveres, neste caso, seria mais correcto, dizermos Deveres Humanos. Mas se os Direitos Humanos têm uma abrangência Universal, então o Estado Nacional deverá harmonizar-se com os demais Estados internacionais e cada um destes, conferirá àquele, a legitimidade necessária para proteger a eficácia dos Direitos Humanos, em toda a plenitude, de que resultará, a nível mundial, uma desejável situação de Paz e Progresso.
A manifesta irrelevância com que os Direitos Humanos são invocados é, cada vez mais, alvo de denúncia por parte das Organizações Não Governamentais, do olhar indiscreto dos Media, dos biliões de pessoas que sentem a miséria, o analfabetismo, a intolerância, as discriminações a violência e a guerra.
Neste sexagésimo terceiro aniversário da aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, (10 de Dezembro de 1948/2011), quantos milhões de crianças, idosos e marginalizados estão a passar fome, sabendo que algumas Organizações pagam para não se produzir alimentos, para se controlar as matérias-primas, com o objectivo de se criarem condições para que a especulação tenha o caminho mais livre?
O século XX ficará na história, certamente, por bons motivos, mas, também, pelo que de mais negativo a humanidade alguma vez viveu. Com palavra de esperança, prefiro recordar as maravilhas da ciência, que, obviamente, com o poderio da técnica e da tecnologia se intrometeu, de forma decisiva, na resolução de muitos problemas, principalmente nos que se referem à saúde das populações.
O direito à paz constitui um dos direitos da chamada terceira geração, segundo a estrutura que é estabelecida, tais como outros direitos, por exemplo, ecológicos, parece-me, contudo, cada vez mais um objectivo, importante e necessário a salvaguardar, não fossem os inúmeros conflitos regionais de guerra declarada ou latente, seja por motivos políticos, seja por razões de ordem económica, estratégica ou religiosa.
A “Instituição da Guerra” apresenta-se-nos como uma ordem de magnitude que transcende qualquer agressor – a vítima particular -, na medida em que faz mais sentido responsabilizar um país por uma agressão sobre outro do que imputar culpas a indivíduos isolados, além de que existe, obviamente, violência estrutural no sentido em que danos não intencionais são infligidos, frequentemente, a indivíduos ou países em todo o mundo, porque o opressor está incrustado nas estruturas, com culturas que não deixam outras alternativas.
Sem preconceitos, aceito que uma grande diferença do século XX em relação aos anteriores é a guerra e notemos que a 1 de Agosto de 1914, começaria, belicamente, nesta data, com um longo período de conflitos, que durou décadas, que demonstrou o que o homem pode fazer a outros homens.
Também sabemos, hoje, que nas duas guerras mundiais houve matança, carnificina e destruição sem precedentes. A crueldade e a brutalidade humanas ultrapassaram todas as expectativas e limites do racional. Muitas outras pequenas/grandes guerras ocorreram durante o século XX, algumas das quais continuam, sendo os “motivos”, os mais diversos: políticos, religiosos, étnicos, económicos, raciais, enfim, estratégicos.
Todavia, nem só as guerras bélicas são as únicas calamidades que a humanidade vem sofrendo e, conforme o século XX avançava, também a vida diária das pessoas atravessava mudanças, devido aos desenvolvimentos científicos e tecnológicos e, nesta rápida e irreversível evolução da ciência e da técnica, muitas mentalidades se alteraram, novas formas de violência, opressão e violação dos Direitos Humanos foram surgindo.
Logicamente, as pessoas, nas diversas especialidades das suas vidas, conhecimentos e experiências, têm vindo a reflectir alguns dos aspectos mais significativos e acutilantes do nosso tempo, em que a dignidade humana não deverá ter leituras polivalentes, porque não haverá nobreza humana enquanto não forem promovidos e salvaguardados os direitos humanos, embora a tarefa não seja fácil, na medida em que tais direitos abarcam um amplíssimo leque que pode iniciar-se na dignidade individual (direitos políticos, sociais e económicos) e expandir-se aos legítimos interesses colectivos (direito à paz, ao bom ambiente, à solidariedade).
É certo, desde já, que reconheço existir uma profunda preocupação, nas sociedades humanas, pela diferenciação do humano, em relação aos demais seres, como também é seguro a persistente luta do homem para ir vencendo os diversos obstáculos que a natureza lhe coloca, como, ainda, as crescentes dificuldades que precisa ultrapassar, resultantes da sua própria complexidade, possivelmente, aquelas que directamente o afectam na sua alegada superioridade.
O homem, desde sempre, tem sentido a necessidade da vivência experienciada da religião, mesmo aquele que não acredita no poder Transcendental da Divindade, porque em situações-limite, recorre ao Absoluto, qualquer que este Absoluto seja, qualquer que seja o processo, a fórmula utilizada, o homem, desesperadamente esperançado, ainda luta para sair de Situações-Limite, independentemente da solução adoptada, mesmo que aponte para o suicídio.
A religião não poderá ser um valor a ignorar, antes pelo contrário, cada vez mais, faz parte integrante das nossas vidas, mesmo que, cada um, a pratique à sua maneira, constituindo assim uma dimensão vital das suas diversas e universais culturas.
Os cidadãos, particularmente os membros de confissões religiosas minoritárias, não precisavam da indiferença benevolente do Estado, mas do compromisso obrigatório do Estado, na defesa do seu direito fundamental, ao livre exercício do culto religioso, apenas limitado, evidentemente, pelos outros Direitos Humanos essenciais, como a vida, a segurança, a liberdade e a propriedade.
Deparamo-nos, contemporaneamente, com diversos, graves e complexos problemas sociais, originados em diferentes comunidades, em contextos naturais ou artificiais, com objectivos explícitos ou intencionalidades inconfessáveis e, quaisquer que sejam as áreas de intervenção: política, religiosa, ecológica, económica, financeira, a dimensão cultural está, intrinsecamente, mais ou menos envolvida, por isso não se deve estranhar este permanente confronto de culturas, tanto mais acentuado, quanto mais o factor étnico-rácico se revela e interfere.
São relativamente bem conhecidos os movimentos universais de defesa dos valores morais, ou de outros valores, no sentido moral, que a experiência, a sensibilidade e a razão vêm construindo ao longo da História. São valores que sempre têm modelado os Movimentos e Estados Democráticos.
As lutas contra a exploração, contra a opressão, contra os privilégios no acesso aos bens da cultura, e do espírito, contra todas as formas, antigas e modernas, de injustiças e discriminações sociais, contra o modo como a sociedade se organiza e se apresenta, por vezes, como um dado ou uma fatalidade inelutáveis e contra todas as formas de submissão, que retiram ao homem o seu papel de sujeito dominante.
Nenhum responsável político, detentor de cargos de decisão, pode, hoje, ignorar o aprofundamento da participação dos cidadãos nas decisões económicas, a nível público ou privado, bem como o acesso aos bens de cultura, como formas de dar conteúdo real à democracia política, porque o esforço de democratização económica e cultural constitui condição para o bom exercício dos direitos políticos e humanos, no âmbito de uma ordem social, em que todos disponham de iguais oportunidades e também para que os laços de solidariedade humana sejam optimamente desenvolvidos, sendo compreensível que os grupos lutem por uma sociedade mais justa, e pelo estabelecimento progressivo da efectiva igualdade de todos no acesso à saúde, à educação, ao trabalho e à cultura.
Não podemos ignorar a importância que a elaboração democrática, de um sistema de direitos, tem para as minorias na incorporação de objectivos gerais e colectivos, que são confirmados nas lutas pelo reconhecimento, na medida em que se as normas morais regulam interacções entre os sujeitos de acção, as normas legais, por sua vez, resultam das decisões de um corpo local de elaboração de leis, que se aplicam numa determinada área geográfica, e a uma comunidade de indivíduos do estado, socialmente delimitada, não sendo permitido aos objectivos colectivos dissolverem a estrutura da lei.
O processo de estabelecer disposições normativas, para modos de comportamento, está aberto a influências através dos objectivos políticos da sociedade e por isso, todo o sistema legal é a expressão de uma forma de vida específica, e não apenas a reflexão da satisfação universal dos direitos básicos.
Num mundo cada vez mais “pequeno”, mais interdependente, mais global ainda haverá lugar para os valores da cidadania, da identidade nacional, e se afirmativo, tais valores devem ser reforçados pelas comunidades nacionais?
E a imigração, constituirá ela mesma o meio e o fim para a melhoria da vida das pessoas que, no seu próprio país, não obtêm as condições mínimas de sobrevivência humana digna, ou pelo contrário, não estará ao serviço da exploração dos mais desfavorecidos e desprotegidos pelos poderosos economicamente, como forma de aumentarem, ainda mais, a influência e o poder de uma minoria, detentora dos meios de controlo mundiais?
E quanto à identidade nacional, será que ela é assim tão importante na qualidade de vida, na harmonia e felicidade dos povos, ou, como diz o adágio: “A minha terra é onde eu vivo bem” e a identidade ficará apenas para as formalidades legais e burocráticas?
Qualquer que seja a conceptualização do tema, a verdade é que os Direitos Humanos pressupõem, necessariamente, uma relação, não só, interpessoal, mas também e, fundamentalmente, entre Governos e Governados; entre Povos e Nações, ou seja, uma relação ambivalente, partindo, porém, do Estado o dever de evitar a todo o custo limitar a liberdade dos governados, mas deve pôr em causa quando essa liberdade se torna criminosa, quando atenta contra os direitos de outrem, porque os Direitos do Homem estão subjacentes a uma Sabedoria individualista e o Poder só será legítimo se respeitar um determinado número de prerrogativas concedidas ao indivíduo, como tal considerado.

Ermezinda Bártolo

Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)


 

domingo, 11 de dezembro de 2011

Religião: Uma Alternativa para a Paz?

Nem só de ciência, de técnica e de recursos materiais vive o homem. Para além daquelas capacidades e possibilidades, existe mais vida, mais mundo, mais alternativas que podem contribuir para o bem-estar da humanidade em geral e de cada pessoa em particular. Ignorar, por preconceito, por descrença, por agnosticismo, ou por quaisquer outras razões, a dimensão religiosa do homem é dificultar o processo para a pacificação, mesmo para aqueles que argumentam que a religião também está na origem de muitos conflitos.
Ao invocar-se a dimensão religiosa da pessoa humana, pretende-se sensibilizar cada um e todos, para a doutrina social das diversas religiões, excluindo-se, portanto, os fundamentalismos dogmáticos, os radicalismos mais sectários e as posições exacerbadas, aliás, estes excessos de algumas correntes também precisam da ajuda dos moderados, e estes têm o dever, não só de compreender tais posições extremadas como, e principalmente, proporcionar as condições que conduzam ao diálogo, ao bom-senso e à pacificação entre os grupos desavindos.
Pensando, portanto, nos interesses das novas e emergentes gerações, onde se incluem, porventura, os filhos de quem, neste momento, analisa este artigo e reflecte sobre estes temas, urge desencadear acções que aproveitem ao objectivo último de, a curto prazo, se vislumbrarem melhorias no inter-relacionamento da humanidade.
A dimensão religiosa do homem crente deve ser colocada ao serviço da educação e formação destas novas gerações, a começar na família, porque o ser humano tem imensas dimensões, capacidades e possibilidades de as exercer no seio do grupo e da sociedade, desejavelmente, no sentido do bem-comum.
A educação religiosa é, por tudo isto, essencial na construção de pessoas que se pretendam íntegras, que possuam a liberdade de se autodeterminar, com responsabilidade e generosidade, para com os seus semelhantes.
A preocupação, por uma educação e formação integrais, deve ser uma constante em todos aqueles que, de alguma forma e a um qualquer nível social, têm responsabilidades em preparar o futuro, porque: “Quando educamos os nossos filhos, todos pretendemos faze-los partilhar das nossas mais profundas convicções e enriquecê-los com o que nos parece mais válido. Cada um, segundo a sua própria escala de valores, dar-lhes-á, antes de mais, com prioridade absoluta, o que lhe parece importante. (…). Quando os pais são crentes, a sua fé em Deus é, certamente, desta ordem; eles têm, se são coerentes com as suas convicções, uma outra dimensão, uma outra óptica dos acontecimentos que os rodeiam. Pensamos que é importante fazê-la partilhar pelos nossos filhos desde a sua infância e falar-lhes muito cedo de Deus.” (D’ARNUY, (1977:172
O mundo, cada vez mais profanizado, precisa de Deus; os homens não podem viver e não conseguem resolver todos os problemas à margem da Bondade e Sabedoria Divinas; a humanidade será reduzida à sua mais brutal animalidade se continuar a rejeitar Deus. O caminho seguro, que poderá conduzir à pacificação do mundo, tem de passar por Deus e muitos seres humanos sabem que não há outra alternativa.
Excluir Deus do processo de pacificação é prosseguir o caminho para a destruição total da humanidade. Não se pretende, nem seria compatível com a natureza pró-científica deste trabalho, profetizar o apocalipse, ou uma escatologia do Juízo Final condenatório de toda a humanidade. O que se pretende desmontar, pela observação-participante, é a condição frágil, insegura e indefinida do ser humano.
 A demonstração da necessidade de Deus na formação da pessoa humana, igualmente se comprova, sem dificuldades nem argumentos científicos, porque a humanidade, na sua esmagadora maioria, busca Deus e n’Ele a solução para todos os problemas que a ciência e a técnica não resolvem.
A educação e formação religiosas são um argumento poderosíssimo, para que os sistemas educativos integrem nos seus cursos, currículas e conteúdos programáticos, os valores religiosos, aceitando que: “Os ensinamentos de uma religião devem influir na personalidade e na conduta diária do crente. Assim a conduta de cada pessoa, normalmente, será um reflexo, num maior ou menor grau, de formação religiosa dessa pessoa.” (SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS, 1990:12).
Acontecimentos que comprovam, inequivocamente, a importância da religião para se alcançar a pacificação, surgem, frequentemente: a preocupação dos mais altos dignitários das religiões maioritárias, em estabelecerem o diálogo ecuménico interreligioso; as grandes reuniões da juventude, por iniciativa pontifícia que, regularmente, ocorrem em locais diferente da terra; as peregrinações de milhões de crentes, todos os anos, aos santuários e outros locais sagrados; o crescente número de peregrinos que, mundialmente percorrem os caminhos da Fé; a intervenção das Igrejas nos domínios sociais, assistência humanitária e moderadora de conflitos.
No contexto da pacificação da humanidade, o papel da religião e das boas relações humanas, a todos os níveis, são fundamentais, não se excluindo os conhecimentos que a ciência pode proporcionar e o recurso à técnica e seus instrumentos, no que se refere a melhorar as condições de vida das comunidades, nas quais a origem dos conflitos se localiza em determinadas insuficiências e/ou carências de ordem social/material: saúde, educação, trabalho, habitação, segurança social e uma velhice tranquila.
Toda esta complexidade levanta, porém, algumas interrogações que se deixam para reflexão: Ciência, Técnica e Religião são incompatíveis? A pacificação da humanidade pode dispensar alguma daquelas, entre outras, dimensões do homem? E, afinal, as disciplinas sociais e humanas, bem como os domínios ditos não-científicos, qual o estatuto que lhes será reconhecido? A interdisciplinaridade será possível, desejável, útil ou cada ciência vai manter-se na sua redoma?

Bibliografia

D´ARNUY, Jo, (1977). Nós e os Nossos Filhos. Trad. António Agostinho Torres. Porto: Editorial Perpétuo Socorro
 SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS, 1990:12

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)

domingo, 4 de dezembro de 2011

Conciliação pelo Diálogo

A humanidade está predestinada à inevitabilidade da comunicação. Quem se esconder na penumbra da indiferença, na tranquilidade do silêncio sistemático e inconfessável, ou no egoísmo dos interesses ilegítimos, terá, provavelmente, imensas dificuldades em cooperar com os seus semelhantes, com as instituições, com um mundo cada vez mais exigente e com a própria natureza.
Gerir, equilibradamente, a comunicação interpessoal é, cada vez mais, uma ciência superior, (também uma arte), nem necessariamente uma ciência exacta, nem absolutamente uma ciência social e humana, porque numa ou noutra, sempre terá lugar alguma objectividade e, simultaneamente, haverá espaço para uma certa margem de subjectividade, sem que isso afecte a veracidade da comunicação, a sua autenticidade e eficácia.
Ser competente na comunicação impõe, desde logo, aos vários interlocutores, uma atitude comunicacional assertiva, isto é, pela positiva, pelo respeito, pela verdade, pela tolerância, pelo diálogo que conduz a um resultado do tipo ganha/ganha, ou seja, nenhum dos intervenientes perde tudo, mas também nenhum deles ganha tudo, porque todos cedem a favor de todos.
Analisada a comunicação por esta perspectiva, reconhecendo-se, embora, não ser a única possível, o conceito de competência comunicacional envolve o princípio do diálogo, com as características referidas e o resultado previsível, segundo a fórmula do “ganha/ganha”. Uma comunicação, onde existe diálogo, que atinja aquele resultado, pode considerar-se competente.
Num tempo e num espaço que se desejam de profunda harmonia, compreensão, lealdade, tolerância, solidariedade, reciprocidade e paz, desenvolver estratégias que visem resultados do tipo “ganha/perde”, em que uma das partes ganha tudo e a outra perde tudo, poderá não ser a melhor gestão da comunicação, porque o adágio, segundo o qual: “Vencido mas não convencido”, a médio prazo, pode trazer retornos de consequências imprevisíveis.
Vencer o interlocutor com base em argumentos: falaciosos, porque falsificados; agressivos, porque intimidatórios; manipuladores, porque hipócritas; passivos, porque, comodamente, indiferentes e, aparentemente, inofensivos, vão criar novas situações, mais complexas, porque suscita a dúvida, a incerteza, a desconfiança e o sentimento de desforra.
A arte de comunicar envolve o conhecimento de factores que, em determinadas circunstâncias, constituem barreiras à comunicação, entre outros: factores pessoais, sociais, fisiológicos, psicológicos, personalidade; linguagem. Factores que o agente da comunicação sabe utilizar e/ou evitar.
Este saber construir a comunicação, numa perspectiva estética, à escala do belo, certamente que é próprio do artista, por isso se pode aceitar a comunicação como arte, eventualmente, uma arte muito difícil de aprender (se é que a arte se aprende!), porque envolve interacções entre pessoas, frequentemente, face-a-face, sujeitas a influências, pressões, valores, interesses e muitas outras variáveis, imprevisíveis e não controláveis.
Se a omissão, em certas circunstâncias, é compreensível, nomeadamente em determinado tipo de negócios e competições, porque não provoca prejuízos nem ofende a outra parte, já a mentira, (que implica deslealdade, falta de solidariedade e intransigência, muito dificilmente, serão compreendidas e aceites), ressalvando-se sempre o conceito quando elevado ao nível do absoluto, porque a omissão e a mentira absolutas, também, tal como a verdade, não estão ao alcance da capacidade humana, existindo, muitas vezes, algum relativismo: o que hoje é verdade, amanhã poderá não o ser; o que ontem era mentira, hoje será verdade; o que foi omisso no passado, poderá ser declarado no futuro.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)