domingo, 25 de abril de 2021

A descolonização pós-Revolução dos Cravos


A ditadura portuguesa também viria a ter o seu fim com a “Revolução dos Cravos”, em vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, na qual as Forças Armadas e o Povo saíram à rua para abater um regime desumano: quer para os cidadãos Portugueses; quer para os povos colonizados, muito embora nos territórios ocupados se tenha verificado um grande desenvolvimento, porém, sem os valores da democracia: liberdade em todas as suas vertentes; solidariedade, igualdade, fraternidade, entre outros.

É claro que a “Revolução dos Cravos” não foi apenas de “flores”, também houve alguns “espinhos”, principalmente para os cerca de meio milhão de Portugueses que tiveram de abandonar, à pressa, as então colónias: a maior parte dos quais, perdendo tudo o que tinham conseguido, ao longo de uma vida de trabalho, de sacrifícios, de riscos; outros, inclusivamente, incentivados pelo governo ditatorial, venderam os seus bens em Portugal continental, para investirem nos territórios ultramarinos.

A descolonização que se seguiu à “Revolução dos Cravos”, com a justa independência dos territórios ocupados, não protegeu com firmeza a integridade física, nem acautelou com determinação, os bens materiais imóveis e financeiros dos empresários e colonos Portugueses, pese, embora, o esforço realizado com as “pontes aéreas” para transportar, em segurança, para a então denominada “metrópole”, os milhares de Portugueses que, em certos círculos, foram apelidados, pejorativamente, de “Retornados”, adjetivação que nunca foi utilizada, por exemplo, em relação aos restantes Portugueses emigrados, quando regressavam definitivamente a Portugal.

Centenas de jovens, muitos colonos e autóctones, que desejavam continuar a ser Portugueses, morreram vítimas de uma guerra sem sentido, cujos corpos foram enterrados em “cemitérios” improvisados, no meio do mato, abandonados às ervas daninhas e animais selvagens, sem o mínimo de respeito pela dignidade da pessoa humana, independentemente da sua etnia, convicção política, religiosa e cultural.

É claro que o espírito e capacidade de adaptação dos Portugueses acabaram por resolver este drama da descolonização. O Estado-Governo que se seguiu à “Revolução dos Cravos”, enquadrou e integrou nos seus quadros, milhares de funcionários, assim como as grandes empresas e bancos, entre outras. Resta, passados quarenta e seis anos, indemnizar os Portugueses que perderam os seus bens: imobiliários, financeiros, empresariais e empregos.

Apesar de todas as dificuldades, Portugal pode orgulhar-se da sua “Revolução dos Cravos”, da implementação de um regime democrático com amplos direitos, liberdades e garantias, que, ainda hoje, faz inveja a muitos outros países. Não há dúvida que somos um “povo de brandos costumes”, pacífico, hospitaleiro e humanista, um povo resiliente, sem dúvida nenhuma.

A “Revolução dos Cravos” proporcionou aos Portugueses uma vida nova, com esperança num futuro de desenvolvimento, emprego e justiça social, porque Democracia é isto mesmo: igualdade de oportunidades, redistribuição justa da riqueza nacional, cuidar de todos os cidadãos de igual modo, sem discriminações negativas, nem marginalização dos mais fracos.

A “Revolução dos Cravos”, ainda não terminou todos os projetos então prometidos, mas possibilitou retirar o país do isolamento internacional, em que já se encontrava. Abriu as portas para a integração na União Europeia, com todos os deveres e direitos que tal implica, reconhecendo-se, hoje, primeiro quarto do século XXI, que valeu a pena correr os riscos que uma revolução provoca, para aqueles que nela se envolvem.

Naturalmente que é justo e sempre pertinente, que se faça um rasgado elogio às Forças Armadas Portuguesas e ao Povo, porque sem a conjugação das sinergias, talvez a “Revolução dos Cravos” se tornasse num banho de sangue. O sentido patriótico, e de Estado, dos nossos militares, foi, é e, seguramente, continuará a ser, uma garantia de estabilidade democrática para Portugal.

 

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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domingo, 18 de abril de 2021

Antropologia Criacionista

 

A filosofia de Leonardo Coimbra pretende ser uma inovação filosófica e proposição de grandes linhas orientadoras do pensamento filosófico português, trabalhando dentro de uma perspectiva antropológica, com dois termos fundamentais que são: o Homem e a Vida.

«Leonardo José Coimbra (Borba de Godim, Lixa, 30 de Dezembro de 1883Porto, 2 de Janeiro de 1936) foi um filósofo, professor e político português. Enquanto Ministro da Instrução Pública de um dos governos de Primeira República Portuguesa, lançou as Universidades Populares e a Faculdade de Letras do Porto. Como pensador fundou o movimento “Renascença Portuguesa, e evoluiu do criacionismo para um intelectualismo essencialista e idealista, reconhecendo a necessidade de reintegrar o saber das "mais altas disciplinas espirituais", como a metafísica e a religião (in: http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_Coimbra

Com efeito, o autor do “Criacionismo”, pela sua própria personalidade fogosa, não se contentava em ficar à margem dos problemas correntes do homem, e por isso empenhava-se decididamente, dinamizando uma filosofia vitalista.

O “Criacionismo” de Leonardo Coimbra não se manifesta hostil à política, mas desprendido e tolerante, propaga a fraternidade espontânea, impeditiva da dissolução das vontades, pela criação de um ideal coletivo, que seja a fonte de uma efetiva irmandade espiritual.

É assim que, no contexto da cultura portuguesa de então, o movimento da “Renascença Portuguesa”, transformado em “Criacionismo”, é um movimento de interiorização e exteriorização do espírito e que abrange uma dupla dimensão: Lusitana e Antropológica.

O “Criacionismo” pretende, assim, construir um esboço de sistema filosófico, que incorpore os valores patrióticos e antropológicos da nação, isto é: “tocar o Além mas sem esquecer a Terra”. O seu “Criacionismo” relaciona-se muito com aquele caráter místico e profundamente artístico, que atinge a pessoa moral.

Todo o trabalho de Leonardo Coimbra, visto numa perspetiva antropológica e filosófica, constitui um particular esboço ao problema do Homem e da vida. Ele tem como marco inicial o propósito sincero de tracejar um sistema filosófico que possa tornar-se um programa de ação, em que progressivamente o acordo entre o real e o pensamento seja possível. O seu pensamento filosófico subordina-se a uma consciência aberta aos problemas do Homem e da Vida, do conhecimento e da cultura, da sua comunidade e da sua pessoa.

Na evolução do seu pensamento, intercalam-se o poeta, o iletrado e o filósofo, submetidos ao crescimento espiritual e amadurecimento intelectual do seu autor, preocupado com um certo pragmatismo, numa maior capacidade de ação, mas também pelo amor à verdade, ao real, reagindo, por isso, contra o positivismo, embora admitindo as boas intenções de Augusto Comte.

O positivismo que ele rejeita é do tipo cientificista, que se degradou e se fez tecnicismo de uma ciência de aspirações técnicas. O seu “Criacionismo” critica o culto do progresso, do indefinido acréscimo do bem-estar e das comodidades materiais, o domínio da natureza.

É difícil rotular o pensamento de Leonardo Coimbra com uma qualquer corrente filosófica estrangeira, havendo quem o pretenda identificar com Bergson, por ter defendido a luta que a liberdade encetava para “subir à luz”, não obstante estar enterrada pelos vários determinismos científicos, vendo nessa luta o seu legítimo campeão em Bergson.

Outros há que preferem qualificar a filosofia de Leonardo Coimbra como uma filosofia de ação, no sentido “Blondealiano”, ou ainda que o autor do “Criacionismo” “sofre de uma visão global da existência e do destino no confronto da fé e da filosofia cristã, visão que apresenta profunda analogia com o dinamismo ‘maréchaliano”. (Leopoldo Marechal, nasceu em Buenos Aires em 1900 e faleceu em 1970. Poeta, narrador, dramaturgo e ensaísta)

Mas poder-se-á afirmar que o vitalismo de Leonardo Coimbra não é de desengano, mas de um idealismo realista, aberto em aspiração para um complemento sobrenatural. Por tudo isto, o conceito ““Criacionismo”” reflete uma categoria do ser humano, ao mesmo tempo que significa uma condição do mundo, reproduzindo, ainda, uma noção de vida ou uma forma de se viver e uma propriedade do pensamento sem obstáculos, do pensamento humano, que é criacionista, numa imitação deficiente do pensamento divino.

A verdade humana compõe-se de fragmentos de harmonia, e por isso o termo “criacionista” convém ao pensamento humano, enquanto considerado um diminutivo do pensamento criacionista, positivamente encontrado na existência genuinamente criadora de Deus.

O método criacionista é um misto de pedagogia, porque reflete a disposição espiritual que movia o seu autor, bem como fazer da atividade do pensamento um hábito, uma qualidade espiritual permanente, solicitando o indivíduo a aprofundar, explicar e intensificar o conhecimento humano do positivismo, na medida em que tendo Leonardo Coimbra estudado num ambiente de formação positivista, movido pela ideia de renovação cultural e filosófica e querendo uma nova filosofia, o seu método confunde-se em duas atitudes de um mesmo dinamismo.

Este método é a própria vida do pensamento, e deve ser só por si um sistema filosófico. Em resumo, poder-se-á dizer que o método criacionista apresenta três supostas caraterísticas:

a) Dialético: porque segue um dinamismo próprio do pensamento, que avança para novas sínteses;

b) Construtivo: porque estuda o ser mental que é a ciência para, a partir dela, encontrar o valor da arte, da moral e da própria filosofia, saindo da experiência científica, tende para todas as outras experiências, sendo a experiência fundamental, a vida;

c) Pedagógico: porque apresenta uma pedagogia própria do espírito humano, que não permite qualquer espécie de particularismo ou fechamento.

É, afinal, um método crítico de análise regressiva e síntese progressiva.

Naturalmente que o “Criacionismo” de Leonardo Coimbra enfrenta, como qualquer outro sistema filosófico, alguns problemas, face a determinados níveis dos diversos ramos do conhecimento, designadamente em relação à ciência, à filosofia, à moral, à religião, à arte, entre outros.

A filosofia de Leonardo Coimbra não adota a tendência oculta, do espírito das ciências, de fugir da metafísica, porque ela é, essencialmente, metafísica e essa é a alma e por isso, ela é, antes de tudo, um discurso sobre a atividade científica, porque efetivamente necessita dos resultados gerais das ciências para a sua elaboração, não propondo uma aceitação crítica dos simples resultado, sem a reflexão filosófica e como pensamento dinâmico e evolutivo, enquanto teoria da atividade científica, desenvolve-se em três estágios:

1. Propõe respeito às realidades científicas, estudando o sistema inteiro das ações científicas, furtando-se a qualquer espécie de idolatria;

2. É um trabalho de lógica e metafísica, que pretende mostrar, através de uma honesta reflexão filosófica, a filosofia tomando consciência do seu próprio espírito, por intermédio da ciência;

3. Admite e postula uma estrutura ideo-realista do universo com um mínimo de platonismo retificado como meio seguro para se explicar as ciências. Neste terceiro estágio o “Criacionismo” parece ser já de tendência cristã.

Para o “Criacionismo”, o verdadeiro espírito científico é aquele que põe francamente os resultados. Leonardo Coimbra procura fazer filosofia e não ciência.

Ao nível da filosofia, o “Criacionismo” provém da sua atitude crítica, face ao positivismo, porque a filosofia do “Criacionismo” é, essencialmente, a metafísica. Foi no idealismo platónico que ele encontrou o dinamismo interno do seu “Criacionismo”, saindo em busca das implicações espirituais de um conhecimento que julga poder limitar-se à simples representação de objetos dados, a captação percetível, concluindo, assim, que a alma da filosofia é a metafísica, e esta é, antes de mais, uma ontologia do espírito.

Esta metafísica submete-se às exigências do pensamento e do amor humano, até encontrar a pessoa divina e preencher o vazio requerido em termos de ideal. É, sobretudo, o sentido da vida do espírito que a metafísica do “Criacionismo” quer encontrar, distinguindo os vários planos ontológicos da realidade.

Esta atitude não pretende ser uma pura introspeção psicológica, mas uma ontologia do espírito, procurar em cada ato do pensamento humano atingir pela reflexão, e para lá do ato o dinamismo da atividade e, para além deste, o gerador dessa atividade.

A sua ontologia do espírito não deixa a metafísica cristã como uma simples hipótese de socorro às desgraças humanas, mas aponta o fulgor da esperança e a tendência da positividade da filosofia do “Criacionismo”, mas sim acabar em religião, num esforço para o divino e uma opção obrigatória.

A filosofia do “Criacionismo” é uma filosofia vitalista e metafísica, porque pretendeu restaurar a metafísica e manifestou toda a simpatia pelos pensadores que procuravam na vida o ponto de arranque para o seu filosofar. O autor do “Criacionismo” é um filósofo de formação científica, por isso ele procurou que a ciência e a metafísica caminhassem juntas e a filosofia deveria ser acrescida pela arte, pela moral e pela religião.

A filosofia colaboraria no saber humano, e como disciplina seria salvaguardado, ainda, o seu lugar de teoria geral da experiência, como assimiladora e unificadora de todas as experiências parcelares.

Mas Leonardo Coimbra é também um filósofo espiritualista, e como tal criou hábitos na contemplação e no espiritualismo da poesia portuguesa do seu tempo. Conciliou o que mais o impressionou do positivismo e do espiritualismo da poesia portuguesa, assimilou o recheio que mais lhe convinha, o que resultou num “Criacionismo” com ar de filosofia científica e de ação e também como filosofia do espírito e da abertura.

A sua metafísica é estética. Tudo é harmonia, razão, inteligência e vida, introduzindo no seu sistema a ideia de uma alma-harmonia. O “Criacionismo” é estético e o seu Deus é um artista com modelos impecáveis, esculpindo tudo. Deus é suprema harmonia, o belo por excelência.

O homem é um princípio ativo, a ação consciente de um mundo a fazer em liberdade, em ação, por isso a sua filosofia é de liberdade, um permanente ativismo, contrária ao estático, ao imóvel, é a explicitação do princípio de liberdade criadora, com espírito criador que se traduz na pedagogia do seu método e na soberba novidade da sua filosofia, numa dialética que conjuga o dinamismo do espírito e a inércia da matéria, o dinamismo da experiência inteletual e o da experiência vital concreta.

A metafísica do “Criacionismo” é espiritual e religiosa. O Deus do “Criacionismo” é o Deus Criador, e o lugar do homem é o centro da criação. O homem é, na verdade, uma linhagem quase divina, mas é, também, sensivelmente, uma impossibilidade absoluta, porque anula todas as suas obras e fecha-lhe as glórias na mais completa das derrotas.

O “Criacionismo” é, também, metafísico da vida transcendente. A morte revela-lhe uma sadia angústia perante a vida, O problema da morte ou da imortalidade da vida deixou-o às mãos com o destino e garantido pela certeza da fé cristã.

O inter-relacionamento entre o natural e o sobrenatural é um problema básico na ontologia do “Criacionismo” e a sua dialética ascensional. O eu pensante concebe-o como um EU espiritual, o ponto mais alto da hierarquia dos seres.

No natural participa uma “Graça Ontológica de Transcendência”, e todo o imanente é assim envolvido onticamente por esta Graça, que encara a morte como a superação da vida pela vida. Submerge o homem na vida porque esta é o eficaz garante da coexistência do homem com os homens, e do homem com a natureza, e esta o seu ambiente existencial.

 

Bibliografia

 

COSTA, Dalila L. Pereira da e GOMES, Pinharanda, (1976). Introdução à Saudade. Porto: Lello & Irmão, Editores.

GAMA, José, (1983). Filosofia e Poesia no Pensamento de Leonardo Coimbra. In Revista Portuguesa de Filosofia, Tomo XXXIIX-4.1983. Braga: Faculdade de Filosofia.

MORUJÃO, Alexandre Fradique, (1983) O Sentido da Filosofia em Leonardo Coimbra, In Revista Portuguesa de Filosofia, Tomo XXXIIX-4.1983. Braga: Faculdade de Filosofia.

SPINELLI, Miguel (1981). A Filosofia de Leonardo Coimbra. O Homem e a Vida. Dois Termos da sua Antropologia Filosófica. Braga: Publicações da Faculdade de Filosofia.

«Protejam-se. Vamos vencer o vírus. Cuidem de vós. Cuidem de todos». Cumpram, rigorosamente, as instruções das autoridades competentes.

As “benditas” vacinas começaram a chegar.

CALMA.  Já se vê a luz ao fundo do túnel. “Desta vez, ninguém fica para trás”.

Acreditemos nos Investigadores, na Ciência, na Tecnologia e Instrumentos Complementares.

Agradeçamos, a quem, de alguma forma, está a colaborar na luta contra a pandemia, designadamente o “Pessoal da Linha da Frente”

Estamos todos de passagem, e no mesmo barco. Aclamemos a VIDA com Esperança, Fé, Amor e Felicidade.

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Venade/Caminha – Portugal, 2021

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domingo, 11 de abril de 2021

O Signo: Suporte da Linguagem

 Ao abordar a importância do signo, enquanto suporte da linguagem, certamente que não se pretende desenvolver o historial do signo, enquanto isolado do contexto linguístico-filosófico, mas tão-só o uso que dele se faz, para que através da linguagem possamos obter um sentido para a realidade que procuramos, ou seja: um conhecimento que buscamos e desejamos transmitir, muito embora, sendo o homem um ser imperfeito, inacabado, limitado e até desorientado, o que produz não é, logicamente, perfeito mas, bem pelo contrário, é insuficiente.

A língua é um sistema no qual os diferentes signos tomam posição, uns em relação aos outros, e o valor de um signo deriva da sua posição, porque a língua passa de uma posição diacrónica (evolução), para uma determinante sincrónica (relações existentes num dado momento, entre os elementos da língua.

O texto é uma estrutura diagramática. A obra literária constitui um sistema, é um todo, formado por elementos solidários entre si, interligados por uma tensão dinâmica, cabendo à crítica descrever estes elementos, as relações existentes entre eles, os quais definem a estrutura do sistema, e as respetivas funções, utilizando um processo analítico, para o efeito.

O objeto da investigação estrutural não é o de explicar o conteúdo da obra, mas analisar as regras combinatórias, que estão na base do funcionamento do sistema semiótico. De igual forma, à linguística estrutural importa mais a gramaticalidade das frases, do que a sua significação.

A gramática generativa vem desempenhar um papel importante na construção de um modelo da competência, cujo sistema compreende três componentes: a) o sintáxico, que gera as estruturas abstratas, que são as frases gramaticais de uma língua; b) o fonológico, que determina a forma fonética de uma frase, gerada pelo componente sintáxico, c) o semântico, que permite a interpretação sematológica, que atribui um sentido aos objetos formais. Por este sistema se coloca, de novo, a questão da relação entre a linguagem e o pensamento, rejeitada, todavia, pela linguística estrutural, pós-saussuriana.

Interessa, neste trabalho, conduzir o signo para a ideia de que ele é a fundamentação da escrita, em tudo o que ela implica para o conhecimento humano e, nesse sentido, pode-se, numa primeira interpretação, considerar o signo como um índice que liga, indissoluvelmente, um sentido ou, mais rigorosamente, um significado a um morfema, isto é, a um fonema linguístico.

As escritas mais antigas (pictográficas, hieroglíficas) foram passadas da cópia para o signo verdadeiro, em grande parte arbitrário, porque se possibilitou a transferência do signo escrito para um significado e libertação da linguagem, como conjunto e código de signos abstratos, eventualmente, discursivos.

O pensamento humano carece, totalmente, da linguagem para transmitir todas as faculdades criadoras, de sinais e símbolos, que a inteligência produz, pelo que, entre a linguagem e o pensamento, existem relações de interdependência, de estreita solidariedade, de apoio recíproco, sendo certo que o pensamento precede a linguagem, embora tal anterioridade não se situe no tempo, mas numa linha lógica, na medida em que o pensamento é condição, “a priori”, que torna possível a linguagem articulada e racional, a qual aparece como função do pensamento, porque, efetivamente, este é condição “sine qua non” da linguagem, como seiva alimentar interior, mas, por outro lado, a linguagem enriquece o pensamento, porquanto este organiza-se e disciplina-se por aquela, eleva-se às ideias abstratas e gerais, com o auxílio da palavra.

Seja qual for a linguagem utilizada: verbal, gráfica, mímica, pictórica, etc., ela deve possuir uma estrutura que, sendo normalmente rudimentar no seu início, vai-se aperfeiçoando, de tal forma que o seu uso adequado fica cada vez mais limitado, ao conhecimento profundo da sua estrutura e simbolismo, facto que vem introduzir no sistema graves distorções, precisamente por incorreta aplicação dos seus termos significantes, isto porque os sons ou signos gráficos produzidos, na execução de um ato ilocucional, têm uma significação e, nesse sentido, pela enunciação daqueles sons, ou signos gráficos, se pretende dizer alguma coisa, porque na verdade, quando se fala, pretende-se dizer algo, deseja-se significar um pensamento, uma ação a realizar, um desejo a concretizar, uma vontade a materializar, uma presença a chamar a atenção do outro nosso igual.

 

Bibliografia

 

BARTHES, Rolando, (1983). O Prazer do Texto. Trad. Maria Margarida Barahona. Lisboa: Edições 70.

CHOMSKY, Noam, (1977). Reflexões Sobre a Linguagem. Lisboa: Edições 70

DELEUZE, Gilles, (1977). Como Reconhecer o Estruturalismo, in História da Filosofia, Vol. 8, direção de F. Châtelet. Lisboa: D. Quixote

DERRIDA. Jaques, (1985). Assinatura, Acontecimento Contexto. Margens da Filosofia. Trad. J. T. Costa e A. M. Magalhães. Porto: Res.

FAGES, J.B., (s.d.). Para Entender o Estruturalismo. Trad. M. C. Henriques. Lisboa: Moraes Editores

FLUSSER, V., (1963). Linguagem e Realidade. S. Paulo-Brasil: Herder

HEIDEGGER, Martin, (1976). Acheminement Vers la Parole. Paris: Galimard

KRISTIEVA, J., (1980). História de Linguagem. Trad. Vários. Lisboa: Almedina.

SEARLE, John Rogers, (1981). Os Actos de Fala. Um Ensaio de Filosofia da Linguagem. Trad. Carlos Vogt, Ana Cecília Maleronka, Balthazar Barbosa Filho, Maria Stela Gonçalves e Adail Ubirajara Sobral. Coimbra: Livraria Almedina

SUMARES, Manuel, (1977). Hermeneutique et Gramatologie, in Jean Greisch, Paris: Editons du C.N.R.S., in Texto e Contexto, Braga, 1982. 

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domingo, 4 de abril de 2021

Páscoa. Confraternização Humanista

No âmbito da cultura religiosa cristã, esta festa móvel que se designa por Páscoa, tem longa tradição, principalmente nas aldeias portuguesas, nas quais e no dia previamente estabelecido, pelas entidades competentes, as populações convergem, com devoção, crença e alegria, para as cerimónias específicas, porque segundo os cânones do cristianismo, o evento significa a “Ressurreição de Cristo”.

Este tempo que os cristãos-católicos vivenciam, inicia-se com um período de “luto”, que se prolonga durante quarenta dias, imediatamente, a partir da terça-feira de Carnaval e culminado no “Domingo da Ressurreição”, dia totalmente consagrado à alegria de experienciar a libertação de Jesus Cristo do túmulo, para onde teria sido conduzido após a sua morte na Cruz, na sexta-feira da paixão, conforme rezam os documentos sagrados.

A Páscoa é, também, um tempo de confraternização, de reunião da família, não tanto no conceito e espírito que é vivido, por exemplo, no Natal, (nascimento de Jesus Cristo) mas numa perspetiva diferente, (morte e ressurreição de Jesus Cristo) não significando menos importância ou menor Fé. A Páscoa, nas aldeias portuguesas, no denominado Portugal profundo, é um acontecimento simultaneamente religioso e pagão, onde o sagrado e o profano, como que se alternam, complementando-se, sem conflitos nem incompatibilidades.

Na Páscoa, concretamente em muitas aldeias de Portugal, praticam-se aquelas duas dimensões. A dimensão religiosa, preenchida com todos os rituais inerentes às festividades: Domingo de Ramos, Semana Santa cujos pontos altos são: a Quinta-feira de Endoenças; a Sexta-feira da Paixão, o Sábado de Aleluia e o Domingo da Ressurreição, celebrando-se neste dia a Missa da Ressurreição, a que se segue o “Compasso Pascal”, que consiste na visita às residências, pela comitiva para o efeito constituída: Pároco, mordomos da Confraria do Senhor, Mordomo da Cruz e outros acólitos.

Esta visita pascal às casas de moradia, da comunidade local, é um acontecimento extraordinário, porque a comitiva, depois de entrar na habitação, o pároco procede ao ritual de benzer a sala, onde todo o séquito é recebido, para de seguida o abade dar a Cruz de Cristo Crucificado a beijar aos presentes que assim o desejem e depois confraternizar, comendo-se alguns doces e cantando-se a “Aleluia”. É, de facto, uma alegria imensa para as pessoas que, com profunda Fé, respeito e esperança, recebem Jesus supliciado.

Nesta Páscoa de 2021, o mundo em geral, e Portugal em particular, estão de luto: a pandemia que a todos atingiu cruelmente, a partir do vírus COVID-19, já infetou milhões de pessoas e matou muitos outros milhões. Tem sido necessário tomarem-se medidas drásticas: estado de emergência, sanitárias, confinamentos, restrições à circulação de pessoas em certos dias, recolher obrigatório, entre muitas outras precauções tidas por necessárias. A Páscoa portuguesa, no que respeita à visita pascal aos lares das pessoas que desejavam receber a Cruz Redentora, não poderá realizar-se.

Quanto à envolvente profana, também em muitas aldeias, a tradição manda que no sábado de Aleluia, pela meia-noite, se queime o Judas, sob a forma de fogo de artifício, É uma manifestação de repúdio, de castigo, contra aquele apóstolo que, traiçoeiramente, vendeu Jesus por trinta dinheiros. Judas era um dos doze Apóstolos que seguia Cristo por todo o lado.

Apesar da pandemia que nos surpreendeu negativamente a partir de março de 2020, a  verdade é que a Páscoa tem vindo a perder a sua importância, enquanto festa da alegria, do convívio, nas nossas aldeias, já que nas grandes cidades e vilas é muito mais difícil, ou mesmo impossível, visitar dezenas de milhares de habitações, circunscrevendo-se este evento às cerimónias religiosas nas respetivas Igrejas.

Em todo o caso, esta data religiosa e festiva, proporciona, seguramente, a oportunidade para se refletir acerca da nossa práxis neste mundo em que vivemos, nomeadamente, quando assumimos comportamentos atentatórios dos direitos e da dignidade dos nossos semelhantes.

Segundo as narrativas sagradas, Cristo limitava-se a praticar o Bem, a ajudar quem d’Ele precisava, a compreender, a tolerar e a ter compaixão pelos que sofriam, curando, milagrosamente, os mais carenciados de tratamento, sem lhes pedir nada em troca. Praticar o Bem, inclusive, àqueles que, provavelmente, em muitas mentalidades atuais, não mereciam.

Hoje em dia, muitas pessoas vivenciam a Páscoa como um dia normal do calendário, como um domingo qualquer, sem parar uns segundos para refletir no significado deste acontecimento bíblico-cristão. Não podemos, nem devemos criticar, negativamente, estes comportamentos, pelo contrário, manifestar respeito, consideração e um relacionamento amistoso, cordial e sincero, é o mínimo que teremos de fazer, afinal, quem é que está certo nesta vida?

Por outro lado, idêntica atitude se exige dos não-crentes, em relação aos cristãos-católicos que professam esta religião, na medida em que se considera imprescindível, haver reciprocidade entre os responsáveis de comportamentos praticamente opostos, além de que, qualquer situação conflituosa não conduziria à tranquilidade que a sociedade tanto precisa e merece.

Acresce, ainda, que entre as inúmeras religiões, com maior ou menor expressão e número de aderentes, certamente que a Páscoa será celebrada de maneiras diferentes, ou até passará despercebida. Incentivar pessoas, grupos e organizações para aderirem a uma religião ou até trocarem de convicções profundas de Fé e confissões, adquiridas à nascença, não será uma prática proibida, quando depois de um esclarecimento cabal, as pessoas decidem em consciência e com lucidez.

 Páscoa Portuguesa, por exemplo, pode ser um bom argumento para crentes e não-crentes, refletirem, em conjunto, sobre o que realmente importa na vida para a estabilidade do mundo, assim como o diálogo inter-religiões se configura cada vez mais premente, porque é impossível continuar a viver-se neste drama de conflitualidade bélica, que tem levado à fuga de centenas de milhares de pessoas dos seus países, à morte de outras centenas de milhares, não escapando crianças, mulheres, homens e idosos.

Nesta Páscoa de 2021 ficam aqui os votos muito sinceros do autor desta reflexão, que apontam no sentido de desculpabilizar todas as pessoas que, por algum meio e processo, o prejudicaram, ofenderam e magoaram, não significando esta atitude: “passar uma esponja”; esquecimento total, mas apenas a vontade de reconciliação, de tentar novos diálogos, novas abordagens, para um melhor e mais leal relacionamento.

Páscoa que se pretende para todas as pessoas, como um dia, pelo menos um dia no ano, de reflexão, de recuperação de valores humanistas universais, um dia para festejar e recomeçar com novas: Precaução, Moderação, Robustez, Justiça, Fé, Confiança, Caridade, Comiseração e Generosidade. Uma nova Esperança Redentora, entre a família, os verdadeiros e incondicionais amigos. A todas as pessoas: Páscoa Muito Alegre e Feliz, na medida do possível e com as precauções que se impõem.

 

«Protejam-se. Vamos vencer o vírus. Cuidem de vós. Cuidem de todos». Cumpram, rigorosamente, as instruções das autoridades competentes.

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