domingo, 30 de dezembro de 2012

Construir a Paz


Regra geral: toda a pessoa, verdadeiramente humana; as famílias; as instituições; as comunidades; as sociedades; os povos; as nações de todo o mundo perseguem objetivos, desejam alcançá-los e consolidá-los para viverem com a maior estabilidade possível, com qualidade de vida, com tranquilidade, na maior felicidade exequível, enfim, com Paz.
Na verdade, o Papa Paulo VI, em sua primeira mensagem para o dia de Ano Novo, dizia: «Dirigimo-nos a todos os homens de boa vontade, para os exortar a celebrar o Dia da Paz, em todo o mundo, no primeiro dia do ano civil, 1 de Janeiro de 1968. Desejaríamos que depois, cada ano, esta celebração se viesse a repetir, como augúrio e promessa, no início do calendário que mede e traça o caminho da vida humana no tempo que seja a Paz, com o seu justo e benéfico equilíbrio, a dominar o processar-se da história no futuro.» (http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Mundial_da_Paz, consultado em 25.11.2012).
Muitos são os valores que acompanham a existência humana, ainda que as culturas, histórias, civilizações tenham, e pratiquem, os valores que consideram próprios de cada povo. Praticamente, é impossível conseguir adaptar-se valores e as respetivas boas-práticas, comuns a todas as pessoas e embora se deseje acreditar que haverá valores que toda a gente gostaria de possuir e usufruir plenamente, como por exemplo: saúde, trabalho, família, solidariedade, justiça, felicidade e Paz, o certo é que não é seguro que assim seja.
A Paz não é apenas e/ou necessariamente a ausência de guerra. Ela envolve por si só outros valores, outras práticas, de tal forma que se não existirem e não forem fruídos, então a Paz será, tão só, uma condição em que se vive, mas que não traz à pessoa humana, a tranquilidade para viver feliz, com entusiasmo, dinamismo e projetos de vida. A Paz, no conceito de ausência de guerra, é muito pouco. A Paz tem de comportar outras exigências, dimensões e realizações para que contribua para a dignidade humana.
É rigorosamente verdade que o mundo é um aglomerado de seres, de fenómenos, de mistérios. O ser humano é, porventura, no campo do que já é conhecido, o mais evoluído de todos, aquele que verdadeiramente constrói, desenvolve e desfruta de uma cultura, desde logo, na sua própria educação, formação ao longo de toda a vida, sem que alguma vez se sinta plenamente realizado, feliz, todavia, poderá encontra alguma tranquilidade, uma sensação de bem-estar, de conforto material e espiritual.
Se assim for, então, parta-se da aceitação de que a Paz deve começar em cada pessoa e depois, qual vento circulante, expandir-se para as outras pessoas, cada uma destas, igualmente se esforçando por construir a sua própria Paz, continuando a envolver sempre mais pessoas, povos e nações. Resulta que a grande estratégia será a soma das Pazes individuais para se erigir a Paz mundial, porque é necessário o contributo de todos, em liberdade e com responsabilidade.
Com efeito: «A Paz é a prática da consciência plena, a prática de estar ciente dos nossos próprios pensamentos, das nossas ações e das consequências das nossas ações. A consciência plena é simultaneamente simples e profunda. Quando somos plenamente conscientes e cultivamos a compaixão da nossa vida diária, diminuímos a violência a cada dia que passa. Temos um efeito positivo na nossa família, nos amigos e na sociedade» (HANH, 2003:11).
Este valor inestimável, procurado pela esmagadora maioria das pessoas, povos e nações, encontra sempre imensos obstáculos, porque a Paz tem de começar a existir no espírito de cada indivíduo, é ele que tudo deve fazer para “contaminar” os outros, qual bola de neve.
Enquanto não forem erradicados objetivos individuais de puro egoísmo, do poder-pelo-poder, de domínio arrogante, prepotente, ditatorial e desumano; enquanto predominar o ter sobre o ser; a perseguição sobre a reconciliação; a vingança sobre o perdão; a hipocrisia sobre a lealdade; a ambiguidade sobre a solidariedade, a Paz é, praticamente, uma utopia.
Claro que toda a utopia, mais tarde ou mais cedo, ao longo da história da humanidade, pode-se tornar realidade, tudo dependendo da determinação de cada pessoa em “lutar” pela sua própria Paz e ajudar os seus semelhantes a conquistar e praticar este supremo bem.
É fundamental que se tenha a coragem e também a humildade de se autoavaliar, reconhecer que se errou e corrigir tudo o que intencionalmente, ou não, foi realizado para prejudicar outras pessoas, para humilhar, desconsiderar, magoar e desgostar. Enquanto esta situação perdurar em cada pessoa, ela não terá Paz consigo própria, logo, não está em condições de contribuir para uma verdadeira Paz alargada a toda a gente.
Portanto, é condição “sine qua non” que se comece por avaliar o grau de culpabilidade na ausência da Paz individual porque: «A verdadeira culpa é o remorso que sentimos quando magoamos aqueles que amamos; ela nos faz ter vontade de corrigir as coisas no nosso relacionamento com os outros. A falsa culpa é o medo da punção que está mais ligada à necessidade de nos protegermos depois que fazemos algo errado. A falsa culpa raramente beneficia o nosso relacionamento com os outros. Na verdade, ela em geral nos prejudica e nos torna pessoas de convivência mais difícil.» (BAKER, 2005:79).
Comemora-se mais uma efeméride relativa ao “Dia Mundial da Paz”, no início de cada ano, mais concretamente, no dia 01 de Janeiro, dia de Ano Novo. Os apelos à Paz vêm de todos os quadrantes: religiosos, políticos, económicos, empresariais. Considera-se, então, naquele dia, a Paz como um desígnio universal a alcançar e consolidar.
As promessas de tudo se fazer, a partir das mais altas instâncias, nacionais e internacionais, são uma atitude que se deve aplaudir e, com mais veemência, quando depois se concretizam no terreno. Mas a Paz que se deseja para todos, será que existe em cada pessoa anónima e nas que fazem os apelos mais lancinantes, para que ela se concretize?
A realidade é bem diferente porque: «Todos nós sonhamos com uma vida melhor, uma sociedade melhor. Contudo, tornou-se difícil passar um dia que seja sem nos desiludirmos, sem nos sentirmos desapontados, sem nos sentirmos sugados pelas pessoas mesquinhas e egoístas que nos rodeiam. Parece que uma grande maioria das pessoas só está interessada nos seus ganhos pessoais. Tornaram-se rudes e arrogantes, críticas e insensíveis. As suas acções não só nos deprimem, como também nos fazem sentir que não podemos fazer nada para mudar este estado de coisas e que apenas os que estão no poder têm capacidade de fazer a diferença.» (BRIAN, 2000:138).
Seguramente que a Paz é um bem supremo, um valor, um desígnio, enfim, eventualmente, o bem último a que o ser humano aspira e que persegue, incessantemente, até nas expressões mais simples como: “Deixem-me em Paz” se confirma este desejo universal. Mas a Paz é um objetivo difícil de alcançar, não necessariamente porque o ser humano não tenha inteligência e meios para dela se aproximar, mas porque os conflitos internos em cada pessoa estão sempre latentes.
Evidentemente que nenhuma das posições individuais – pessimismo – otimismo – quando exageradas poderá conduzir, com segurança, à Paz mas, provavelmente, um otimismo moderado, realista, racional e também com um pouco de sentimento e emoção, ajuda imenso, pelo menos a acreditar, a ter fé na possibilidade da Paz, com todos os outros valores e oportunidades que ela proporciona no mundo.
A Paz interior, sempre em construção, sempre a melhorar, sempre a dar mais felicidade a quem por ela “luta”, será o rumo a seguir, objetivo a alcançar. Para o efeito aponta-se, de facto, uma atitude otimista, realista, com esperança, com determinação, com capacidade de adaptação, com serenidade e com sentido da realização do potencial de transformação.
Seguramente, não um otimismo santificado, ingénuo e “cor-de-rosa”, porque este pode levar ao desespero, na medida em que o mundo, indiscutivelmente, não é fácil, nem imutável e, muito menos, girando à volta de cada pessoa, de cada interesse. O mundo tem “esquinas muito pontiagudas”, “espinhos venenosos”, e “alçapões sem fundo”, por isso é importante ter-se em atenção esta e outras realidades.
A estratégia para a Paz passa, portanto, pelo otimismo racional, realista, com emoção, sentimento e entusiasmo e, nesse sentido: «Não nos detenhamos na imagem Épinal (Épinal é uma cidade situada no nordeste da França, capital do departamento de Vosges, na região Lorena. A cidade é atravessada pelo rio Mosela. Épinal é a cidade de nascimento de Émile Durkheim e de Marcel Mauss) do otimismo beato. Por trás desse cliché de que gostamos de troçar esconde-se um grande número de qualidades: a esperança, a determinação, a faculdade de adaptação, a lucidez, a serenidade e a força de caráter, o pragmatismo, a coragem e até a audácia, outras tantas qualidades que se encontra no soukha, a verdadeira felicidade». (RICARD, 2003:180).
Está identificado, a partir da determinação pessoa, o rumo a seguir para se chegar ao bom porto da Paz. Um rumo que será estimulante de se seguir, desde já com a força da solidariedade entre todas as pessoas de boa-vontade, porque, afinal, a solidariedade dever ser: «Entendida como sentimento de fraternidade, de adesão, de felicidade e de compreensão que nos impele a cuidar, apoiar e animar mutuamente, é uma força natural que incute confiança, segurança, esperança e fomenta uma perspectiva mais comunitária do mundo menos individualista.» (MARCOS, 2011-122). Sim, a Paz é possível, assim a queiramos todos unidos. Mãos à obra e Paz para todos.

Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz. Cascais : Pergaminho
MARCOS, Luís Rojas, (2011). Superar a Adversidade, O Poder da Resiliência. Trad. Maria Mateus. Lisboa: Grupo Planeta.
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Trad. Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ldª.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)

domingo, 23 de dezembro de 2012

Natal: Renovar a Esperança


Vivenciar, com a dignidade que enobrece a pessoa humana, um período tão especial como este que agora se atravessa, correspondente à quadra Natalícia, é a renovação de um acontecimento que, ano após ano, se repete e que culmina em dois dias de profundo significado para as famílias: o dia de Ceia e o dia de Natal. Cada um com o seu simbolismo, intenso, emocional e místico, porque a sensibilidade para os valores da família fica mais exposta e também mais vulnerável.
A vida humana é curta, demasiado rápida, para que se perca tempo com atividades, comportamentos, interesses e situações que apenas revelam grande falta de sensibilidade e de boas-práticas, no exercício dos valores fundamentais da dignidade da pessoa, que se deseja verdadeiramente humana.
Com efeito: «Viemos cá para estarmos em comunhão, para aprendermos sobre o amor com outros seres humanos que estão no mesmo caminho que nós, que aprendem as mesmas lições. O amor não é um processo intelectual. É sim uma energia dinâmica que entra em nós e flui todo o tempo através de nós, estejamos nós conscientes desse facto ou não. O fundamental é aprendermos a receber amor, assim como a dá-lo. Só podemos compreender a energia envolvente do amor na comunhão com os outros, nas relações, no serviço» (BRIAN, 2000:64).
O aproveitamento deste período para camuflar sentimentos mesquinhos, cínicos e impostores, trocando-os, hipocritamente, durante alguns dias, por aqueles que se deveriam sentir, manifestar e praticar, ao longo do ano inteiro, alegadamente para se “levar a vida”, constitui uma atitude inaceitável e mesmo reprovável, imprópria da superior dimensão de todo o ser humano.
O período natalício deverá compor-se por trezentos e sessenta e cinco dias e, na vivência de cada um deles, o Natal será sempre um dia diferente, renovado, melhorado e que conduza à interiorização e prática de sentimentos puros, do bem, que não se compram, não se negoceiam por qualquer forma, simplesmente se retribuem com a mesma nobreza, desde logo, com amor. Este fortíssimo e insubstituível sentimento, no pressuposto de verdadeiro, incondicional e diariamente reiterado, vencerá todas as barreiras e transportará a humanidade à vitória final: Saúde, Trabalho, Amizade, Paz e Felicidade.
Em cada Natal sempre se promete a reconciliação para, decorridos poucos dias, tudo voltar à mesma situação e poucas serão as pessoas que realmente mudam de atitudes. É certo que o ser humano é fraco, defeituoso e instável, todavia, também é verdade que a força espiritual da pessoa também vence barreiras.
Mas o Natal é, igualmente, um dia especial, principalmente quando  utilizado na reflexão profunda sobre o passado vivido, o presente fugaz e um futuro que se deseja de dignidade e consolidação dos valores mais nobres de toda a pessoa humana, bem formada: «O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga sua consciência sobre seus próprios atos, pergunta se não violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia (…) se fez aos outros tudo o que desejava que os outros fizessem por ele (…). Tem fé em Deus, em sua bondade, em sua justiça e em sua sabedoria (…). Tem fé no futuro; por isso coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.» (KARDEC, 2010:332).
Assumir o Natal como o primeiro dia do resto da vida, é uma atitude inicial que a partir de agora deve preocupar toda a pessoa. Um primordial dia de solidariedade para com queles que são vítimas de alguma injustiça ou situação; um primeiro dia de amizade, desde já numa dimensão de verdadeiro e sincero “Amor-de-Amigo”, onde cada um dos amigos é parte integrante do outro amigo: nas alegrias como nas tristezas; no sucesso como no fracasso; afinal como duas almas gémeas que se amam; um primeiro dia para o início de uma lealdade sem limites, à prova de qualquer tentação de destruição ou de traição; um primeiro dia de manifestação de gratidão por tudo quanto nos tem sido oferecido, com sinceridade e amizade; um primeiro dia pra a reconciliação de pessoas em geral, dos amigos em particular.
Este tempo festivo, que secularmente se designa por “Quadra Natalícia” deverá ser aproveitado para se fazer um balanço de relacionamentos passados, analisar onde é que se cometeram erros e porquê, em que circunstâncias se praticaram injustiças, incorreções e ingratidões para com aquelas pessoas que sempre estiveram do nosso lado que, incondicionalmente, gostam de nós, nos apoiam em tudo o que lhes é possível, que connosco se solidarizam quando somos humilhados e injustiçados. Pessoas que são como um “Porto Seguro”.
Este é o tempo de fazermos justiça, de nos reconciliarmos com aqueles que, injustamente, maltratamos que, ostensivamente desprezamos que, mais ou menos sub-repticiamente, lhes mostramos e, contra eles praticamos a indiferença, mesmo sabendo e recebendo carinho, respeito, consideração e até um sincero “Amor-de-Amigo”. Este é o tempo de nos arrependermos, de pedirmos perdão àqueles que ofendemos e nos quais provocamos grandes sofrimentos e desgostos.
A dimensão sentimental da pessoa, verdadeiramente humana é, porventura, uma das suas maiores riquezas. O valor do sentimento nobre e puro, que engrandece e respeita, não só quem o possui, mas também quem o recebe, é o fundamento para quem, sinceramente se gosta. O sentimento da amizade é uma dimensão humana que, realmente, poderá ser difícil para quem vive num mundo de aparências, de fingimento, de falsidade, do faz-de-conta.
Os sentimentos verdadeiros, puros, incondicionais, certamente que provocam alegrias e tristezas, dor, sofrimento, desgostos, mas também muita felicidade quando vividos com solidariedade, com amizade, com lealdade, reciprocidade, estima, carinho e respeito, até porque: «A conexão entre duas pessoas só é plenamente exercida quando a intimidade é vivida pela expressão clara dos sentimentos (…). Como Jesus previu, é preciso pureza de coração para construir um relacionamento feliz.» (BAKER, 2001:130).
Esta caraterística inimitável e infalsificável que existe em todos os seres humanos, ou seja, os sentimentos, constitui o núcleo mais intenso que, de alguma forma, comanda a vida. Claro que os sentimentos envolvem, com maior ou menor intensidade, emoções, reações, conflitos e decisões. No sentimento do amor, inclusive ao nível do “Amor-de-Amigo”, ele será tanto mais genuíno, quanto é acompanhado por um outro que não sendo doentio, é a prova da pureza daquele.
Na verdade: «O ciúme é um sentimento inato com um papel importantíssimo na preservação das relações amorosas e do qual ninguém escapa. Mas o ciúme tem muitas formas e pode até ser um elemento de felicidade, na vida do casal.» (TORRALBA, 2010-orelha da contracapa)
Natal é tempo para tudo de bom que se deseja fazer. É tempo para refletir sobre o passado, tentar descobrir as razões porque correram mal certos projetos, porque se chegou a determinadas situações. É tempo para reparar, para reconstruir, para agradecer, para perdoar, para retomar um novo caminho, lutar por uma nova esperança, de contrário: «Quando nos apegamos às nossas opiniões com agressividade, por mais válida que seja a nossa causa, estamos pura e simplesmente a acrescentar mais agressividade ao planeta, e a violência e a dor aumentam. Cultivar a não-agressão é cultivar a paz.» (CHODRON, 1997:141)
Este é o tempo de se criar uma paz genuína entre as pessoas, famílias, vizinhos, comunidades, povos e nações. Hoje, mais do que nunca, face às inúmeras e, possivelmente prolongadas dificuldades, de natureza económica, política, social e axiológica, é indispensável assumir a paz como um desígnio universal, porque: «A verdadeira paz é sempre possível. No entanto requer força e prática, particularmente em tempo de grandes dificuldades. Para alguns a paz e a não-violência são sinónimos de passividade e de fraqueza. Na verdade, praticar a paz e a não-violência estão longe de ser uma atitude passiva. Praticar a paz, fazer a paz viver dentro de nós, é cultivar ativamente a compreensão, o amor e a compaixão, mesmo em situações de confusão e conflito.» (HANH, 2004:8).
Tempo de Natal e da família, no contexto da reunião à volta da mesa da Ceia da Consoada. Dia do nascimento de Jesus Cristo, segundo algumas doutrinas. Dia de alegria para umas pessoas, pelo convívio, pela reaproximação; mas também de tristeza e de saudade para aquelas que perderam ou estão longe dos seus entes queridos que tanto amam.
Dia para amigos desencontrados se compatibilizarem, se amarem como já se amaram no passado, num sincero e inigualável “Amor-de-Amigo”. Dia para se perdoar os erros e se mostrar solidariedade, amizade, lealdade, reciprocidade, confiança, estima, carinho, respeito e comunhão de valores, sentimentos e objetivos comuns. Dia para recuperar alguma felicidade perdida. Dia para fazer as pazes entre amigos que tanto se gostavam e que por influências ou medos se afastaram.
Neste dia de Natal, tão especial para esmagadora maioria das pessoas, a mensagem que se deseja transmitir, vai no sentido da renovação da esperança, em todas as suas dimensões. Esperança na solidariedade entre nações, povos, famílias e amigos. Esperança na (re) conquista e consolidação da amizade. Esperança nas boas-práticas dos valores da solidariedade, da amizade, da lealdade, da humildade, da gratidão, da cumplicidade e da reciprocidade. Esperança na melhoria das condições de vida para todas as pessoas, onde o trabalho digno, reconhecido, valorizado e estável, garanta um futuro de qualidade. Esperança num mundo de paz, no qual a felicidade seja o denominador comum a todas as pessoas, famílias, povos e nações. Esperança na consolidação da dignidade devida a toda a pessoa humana. Esperança numa nova Esperança de vida; finalmente, Esperança na proteção Divina, para que Deus nunca deixe de amparar a humanidade. Estes são os desejos, totalmente sinceros, do autor desta breve reflexão, que os propaga a todas as pessoas, sem exceções. Feliz Natal. Bom Ano Novo.

Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis. Trad. Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.
HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz. Cascais : Pergaminho
KARDEC, Allan, (2010). O Evangelho Segundo o Espiritismo: contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação nas diversas situações da vida. Trad. de Albertina Escudeiro Sêco. 4ª Edição. Algés/Portugal: Verdade e Luz – Editora e Distribuidora Espírita.
TORRABLDA, Francesc, (2010). A Arte de Saber Escutar. Trad. António Manuel Venda. Lisboa: Guerra e Paz, Editores S.A., in, MARAZZSITI, Donatella. “E Viveram felizes e Ciumentos para Sempre”) 
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)

domingo, 16 de dezembro de 2012

Sete Ideias para Sete Dias da Semana

 
O exercício das boas-práticas deve ser uma preocupação de todos os cidadãos. Todos os dias temos a possibilidade de contribuir para um mundo melhor, para um relacionamento mais solidário, leal, confiante, em Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Cada dia da semana, ao longo das nossas vidas, a nossa intervenção no domínio da divulgação e prática dos direitos humanos, constitui um pequeno-grande contributo para o bem comum, para a felicidade e para a paz da humanidade.
Sete ideias (uma para cada dia da semana) que constam do livro: “Direitos Humanos: Alicerces da Dignidade” e que correspondem a sete participações de pessoas que tenho como minhas amicíssimas, que me apoiaram incondicionalmente. Com este simples gesto, desejo prestar-lhes homenagem pública. Simultaneamente, pretendo, também, incentivar-vos a adquirirem este livro.
«Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.» (Artº 1º da DUDH, pág. 40) (1)
«A perceção dos fenómenos, e deste particularmente, porque bem estudados e estruturadamente bem apresentados, desperta e atormenta os mais pávidos para esta realidade que nos bate diariamente à porta com muita violência, “DIREITOS HUMANOS: Alicerces da Dignidade”, em todas as suas vertentes, sejam eles de índole ambiental, da qual o Homem faz parte integrante, sejam eles de valores morais.» (Prefácio, pág.31)
«Quaisquer que sejam as técnicas, para a comunicação e relacionamento interpessoais, elas serão ineficazes se as relações humanas, antes de todas as outras: profissionais, comerciais, políticas, religiosas, entre outras, não assentarem em princípios de transparência, de verdade e de respeito pelo outro.» (Cap.4, pág. 58) (2)
«Apelo a todos os governos que protejam as suas crianças, de modo a estas crescerem felizes, porque estas crianças serão os cidadãos de amanhã…! Mas não apelo só aos governos, apelo também a todos nós, pois todos temos obrigação de tratar bem as nossas crianças e de denunciar qualquer “violação” dos seus direitos que tenhamos conhecimento.» (Cap. 06, pág. 69) (3)
«A defesa de uma sociedade assente nos valores conjuntos das várias comunidades, espalhadas pelo mundo, como que numa simbiose para o bem, revelar-se-á uma posição plausível, naturalmente que não a única. Defender valores, princípios e condutas ajustadas aos mesmos, em consonância com os objetivos para a paz, compreensão, tolerância e solidariedade, constitui um comportamento que desde o berço pode ser transmitido.» (Cap. 11, 10) (4)
«É certo, desde já, que reconheço existir uma profunda preocupação, nas sociedades humanas, pela diferenciação do humano, em relação aos demais seres, como também é seguro a persistente luta do homem para ir vencendo os diversos obstáculos que a natureza lhe coloca, como, ainda, as crescentes dificuldades que precisa ultrapassar, resultantes da sua própria complexidade, possivelmente, aquelas que diretamente o afetam na sua alegada superioridade.» (Cap. 17, pág.143) (5)
«O adulto sem duvida que cresce, como pessoa, como trabalhador, como pai ou mãe de família, como amigo, já que as suas capacidades, a formação que lhe foi facultada, a sua história de vida e esforços serão, agora, reconhecidos com toda a justiça do mundo. (…) Por tudo isto e muito mais que ficou por dizer, considero que a iniciativa “Novas Oportunidades” e a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” só podem mesmo “andar de mãos dadas». (Cap. 23, 182) (6)
Termino com um veemente apelo ao sentido cívico, aos valores da Dignidade Humana para que, a partir da leitura do livro: “Direitos Humanos: Alicerces da Dignidade”, todos juntos, e seremos sempre poucos, possamos contribuir para melhorar o nosso relacionamento interpessoal, também no contexto comunitário, nacional e global, ao nível da Solidariedade, da Amizade, da Lealdade, da Confiança, da Verdade, da Reciprocidade, da Paz e da Felicidade.

Bibliografia

1) ONU-ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (1948) Declaração Universal dos Direitos do Homem, Lisboa: Amnistia Internacional, Secção Portuguesa, 1998.
2) BÁRTOLO, Lenira da Assunção Preto Rodrigues de, (2012), Pedagogia para um Futuro de Paz. in: http://diamantinobartolo.blogspot.com, acessível em 26.02.2012).
3) FERNANDES, Cecília Manuela Gil Carrondo, (2012). Cultura Portuguesa versus Cultura Francesa. (http://oquemevainacabecaagora.blogspot.com, consultado em 28.03.2012).
4) BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2012). Direitos Humanos. Alicerces da Dignidade”. Lisboa: Chiado Editora.
5) BÁRTOLO, Ermezinda da Assunção de, (2011). Universalização dos Direitos Humanos. (Disponível em http://diamantinobartolo.blogspot.com, consultado em 18.12.2011).
6) BÁRTOLO, Liliana Assunção Preto Rodrigues de, (2012). Direitos Humanos na Educação de Adultos, in http://diamantinobartolo.blogspot.com, acessível 08.01.2012).

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 9 de dezembro de 2012

Direito. Justiça. Autoridade


O tripé em título constituiu um dos suportes da sociedade, sem dúvida alguma, essencial para as relações humanas entre pessoas e instituições. Afinal, são valores pelos quais todos lutamos e desejamos ver aplicados no dia-a-dia dos seres humanos, nas suas instituições, nos relacionamentos pessoais, familiares, sociais, profissionais, de lazer e na ocupação dos tempos livres.
É claro que são diversas as conceções que se podem ter de cada um daqueles valores, sendo que a dificuldade reside na perspectiva que se pretende abordá-los e contextualizá-los, num determinado quadro de aplicações práticas. Em todo o caso, seguir-se-á alguma orientação dos especialistas na matéria.
Direito Objetivo – Será o que consideramos como uma “ordem justa”, objeto da justiça, que é como dizer, uma certa igualdade nos benefícios recíprocos dos homens (indivíduos e sociedade), isto é, no sentido que S. Tomás escreve – esta palavra “jus” tem, primeiramente, servido para designar a coisa mesma que é justa.
Direito Precetivo ou Prescritivo – Chamado assim, por vezes, sobretudo entre contemporâneos, direito objetivo o que favorece a transparência, um conjunto de normas, de regras, de leis que definem e prescrevem a ordem objetiva da justiça. Este nome estende-se, também, à ciência que estuda esta ordem e procura determinar o que é justo, interpretando as leis.
Direito Subjetivo – Será a faculdade ou o poder moral de possuir, de fazer, de exigir qualquer coisa (seja uma coisa no sentido próprio: uma casa, um campo, um automóvel; seja uma ação da parte de um outro – um serviço), que é justo, segundo a ordem que possuo, faço, exijo, que mais ou menos posso possuir, fazer, exigir, sem ser impedido pelos outros. Fala-se aqui de uma faculdade ou de um poder, porque o Direito como as faculdades físicas (a vista, a audição, o olfato, o tato) persiste então mesmo quando ele não é exercido. Nós não perdemos os nossos sentidos e o nosso intelecto quando dormimos.
Vimos a noção de Direito, “jus”, em todas as suas aceções, que é estreitamente ligada àquela de justiça. Segundo S. Tomás, o propósito desta virtude é estabelecer a ordem nas relações humanas. Ela diz, com efeito, igualdade, como seu nome mesmo indica. Não dissemos correntemente coisas bem igualadas (ou adaptadas) que elas se ajustam? Ou a igualdade supõe um outro, implica uma ligação proveitosa ao outro. Ao contrário, as outras virtudes aperfeiçoam o sujeito, somente quanto ao que o concerne, ele.
Que é preciso entender por esta igualdade? Aqui é útil aproximar a definição acima, de uma outra imputada ao Direito Romano e que S. Tomás liga na questão seguinte: “uma vontade perpétua e constante de entregar a cada um o seu Direito”. Assim a justiça e a virtude que nos inclina a entregar a cada um o que lhe pertence, o que é seu.
Querermos entregar a cada, um o que é seu é, então, no fundo, querer que cada um seja ele mesmo. Ora, como mostramos, é do próprio sujeito espiritual ou racional acolher os outros em si, de se abrir a eles, deixando-os ser o que eles são. Todavia, ao não considerar que as relações interindividuais, sem ligação social propriamente dita, a determinação do “seu” reside extremamente vaga. Esta determinação não se precisa que seja uma graça de uma organização social, ao menos embrionário, ela se exprime, em geral, pelo costume e pela Lei.
Vemos pelo que precede que a justiça tem um modo de ela medir a retitude dos atos humanos. No caso das outras virtudes, esta retitude mede-se pela ligação ao agente (à sua natureza, às suas disposições). No caso da justiça, esta ligação ao agente reencontra-se, evidentemente, pois que o valor moral diz conformidade ao julgamento da Razão, mas há uma outra ligação a um ou outro.
É então possível considerar o objeto desta virtude, segundo a última ligação, sem ter em conta a ligação ao agente (sem considerar, por exemplo, a maneira pela qual o ato é posto). Este aspeto, do objeto assim isolado, é o justo, o Direito objetivo. Tal é o justo, o meio real em que S. Tomás faz uma caraterística da justiça, por oposição às outras virtudes, pelas quais o “justo meio”, é determinado pela razão, segundo a condição do agente.
Justiça Comutativa – É aquela que visa a ordem justa entre as pessoas privadas. A igualdade que a sua noção comporta é uma igualdade de qualquer modo, aritmética. A deve a B o equivalente do que recebe dele.
Justiça Distributiva – Ela visa a ordem justa nos proveitos da comunidade como tal, em respeito dos seus membros. A sua função é propriamente de distribuir proporcionalmente aos méritos, aos direitos e deveres de cada um, os bens da comunidade. A cada um segundo a sua utilidade para o bem comum.
Justiça Geral – É outra das duas formas de justiça particular, também chamada pelo que se exerce em relação ao respeito a uma pessoa particular. Os escolásticos, reconheciam uma justiça geral pela qual se regulavam as relações das pessoas privadas, no respeito pela comunidade como tal. Segundo S. Tomás, chama-se geral porque ela ordena os atos de todas as virtudes para o bem-comum. O homem age conformemente à Lei que ordena os atos de todas as virtudes ao bem comum.
A Justiça Geral influi sobre a justiça comutativa, ela mesma o objeto desta última. Com efeito não está plenamente determinado que para a intervenção da sociedade conta como tido as exigências do bem comum. Se é verdade, então, que a justiça comutativa não se reduz à justiça geral, fica que esta última a completa num duplo ponto de vista da determinação e da urgência.
O que fica verdade é que o Direito de si tende a empregar a força para se fazer respeitar. Se a coação, por vezes, lhe faz falta é, podemos dizer, “por acidente”, por razões estranhas à sua essência de Direito.
Como consta do que precede, a coação, mesmo quando seria possível de a colocar em produção, está subordinada à condição de evitar um mal maior que a violação do Direito em questão.
A Autoridade pública tem o poder e o direito de constranger os sujeitos a realizar os seus deveres para com a sociedade. E ela o deve: de contrário as leis seriam depressa ridicularizadas, com grande dano da ordem pública e do bem-comum. Supomos, claramente, que as leis não são injustas ou, evidentemente, inadaptadas à situação presente.
Os direitos relevam da justiça comutativa, comportam, em geral, a coação. Ela aqui não deve ser exercida pelos particulares muito propensos a sobrestimar o seu direito ou dever, muito expostos a se deixarem comportar pela paixão ou interesse, mas pela Autoridade pública.
Há, todavia, exceções. Em caso de urgência, quando o recurso ao “príncipe” é impossível. Eu tenho o direito de correr após o valor que me foi retirado. A razão é clara. Reconhecer a cada um a faculdade de exigir pela força o seu direito de autoridade como tal.

Bibliografia

AQUINO, S. Tomás, (S.d). Suma Contra os Gentios; Suma Teológica.
CAMPOS, Sávio Laet de Barros, “O Primado da Justiça e do Direito na Civitas” de Tomás de Aquino.(http://www.filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Primado_Justica_Direito_Tomas_Aquino.pdf, consultado em 08.07.2012)

domingo, 2 de dezembro de 2012

Relação Pessoa-Organização


O mundo do trabalho, hoje tão complexo, envolve diversas partes interessadas no sucesso de cada uma delas, desde o empresário, o trabalhador, os fornecedores, os clientes e o Estado/Departamentos, direta ou indiretamente envolvidos na atividade empresarial e/ou institucional, seja para efeitos de orientação técnico-administrativa, seja para prevenção, fiscalização da lei e respetivo sancionamento, quando aplicável.
A pessoa humana, enquanto trabalhadora numa dada organização, ao ser admitida, desde logo tem à sua inteira responsabilidade e no que a ela diretamente respeita, um conjunto de deveres e de direitos, que não pode deixar de cumprir e usufruir, respetivamente, mas para que a harmonia, compatibilização e produtividade se verifiquem, é necessária a melhor relação possível entre quem trabalha e a chefia da organização, onde exerce as suas funções.
A importância de uma rápida e eficaz adaptação de quem vai trabalhar para uma organização é, por isso, essencial ao bem-estar, entusiasmo e produtividade de um novo colaborador. Trata-se, afinal, de uma diferente socialização, agora no quadro empresarial e que consiste num: «Processo através do qual o indivíduo aprende os valores, as competências, os comportamentos esperados e o conhecimento social essencial para assumir um papel organizacional e participar como membro pleno da organização.» (LOUIS, 1980:229-30, in CUNHA et al., 2010:330)
Existe, portanto, uma responsabilidade bipartida, entre trabalhador e empregador. As partes envolvidas, para que este processo de adaptação e socialização tenha sucesso, devem, desde logo, manifestar total abertura, assertividade e cooperação mútua. Não pode haver subterfúgios, nem desconfiança, nem simulações e muito menos criar falsas expectativas. Numa primeira fase do processo, cabe ao empresário e/ou responsável pela gestão de recursos humanos desenvolver todas as medidas que conduzam ao estabelecimento de um clima de confiança e de humanismo empresarial.
Por outro lado, também importa ter presente alguns fatores prévios, que vão ser fundamentais no êxito da socialização organizacional, na medida em que: «As pessoas tendem a desenvolver mais fortes laços afetivo e normativo quando: a) se sentem satisfeitas com o trabalho, os líderes, os pares, a organização, a remuneração e os benefícios; b) executam funções desafiantes; c) o papel que sentem caber-lhes é claro; d) percecionam que os valores organizacionais têm orientação humanizada (cortesia, consideração, cooperação, justiça, integridade moral); e) percecionam que os valores organizacionais têm orientação visionária (desenvolvimento, iniciativa, criatividade, abertura); f) sentem que os seus valores e os da organização são congruentes; g) entendem que a organização é socialmente responsável e segue uma filosofia de cidadania empresarial (económica, legal, ética, filantrópica). O empenhamento organizacional pode influenciar positiva ou negativamente o capital intelectual (capital humano, mais social, mais organizacional) e, por conseguinte, a competitividade organizacional.» (KWANTES, 2007, in Ibid.:333)
Naturalmente que a participação da organização é importante na socialização de um novo colaborador, todavia, este tem idênticas responsabilidades no desenvolvimento e sucesso de todo o processo. O candidato a colaborador, certamente, tem os seus projetos de vida e é legítimo e desejável que assim seja, de resto: «Na maioria das vezes, visualizamos um propósito de vida poderoso à medida que realizamos os projetos intermediários. É a própria dialética da construção. Para descobrir que eu queria dedicar-me à transformação humana, precisei transformar-me algumas vezes. Penso que sem conhecer o caminho da transformação pessoal, fica difícil (se não mesmo impossível) facilitar a transformação dos outros» (ARAÚJO, 1999:107)
O processo de integração na organização, seja ela qual for, é sempre um caminho complexo, porque a exigência de adaptação é, normalmente, muito grande, na medida em que se torna necessário adquirir novas práticas, comportamentos e valores da organização, por vezes, completamente diferentes de outros que, em situações anteriores, já foram vivenciados noutros contextos, designadamente, empresariais.
É certo que numa relação interpessoal, dentro e fora da organização, existe sempre, e no mínimo, duas partes que se relacionam por palavras, gestos, ações, considerando, ainda, que a inevitabilidade da comunicação é um facto incontornável e que como é sabido: «Os seres humanos não podem viver isolados, e por isso procuramos nos relacionar com os outros. A experiência de sermos conhecidos e entendidos nos confere a sensação psicológica de que tudo está bem. Temos de perceber que somos conhecidos pelos outros tal como somos – e não apenas pelo que fazemos – para nos sentirmos psicologicamente completos. Este tipo de conhecimento é compartilhado entre pessoas, pois são necessárias duas pessoas para criar o conhecimento pessoal. Quando ele se fundamenta na verdade, ambas as pessoas são transformadas e crescem. (…) O conhecimento pessoal é criado entre as pessoas e não dentro delas.» (BAKER, 2005:166-17)
Muito embora o processo de socialização organizacional seja bipartido, isto é, chefias e colaboradores internos – principalmente estes -, é conveniente que a organização, quando admite um novo trabalhador, assuma, desde logo, as estratégias adequadas e utilize todos os meios ao seu alcance para que, rápida e consolidadamente, desenvolva o processo de integração.
Nesta breve reflexão, podem-se considerar diversas situações e, uma delas, dada a cada vez maior internacionalização das empresas, prende-se com os imigrantes e expatriados, os quais, fora dos seus contextos familiares, sociais, culturais e organizacionais, vão necessitar de metodologias bem assertivas, convincentes e de plena confiança.
A socialização com êxito para aquele público – imigrantes e expatriados -, sugere a aplicação de duas técnicas/processos: «A mentoria e o coaching, são ferramentas essenciais, por duas razões principais. Primeira: sendo processos estimulados por pessoas conhecedoras da cultura local, são mais eficazes. Segunda: transmitem ao expatriado a noção de que a organização se preocupa com o seu bem-estar. Ambos os processos podem representar fontes de apoio de vária ordem: a) atenuam o sentimento de isolamento e os efeitos nefastos do choque cultural; b) proporcionam relações de confiança, empatia e atenção; c) facultam factos, informações, dados e conselhos pertinentes para as interações e a tomada de decisão; d) propiciam elementos de feedback ao expatriado, permitindo-lhe compenetrar-se dos efeitos das suas ações e dos níveis de sucesso alcançados; e) são encorajadores em momentos de tensão e frustração.» (CUNHA, et al. 2010:362).
Independentemente de outras teses, quiçá, mais interessantes e até mais eficazes, parece não haver grandes dúvidas que uma boa adaptação para a melhor relação pessoa-organização passa pela socialização da primeira em função dos princípios, valores, interesses e situação da segunda.
Claro que a organização para além de proporcionar os meios para que a integração do colaborador se realize sem sobressaltos, é muito importante que procure ir ao encontro das caraterísticas mais relevantes da pessoa que pretende admitir nos seus quadros. Aqui, e uma vez mais, a colaboração mútua é, também, parte da melhor solução. Valorizar, sempre, o Capital Humano será a regra de “diamante” para o sucesso das partes envolvidas.

Bibliografia

ARAUJO, Ane (1999). Coach: Um parceiro para o seu sucesso. 6ª Ed. São Paulo: Editora Gente
BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia
CUNHA, Miguel Pina et. al., (2010). Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano. 2ª Edição. Lisboa: Edições Sílabo, Ldª.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo