domingo, 25 de março de 2018

Direitos Humanos: Disciplina do Conhecimento?


O domínio sócio-cultural “Direitos Humanos”, enquanto tal considerado, ou com um estatuto de disciplina do conhecimento, susceptível de ser ensinada e avaliada, felizmente tem vindo a melhorar significativamente: quer a nível de mestrados e, mais recentemente, no âmbito dos doutoramentos; quer quanto à sua autonomização, no quadro da formação profissional e educação e formação de adultos em Portugal; quer, ainda, quanto ao seu desenvolvimento teórico-prático; bem como no que se refere aos técnicos, docentes, formadores ou especialistas reconhecidos para transmitir, ensinar e avaliar este tipo de saberes e práticas.
Sob a designação de Cidadania, onde se incluem os Direitos Humanos, na verdade trata-se de um conhecimento que envolve as quatro dimensões da formação integral da pessoa, designadamente nos contextos dos: Saber-ser, Saber-estar, Saber-fazer e Saber-conviver, solidariamente, com os outros, de resto, a Cidadania é tão envolvente e, simultaneamente, tão transversal às demais disciplinas que é quase impossível não ser abordada.
Antes de se analisar a possibilidade de atribuir a este tema, o estatuto de disciplina do conhecimento, fundamental ao desenvolvimento pessoal e social do ser humano, seria interessante abordar a sua utilidade no atual panorama mundial, no que respeita ao contributo para a Paz e Felicidade da humanidade, na perspetiva da preservação e dignificação da vida, esta considerada sob qualquer das vertentes: biológica ou espiritual, embora se defenda, aqui, a vida como única, indivisível e supremo bem da pessoa humana. Então qual o contributo que a interiorização e prática dos Direitos Humanos pode dar à vida humana para a Paz e Felicidade de todo o universo humano?
Considere-se que todos os conhecimentos, técnicas, práticas e saberes, cientificamente estruturados, ou não, são importantes para o desenvolvimento da pessoa, e que não se discrimina, pela negativa, nenhum deles, excetuando-se aqueles que, violando todos os deveres e direitos, possam prejudicar a vida, a paz, a felicidade, os quais, ainda assim, devem ser conhecidos, com o objetivo de, consciente e intencionalmente, se evitarem, pelo menos na sua aplicação no mundo real.
Nesta linha de orientação, que se admite não ser a única nem, eventualmente, a melhor, importa, em todo o caso, assumir os Direitos Humanos como um conhecimento a adquirir bem cedo na vida, e a praticar durante toda a existência, melhorando a intervenção do cidadão, no seio da comunidade em que ele se integra. Igualmente fundamental é a reflexão permanente e cuidada, com a ajuda de práticas pedagógicas, estratégias e objetivos de aperfeiçoamento.
Conjugadamente, cabe à Escola, enquanto sistema educativo, sob a orientação política dos respetivos titulares, e à sociedade civil, legislar e aplicar, respetivamente, sobre a introdução, dos “Direitos Humanos e Cidadania”, como disciplina obrigatória e autónoma, a ser ministrada em todos os níveis de ensino e cursos de qualquer natureza, numa perspetiva da Escola Universal.
O conhecimento desta matéria, e a sua aplicação, não são abstratos, eles desenvolvem, direta e profundamente o homem concreto, real, previamente idealizado como um ser único, inimitável, infalsificável e inigualável, no mundo de todos os seres vivos, em relação aos quais se pode considerar superior, em quase todos as suas dimensões, desde logo, como um Ser espiritualmente misterioso, cujo fim último ainda não é aclarado pelas ciências exatas, embora a metafísica e a teologia sejam suficientes para explicá-lo, pelo menos para os crentes.
A compilação e sistematização de toda a documentação relevante, sobre: direitos, liberdades, garantias e cidadania humanas, poderão ser a primeira grande medida, no sentido de elevar estes conhecimentos ao estatuto de disciplina académica, integrante dos currículos de todos os níveis de ensino e cursos ministrados em todo o mundo.
Reunir a imensa quantidade de conceitos, dispersos por documentação internacional, num corpo organizado de saberes e de boas-práticas, é uma tarefa nobre, que se impõe, com acutilante atualidade, a todos os países verdadeiramente democráticos. Trata-se de um bem de primeira necessidade, no atual cenário mundial de violência, discriminação, destruição e morte.
A organização, inclusivamente, de cursos de pós-graduação, com especialização em Direitos Humanos e Cidadania, afigura-se uma medida político-educativa de grande alcance e, tanto mais relevante quantos mais países, sob a égide da Organização das Nações Unidas, através das Delegações nacionais, adotarem e fizerem incluir, nos respetivos sistemas educativos, uma tal pós-graduação, seja ao nível do Mestrado, seja no contexto de um Doutoramento.
O núcleo duro, ou seja, se se preferir, as matérias fundamentais obrigatórias constituir-se-iam ao nível dos Direitos Humanos de primeira geração, ou Direitos Naturais, considerando-se estes como as bases dos genuínos Direitos do Homem, universalmente reconhecidos, à escala da espécie humana, qualquer que seja a nacionalidade do indivíduo humano, na medida em que: «Os direitos humanos devem ser respeitados nos Estados democráticos liberais e justos, mas também nos Estados que não são justos, nem sequer liberais ou democráticos. Os direitos humanos têm de manter toda a sua força moral fora do Estado, para as pessoas que estão algures perdidas na terra de ninguém, para os que emigram, os expatriados e os refugiados.» (ROSAS, 2006:28).
Construída a base elementar do curso, a composição dos restantes blocos de conhecimento, e boas-práticas, organizar-se-ia com os direitos de segunda e terceira gerações, e o curso concluir-se-ia com a elaboração de uma dissertação na perspetiva de mais um contributo para uma maior divulgação, nos respetivos países, não só no âmbito restrito dos Direitos Humanos, mas também no quadro da Cidadania, em contexto nacional, para depois se avançar para o Cidadão Lusófono e, finalmente, para o Cidadão Universal. 
Obviamente que, independentemente deste processo político-pedagógico, e legislativo, cada país deveria, desde já, legislar no sentido da institucionalização desta pós-graduação específica, e implementar, em todas as universidades e institutos superiores, o seu funcionamento.
Portugal já iniciou este processo, concedendo a algumas instituições de ensino, as respetivas autorizações para ministrarem mestrados e doutoramentos nestes domínios. A atual situação mundial impõe que se dêem as mãos, se avance para medidas concretas, que visem sensibilizar os povos de todo o mundo, para a possibilidade de, por esta via, se alcançar a paz, a felicidade e a dignidade da vida humanas.
Uma outra alternativa, eventualmente mais prática, consiste em fazer incluir em todos os currículos das licenciaturas, uma disciplina obrigatória em Direitos Humanos, aqui abrangendo os direitos de segunda e terceira gerações, como direitos de cidadania, reservando-se os direitos de primeira geração, ou Direitos Naturais, como aqueles que são genuinamente humanos, porque integrantes e resultantes do nascimento da pessoa humana, justamente para os primeiros níveis da escolaridade obrigatória.
Entretanto, durante os ciclos escolares, e até à obtenção do curso superior, ao qual estará acoplada a especialização em Direitos Humanos, agora genericamente considerados nas suas três gerações, ministrar-se-ia uma disciplina que bem se poderia designar por Cidadania e Direitos Humanos, como já vem acontecendo nos cursos profissionais, preparando os alunos, não só pela aquisição de conhecimentos específicos, mas também pela sensibilização e boas práticas, em todas as idades.
 Esta disciplina, obrigatória em todos os anos escolares, seria avaliada tal como qualquer outra, e teria o peso adequado na ponderação da nota final do respetivo ano escolar. Um projeto desta magnitude, seguramente, conduz, ao fim de duas ou três gerações, a uma sociedade humana mais tolerante, solidária, pacífica e feliz. Haveria, certamente, uma maior certeza quanto à proteção e dignidade da vida humana, em todo o mundo.  Enfim, caminhar-se-ia para o tão desejado equilíbrio democrático, humanista e civilizacional.


Bibliografia


ROSAS, João Cardoso (2006). “Sobre o Papel Moral do Estado-Nação”, in Nova Cidadania, S. João do Estoril: Principia Editora, Ldta, Ano VIII, nº 30, outubro-dezembro 2006, 26-30

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


domingo, 18 de março de 2018

Valores. Direitos e Deveres


Qualquer que seja o ambiente em que o ser humano se posicione: na família, na escola, na Igreja, na empresa, no clube, no grupo de amigos, na política, na ocupação dos tempos livres, já não será possível uma convivência agradável e proveitosa, sem se observarem determinados valores, direitos e deveres: de uns para os outros; da parte para o todo; e deste para a parte.
As relações interpessoais podem (e devem) revestir-se de bom senso, prudência e sabedoria, no sentido de as enriquecer: pelo respeito recíproco; pela convivialidade e pela aprendizagem de novos e interessantes temas, trocados entre interlocutores, que se reverenciam e colaboram na discussão construtiva de melhores interpretações, para boas soluções, ecleticamente encontradas, após o diálogo assertivo e democraticamente travado, entre os intervenientes mais preocupados.
A preparação do homem moderno, para se construir uma sociedade mais tolerante, solidária e humana, não sendo assim tão difícil é, todavia, complexa, na medida em que, nem sempre os valores em confronto são comungados pelas diversas culturas, mesmo a nível nacional existem diferenças culturais, que não se podem ignorar, e que perante as quais, é necessário tomar posição, rejeitando-se, à partida, qualquer tipo de etnocentrismo, xenofobia e outros preconceitos extremistas.
Uma atitude intercultural, na perspetiva da interdisciplinaridade cultural, visando o intercâmbio de culturas, enriquecendo-as reciprocamente é, seguramente, a posição intelectual e antropológica mais favorável e que, possivelmente, melhores resultados produzirá a curto prazo.
Harmonizar uma base comum, que sirva os interesses dos indivíduos, dos povos e das nações, a partir de um pequeno conjunto de valores, deveres e direitos, considerar-se-á uma boa estratégia para se desenvolver, a curto prazo, um projeto de interiorização, consolidação e aplicação prática dos Direitos Humanos, quaisquer que sejam os ambientes e contextos onde os mesmos vão ser observados e exemplificados com boas práticas. Considerem-se e caracterizem-se, então, os valores, direitos e deveres, como ponto de partida, para uma vida digna, sustentada nas seguintes dimensões:
 «1) Auto-estima: atitude constante da auto-realização que se manifesta espontaneamente na acção e na capacidade de defender suas ideias sem desvalorizar as dos outros e sem desanimar quando os outros as não aceitam;
2) Empatia: comunidade de sentimentos, capacidade de compreender o outro e colocar-se em seu lugar, o que implica uma comunicação horizontal, um saber escutar e comunicar. No início e como parte desta capacidade, está a capacidade de expressar sentimentos, de aceitar e compreender os sentimentos dos outros, sentindo-os de igual modo como eles;
3) Iniciativa: motivação interna para a acção, manifestada na vontade de fazer e que incute, portanto, auto-confiança e entusiasmo;
4) Solidariedade: capacidade de compartilhar, que requer empatia. Implica diversos graus de altruísmo e se manifesta, concretamente, na acção de dar. A empatia pode ser vista como algo mais passivo; a solidariedade requer acção;
5) Liberdade: capacidade do indivíduo ser autenticamente ele mesmo e que se manifesta na criatividade a vários níveis: originalidade, flexibilidade e fluidez. A capacidade de ser livre, envolve a humildade para se reconhecer como tal, num contexto social, o que implica a restrição aparente da minha liberdade para não impedir a dos outros;
6) Verdade: atitude de aceitação e busca constante do objectivo, aceitando, também, que nele, no objectivo, existe mudança constante e visões diferentes e válidas sobre a mesma coisa. A verdade se considera contida na honestidade. A atitude honesta ou de verdade é aberta e aceita a realidade como algo variável;
7) Justiça: equilíbrio entre o legal e o moral, implicando uma busca da igualdade na diversidade, isto é, o respeito pelas necessidades de cada pessoa e de cada grupo e contém uma atitude de responsabilidade em face da decisão da justiça adoptada;
8) Dignidade: aceitação dela como tal. Capacidade de respeitar, plenamente, a vida e a integridade própria e a dos outros, manifestando-se numa vontade de realizar a cada qual pela sua qualidade de ser humano. Implica, também, uma atitude de responsabilidade activa na procura e promoção deste respeito;
9) Vida: valorização dela. Conduta que envolve, em diversas formas e medidas, as oito dimensões anteriores e que se manifesta como respeito, defesa e promoção da vida no planeta, sem distinções arbitrárias nem prejuízos. Se evidencia em acções diversas que permitem a conservação da vida e a manutenção da sua qualidade para todos os seres que a compartilham.» (ROMA, L, & VERÓNICA, E s.d.:7-8).
São, apenas, algumas das muitas dimensões que, como base de trabalho se enumeraram, e descreveram, para a partir delas se desenvolver o projeto consubstanciado num curto e simples texto, com linguagem acessível, para aprendizagem e cumprimento dos Direitos Humanos, seja na escola tradicional, seja em contexto de formação profissional.
Com efeito: «É praticamente consensual a ideia de que a consciencialização, a protecção e a defesa dos Direitos Humanos passam pela educação. Ao fomentar condutas e atitudes baseadas na tolerância, na solidariedade, na responsabilidade e no respeito, a educação para os Direitos Humanos constitui, a longo prazo, um importante instrumento de prevenção das violações dos direitos e liberdades fundamentais, preparando os jovens para o seu futuro papel de cidadãos que conhecem os seus direitos e respeitam e promovem os do próximo.» (BORLIDO, 1997, in: AMINISTIA INTERNACIONAL, V – Prefácio)
Bibliografia


BORLIDO, Armando Paulo, (1999). Educação para os Direitos Humanos. Actas do Congresso. Ponte de Lima: Amnistia Internacional, 11 a 13 de março de 1999
ROMA L, & VERÓNICA, E. (s.d.). Guia del Educador para el Material.  Derechos y Deberes de las Niñas del Mundo.  Amnistía Internacional-Sección Chilena: s.l.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

sábado, 10 de março de 2018

Como Vencer a Crise



Afirmar-se que a sociedade contemporânea atravessa tempos difíceis, é já um lugar-comum, infelizmente, porém, verdadeiro. Por todo o lado se ouve falar em crise, habitualmente, reportada à economia que, por sua vez, afeta todos os setores de atividade, contudo, também estes provocam impacto negativo naquela.
Vive-se, portanto, num círculo vicioso: economia fragilizada, porque não existe o dinamismo suficiente na produtividade e no escoamento para o consumo sustentável, dizem uns; poder de compra enfraquecido, porque a economia não está a gerar emprego e riqueza suficientes, para melhorar a aquisição de bens e serviços, através do poder de compra dos cidadãos, dizem outros.
Eventualmente, não será necessário ser-se um grande especialista em economia, e/ou conhecimentos afins, para se chegar a esta conclusão simplista. É nos fatos mais elementares, nas decisões fundamentais que, quantas vezes, se resolvem grandes dificuldades. A complexidade da vida já é um problema que se enfrenta todos os dias, nas mais diversificadas situações.
Quanto mais pobre for a pessoa, a família, a instituição e o país, tanto maiores serão as suas fragilidades gerais. Daqui resulta que a crise material nos domínios da economia e das finanças, resolve-se: por um lado, com o maior poder de compra das pessoas, pagando-se--lhes os justos salários e reformas, a que têm direito e, por outro lado, não as sobrecarregado com impostos desumanos e, muito menos, retirando-lhes direitos que fazem parte das suas expectativas de qualidade de vida e para as quais, muitas pessoas, descontam há várias décadas.
Os alegados sacrifícios devem ser assumidos por todos aqueles que, de alguma forma, têm responsabilidades na situação que se vive: sejam os indivíduos, as famílias, as instituições e as nações. Certamente, todos serão culpados, em todo o caso, seguramente, uns mais do que outros.
Mas a crise não será apenas económica e financeira, nas diversas vertentes materiais. Fala-se pouco na crise de valores, talvez porque sendo estes imateriais, não geram riqueza, pensarão alguns. Parece que será, precisamente, o contrário, isto é, quanto mais enaltecidos forem os: princípios, valores, sentimentos, regras, educação e formação das pessoas, maior será a participação das mesmas na busca das soluções que urge implementar; melhor será a sua compreensão para os sacrifícios que lhes são pedidos.
A sociedade ainda não terá acordado para este verdadeiro drama, que é o não-exercício real dos muitos valores que podem alterar mentalidades, e comportamentos para uma atitude positiva, de esperança no futuro, de otimismo e elevação da auto-estima de cada pessoa e de todo um povo que, nos momentos mais difíceis, é chamado a mostrar a sua grandiosidade.
Educar, formar e reconhecer a importância das boas-práticas de princípios, valores e sentimentos, essenciais ao desenvolvimento equilibrado, justo e solidário de toda uma população, deveria constituir a principal preocupação de quem dirige uma instituição: seja a família, seja a empresa, seja o próprio Estado, este representado num governo, democrática e confiantemente eleito pelo seu povo.
 O ser humano tem capacidades inatas para resistir, adaptar-se e vencer as mais complexas situações naturais, e as que são provocadas por ele próprio. Trata-se de uma faculdade que se vem conhecendo cada vez melhor e que, cientificamente, se denomina por “resiliência”. Este poder de adaptação a situações catastróficas, e de algum sucesso sobre elas, é fundamental para a sobrevivência de toda a pessoa que é apanhada em tais circunstâncias da vida.
É bem-sabido que as crises, quaisquer que elas sejam, não se vencem pelo medo, nem com ameaças, nem com o pessimismo, pelo contrário, são os valores da esperança, do otimismo, da capacidade em se acreditar nas próprias faculdades, até porque: «Os seres humanos estão predispostos para a normalidade, que é o que nos sucede habitualmente. Inclinámo-nos a pensar que no nosso dia-a-dia não vamos ter grandes surpresas e, na realidade, é quase sempre assim, por isso nos acomodamos tão bem aos hábitos, aos costumes, às rotinas.» (MARCOS, 2011:91).
A crise de valores, em praticamente todos os estratos da sociedade será, provavelmente, a primeira que se tem de vencer, obviamente, com o apoio das principais instituições envolvidas: família, Igreja, comunidade, empresas, o Estado.
Isoladamente, não se perceberá como se poderá vencer as crises, quaisquer que elas sejam, incluindo-se, aqui, por exemplo, crises de relacionamento interpessoal: seja entre profissionais, entre amigos, entre familiares, ou de diferente natureza e em qualquer outro contexto, se não se recorrer ao exercício pleno de valores como: a solidariedade, a amizade, a lealdade, a reciprocidade, a humildade, a gratidão, a cumplicidade, o humanismo, entre outros, entre pessoas de bem.
Os agrupamentos humanos, habitualmente organizados em função de princípios, valores, regras e objetivos comuns, mantêm-se unidos enquanto acreditarem que é possível atingirem os resultados a que se propuseram e, nesse sentido, o bom relacionamento é como que o cimento que os mantém colados, porque: «(…) a vida seria melhor se pensássemos com mais frequência que a nossa salvação consiste em restabelecer os relacionamentos rompidos. Quando um relacionamento se rompe, a maioria das pessoas se preocupa em descobrir quem está errado. Quando somos feridos, procuramos logo o culpado, querendo que pague por isso.» (BAKER, 2005:51).
 Naturalmente que se podem evitar muitas crises, desde logo se cada pessoa for capaz de desempenhar as inúmeras funções diárias, sem atropelar os direitos e deveres dos seus semelhantes e, até pelo contrário, se tiver a generosidade de estar sempre disponível para o exercício dos valores essenciais à comunidade, como: a saúde, a justiça social, a paz, a educação, a formação, o trabalho, o reconhecimento da dignidade de cada pessoa.
Indiscutivelmente que, antes do todo, estão as partes, e estas devem entender-se nos seus relacionamentos diários, pela via da amizade sincera, da compreensão, da generosidade, da tolerância, do respeito, da consideração, da estima, enfim, dos valores que fazem com que as pessoas se amem verdadeiramente, se disponibilizem para o diálogo, para a priorização do amigo sobre todos os restantes compromissos materiais.
 Espiritualmente e em bom rigor, vencerá quem vem sendo vítima de violências axiológicas, psicológicas e comportamentais, à humanidade, dignidade, e generosidade próprias. As atitudes vexatórias serão vencidas pelo amor, pelo bom senso, pela verdade dos valores: da lealdade, da solidariedade, da reciprocidade, da cumplicidade e da gratidão que, mais tarde ou mais cedo, revelarão toda a força da sua importância e imprescindibilidade. O futuro joga-se neste xadrez axiológico.

Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
MARCOS, Luís Rojas, (2011). Superar a Adversidade, O Poder da Resiliência. Trad. Maria Mateus. Lisboa: Grupo Planeta.

Venade/Caminha/Portugal, 2018

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

sábado, 3 de março de 2018

Emoções, Valores e Amigos



Os sentimentos, os princípios, os valores e os amigos, não se vendem, nem se compram, nem se trocam interesseiramente, porque: ou se têm, se sentem e se acarinham amorosa e generosamente; ou não se vivem e, portanto, não existem. A amizade incondicional, verdadeira, imbuída de sentimentos de um sincero “Amor-de-Amigo”, naturalmente que gera valores supremos, inegociáveis e insubstituíveis.
Se se analisar, por exemplo, o papel crucial que os verdadeiros amigos exercem na vida, de quem tem a felicidade de os possuir, verifica-se, imediatamente, que: não se podem negociar, trocar, descartar ou, simplesmente, ignorá-los. Tais amigos, complementam-se, no bem e no mal. Na alegria e na tristeza. Eles vivem para objetivos comuns: manter, contra tudo e contra todos, uma amizade sincera.
Em princípio, um amigo puro, do coração, especial, vai assumir esse superior privilégio para o resto da vida, jamais poderá ser inimigo, porque entre amigos leais, solidários, confidentes, a inimizade nunca existirá, porquanto a reciprocidade de sentimentos, comportamentos e conivência, serão sempre como que o escudo que os defende de todos os obstáculos, fraquezas, intromissões, situações, interesses e pessoas que, nitidamente, os prejudicam.
Uma amizade, unida pelo verdadeiro “Amor-de-Amigo”, pode, porém, fragilizar-se, e até destruir-se, face à existência de atitudes que configurem sentimentos de negação dos valores unificadores daquele amor. É necessária muita firmeza, muita sensibilidade, amar-se muito o amigo para que nada, nem ninguém, destrua uma dileção tão profunda, quanto nobre.
Nestas circunstâncias são fundamentais, entre os amigos: a comunicação permanente; o diálogo leal e um elevado nível de empatia constante, no sentido de que: «A pessoa se esforça por entender o outro, mas se coloca à disposição para ajudar, respeitando seu sentimento, seu interesse, sua individualidade. Propõe compartilhar o poder e a solução do problema com o outro.» (RESENDE. 2000:94).
O “Amor-de-Amigo” é um sentimento que, como muitos outros, não sendo totalmente lógico, pelo menos, em certas circunstâncias, pode complementar a racionalidade humana; o contrário será, eventualmente, verdade. Nem sempre os sentimentos são totalmente racionais.
O ser humano não é, exclusivamente, racional, nem sentimental, de resto será, provavelmente, esta dicotomia que o diferencia da restante natureza. Por isso não se poderá considerar fraco quem é sentimental, nem forte que é, racional. A virtude, para quem a possui, estará, como em tudo na vida, no meio-termo, contudo, os sentimentos e as emoções são próprios da pessoa sensível.
A existência humana, possivelmente, não teria uma dimensão superior, se a emoção não estivesse presente. A emoção dos sentimentos verdadeiros, porque puros, desinteressados dos valores materiais, talvez por estranhos complexos e, alegadamente, de auo-inferioridade, nem sempre é revelada por quem a vive. Numa sociedade “fria” em que os números, normalmente, estão acima das pessoas, os princípios, os valores, os sentimentos e as emoções são entendidos como sinal de fraqueza, assim como um homem chorar em público.
 Talvez por isso: «Algumas pessoas relutam em agir de forma emocional porque a consideram uma atitude infantil. No entanto existe uma diferença entre ser infantil e ser como as crianças. Ser infantil é ser imaturo e recusar-se a assumir a plena responsabilidade pelas próprias ações. Ser como as crianças é assumir a responsabilidade e ao mesmo tempo ser capaz de entregar-se às emoções.» (BAKER, 2005:124).
O percurso de vida, ao longo dos anos, vai ensinando que há situações, interesses e pessoas que importa defender, aprofundar e conservar. Com as vivências experimentadas: umas, bem-sucedidas; outras, que se ficaram pelo caminho e, ainda, outras, que resultaram em autênticas tragédias relacionais, é fundamental possuir a faculdade, e também a felicidade, de separar o essencial do acessório, e isto é uma aptidão que nem todas as pessoas possuem, mas que se deve buscar incessantemente.
A capacidade para se ser criança, no sentido de assumir as responsabilidades e da vivência autêntica das emoções, paradoxalmente, ou não, consegue-se, eventualmente, na idade dita madura, em que determinados: princípios, valores, sentimentos e amigos, estarão, ou deveriam estar, consolidados.
 Na verdade: «Com a idade, poderá encontrar-se rodeado por amigos e pessoas que se preocupam genuinamente consigo, que proporcionam toda a segurança que resulta de ser amado e tratado com dignidade e respeito. Esses amigos, essas pessoas tornam-se então a sua verdadeira família. Essas pessoas também podem partilhar os seus valores espirituais e entre todos é possível ajudarem-se mutuamente e evoluir de uma maneira positiva. A sua família espiritual são essas pessoas.» (BRIAN, 2000:102).
O ser humano experiencia sentimentos, emoções e situações, mais ou menos intensas. Para certas pessoas: determinados sentimentos, e as consequências deles resultantes, serão positivos; para outras, não. Instala-se como que um certo relativismo perigoso, na medida em que nem tudo pode ser considerado negativo, embora se tenha de admitir que existem conceitos que não são interpretados e vividos da mesma forma, por todas as pessoas e em todas as culturas.
Por exemplo: se para determinadas pessoas a paz é a ausência da guerra e com esta definição se contentam; para outras, a paz é um valor a defender intransigentemente, porque consideram um bem supremo da humanidade; finalmente, para outras, a guerra é mais importante porque movimenta outros “valores”, quer materiais, quer, também, um caminho para se atingir a paz, através do derrube dos ditadores. Em todo o caso, e apesar desta divergência, ainda se acredita que a paz, no sentido da harmonia, da segurança e da felicidade, é desejada pela maioria da população mundial.
O valor da paz, aqui percebida como o supremo desejo da humanidade em geral, resultará sempre da paz individual que cada pessoa tiver dentro de si. Para que tal aconteça: «(…) precisamos primeiro da capacidade de compreensão, e a compreensão não é possível sem uma comunicação gentil e afectuosa. Por isso, restaurar a comunicação é uma prática essencial para a paz. A comunicação é a raiz e o desabrochar da nossa prática de não-violência.» (HANH, 2004:30).
Considerando-se e respeitando-se os valores que cada pessoa defende, segundo as suas próprias convicções, o facto é que há valores que as sociedades modernas, democráticas, livres e responsáveis defendem e os comungam, transmitindo-os, por vezes, com alguma dificuldade, às gerações mais novas, precisamente porque outros alegados valores, de natureza material, “abafam” aqueles que são genuinamente próprios do ser humano, ou que o deveriam ser e, jamais, negociáveis, tais como: a vida, a dignidade, o respeito, o amor; bem como os direitos inalienáveis, designadamente: a saúde, a educação, o trabalho, a segurança, a propriedade, a liberdade, entre outros.
Por vezes afirma-se que tudo tem um preço, tudo se pode negociar, tudo se pode substituir, desde que, materialmente, resultem lucros concretos para as partes envolvidas. Vive-se, em muitas circunstâncias, uma vida de conveniências, de oportunismos, do “vale-tudo”, para se atingirem determinados fins, sem se olhar aos meios, “cilindrando”, até, os mais nobres sentimentos e valores das pessoas que não podem defender-se, ou ousam obstaculizar tais projetos, quantas vezes maquiavélicos.
A justiça social, a harmonia, a felicidade, esta aqui entendida no sentido de cada um, e de todos estarem de bem consigo próprios, e com o mundo, respetivamente, não se constroem, nem se consolidam, enquanto não se respeitarem sentimentos, emoções, valores, opções e a dignidade que são devidos a toda a pessoa humana.
Claro que parece inevitável que o exercício dos valores, a existência de sentimentos nobres, em muito ajuda para o sucesso das relações humanas, sejam pessoais, profissionais, empresariais ou quaisquer outras. Quando não se respeitam sentimentos, emoções, valores e princípios das pessoas, não se lhes está a reconhecer a dignidade, a honra, e até o seu bom nome.
O valor da amizade só se tornará efetivo, se envolvido em sentimentos de amor sincero, entre verdadeiros amigos, que são capazes de dar prioridade total ao relacionamento entre eles, independentemente de outros afazeres, situações interesses e pessoas. A amizade entre dois amigos, quando genuína, estará sempre em primeiro lugar, e a comunicação, os atos mais singelos, são veículos insubstituíveis para a manter consolidada e inabalável.
Este sentimento bem profundo, bem legítimo que é o “Amor-de-Amigo”, que se nutre por outra pessoa, é inegociável, não tem qualquer preço, nem quaisquer condições, é ilimitado e permanece indestrutível, quando firmado nos valores da lealdade, da solidariedade, da reciprocidade e da cumplicidade.
Este sentimento fortíssimo, que é o “Amor-de-Amigo”, que em nada se confunde com o amor conjugal, filial, fraternal, e outros de natureza familiar, dir-se-á que se consubstancia ao nível da dignidade, do respeito, da nobreza e generosidade do caráter, e de uma certa elevação espiritual, porque não pressupõe relações sexuais, nem quaisquer outras intenções inconfessáveis.
Trata-se de um sentimento que não é próprio de “aventureiríssimo”, de “conquistas de fim-de-semana” ou de coleção de “casos”. Ele pauta-se pelo carinho, pelos gestos ternos, meigos e sinceros. Estará próximo do “Amor Platónico”. É um amor ideal que conduz, justamente, à felicidade dos amigos, enquanto tais.
Vivem-se emoções, cumplicidades, reciprocidades, solidariedades, lealdades, sempre com total amizade. O fim deste amor singular, acabará com a morte física do último dos dois amigos, mas sobreviverá, espiritualmente, se eles acreditarem numa vida celestial, para além da morte biológica.
Como conclusão pessoal, defendo que o “Amor-de-Amigo” é um sentimento que se considera inegociável, intransmissível e insubstituível: ou se tem e se pratica, amando o amigo incondicionalmente e para todo o sempre; ou não se tem, e vive-se um pouco na solidão e nas margens do “Rio da Felicidade”.

Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz. Cascais : Pergaminho
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)