sábado, 26 de junho de 2021

Ideias para um Projeto de Vida

 

Idealizar, implementar, consolidar um projeto de vida e dele beneficiar, positivamente, será um dos grandes objetivos de vida de uma pessoa, de uma família, de um grupo, de um povo e de uma nação. Os ideais são tão necessários como as experiências. Pelos ideais se constroem novos mundos.

Deseja-se passar por este mundo com a melhor qualidade de vida, seja nos seus aspetos materiais, que são legítimos, seja na dimensão imaterial, porque a dicotomia, provavelmente, existe: corpo físico; espírito inefável e, aceitando-se esta possibilidade, então será de bom-senso que se contemplem as duas vertentes na elaboração de um projeto de vida, para o qual importa ter em atenção alguns princípios, valores sentimentos e, certamente, recursos.

Pretender viver, apenas, no mundo da espiritualidade, enquanto seres físicos, carentes de inúmeros bens materiais será, seguramente, uma utopia, uma ilusão, uma impossibilidade, na medida em que a realidade físico-material existe, nem de outra forma seria possível a vida terrestre, e não se pode ignorar que mesmo as criaturas que levam uma existência de plena espiritualidade, que almejam a santificação, enquanto envolvidas por um corpo físico, carecem de condições materiais que alimentem e protejam esse mesmo corpo, para poderem desenvolver as atividades do pensamento e do espírito.

O projeto de vida poderá, então, desenvolver-se em duas dimensões: material e espiritual. Quanto à primeira, é essencial ter as melhores condições de sobrevivência e estas implicam, desde logo, saúde, estudo, trabalho, família, habitação, tranquilidade, felicidade, velhice com dignidade e paz e, para quem se deseja completar mais profundamente, a cultura, esta em duas dimensões: antropológica e intelectualizada, assim como a participação na vida pública institucional.

Claro que a vivência material, neste mundo, é incontornável, e porque assim está estabelecida, então é dever de toda a pessoa, contribuir com os seus conhecimentos, trabalho e boa aplicação dos seus proventos, para que a sua vida seja, de facto, um conjunto de sucessos, extensivamente à sua própria família e, por que não, à sociedade em que tal pessoa se insere.

A saúde é, desde já, a primeira condição para uma vida de sucesso material, sendo importante que cada pessoa tenha condições para a usufruir plenamente. E se o direito à saúde, deve ser exercício com o apoio irrecusável e substancial do Estado, para o qual o cidadão contribui com cargas brutais de impostos, também é um dever, por parte de toda a pessoa, tudo fazer para preservar a sua própria saúde, evitando práticas que sabe serem prejudiciais à sua boa forma física e mental.

No regime militar democrático, implicitamente na legislação disciplinar, o dever de preservação da saúde é uma norma jurídica, cuja violação acarreta para o seu infrator as respetivas sanções. Cuidar da boa apresentação e saúde é, portanto, um dever: «11.º Conservar-se pronto para o serviço, evitando qualquer acto imprudente que possa prejudicar-lhe o vigor ou aptidão física ou intelectual; 44.º Manter hábitos de higiene (…)» (Decreto-Lei n.º 142/77, de 09 de abril, Artº 4º, com diversas alterações).

O direito à saúde está consagrado na lei fundamental portuguesa: «1. Todos têm direito à proteção da saúde e o dever de a defender e promover. 2. O direito à proteção da saúde é realizado: a) Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito; b) Pela criação de condições económicas, sociais, culturais e ambientais que garantam, designadamente, a proteção da infância, da juventude e da velhice, e pela melhoria sistemática das condições de vida e de trabalho, bem como pela promoção da cultura física e desportiva, escolar e popular, e ainda pelo desenvolvimento da educação sanitária do povo e de práticas de vida saudável.» (CRP, 2004: Artº 64.º).

Evidentemente que ninguém estará doente por prazer, que ninguém deseja contrair nenhuma doença. Esta postura não está em causa, mas sim, por vezes, o descuido que se verifica em relação à preservação da saúde e, mesmo neste caso, também se deve atender ao facto de o doente ter ou não conhecimentos para cuidar de determinadas situações e patologias.

O estudo/educação é uma outra condição para se poder beneficiar de um emprego/trabalho, porque é mais do que sabido que, num mundo de alta competitividade, em todos os setores, a posse de conhecimentos, atualizados, a formação específica e alguma polivalência, adquiridos ao longo da vida, são condições exigíveis para se desenvolver uma atividade profissional, com alguma estabilidade, êxito financeiro, estatuto, e pensar-se numa velhice relativamente tranquila, apoiada por uma reforma confortável e pelas economias, entretanto, conseguidas, ainda que por um número reduzido de pessoas.

O direito ao estudo, educação, formação e cultura, está, identicamente, salvaguardado na Lei principal do país. Em bom rigor: «1. Todos têm direito à educação e à cultura. 2. O Estado promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida coletiva» (Ibid: Artº 73º).

O trabalho é um bem de primeira necessidade. Pode-se ter muita saúde, muitos estudos, conhecimentos e experiências, mas sem emprego a vida pouco, ou nenhum, sentido terá e, provavelmente, será muito difícil. O trabalho dignifica a pessoa humana, é um direito e um dever consagrados nos mais importantes documentos: Bíblia Sagrada, Constituições Políticas, Declaração Universal dos Direitos do Homem, Tratados Internacionais, de resto, como todos os outros aspetos focados nesta breve reflexão. É pelo trabalho que a pessoa se realiza, material e culturalmente, porque ele possibilita a aquisição da maior parte dos bens necessários a uma vida com qualidade e com dignidade.

Na verdade, sendo um direito fundamental para a sobrevivência humana condigna, ele está registado na Constituição Política de Portugal: «1. Todos têm direito ao trabalho. 2. Para assegurar o direito ao trabalho, incumbe ao Estado promover: a) A execução de políticas de pleno emprego; b) A igualdade de oportunidades na escolha da profissão ou género de trabalho e condições para que não seja vedado ou limitado, em função do sexo, o acesso a quaisquer cargos, trabalho ou categorias profissionais; c) A formação cultural e técnica e a valorização profissional dos trabalhadores.» (Ibid.: Artº 58º).

O direito à habitação está, igualmente, consignado nos documentos já referidos, e mais, uma habitação condigna e compatível com o agregado familiar, assim dispõe, por exemplo, a Constituição da República Portuguesa: «1. Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar.» (Ibid.: Artº 65º).

Na verdade, verifica-se, hoje, já em pleno século XXI, que numa Europa civilizada, um dos grandes objetivos da maioria das famílias, desde logo, portuguesas, é possuir a sua própria “casinha” e, se possível, ajudar os filhos, e até os netos, a obterem este bem tão precioso, quanto necessário. Nesse sentido, as pessoas fazem economias, contraem empréstimos para conseguirem dar corpo ao que constitucionalmente está previsto.

Em Portugal, sob o argumento das crises (que não se nega que não existam) continua-se a tributar, brutal e cruelmente, todos os cidadãos que, com imensos sacrifícios e endividamento, lutaram para ter a sua própria habitação, e agora pagam caro este “sonho”, para liquidar dívidas que o Estado contraiu. Além do mais, o direito à propriedade privada é um direito adquirido, como tantos outros e está defendido constitucionalmente: «1. A todos é garantido o direito à propriedade privada e à sua transmissão em vida ou por morte, nos termos da Constituição.» (Ibid.: Artº 62º)

Neste particular, o projeto de vida está a ser injusta e, quem sabe, se ilegalmente, a ser prejudicado. Tem de haver uma consciência social, de verdade, efetiva, por parte de quem legisla e governa, porque estas pessoas também desejam para elas, e para os seus, uma habitação condigna.

Constituir família, em Portugal, deveria ser um outro objetivo, claramente apoiado pelas instâncias competentes, porém, ao contrário de um nobre, legítimo e constitucional desígnio, é mais do que uma aventura, é um grande risco, porque os apoios às famílias são, praticamente, exíguos, na maior parte dos domínios: saúde, educação, emprego e habitação.

Mas, apesar de toda e qualquer pessoa fazer parte de uma família, também é verdade que os jovens, principalmente estes, desejam, e têm esse direito de constituírem a sua própria família, porque é no seio desta instituição que a pessoa humana, verdadeiramente, completa a sua realização pessoal, satisfaz uma das necessidades próprias de todo o ser humano, independentemente da natureza da sua composição, na circunstância e pessoalmente, respeitando-se, sempre, a união tradicional, de uma mulher e um homem.

 É na família e a partir dela, que a sociedade se constrói e consolida, com os seus valores, incluindo os mais ancestrais usos, costumes e tradições, por isso a importância e o direito de todo o cidadão constituir família está claramente na Lei fundamental: «1. Todos têm o direito de constituir família e de contrair casamento em condições de plena igualdade. 2. A lei regula os requisitos e os efeitos do casamento e da sua dissolução, por morte ou divórcio, independentemente da forma de celebração. 3. Os cônjuges têm iguais direitos e deveres quanto à capacidade civil e política e à manutenção e educação dos filhos. (…)» (Ibid.: Artº 36º).   

Também nesta grande dimensão da pessoa humana, ser e pertencer a uma família, a Lei fundamental é bem clara, no direito que assiste aos cidadãos de constituírem a sua própria família: «1. A família, como elemento fundamental da sociedade, tem direito à proteção da sociedade e do Estado e à efetivação de todas as condições que permitam a realização pessoal dos seus membros. 2. Incumbe, designadamente, ao Estado para proteção da família: a) Promover a independência social e económica dos agregados familiares; equipamentos sociais de apoio à família, bem como uma política de terceira idade; c) Cooperar com os pais na educação dos filhos; d) Garantir, no respeito da liberdade individual, o direito ao planeamento familiar, promovendo a informação e o acesso aos métodos e aos meios que o assegurem, e organizar as estruturas jurídicas e técnicas que permitam o exercício de uma maternidade e paternidade conscientes; e) Regulamentar a procriação assistida, em termos que salvaguardem a dignidade da pessoa humana; f) Regular os impostos e os benefícios sociais, de harmonia com os encargos familiares; g) Definir, ouvidas as associações representativas das famílias, e executar uma política de família com carácter global e integrado; h) Promover, através da concertação das várias políticas sectoriais, a conciliação da actividade profissional com a vida familiar.» (Ibid.: Artº 67º).   

A dimensão cultural, nas suas duas vertentes: antropológica e intelectualizada, assumem particular importância no projeto de vida, porque ela permite à pessoa humana inteirar-se melhor das diferenças entre pessoas, povos e nações, conhecer mais a fundo as suas origens históricas, o passado e o presente da humanidade, habilita-a a analisar, a criticar, a solucionar mais facilmente as diversas situações que, ao longo da vida, vão surgindo, contribui para a melhoria da própria autoestima, reconhecimento e admiração por parte dos seus semelhantes.

Também neste aspeto, existe a garantida e a proteção constitucionais deste direito: «1. Todos têm direito à fruição e criação cultural, bem como o dever de preservar, defender e valorizar o património cultural. 2. Incumbe ao Estado, em colaboração com todos os agentes culturais: a) Incentivar e assegurar o acesso de todos os cidadãos aos meios e instrumentos de ação cultural, bem como corrigir as assimetrias existentes no país em tal domínio; b) Apoiar as iniciativas que estimulem a criação individual e coletiva, nas suas múltiplas formas e expressões, e uma maior circulação das obras e dos bens culturais de qualidade; (…)» (Ibid.: Artº 78º).  

A participação na vida pública institucional, no desempenho de funções políticas, religiosas, desportivas, beneficentes, filantrópicas e muitas outras, também faz parte do projeto de vida, e até se considera um direito e um dever. Participar, graciosa e competentemente, implica a possibilidade de exercício do voluntariado, para o humanismo, para a solidariedade, para o bem-comum, mas também eleva a pessoa que colabora nestas atividades, dá a oportunidade de colocar ao serviço público, conhecimentos, experiências, boas-práticas, e não deixa de ser uma forma de realização pessoal, um alimento para o próprio ego.

Considera-se, de facto, uma obrigação: «1. Todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direção dos assuntos públicos do país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente eleitos.» (Ibid.: Artº 48º), mas importa defender que a participação na vida pública, também será um dever, porque só com o contributo de todos é que se poderá construir uma sociedade mais humana, mais justa e promissora.

Quanto à dimensão imaterial da pessoa humana o projeto de vida também envolve outras valências, outras práticas, regras, princípios, valores, emoções e sentimentos. Ninguém pode afirmar que o seu projeto de vida está completo, que foi realizado plenamente, se ele não contemplar os domínios da alma, do espírito, da consciência ou qualquer outra designação que se pretenda atribuir, até porque, a diferença entre a pessoa, verdadeiramente humana, e os restantes seres que existem neste mundo conhecido, reside, justamente, em que a primeira, a pessoa, está dotada, desenvolve, aplica e beneficia das duas componentes: material e imaterial, de que é possuidora.

A presente reflexão não pretende desenvolver aqui a importância de todos os valores, mesmo os que sejam considerados principais, no contexto de uma civilização ocidental, porque existem outras civilizações e, no limite, uma civilização universal. Deseja-se, isso sim, deixar a ideia de que é essencial que o projeto de vida integre determinadas regras éticas, por exemplo, mas também princípios de intervenção, valores a defender, boas-práticas, como é suposto existirem, emoções e sentimentos que devem ser totalmente respeitados.

Admitindo-se que a pessoa humana transporta em si dois mundos: o material e o imaterial, então é, praticamente, impossível ignorar, rejeitar, ridicularizar e ofender quem incorpora no seu projeto de vida dimensões distintivas da superior condição humana.

Não se conhece ninguém que não possua algum tipo de sentimentos, por mais negativos e destruidores que sejam, no contexto de uma determinada cultura e/ou civilização, e também não se conhece nenhum equipamento ou instrumento físico e eletrónico que possa substituir os valores, emoções e sentimentos humanos, sejam estes genuinamente verdadeiros ou falsos.

Pode-se pensar que os valores, emoções e sentimentos são próprios das pessoas fracas, ingénuas, culturalmente atrasadas, todavia, relata a História que grandes figuras universais possuem aquelas caraterísticas, independentemente de elas serem utilizadas, manifestadas para o bem ou para o mal, porque ninguém é, absolutamente, insensível aos princípios, aos valores, aos sentimentos e às emoções, o que existe, por vezes, é uma certa vergonha em exteriorizá-los e assumi-los.

Um projeto de vida incorporará, com mais ou menos peso, de uma das duas componentes – material ou imaterial -, as duas vertentes, sendo certo que, segundo tanto quanto se conhece, se o desequilíbrio entre aquelas duas componentes for muito grande, a pessoa humana jamais se sentirá realizada e, muito menos, se considerará feliz, porque a felicidade, a paz, a tranquilidade, são outros tantos bens, imateriais, que a maioria das pessoas deseja em toda a sua vida.

Um projeto de vida nunca será, portanto, obra de uma só pessoa, na medida em que é impossível uma existência terrena solitária e todas, mas mesmo todas, as pessoas, precisam umas das outras, porque todas se encontram, mais tarde ou mais cedo, numa das muitas “esquinas da vida e do mundo”.

É uma verdade incontornável, embora muitas pessoas pensem que não precisam de ninguém, que são totalmente autónomas, em tudo na vida, afinal elas são dependentes da sociedade como quaisquer outras. Que grande ilusão estas pessoas vivem e como, por vezes, elas se tornam arrogantes, prepotentes e mesquinhas porque, em boa verdade, demonstram fragilidades que todo o ser humano possui, porém, há que ter a humildade de reconhecer o quanto somos dependentes uns dos outros. 

O projeto de vida passa, naturalmente, por um bom relacionamento entre as pessoas, com respeito, consideração e estima e, se possível, com solidariedade, amizade, lealdade, reciprocidade e confiança. Nunca se pode esquecer a grandeza que somos, mas também as debilidades que nos caraterizam, a todos, sem exceção. Hoje, poderei estar por cima; muito bem na vida, pensar que não preciso de ninguém; amanhã, poderei ser o mais infeliz de todos, cair na desgraça, na miséria, na doença e na morte.

É sinónimo de grande inteligência, sabermos construir o nosso projeto de vida assente em regras, princípios, valores, sentimentos e emoções. Não termos vergonha das caraterísticas que nos tornam superiores aos restantes seres vivos conhecidos, porque somos realmente únicos, inimitáveis, somos pessoas verdadeiramente humanas e, como tal, nos devemos comportar.

 

Bibliografia

 

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (CF/88), in LOPES, Maurício António Ribeiro (Coord.), (1999), 4ª. Ed., revista e atualizada, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA, (2004), Versão de 2004. Porto: Porto Editora.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA VII REVISÃO CONSTITUCIONAL [2005], in: http://www.parlamento.pt/Legislacao/Documents/constpt2005.pdf

CONSTITUIÇÃO FRANCESA DE 1791. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 26 de agosto de 1789, in: HAARSCHER, Guy. (1993) A Filosofia dos Direitos do Homem, Tradução, Armando F. Silva, Coleção Direito e Direitos do Homem, Lisboa: Instituto Piaget

MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL, (1977). Regulamento de Disciplina Militar, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 142/77, de 09ABR, com diversas alterações

ONU-ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (1948) Declaração Universal dos Direitos do Homem, Lisboa: Amnistia Internacional, Secção Portuguesa, 1998;

 

«Proteja-se. Vamos vencer o vírus. Cuide de si. Cuide de todos». Cumpra, rigorosamente, as instruções das autoridades competentes. Estamos todos de passagem, e no mesmo barco chamado “Planeta Terra” de onde todos, mais tarde ou mais cedo, partiremos, de mãos vazias!!! Tenhamos a HUMILDADE de nos perdoarmos uns aos outros, porque será «o único capital que deixaremos aos vindouros» Alimentemos o nosso espírito com a ORAÇÃO e a bela música.  https://youtu.be/_73aKzuBlDc

 

 

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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domingo, 20 de junho de 2021

Maravilhas da Pessoa Humana

 Os avanços surpreendentes da ciência e da técnica, ao longo do último século, têm possibilitado à humanidade desvendar realidades que antes eram consideradas inexistentes, utopias ou até mistérios. A Natureza circundante a todo o ser humano, ainda não é, totalmente, conhecida, porém, muito se tem desbravado para chegar ao nosso conhecimento, aproveitarmo-nos dela e, em alguns domínios, a controlarmos ou, pelo menos, prevermos as suas manifestações, e prevenirmo-nos contra as consequências dos respetivos fenómenos, o que evita, ou atenua, os efeitos catastróficos na sociedade humana.

Ao longo da História do planeta Terra, e de tudo quanto a seu respeito se sabe, tem-se a certeza de que, o ser humano é o que mais tem evoluído, e contribuído para uma permanente alteração das suas condições de vida, criando, transformando, alterando e conquistando situações, saberes e técnicas para adaptar o mundo às suas próprias necessidades, cada vez mais exigentes e sofisticadas, tendo vencido em muitos domínios, continuando porém, incessantemente, na busca de novas soluções, para problemas que ainda estão por resolver, designadamente, a sua própria morte física, o controlo dos fenómenos naturais, a paz no mundo, a sua própria felicidade, entre outros.

A dimensão físico-material da pessoa, e os conhecimentos necessários à melhoria das condições de vida, têm beneficiado de grandes avanços, ao nível da saúde, da longevidade, da erradicação de graves e mortíferas doenças, que durante séculos dizimavam populações inteiras, ao conforto habitacional, aos transportes, ao estudo do universo, enfim, ao bem-estar geral para muitas pessoas, povos e nações.

Haverá, todavia, uma outra dimensão que oferece mais dificuldades ao seu estudo, bem como o consequente conhecimento de realidades que transcendem o mundo físico, que envolve a humanidade. Há como que um mistério acerca da pessoa, relativamente ao ser mais profundo que ela comporta, que não é, materialmente, visível, mas que se manifesta por determinado tipo de emoções, sentimentos e visionamentos, que se poderiam considerar inefáveis, cientificamente inexplicáveis.

Meritoriamente, as ciências com as tecnologias, buscam explicações para determinados fenómenos humanos, reações, consequências, controlo e tratamento, quando necessário, contudo, em muitos casos, não se consegue chegar a uma solução, a uma explicação, a uma fórmula, que a ciência valide, para se resolver no futuro, com a angústia de que, em certas situações-limite, se procuram outros meios, outros “tratamentos”, outras soluções, sendo, aparentemente verdade que, algumas vezes, com sucesso, muitas outras, não.

A posição da pessoa em matérias tão sensíveis e desconhecidas, leva à aceitação do mistério da existência humana, em alguns aspetos da sua vivência, colocando-se, desde há milénios, questões que ainda não têm uma resposta convincente, cientificamente válida, para grandes camadas da sociedade: Quem somos? o que fazemos? Para onde vamos? Qual o nosso destino?

É aqui que entra, para quem é crente, uma outra dimensão, uma outra componente da constituição da pessoa: o espírito, a alma, a consciência, o sobrenatural, afinal, outros elementos, de acordo com as diversas culturas, religiões, crenças, valores, emoções e sentimentos.

Pode-se aceitar essa outra componente, para além da composição físico-material da pessoa, porque ela não envolve nenhum conflito prejudicial à humanidade, apenas discussão científica, ideológico-religiosa, incentivo à investigação, o que até é positivo, desde que no respeito pelas diversas correntes de opinião, e também pela crença e pela fé que muitos têm e defendem, respetivamente, quanto à posição no mundo material em que se encontra a pessoa humana.

Em todo o caso, também se defende que: «Quando o homem perde o seu fundamento divino, a sua vida e toda a sua existência começa a desmoronar-se, a diluir-se, a tornar-se “intranscendente”. Cai por terra aquilo que o torna único e imprescindível. Tudo o que torna a sua dignidade inviolável perde o seu fundamento.» (BERGOGLIO, 2013:125).

É claro que se desconhece se haverá, ou não, neste planeta, ou até noutros, seres tão completos quanto o ser humano e, não havendo tal conhecimento, então uma grande ideia fica patente: a pessoa humana é um ser maravilhoso, misterioso, dotado de capacidades ilimitadas, mas também um ser angustiado porque sabe que ainda não conhece tudo a seu respeito e, recordando Sócrates, o filósofo nascido há quase 2.500 anos, até se pode concordar com ele: “Eu só sei que nada sei”, verdade que permanece como tal, desde há cerca de dois mil e quinhentos anos.

Esta assertiva, de facto, preocupa-nos imenso porque revela a nossa limitação, em certos domínios, a nossa insignificância, porém, seremos humildes quando aceitarmos este pensamento de Sócrates: «A sabedoria está em não acreditares que sabes o que não sabes» (SÓCRATES, in: KARDEC, 2010:51).

Admite-se, para efeitos de estímulo à reflexão, que é através do pensamento organizado, da consciência, esta enquanto: «Identidade Psíquica e Moral: que permanece de forma intacta, inteiramente completa apesar do turbilhão de matéria que passa em nós; ou seja: Eu sou sempre Eu mesmo, conquanto possa até melhorar, aperfeiçoar, evoluir; mas Eu permaneço como Consciência estável, regular, atuante, porém insensível às mudanças da matéria orgânica que se permuta, que se troca, em sua eterna inconstância e variabilidade» (PATROCÍNIO, in: http://fernandorpatrocinio.blogspot.com.br/, 10.01.2013).

A partir daqui, são muitos e diversos os sentimentos, os mais diferentes e díspares possíveis, concluindo-se, muitas vezes, que a própria pessoa nem sequer saber porque reagiu de uma determinada maneira, mas ficando triste, ou alegre, pelos resultados obtidos. Os paradoxos são imensos, o aglomerado de ideias, reações e consequências, multiplicam-se e, no final, a mesma pessoa está pronta para novas situações, emoções, sentimentos e experiências.

Que maravilha é este desencontro de situações que a pessoa experimenta no seu íntimo sem, aparentemente, a intervenção material de algum outro elemento, para além de um eventual facto concreto, que desencadeou tantas reações, sejam físicas, fisiológicas ou sentimentais/emocionais!

Algo escapará às explicações científica e tecnológica, e até de outras áreas, na circunstância, do conhecimento esotérico. É esta angústia maravilhosa que nos faz mover, alimentar a crença, a fé num outro ser que, provavelmente, transcende o ser humano físico-material.

A pessoa humana é, portanto, uma “misteriosa incógnita”, para si própria e para os seus semelhantes. A admirável aflição de: por um lado, saber-se diferente e superior a todos os outros seres, até agora conhecidos que, praticamente, os domina, quase como que deseja, que vai construindo o mundo como pretende, que seja ao seu gosto e que satisfaça as suas necessidades, por mais extravagantes que estas sejam; mas, por outro lado, vive numa certa obsessão em descobrir quem realmente é, o que estará, de facto, a fazer neste mundo, e a dolorosa certeza da morte física que é agravada pela ignorância do seu destino último. É nesta dicotomia, parcialmente inexplicável, que a pessoa vai passando por este mundo.

A problemática existencial do ser humano constitui, efetivamente, o grande dilema, a preocupação maior que ao longo da vida terrena se depara, a quem realmente se considera diferente, superior e maravilhoso, comparativamente com os restantes seres animados conhecidos.

É por isso que tal diferença e superioridade devem ser direcionadas para o bem, para os valores mais altruístas como: a solidariedade, a amizade, a lealdade, a saúde, a família, o trabalho, a paz, a felicidade e a graça de Deus, porque só assim esta vida tem sentido e este ser humano se tornará maravilhoso.

O princípio, segundo o qual: “tudo o que nasce morre”, aplica-se, inexoravelmente, à pessoa humana, e tendo por base de vida esta certeza, então é do mais elementar bom-senso que a existência humana seja desenvolvida com um espírito filantrópico, de amor ao próximo.

 Este sentimento, talvez o mais nobre e sublime que o ser humano consegue vivenciar e revelar, passa por imensas atitudes, desde logo, pelo perdão, no sentido da tolerância, da solidariedade, da ajuda, porque: «A forma mais profunda de perdão é um processo de compreensão que exige esforço e mudança. (…) Quanto mais tomamos consciência de nossos sentimentos e os entendemos, mais podemos mudar de ideias e mais profundamente somos capazes de perdoar. (…) A vida de inúmeras pessoas foi transformada no decorrer da história humana por sentirem-se aceites e perdoadas. (…) O perdão remove os ressentimentos que nos impedem de desenvolver nossa espiritualidade. (…) Aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. Existem ocasiões em que perdoar a nós mesmo é o mais árduo ato de amor.» (BAKER, 2005:83).

As diversas dimensões da pessoa humana, que no domínio material, por exemplo, do saber-fazer, possibilitam produzir objetos, construir monumentos, transportes, pontes, estradas, artefactos para diferentes fins, resolução de problemas de saúde, fabrico de medicamentos, que curam doenças complexas, já é uma inequívoca superioridade, em relação a todos os outros seres conhecidos, mas a dimensão que resulta das suas faculdades psicológicas, intelectuais e espirituais, completa, sem dúvida, a grandiosidade deste ser maravilhoso que é a pessoa verdadeiramente humana. O pensamento humano leva a pessoa para onde esta ambicionar, mas, desejavelmente, para o bem, assim se pretenderia que fosse.

É essencial, porém, compreender-se que a pessoa humana não é um ser perfeito embora, superior a todos os outros seres conhecidos. Com efeito há, ainda, muito por fazer no domínio do aperfeiçoamento das atitudes, dos projetos altruístas, do bem-comum. Há um longo caminho do Bem para percorrer.

Parece um paradoxo que, simultaneamente às práticas malignas, que conduzem à miséria e à morte prematura, também se verifiquem atos de grande nobreza, de inequívoca solidariedade, de amor extremoso e de outros valores, apenas existentes, conscientemente, nos seres humanos.

Esta bipolarização: do bem e do mal, do amor e do ódio, da paz e da guerra, entre outras dicotomias, é uma batalha que urge vencer, no sentido da consolidação dos primeiros termos dos binómios acima identificados, ou seja, que o bem, o amor,  a paz, a saúde, a família estável, o trabalho, a solidariedade, a amizade, a lealdade, a felicidade e a Graça Divina, sejam os elementos fundantes da dignidade humana.

A complexidade do ser humano, também constitui um património inigualável e inimitável. Na verdade, vive-se para o bem e para o mal, mas, em situações-limite, surge a capacidade do perdão, da generosidade, do companheirismo, da tolerância, pelo menos em pessoas com um espírito bem formado, com uma consciência sensível aos dramas.

A pessoa humana é, realmente, um ser maravilhoso, com virtudes e defeitos, cometendo atos de inquestionável e excecional grandeza, quanto outros de desprezível crueldade e mesquinhez, todavia, possui o sentimento mais elevado, notabilíssimo e profundo que algum ser conhecido demonstra ter: o Amor.

Em bom rigor: «O amor é uma energia, a energia mais pura e mais elevada. Nas suas vibrações mais altas, o amor possui sabedoria e consciência. É a energia que une todos os seres. O amor é absoluto e não tem fim. (…) A energia curadora é uma componente da energia espiritual. (…) Quando os médicos referem a ligação entre a mente e o corpo, acredito que o Amor é a energia que estabelece essa ligação» (BRIAN, 2005:132). Parece, portanto, não restarem muitas dúvidas de que a pessoa humana é um ser maravilhoso, proteja-se e engrandeça-se este SER fantástico.

 

Bibliografia

 

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu. Tradução, Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.

BERGOGLIO, Jorge, Papa Francisco, (2013). O Verdadeiro Poder é Servir. Por uma Igreja mais humilde. Um novo compromisso de fé e de renovação social. Tradução, Maria João Vieira /Coord.), Ângelo Santana, Margarida Mata Pereira. Braga: Publito.

BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Tradução, António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.

KARDEC, Allan, (2010). O Evangelho Segundo o Espiritismo: contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação nas diversas situações da vida. Tradução, Albertina Escudeiro Sêco. 4ª Edição. Algés/Portugal: Verdade e Luz – Editora e Distribuidora Espírita.

PATROCÍNIO, Fernando Rosemberg, (2012). Evidências do Espírito na Matéria, in: http://fernandorpatrocinio.blogspot.com.br/   

 

«Proteja-se. Vamos vencer o vírus. Cuide de si. Cuide de todos». Cumpra, rigorosamente, as instruções das autoridades competentes. Estamos todos de passagem, e no mesmo barco chamado “Planeta Terra” de onde todos, mais tarde ou mais cedo, partiremos, de mãos vazias!!! Tenhamos a HUMILDADE de nos perdoarmos uns aos outros, porque será «o único capital que deixaremos aos vindouros» Alimentemos o nosso espírito com a ORAÇÃO e a bela música.  https://youtu.be/_73aKzuBlDc

 

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 13 de junho de 2021

. Rumo ao “Porto Seguro”

Atualmente defende-se, com muita persistência, a necessidade de, nos mais diversos contextos e atividades humanas, encontrar e seguir um rumo, uma estratégia, uma metodologia que conduza as pessoas, as instituições, os povos e as nações a uma situação estável, seja ao nível do emprego, da economia, da paz, da felicidade, enfim, do bem-estar, coletivo, onde todas as pessoas possam ter uma vida condigna com a superior condição da espécie humana.

Nesse sentido: elaboram-se estudos e projetos, fazem-se promessas, tomam-se medidas, as mais drásticas, as mais cruéis, as mais brutais, as mais desumanas, tudo em nome da credibilidade, da confiança, da estabilidade, do bom comportamento, perante as análises de mercados sem rosto, sem sensibilidade social, sem preocupações com a nobreza de um povo milenar.

Os povos de todo o mundo, uns mais do que outros, tudo vêm suportando, com inquestionável estoicismo, com autêntico espírito cívico e com inquebrantável esperança em melhores dias no âmbito da dignidade humana. As pessoas sofrem, contraem doenças do foro neuropsicológico, suicidam-se, vivem sem honra nem glória, sem verem, ao menos, que os seus sacrifícios valeram a pena, quanto mais não fosse, para as gerações mais novas, para os seus descendentes.

A crise é acutilante, impiedosa e poderá permanecer, segundo alguns analistas, por longos anos, o que, a verificar-se, talvez se equipare a um genocídio dos mais fracos, desprotegidos e ignorados, por quem tem a obrigação de os acarinhar, respeitar na sua dignidade, ajudá-los a ter uma vida digna, decente e confortável, tal como eles têm, incluindo as respetivas famílias e amigos, certamente, com toda a legalidade e legitimidade.

A preocupação em resolver as crises: económica, financeira, social e, atualmente, pandémica, (2020-2021) parece evidente, em muitas pessoas, com responsabilidades em diversos setores da atividade humana, na sociedade: na educação, na saúde no emprego. Alguns responsáveis políticos, religiosos, empresariais e diversos mecenas e filantropos, vão dando o seu contributo, que até poderia ser muito mais eficaz, principalmente ao nível dos poderes legislativo, executivo e sancionatório, porém, os resultados tardam a aparecer, quer em quantidade, quer em qualidade.

Mas há como que um esquecimento, uma vergonha encapuzada, um enterrar a cabeça na areia, quanto a reconhecer que existe uma outra crise, talvez bem mais profunda, mais demorada de resolver, porque mais complexa, porque envolve mentalidades, culturas, princípios, valores, sentimentos e emoções. A crise axiológica, ou seja, dos valores, justamente, aquela que poucas pessoas ousam falar nela, todavia, ela está latente e, ao que tudo indica, agrava-se inexoravelmente.

Concorda-se, portanto, que é importante, e urgente, encontrar um rumo claro, que conduza as pessoas, individualmente consideradas e os grupos, para um “Porto Seguro”, onde a tormenta se abrande e a tripulação, desta grande nau que é a sociedade, se sinta segura e possa refazer as suas vidas, com esperança, com projetos exequíveis, com um futuro promissor para toda a humanidade. É preciso encontrar o rumo certo, por quem sabe navegar.

Esta imensa tripulação, de um grande navio, também chamado mundo, deverá preocupar-se, portanto, em dar a sua cooperação, porque cada elemento, no seu posto de trabalho, com as responsabilidades que lhe subjazem, terá uma participação ativa que, por si próprio, contribuirá para um mundo mais justo e solidário. Ninguém pode ficar de fora, nesta viagem.

Adotar um rumo bem definido, que conduza a humanidade para um destino compatível com os mais elementares direitos humanos implica, desde já: comportamentos individuais de bom relacionamento entre todas as pessoas; no respeito pelas ideias, pelas opções e práticas concretas de cada uma, sem se demitir de princípios, valores e sentimentos; também na defesa intransigente das razões que assistem, em relação aos atos praticados, quando estes são sinceramente solidários, concretos e leais para com os restantes semelhantes.

Neste grande navio chamado mundo, a sua tripulação, que é a sociedade, constituída por elementos de várias nações, culturas, religiões, valores e objetivos diferentes, o ponto comum será, de facto, o rumo que todos desejam, aquele que conduza ao “Ancoradouro Estável”. Portanto, é essencial que a coesão seja reforçada, consolidada, até porque: «A dependência saudável nos relacionamentos produz pessoas saudáveis. Precisar dos outros nos torna mais fortes e não carentes.» (BAKER, 2005:151).

Traçar um rumo implica escolhas, meios humanos, equipamentos e recursos financeiros, que devem existir em qualidade e quantidade, a bordo desta grande nau, cujo comandante e adjuntos têm de possuir uma sólida e específica preparação, nas respetivas funções, sentido de grande responsabilidade, espírito de missão bem consolidado, de tal forma que a restante tripulação possa confiar nas qualidades humanas e capacidades técnico-científicas daqueles “Pilotos”.

É indispensável que todos queiram remar para o mesmo lado, para o “Porto Seguro” que, certamente, a maioria dos tripulantes deseja. Por isso, os bons exemplos devem partir do comando, também dos responsáveis intermédios. Entre governantes e governados o relacionamento deve ser correto, amável, solidário, amigável, leal e recíproco.

O projeto é apenas um: chegar ao “Porto Seguro” da dignidade humana e, depois de fundeado o navio, toda a tripulação deve trabalhar para solidificar o bem-comum, a paz e a felicidade. Este é que é o “Rumo” certo, que toda a tripulação mais ambiciona e tem direito.

Quando se pretende e defende um determinado rumo, deve-se ter presente as implicações que tal decisão envolve, na medida em que é necessário assegurar as melhores condições para que o navio possa navegar: com segurança, conforto e bom relacionamento entre toda a tripulação.

Nesse sentido, o comando até poderá prescindir de certas prerrogativas, em benefício da restante tripulação, ou seja: em vez de reivindicar e decretar benefícios, regalias extraordinárias que os demais não têm, deverá melhorar as condições gerais de bem-estar de toda a tripulação, investir onde é necessário, importante e urgente. Claro que deve haver diferenças positivas em função da exigência de conhecimentos e responsabilidades para determinadas funções, até como forma de reconhecimento para uns e incentivo para outros.

O que nunca se pode ignorar é que o navio é o mesmo, o rumo certo é o que todos mais desejam, ou seja: alcançar o “Porto Seguro” da solidariedade, da amizade, da lealdade, da reciprocidade, do bem-comum, da paz e da felicidade, aliás: «Todos nós sonhamos com uma vida melhor, uma sociedade melhor. Contudo torna-se difícil passar um dia que seja sem nos desiludirmos, sem nos sentirmos desapontados, sem nos sentirmos sugados pelas pessoas mesquinhas e egoístas que nos rodeiam. Parece que uma grande maioria de pessoas só está interessada nos seus ganhos pessoais. Tornam-se rudes e arrogantes, críticas e insensíveis. As suas ações não só nos deprimem, como também nos fazem sentir que não podemos fazer nada para mudar este estado de coisas e que apenas os que estão no poder têm a capacidade de fazer a diferença.» (BRIAN, 2000:138).

Afigura-se evidente que o rumo certo para se alcançar o “Porto Seguro” da dignidade da pessoa humana passa, então, por princípios, valores, sentimentos e emoções, por uma cultura axiológica altruísta, humanitária e universal, a partir dos conceitos que lhes estão associados, e das práticas que os confirmam.

A sociedade, tal como a tripulação de um navio, só conseguirá atingir objetivos favoráveis ao bem-comum quando for solidaria, quando os máximos dirigentes, das diferentes atividades humanas: políticas, religiosas, empresariais, económicas e financeiras descerem das suas “Torres de Comando” ao convés e ao porão do navio, aí se inteirarem das condições em que vivem os restantes elementos da tripulação.

Torna-se fútil, e até ofensivo para a tripulação, que o navio seja muito bonito, dispendiosa a sua manutenção, confortáveis e luxuosos alojamentos para os comandantes e apenas para eles, se os restantes elementos da guarnição vivem em condições sub-humanas, agrilhoados no porão, e que em caso de sinistro, nem sequer possuem um colete ou uma boia de salvação para nadarem para a praia mais próxima.

É necessário que quem chega ao governo do navio, primeiro tenha passado pelo porão, pelo convés e, finalmente, atinja o camarote e a torre de comando, para pilotar com segurança, com solidariedade, com equidade e humanismo, rumo ao “Porto Seguro” de um futuro digno para toda a tripulação, sem exceções, onde todos sejam valorizados pelos seus méritos, e avaliados segundo o seu empenhamento e contributo.

É correto e desejável que exista uma hierarquia, numa qualquer organização. É importante que os degraus dessa hierarquia sejam ocupados por quem tem capacidades científicas, técnicas e humanas, faculdades inatas para o exercício de uma cultura axiológica ao serviço de quem mais carece em primeiro lugar, mas também na busca dos recursos necessários para se atingirem os objetivos que melhor sevem a sociedade.

É importante para estes “Comandantes” saberem ouvir as vozes dos “Tripulantes”, porque a virtude de saber escutar os seus semelhantes é fundamental para se conseguir a coesão e os bons resultados, de resto, como é da boa sabedoria popular: “quem escuta com respeito, sabe decidir com justiça”.

Qualquer candidato ao comando de um navio, na circunstância, de uma organização, deve ter a humildade de escutar os seus colaboradores, inteirar-se das suas necessidades, dificuldades, aspirações, porque ao estabelecer o diálogo, pela escuta ativa está, seguramente, no “Rumo Certo”, para resolver problemas que afetam o bem-estar individual e coletivo da tripulação, na circunstância, da sociedade, para a qual se deve desejar o melhor do mundo e por ela tudo tem de se fazer, porque: «Escutar é uma forma de amar. É um modo de mostrar ao outro que o que ele diz tem valor, aquilo que comunica não cai no vazio, que tem interesse. Ao reconhecer isto, o outro sente-se aceite e valorizado como pessoa.» (TORRALBA, 2010:143).

 

Bibliografia

 

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu. Tradução, Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.

BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Tradução, António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.

TORRALBA, Francesc, (2010). A Arte de Saber Escutar. Tradução, António Manuel Venda. Lisboa: Guerra e Paz, Editores S.A.

 

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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quinta-feira, 10 de junho de 2021

10 de JUNHO. DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES LUSÓFONAS

 LUSITANOS NO MUNDO

Dia de Portugal. Sem dúvida que existimos como: nação soberana, detentora de uma História quase milenar; com uma vertente religiosa-católica, ainda muito acentuada; fronteiras praticamente inalteráveis desde há quase 900 anos; uma zona económica exclusiva, de 200 milhas, das maiores do mundo; uma cultura inequivocamente recheada de valores humanistas, aos quais se junta um regime democrático defensor de amplos direitos, liberdades e garantias, constitucionalmente consagradas na Lei Fundamental Portuguesa.

Dia de Camões. O poeta lusitano, poderemos afirmar, o mestre da língua portuguesa, através da qual descreveu os feitos heroicos dos Descobrimentos Portugueses, na sua obra-prima, mundialmente conhecida e estudada: “Os Lusíadas”. Luís Vaz de Camões, o pai oficial da lusofonia, da língua que hoje é a sexta mais falada em todo o mundo e, ainda, enquanto idioma oficial, nos areópagos internacionais.

Dia das Comunidades Portuguesas. Espalhadas por todo o mundo, a nossa Diáspora, de que tanto nos podemos e devemos orgulhar. Estabelecer o “Dez de Junho” como um dia associado às outras duas situações de grande projeção internacional, é um dever que nos cumpre honrar, que muito nos orgulha, até porque os nossos emigrantes, e os agora, também, luso-descendentes, são já vários milhões, diríamos que um “Outro Portugal”, afirmando-se em todo o globo terrestre.

«Portugal foi tradicionalmente uma terra de emigração, desde o período da expansão imperial e colonial, passando, por exemplo, pela emigração económica para o Brasil no século XIX e pela emigração económica, a partir de 1960, para alguns países da Europa Ocidental. Além dos cerca de dez milhões de Portugueses residentes em Portugal, presume-se existirem quase cinco milhões mais espalhados pelo mundo, quer de primeira geração, quer luso-descendentes recentes, formando assim um total de cerca de quinze milhões de Portugueses. De acordo com dados da Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros português, os países com maiores comunidades portuguesas são, por ordem crescente de importância demográfica, a França, o Brasil e os Estados Unidos (caso se considerem, no cômputo dos luso-americanos, aqueles que descendem de Portugueses em graus variados).» (in: https://pt.wikipedia.org/wiki/Di%C3%A1spora_portuguesa#Di.C3.A1spora_portuguesa

O “Dez de Junho”, feriado nacional em Portugal, obviamente que: deve ser vivido com entusiasmo; não, necessariamente, com espírito dos “nacionalismos” exacerbados; não, com alegados “patriotismos” de ocasião; sim, com a simplicidade, humildade e a dignidade que ao longo dos séculos têm constituído o nosso “rótulo” de referência privilegiada.

 

É normal, e salutar, que neste dia, as entidades responsáveis: homenageiem os Portugueses; que lhes atribuam condecorações, essencialmente àqueles que através do trabalho, das letras, das artes, da investigação, do serviço militar, forças de segurança, instituições de utilidade públicas, organizações de diversa natureza e fins, individualidades e, de uma forma geral, todas as pessoas e entidades que tenham ou estejam a contribuir para a dignificação do país.

 

Portugal, hoje, primeiro quarto do Século XXI, por mérito próprio, tem direito a ocupar um lugar de relevo nas mais altas instâncias internacionais, e deve ser frequentemente solicitado, para dar o seu contributo democrático, intelectual e humanitário, até porque se libertou, através de uma “Revolução Pacífica”, de um regime ditatorial, devolvendo ao Povo a Liberdade e os restantes Valores, essenciais à dignidade humana, como também teve a capacidade, e humildade de reconhecer as injustiças que cometeu com os territórios colonizados, devolvendo aos seus autóctones, a sua autonomia, com a consumação da independência total.

Passados que estão mais 878 anos de História, e decorridos que estão mais de 47 anos da reimplantação do regime democrático, os Portugueses: têm todos os motivos para estarem orgulhosos do seu passado, genericamente considerado; têm razões para estarem otimistas quanto ao futuro, que se deseja de desenvolvimento, trabalho e justiça social.

 

Sem quaisquer preconceitos, afastados os comportamentos escravocratas, xenófobos, racistas, narcisistas e ditatoriais, temos todas as condições para aprofundarmos conhecimentos, relacionamentos, intercâmbios em muitos domínios: dos empresariais aos económicos; da educação à investigação; dos políticos aos militares; dos religiosos aos culturais, enfim, somos livres, inteligentes, trabalhadores, hospitaleiros e dignos. Somos, simplesmente, Portugueses.

  

Venade/Caminha – Portugal, 2021

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