domingo, 13 de junho de 2021

. Rumo ao “Porto Seguro”

Atualmente defende-se, com muita persistência, a necessidade de, nos mais diversos contextos e atividades humanas, encontrar e seguir um rumo, uma estratégia, uma metodologia que conduza as pessoas, as instituições, os povos e as nações a uma situação estável, seja ao nível do emprego, da economia, da paz, da felicidade, enfim, do bem-estar, coletivo, onde todas as pessoas possam ter uma vida condigna com a superior condição da espécie humana.

Nesse sentido: elaboram-se estudos e projetos, fazem-se promessas, tomam-se medidas, as mais drásticas, as mais cruéis, as mais brutais, as mais desumanas, tudo em nome da credibilidade, da confiança, da estabilidade, do bom comportamento, perante as análises de mercados sem rosto, sem sensibilidade social, sem preocupações com a nobreza de um povo milenar.

Os povos de todo o mundo, uns mais do que outros, tudo vêm suportando, com inquestionável estoicismo, com autêntico espírito cívico e com inquebrantável esperança em melhores dias no âmbito da dignidade humana. As pessoas sofrem, contraem doenças do foro neuropsicológico, suicidam-se, vivem sem honra nem glória, sem verem, ao menos, que os seus sacrifícios valeram a pena, quanto mais não fosse, para as gerações mais novas, para os seus descendentes.

A crise é acutilante, impiedosa e poderá permanecer, segundo alguns analistas, por longos anos, o que, a verificar-se, talvez se equipare a um genocídio dos mais fracos, desprotegidos e ignorados, por quem tem a obrigação de os acarinhar, respeitar na sua dignidade, ajudá-los a ter uma vida digna, decente e confortável, tal como eles têm, incluindo as respetivas famílias e amigos, certamente, com toda a legalidade e legitimidade.

A preocupação em resolver as crises: económica, financeira, social e, atualmente, pandémica, (2020-2021) parece evidente, em muitas pessoas, com responsabilidades em diversos setores da atividade humana, na sociedade: na educação, na saúde no emprego. Alguns responsáveis políticos, religiosos, empresariais e diversos mecenas e filantropos, vão dando o seu contributo, que até poderia ser muito mais eficaz, principalmente ao nível dos poderes legislativo, executivo e sancionatório, porém, os resultados tardam a aparecer, quer em quantidade, quer em qualidade.

Mas há como que um esquecimento, uma vergonha encapuzada, um enterrar a cabeça na areia, quanto a reconhecer que existe uma outra crise, talvez bem mais profunda, mais demorada de resolver, porque mais complexa, porque envolve mentalidades, culturas, princípios, valores, sentimentos e emoções. A crise axiológica, ou seja, dos valores, justamente, aquela que poucas pessoas ousam falar nela, todavia, ela está latente e, ao que tudo indica, agrava-se inexoravelmente.

Concorda-se, portanto, que é importante, e urgente, encontrar um rumo claro, que conduza as pessoas, individualmente consideradas e os grupos, para um “Porto Seguro”, onde a tormenta se abrande e a tripulação, desta grande nau que é a sociedade, se sinta segura e possa refazer as suas vidas, com esperança, com projetos exequíveis, com um futuro promissor para toda a humanidade. É preciso encontrar o rumo certo, por quem sabe navegar.

Esta imensa tripulação, de um grande navio, também chamado mundo, deverá preocupar-se, portanto, em dar a sua cooperação, porque cada elemento, no seu posto de trabalho, com as responsabilidades que lhe subjazem, terá uma participação ativa que, por si próprio, contribuirá para um mundo mais justo e solidário. Ninguém pode ficar de fora, nesta viagem.

Adotar um rumo bem definido, que conduza a humanidade para um destino compatível com os mais elementares direitos humanos implica, desde já: comportamentos individuais de bom relacionamento entre todas as pessoas; no respeito pelas ideias, pelas opções e práticas concretas de cada uma, sem se demitir de princípios, valores e sentimentos; também na defesa intransigente das razões que assistem, em relação aos atos praticados, quando estes são sinceramente solidários, concretos e leais para com os restantes semelhantes.

Neste grande navio chamado mundo, a sua tripulação, que é a sociedade, constituída por elementos de várias nações, culturas, religiões, valores e objetivos diferentes, o ponto comum será, de facto, o rumo que todos desejam, aquele que conduza ao “Ancoradouro Estável”. Portanto, é essencial que a coesão seja reforçada, consolidada, até porque: «A dependência saudável nos relacionamentos produz pessoas saudáveis. Precisar dos outros nos torna mais fortes e não carentes.» (BAKER, 2005:151).

Traçar um rumo implica escolhas, meios humanos, equipamentos e recursos financeiros, que devem existir em qualidade e quantidade, a bordo desta grande nau, cujo comandante e adjuntos têm de possuir uma sólida e específica preparação, nas respetivas funções, sentido de grande responsabilidade, espírito de missão bem consolidado, de tal forma que a restante tripulação possa confiar nas qualidades humanas e capacidades técnico-científicas daqueles “Pilotos”.

É indispensável que todos queiram remar para o mesmo lado, para o “Porto Seguro” que, certamente, a maioria dos tripulantes deseja. Por isso, os bons exemplos devem partir do comando, também dos responsáveis intermédios. Entre governantes e governados o relacionamento deve ser correto, amável, solidário, amigável, leal e recíproco.

O projeto é apenas um: chegar ao “Porto Seguro” da dignidade humana e, depois de fundeado o navio, toda a tripulação deve trabalhar para solidificar o bem-comum, a paz e a felicidade. Este é que é o “Rumo” certo, que toda a tripulação mais ambiciona e tem direito.

Quando se pretende e defende um determinado rumo, deve-se ter presente as implicações que tal decisão envolve, na medida em que é necessário assegurar as melhores condições para que o navio possa navegar: com segurança, conforto e bom relacionamento entre toda a tripulação.

Nesse sentido, o comando até poderá prescindir de certas prerrogativas, em benefício da restante tripulação, ou seja: em vez de reivindicar e decretar benefícios, regalias extraordinárias que os demais não têm, deverá melhorar as condições gerais de bem-estar de toda a tripulação, investir onde é necessário, importante e urgente. Claro que deve haver diferenças positivas em função da exigência de conhecimentos e responsabilidades para determinadas funções, até como forma de reconhecimento para uns e incentivo para outros.

O que nunca se pode ignorar é que o navio é o mesmo, o rumo certo é o que todos mais desejam, ou seja: alcançar o “Porto Seguro” da solidariedade, da amizade, da lealdade, da reciprocidade, do bem-comum, da paz e da felicidade, aliás: «Todos nós sonhamos com uma vida melhor, uma sociedade melhor. Contudo torna-se difícil passar um dia que seja sem nos desiludirmos, sem nos sentirmos desapontados, sem nos sentirmos sugados pelas pessoas mesquinhas e egoístas que nos rodeiam. Parece que uma grande maioria de pessoas só está interessada nos seus ganhos pessoais. Tornam-se rudes e arrogantes, críticas e insensíveis. As suas ações não só nos deprimem, como também nos fazem sentir que não podemos fazer nada para mudar este estado de coisas e que apenas os que estão no poder têm a capacidade de fazer a diferença.» (BRIAN, 2000:138).

Afigura-se evidente que o rumo certo para se alcançar o “Porto Seguro” da dignidade da pessoa humana passa, então, por princípios, valores, sentimentos e emoções, por uma cultura axiológica altruísta, humanitária e universal, a partir dos conceitos que lhes estão associados, e das práticas que os confirmam.

A sociedade, tal como a tripulação de um navio, só conseguirá atingir objetivos favoráveis ao bem-comum quando for solidaria, quando os máximos dirigentes, das diferentes atividades humanas: políticas, religiosas, empresariais, económicas e financeiras descerem das suas “Torres de Comando” ao convés e ao porão do navio, aí se inteirarem das condições em que vivem os restantes elementos da tripulação.

Torna-se fútil, e até ofensivo para a tripulação, que o navio seja muito bonito, dispendiosa a sua manutenção, confortáveis e luxuosos alojamentos para os comandantes e apenas para eles, se os restantes elementos da guarnição vivem em condições sub-humanas, agrilhoados no porão, e que em caso de sinistro, nem sequer possuem um colete ou uma boia de salvação para nadarem para a praia mais próxima.

É necessário que quem chega ao governo do navio, primeiro tenha passado pelo porão, pelo convés e, finalmente, atinja o camarote e a torre de comando, para pilotar com segurança, com solidariedade, com equidade e humanismo, rumo ao “Porto Seguro” de um futuro digno para toda a tripulação, sem exceções, onde todos sejam valorizados pelos seus méritos, e avaliados segundo o seu empenhamento e contributo.

É correto e desejável que exista uma hierarquia, numa qualquer organização. É importante que os degraus dessa hierarquia sejam ocupados por quem tem capacidades científicas, técnicas e humanas, faculdades inatas para o exercício de uma cultura axiológica ao serviço de quem mais carece em primeiro lugar, mas também na busca dos recursos necessários para se atingirem os objetivos que melhor sevem a sociedade.

É importante para estes “Comandantes” saberem ouvir as vozes dos “Tripulantes”, porque a virtude de saber escutar os seus semelhantes é fundamental para se conseguir a coesão e os bons resultados, de resto, como é da boa sabedoria popular: “quem escuta com respeito, sabe decidir com justiça”.

Qualquer candidato ao comando de um navio, na circunstância, de uma organização, deve ter a humildade de escutar os seus colaboradores, inteirar-se das suas necessidades, dificuldades, aspirações, porque ao estabelecer o diálogo, pela escuta ativa está, seguramente, no “Rumo Certo”, para resolver problemas que afetam o bem-estar individual e coletivo da tripulação, na circunstância, da sociedade, para a qual se deve desejar o melhor do mundo e por ela tudo tem de se fazer, porque: «Escutar é uma forma de amar. É um modo de mostrar ao outro que o que ele diz tem valor, aquilo que comunica não cai no vazio, que tem interesse. Ao reconhecer isto, o outro sente-se aceite e valorizado como pessoa.» (TORRALBA, 2010:143).

 

Bibliografia

 

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu. Tradução, Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.

BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Tradução, António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.

TORRALBA, Francesc, (2010). A Arte de Saber Escutar. Tradução, António Manuel Venda. Lisboa: Guerra e Paz, Editores S.A.

 

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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