domingo, 28 de maio de 2017

A Escola do Século XXI

A escola do futuro, qualquer que seja o seu nível, e que tenha por objetivo educar e formar o cidadão do mundo, não pode continuar a rejeitar o professor crítico, reflexivo, caracterizado por três tipos de desenvolvimento: pessoal, profissional e organizacional, produzindo a transformação da cultura escolar, que inclui a implementação e consolidação de novas práticas participativas e de gestão democrática.
Além disso, necessita de analisar as condições de produção do seu trabalho, tendo em conta as circunstâncias sociais, políticas e económicas, que interferem na sua prática pedagógica, porque numa sociedade étnico-intercultural é essencial a reflexão sobre a dimensão política do ato educativo, na medida em que: «Sobre a educação para o século XXI é apontada a necessidade de educação para a diversidade e para a cidadania, assumindo o sistema educativo a responsabilidade de preparar cada pessoa para esta participação mostrando-lhe os seus direitos e deveres, mas também desenvolvendo as suas competências e estimulando o trabalho em equipa na escola.» (GUEDES & MIRANDA, 2005:19).
Neste sentido estratégico revela-se de fundamental importância uma metodologia de trabalho centrada na prática, partindo de problemas que se apresentam na sua situação concreta, contribuindo para o desenvolvimento profissional enquanto professor, permitindo um maior envolvimento para aprofundar a capacidade de análise crítica e das condições em que exerce a sua atividade, procurando a cumplicidade da escola, gerando assim mais e melhor conhecimento.
Uma tal estratégia, suportada na dupla metodologia investigação-ação e observação-participação, é incompatível com tarefas meramente administrativas e rotineiras que, por vezes, as escolas exigem aos seus professores, que assim se tornam funcionários administrativo-burocráticos.
Deixe-se ao professor a difícil, mas muito importante, tarefa da investigação, pois só assim poderá aumentar ou interpretar os conhecimentos. Para isso é essencial que ele tenha condições de grande envolvimento, porque a técnica da observação-participante: «Consiste na inserção do observador no grupo observado, o que permite uma análise global e intensiva do objecto de estudo.» (ALMEIDA & PINTO, 1995:105). 
Formar o cidadão do mundo, para a mudança que se vem operando ao longo dos séculos, que no período de transição para o século XXI se fez sentir com uma extraordinária velocidade, exige professores/formadores/educadores exclusivamente ao serviço dos objetivos educacionais, em ordem à construção de um mundo mais humanizado, em todos os setores das diversas atividades humanas.
Impõe-se aos responsáveis pela organização do sistema educativo que criem todas as condições, necessárias e bastantes, para que se possa beneficiar do trabalho do professor que pensa: «Professor reflexivo, que medite sobre as suas próprias práticas, apoiando-se na experiência, na investigação, noutros recursos disponíveis e importantes para a avaliação do seu desenvolvimento profissional, nomeadamente no seu próprio projecto de formação, desenvolvendo competências sociais e profissionais, numa perspectiva de formação ao longo da vida, participando em projectos de investigação relacionados com o ensino, aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.» (SILVA, 2005:25).
Discute-se, atualmente, um pouco por todo o mundo, o sistema educativo ideal ou, pelo menos, o mais perfeito possível. Alteram-se processos de avaliação, introduzem-se novos conteúdos programáticos, exigem-se professores competentes, dedicados, em regime de exclusividade na escola onde estão colocados, e determina-se que executem tarefas que seriam melhor realizadas por outros profissionais.
Por outro lado, quando os resultados das avaliações nacionais são, globalmente, fracos, procura-se, sempre, encontrar alguns responsáveis pelo setor, ou seja, os agentes intervenientes no sistema educativo, ficando o insucesso a dever-se ao Ministério, aos alunos, aos pais e aos professores, esquecendo-se que, a sociedade, no seu todo, é igualmente culpável. Em todo o caso, é com muita frequência que, parte significativa do insucesso, se atribui aos professores, quantas vezes, injustamente.
É uma situação que não pode ser aceite e há fortes razões para se concordar com o seguinte raciocínio: «Os professores vivem numa encruzilhada (…). Alguns chegam a apelar para que os professores deixem de assumir a posição, se é que ainda têm, de que são os detentores da verdade científica, humanística e artística e adoptem uma atitude socrática: humildade perante a vastidão e a constante criação do saber; quando se trata de definir as novas funções dos professores sucedem-se as ideias de que estes devem ser catalisadores da procura do conhecimento; gestores da informação; mediadores entre o aluno e o mundo caótico da informação; auxiliadores na estruturação da diversidade das experiências; mestres no sentido socrático, isto é, partes activas na procura do saber, tendo como única certeza as limitações do seu próprio saber.» (ARAÚJO, 2005: RIT-8). 
As preocupações avolumam-se ainda mais quando a reflexão envolve a própria instituição Escola, na medida em que se verifica, com relativa frequência, um manifesto desinteresse, quando confrontada com atividades materialmente lucrativas. A mentalidade que parece imperar, em grandes círculos da sociedade, afigura-se ir no sentido do abandono escolar, a favor das atividades que proporcionam remunerações substanciais e enriquecimento rápido e significativo.
Eventualmente, a Escola não tem sido capaz de cativar jovens e adultos. Na verdade: «Quando pensamos nas nossas escolas não apenas como instrutivas do raciocínio lógico ou das capacidades linguísticas, concluímos que há urgência de as tornar educativas, motivadoras e sedutoras. (…) Desta forma há necessidade de novas tentativas centradas na orientação dos percursos individuais no saber, na facilitação da aprendizagem personalizada, mas também em redes interactivas e à distância» (MOREIRA, 2000:180-81).
Impõe-se, cada vez com mais acuidade, uma Escola educativo-formativa no sentido de educar e formar cidadãos com: princípios e valores, determinados por objetivos coletivos, sem prejuízo das legítimas aspirações individuais, com a salvaguarda de não colidirem com os superiores, bem como, igualmente, legítimos interesses de todos, onde, afinal, o indivíduo se inclui e é parte integrante, portanto, beneficiário dos progressos que afetam o todo.
Pode-se concordar, sem grandes dificuldades, com a seguinte análise, justamente, de quem tem longa experiência de vida profissional docente: «As desigualdades, as tensões inter-étnicas, a competição desenfreada, a sobrevalorização dos valores materiais tem promovido um abandono escolar crescente, sistemático e localizado nos grandes centros urbanos e naqueles que são economicamente excluídos. As respostas educativas dadas nas últimas décadas apontam, essencialmente, para: a) alargamento progressivo da escolaridade obrigatória básica; b) Desenvolvimento de novas atitudes e processos de educação para todos e formação ao longo da vida; c) Defesa dos valores da tolerância e de envolvimento cívico.» (ROCHA, 2005:2).
Reconhecendo-se, muito embora e respeitando outras opiniões, que por muito bem elaborados que estejam os programas de formação inicial de professores, também se pode admitir que a preparação académica já não confere, por si só, um saber total, que se possa utilizar ao longo de toda a carreira.
Pelo contrário, o professor para uma Nova Escola e para formar este cidadão do mundo, vai ter que prosseguir os seus estudos, realizar quantitativa e qualitativamente a investigação inerente aos domínios que pretende transmitir e orientar, até porque o conhecimento, a ciência e a tecnologia estão a progredir de tal forma que já é difícil acompanhar a sua evolução.
Hoje, mais do que nunca, uma das finalidades das formações: inicial e contínua do professor é incrementar neles as qualidades de natureza ética, intelectual e afetiva. Tal como o médico, o advogado, o arquiteto e outras profissões liberais, também o professor, até por maioria de razão e motivos óbvios, tem de se manter, permanentemente, atualizado, porque é ele que vai ministrar a formação inicial, exatamente, àqueles profissionais liberais.


Bibliografia


ALMEIDA, J. F., PINTO, J. M. (1995). A Investigação nas Ciências Sociais (5ª ed.). Lisboa: Editorial Presença.
ARAÚJO, M. I. (2005: Rit-8). Novas tecnologias nas Escolas. Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya. (Curso ISC: 3º ano. “Projectos e Tecnologias Educativas”)
GUEDES, J. A. D. e MIRANDA, M. R. (2005). A Capacidade de Auto-aprendizagem do Professor, no domínio da Formação e Desenvolvimento Profissional dos Professores. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar). Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya.
MOREIRA, V. (2000). Escola do Futuro, Sedução ou Inquietação? As Novas Tecnologias e o Reencantamento da Escola. Porto: Porto Editora.
ROCHA, A. F. S. (2005). Abandono Escolar: Respostas Educativas. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar). Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya. (Não publicado)
SILVA, E. D. M. (2005) O Professor Reflexivo. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar). Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 21 de maio de 2017

Direitos Humanos: O Que São?

A partir das descrições já efetuadas, torna-se claro que, eventualmente, tão importante como muitos dos conhecimentos científicos, tecnologias sofisticadas, inventos diversos, para diferentes finalidades, é a consciencialização de que existem saberes e práticas fundamentais, para que tudo o resto se desenvolva, concretamente: princípios, valores, sentimentos, deveres e direitos, que constituem um paradigma fortíssimo, para uma vida humana quase perfeita. Tal paradigma denomina-se por Direitos Humanos, independentemente do conceito que se possa adotar.
Pode-se considerar que, no seu todo, o conjunto dos Direitos Humanos é, hoje, ano de 2017, um dos paradigmas essenciais à Paz e Felicidade mundiais. Passaram-se séculos sobre séculos, com regimes políticos, religiões, filosofias, estratégias, metodologias e finalidades diversas, todavia, o principal objetivo ainda não foi alcançado, na generalidade dos povos de todo o mundo, precisamente porque os Direitos Humanos, na sua globalidade, ainda não estão a ser integralmente respeitados.
A situação de persistente e reiterada violação de tais direitos deve-se, talvez em grande parte, à ainda muito pouca educação/formação e sensibilização para este domínio da vida humana, pelo menos em muitos países, apesar de alguns destes se dizerem cumpridores dos preceitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Até há poucas décadas atrás, os investimentos neste tipo de conhecimentos e práticas, tinham permanecido no esquecimento e/ou ignorância intencionais. É uma matéria incómoda para quem não valoriza esta dimensão humana e beneficia, materialmente, com a sua violação, porque: «Os Direitos Humanos são fundamentos da liberdade, da justiça e da paz. O seu respeito permite a realização plena do indivíduo e da comunidade. O desenvolvimento dos Direitos Humanos tem as suas raízes na luta mundial pela liberdade, pela igualdade de todos os homens. As bases dos Direitos Humanos – tal como o respeito pela vida e dignidade humanas – podem ser encontradas na maioria das religiões e filosofias» (AMNISTIA INTERNACIONAL, 1997:2).
Modernamente, vem sendo hábito classificar os Direitos Humanos por gerações. Adotando-se a taxionomia proposta e respetiva terminologia, pode-se agrupar os Direitos Humanos em:
1) Primeira Geração: compreende a Liberdade nas suas várias vertentes, nomeadamente: liberdade de circulação, liberdade de consciência e de expressão, respeito pela personalidade, direito de propriedade. Os Direitos Humanos de primeira geração apresentam-se com uma característica comum, pois tratam de liberdades que são reivindicadas ao Estado, com o objetivo de preservar para o indivíduo, um espaço de liberdade, onde o Estado não se deve imiscuir;
2) Segunda Geração: situa-se nos denominados direitos económicos, sociais e culturais, designadamente os direitos: à saúde, à educação, ao trabalho, à segurança social, a um nível de vida decente. Para que possam ter a mesma importância ou estatuto que se atribuem aos de primeira geração, então é necessário exigir ao Estado as contrapartidas ou prestações adequadas, tais como: a construção de hospitais, medicina gratuita, escolas e professores em número e qualidade suficientes, intervenção do Estado na vida económica, despesas sociais pagas pelos impostos dos contribuintes. Perante esta geração de direitos, impõe-se um Estado-Providência, ao contrário dos direitos de primeira geração em que se aceita um Estado-Mínimo, que se limite a garantir e proteger as liberdades;
3) Terceira Geração: Direitos, eventualmente, um pouco vagos e/ou subjetivos, como: o direito à paz, ao meio-ambiente protegido, ao desenvolvimento harmonioso das culturas, entre todos os outros que não cabem nas gerações anteriores, mas que, contemporaneamente, se vêm reivindicando, por força de novas e confortáveis necessidades, muitas destas estimuladas por potentes técnicas publicitárias.
A violação dos Direitos Humanos, quando verificada, e inequivocamente comprovada, tem sido objeto de condenações genéricas, sem grande força jurídica e eficácia, no sentido de sancionar os prevaricadores e, em certos países, nem é permitido falar em violação de Direitos Humanos e, outros há, que muito velada e diplomaticamente, proferem alguma crítica, porque, infelizmente, outros interesses e valores estratégico-materiais se sobrepõem.
Valorizam-se, modernamente, determinados conhecimentos práticos, resultados objetivos, traduzidos em números, que culminam sempre em cifrões. Abordar o tema “Direitos Humanos” em alguns currículos, e em determinados períodos, pode significar, para os seus defensores, algumas situações próximas da indiferença, da exclusão e possível repressão, embora, noutros meios, se verifique o contrário, isto é, adesão e apoio a esta causa tão altruísta quanto justa.
Apesar das diversas e intencionais dificuldades na implementação de uma praxis para os Direitos Humanos, eles existem para serem cumpridos escrupulosamente e assumem-se como: «Prerrogativas concedidas ao indivíduo, tidas de tal modo essenciais que toda a autoridade política (e todo o poder em geral) teria a obrigação de garantir o seu respeito: os direitos do homem constituem as protecções mínimas que permitem ao indivíduo viver uma vida digna desse nome, defendido das usurpações do arbítrio estatal (ou outro); são, por conseguinte uma espécie de espaço sagrado, intransponível, traçam à volta do indivíduo uma esfera privada e inviolável.» (HAARSCHER, 1993:13).

Bibliografia


AMNISTIA INTERNACIONAL – Secção Portuguesa, (s.d). Declaração Universal dos Direitos do Homem, Lisboa
HAARSCHER, Guy, (1993). A Filosofia dos Direitos do Homem. Tradução Armando F. Silva. Lisboa: Instituto Piaget.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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domingo, 14 de maio de 2017

Virgem Celestial, abençoai-nos

Há momentos na vida de uma pessoa que, independentemente de convicções religiosas, mais intensas, ou não, percebe-se que existe uma outra dimensão, imaterial, metafísica que, no mínimo, nos leva a refletir sobre: o que realmente somos; o que estamos a fazer neste mundo terrestre; de onde viemos e para onde iremos pós-morte biológica? Questões que, de alguma forma, nos intrigam e nos deixam algo inseguros, porque nos faltam as “certezas rigorosas e técnicas”, a chamada “verdade científica”.
No presente ano de 2017 e, mais concretamente, a treze de maio, celebra-se o centenário da primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima, aos Pastorinhos, na Cova da Iria. Há quem acredite, quem duvide, quem não acredite, ou este tema lhe seja indiferente. Obviamente que se respeitam todas as posições, como de igual modo se pede que reverenciem as convicções daquelas pessoas crentes que, sem quaisquer dúvidas, aceitam as Aparições de Fátima.
Nesta reflexão, comemorativa de uma data tão importante para os crentes católicos, permitam-me analisar o evento pela perspetiva da Fé em Deus, através de Nossa Senhora de Fátima, na medida em que: «Fátima é uma das manifestações mais espetaculares da presença de Deus na História da Humanidade ao longo do século XX e com uma clara projecção para o nosso século XXI. Estamos perante um acontecimento que, quer queiramos quer não, faz parte da nossa memória coletiva e da nossa História não só nacional, mas do mundo. A História da Igreja em Portugal, a História de Portugal e mesmo a História Universal não podem ser escritas sem fazer uma referência a Fátima.» (TRINDADE, Manuel de Almeida (Bispo Emérito de Aveiro), in: CARVALHO, 2017:21).
Escamotear, ridicularizar, denegrir e humilhar os crentes cristãos por estes vivenciarem, intensa e publicamente, a Fé em Nossa Senhora de Fátima, parece configurar uma atitude, incompreensivelmente, preconceituosa, de alegada e infundamentada superioridade racional, como ainda, para algumas destas pessoas, entenderem que possuem um coeficiente intelectual muito elevado, quando, em boa verdade, no seio da população mundial crente, se multiplicam, precisamente, pessoas do mais alto nível racional e intelectivo, ocupando, na sociedade,  posições de imensa responsabilidade, a que ascenderam, justamente, pelas suas inigualáveis capacidades: inatas e adquiridas; pelas competências profissionais e pelas dimensões pessoais, seja no âmbito material; seja no círculo mais íntimo da espiritualidade.
Invocar Maria, todos os dias do ano, todos os segundos da nossa vida, revela humildade, fragilidade humana para a qual pedimos, incessantemente, proteção, porque se a “Fé é que nos salva”, então devemos ser coerentes e não nos recordarmos d’Ela, apenas, quando estamos aflitos, de resto como refere o aforismo popular: “Só nos lembrarmos de Santa Bárbara quando troveja”.
A dimensão espiritual da pessoa humana, revela-se em todos os momentos da vida, mesmo naquelas criaturas não-crentes, porque sendo elas, igualmente racionais, inteligentes e pensantes, reconhecem, ainda que para si próprias, que existe “Algo” para além de toda a materialidade de que se compõe o corpo humano, e tudo o que o rodeia.
Nesta dimensão espiritual a figura santificada de Nossa Senhora de Fátima é incontornável, e pode-se considerar que o seu Santuário é um dos mais visitados do mundo, com uma afluência de peregrinos impressionante. Fátima, “arrasta” multidões de todas as idades, etnias, estatutos, condições socioprofissionais, crentes de todo o mundo, muitos dos quais têm um sonho na vida: visitar este simples, mas imponente, “Altar do Mundo”, o Santuário de Fátima, em Portugal.
Com efeito: «É evidente que Fátima tem uma importância especial, única, que não têm outros Santuários. A importância de Fátima deriva da importância da Mensagem, que é, antes de mais, um apelo à fé. Num mundo em que a fé está a desaparecer, em que os ateus aumentam, é um apelo ao mundo de hoje para viver a fé que os cristãos professam, não só teoricamente, mas concreta, vivida, existencial.» (MARTINS, D. José Saraiva, Prefeito Emérito da Congregação Para as Causas dos Santos, 2016, in: CARVALHO, 2017:117-118).
Os Portugueses, na sua maioria, certamente, que se orgulham de Fátima, do seu Santuário, da afluência de crentes peregrinos e, provavelmente, até de turistas religiosos, ou não, que, diariamente, visitam aquele local Sagrado, porque eles sentem-se: reconfortados nas suas dificuldades; mitigados nas suas dores; e esperançados numa interceção miraculosa da Virgem Santa e, não se pode (nem deve) duvidar de quem se considera “atendido” nas suas preces.
Numa retrospetiva político-ideológica, e talvez nacionalista, alguém afirmava, designadamente, no antigo regime ditatorial em Portugal, que o nosso país era conhecido por atributos muito específicos e consubstanciados em três “F’s”: Fátima, Fado e Futebol. Acredita-se que não haverá ofensa premeditada e humilhante contra a religião católica, então em vigor, inclusive, apoiada pelo próprio Estado, contudo, será sempre de bom-senso, separar estas atividades, muito embora, todas elas constituam atributos nacionais, nada despiciendos.
Importa, isso sim, nesta reflexão, analisarmos a importância da crença em Nossa Senhora de Fátima, ou seja:  como podemos reforçar a Fé que a Ela nos une e, na medida do possível, trazer, pela conversão, mais aderentes a esta Força Espiritual que Ela nos transmite; aceitarmos a sua proteção, sem reservas nem complexos; implorarmos sempre a sua benevolência e interceção junto de Deus, porque, mesmo para os não-crentes, nada há a perder, pelo contrário, ganha-se: confiança, tranquilidade e paz.
Neste treze de maio de dois mil e dezassete, é tempo de festejar a primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima, aos três pastorinhos: Jacinta, Francisco e Lúcia,  que tiveram a felicidade de desfrutarem da visão esplendorosa e da presença luminosa de Nossa Senhora de Fátima, que os premiou pela sua Fé, pela sua inocência e pela importância que iriam ter o mundo, de resto, e como se sabe: «Depois da beatificação  de Jacinta e Francisco, em Fátima, pelo Papa João Paulo II, em 13 de maio de 2000, todos esperamos, ansiosos, que seja o Papa Francisco a canonizar os irmãos beatos e a presidir à beatificação de Lúcia.» (CARVALHO, 2017:141).
Hoje, é cada vez mais necessário vivermos de forma superior, precisamente, adotando uma cultura de grandes princípios, valores e sentimentos, onde a religião tenha um lugar de destaque e, na circunstância, nós, Portugueses, possamos continuar a venerar a Virgem de Fátima, depositando n’Ela: as vicissitudes da vida; orando para que Ela nos defenda de todos os males possíveis, tal como a Mãe que ama, intensa e infinitamente os seus filhos; curiosamente, não é por acaso que o “Dia da Mãe”, também se celebra no mês de maio e não é uma feliz simultaneidade, mas antes, uma opção de Fé.
Virgem Mãe, também a nossa Mãe biológica, ou adotiva, ou de acolhimento, todas, porém, com amor de Mãe, que nos amam, nos orientam na vida, que nos protegem até ao limite das suas forças. Esta Mãe Celestial, que sempre vela por nós, tem de ser venerada, respeitada e a Ela lhe pedimos para nos acompanhar sempre, porque sem esta dimensão espiritual, e a Fé nesta Mãe adorável, teremos muitas dificuldades em nos afirmarmos nas duas dimensões que integramos em nós: o corpo físico; a alma inefável espiritual.
Nestes cem anos de devoção intensa a Nossa Senhora de Fátima: é provável que continuem a existir dúvidas sobre as aparições de 1917; é compreensível que os não-crentes continuem a manterem-se afastado de todas e quaisquer cerimónias religiosas, peregrinações, cumprimento de promessas e de outras manifestações de adoração à Virgem Celestial, até porque, em boa verdade, compete aos crentes, exteriorizarem respeito por tais comportamentos.
Em todo o caso, pode-se aceitar que: «A mensagem de Fátima mostra-nos uma experiência universal e permanente: o confronto entre o bem e o mal que continua no coração de cada pessoa, nas relações sociais, no campo da política e da economia, no interior de cada país e à escala internacional. Cada um de nós é interpelado a corresponder ao chamamento de Deus, a combater o mal a partir do mais íntimo de si mesmo, a compreender o sentido da conversão e do sacrifício, em favor dos outros, como fizeram os três pastorinhos, na sua pureza e inocência.» (Ibid.:130).
São biliões as pessoas que em todo o mundo creem em Nossa Senhora de Fátima, independentemente do nome que se possa seguir ao título de “Senhora”: Fátima, Aparecida, Lourdes, Dores, Rosário, Minho, Assunção, Remédios, Desatadora dos Nós, Imaculada Conceição, dos Milagres e tantas dezenas de outros nomes. Nossa Senhora é sempre a mesma, una e indivisível, Mãe de todos nós, que nunca nos abandona, se quisermos sintetizar, diríamos: Nossa Senhora do Mundo, ou Nossa Senhora da Paz.
Na celebração deste centenário, invoquemos Nossa Senhora de Fátima, roguemos-lhe que conceda a todas as pessoas e ao mundo; saúde, estabilidade, segurança, amor, felicidade e paz e não esqueçamos que: «Na sua dupla dimensão mística e profética Fátima – na sua mensagem e no seu Santuário – tem uma missão a cumprir na Igreja e no mundo: ser farol e estímulo para a conversão pastoral da Igreja e critério e bússola a orientar o compromisso dos cristãos nos conflitos do nosso mundo» (Ibid.:136).

Bibliografia.

CARVALHO, José, (2017). Francisco e Nossa Senhora. Um Amor Incondicional. S. Pedro, do Estoril: Prime Books

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689

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domingo, 7 de maio de 2017

Mãe: Amor Inquebrantável

Tenho plena consciência que todos os dias são próprios para se invocarem princípios, valores, sentimentos, situações, eventos, comemorações e quaisquer outras intervenções: públicas ou privadas; nacionais ou internacionais, por isso, considero que os “chavões” que defendem que todos os dias devem ser atribuídos, por exemplo, à Mãe, o que: por um lado, na verdade, concordo, com essa atitude; mas, por outro aldo, também aceito e admito que haja um dia no ano, no qual se destaque uma celebração que é, em bom rigor, o culminar de todos os restantes dias do ano, dedicado a uma figura, ou acontecimento, significativos.
O dia mundial dedicado a todas as Mães, insere-se nesta lógica, que simboliza todos os sentimentos, preocupações e dedicação que, a esmagadora maioria dos filhos a ela lhe dedicam, não se duvidando que, salvo dolorosas e extraordinárias exceções, os filhos amam as suas Mães e se estas são, ilimitadamente, corajosas, generosas e abnegadas, ao ponto de darem a vida pelos seus entes mais queridos, também estes têm idênticas virtualidades, de resto, é assim mesmo que deve ser.
Mais um ano se passou desde a última celebração do “Dia da Mãe” e, podem afirmar os mais céticos, que nada mudou: que os maltratos para com os idosos, ou até mais jovens progenitores, se têm mantido e, eventualmente, aumentado; todavia, analisar a situação pelo lado positivo, sem ignorar tais realidades, parece ser a melhor perspectiva.
Interpretar, com profundo amor, os sentimentos e emoções das nossas Mães, em relação a nós, seus filhos diletos, é uma atitude que só nos dignifica, independentemente, de continuarmos a ter o privilégio da companhia física de nossas Mães, ou apenas a presença espiritual, e a saudade que dela temos, porque ela será sempre, e em quaisquer circunstâncias, a nossa Mãe, que devemos honrar, glorificar e orgulharmo-nos dela.
Poder-se-ia invocar, agora e aqui, um velho aforismo, segundo o qual: «Mãe há só uma; mulheres há muitas», isto para significar que nenhuma mulher substitui, à partida, a nossa Mãe, tal como nenhum homem, marido, irmão, namorado, amante, amigo, colega a pode permutar, respeitando-se, todavia, as situações de autêntico amor de Mães e Pais adotivos, Madrastas e Padrastos, que, felizmente, ainda há muitos.
É possível que, entre o ser-se filho e mãe/Pai, exista alguma vacilação quanto a um provável nível “hierárquico” de sentimentos, ou seja: a minha Mãe foi tudo na minha vida; mas o meu filho, também é a minha maior alegria, o meu grande tesouro. Então torna-se difícil posicionar-se entre o amor que sinto pela minha Mãe e o amor que vivencio pelo meu filho.
Claro que não existe qualquer dificuldade, porque são amores, fortíssimos, porém, distintos. A Mãe, por qualquer um destes amores, “in extremis”, seria capaz de dar a própria vida, para os salvar. O mesmo se pode aplicar em relação ao Pai que, tal como a Mãe, tem, igualmente, sentimentos autênticos, indestrutíveis e inquebrantáveis, para todo o sempre.
Mas neste dia consagrado à Mãe, é dela e com ela que devemos conversar, conviver, física e/ou espiritualmente. É verdade que todos os dias são adequados e mais do que isso, dedicados à Mãe, todavia, isso não está em causa. O que aqui se pretende é recordar, nomeadamente, às pessoas mais distraídas, que esta nobre função, única no mundo, de ser Mãe, merece, realmente, um dia especial, de apogeu, de consagração, mas também de meditação sobretudo, quanto de bom ou de errado, fizemos ao longo do ano, em relação à nossa Mãe.
Numa sociedade complexa, acelerada, um tanto ou quanto, materialmente egoísta, não é fácil ser-se Mãe, não enquanto fêmea procriadora, mas outro sim, Mãe na verdadeira aceção dos seus sentimentos e responsabilidades. Mãe em todas as dimensões que ao ser humano competem.
Atualmente, primeiro quarto do século XXI, é impossível ignorar e não valorizar o papel da mulher, que, nas suas múltiplas funções de: filha, esposa, Mãe, avó, trabalhadora em vários domínios - numa profissão fora do lar; nas lides de casa -, colega, dirigente de uma qualquer organização, empresária, investida em funções sociais, políticas, judiciais, religiosas, académicas, entre muitas outras, de tudo dando boa conta, com inexcedível competência.
Enaltecer o papel da “Mulher-Mãe”: constitui um ato de justiça da sociedade no seu todo; mas também o reconhecimento da sua importância, num mundo extremamente difícil, repleto de problemas, da mais diferente e imprevisível natureza; conceder às Mães, a todas as Mães do mundo, as condições éticas, morais e materiais para que elas possam exercer, plenamente, esta notável e sublime missão, é uma obrigação de todos os Governos, das empresas, da família.
É a partir da intervenção sensata, amorosa e benevolente da Mãe, no seio da família, que se fomenta a educação e formação das mulheres e dos homens do futuro, naturalmente, em consonância com o Pai, porque ambos são os principais pilares que, inicialmente, nos protegem das vicissitudes da vida, que nos orientam para objetivos verdadeiramente humanistas, também materiais e espirituais.
Mãe, palavra morfologicamente tão pequenina, contudo, simbolicamente grandiosa. Ela, a palavra Mãe, comporta, em cada letra, um significado profundo que muito dificilmente, algum outro animal consegue igualar: “M” de maternidade, uma dimensão maravilhosa, que a maioria das mulheres espera e deseja realizar; “A” de amor, sentimento que, tanto quanto se julga saber, não existe em nenhum outro ser vivo, tão intensa quanto conscientemente, embora se aceite que poderá haver noutros animais, que serão, eventualmente de proteção das suas crias, ou algo do género; “E” de energia vital, inata, para enfrentar todos os obstáculos da vida e vencê-los em benefício dos seus filhos.
Curiosa é a posição da letra “A” que, tanto na palavra Mãe como na de Pai, ambas, igualmente com três letras, mas em que o “A” de amor, fica sempre no meio, porque não devemos ter dúvidas, até prova em contrário, que tanto a Mãe como o Pai, são fontes de amor genuíno, não interessando agora as infelizes exceções de algumas mães e muitos pais.
Certamente que em vista das leis positivas, há deveres e direitos das Mães e Pais para com os filhos, como, igualmente, destes para com os seus progenitores, mas no que respeita, aos sentimentos mais profundos de uma Mãe, pelos seus filhos, nenhuma lei humana estipula quais os limites, a sua natureza, a intensidade e a dádiva com que eles são vivenciados, porque a Mãe tem a noção de quanto representam, e o que significam os seus filhos, quase sempre fruto do amor que a levou a entregar-se ao homem amado, Pai dos seus filhos.
A Mãe, também na sua dimensão de esposa, tem o direito de ser amada, incondicionalmente, pelo seu companheiro, Pai dos seus filhos que ela gerou no mais íntimo do seu corpo: durante longos, por vezes dolorosos, meses; outras vezes com inefável amor, prazer e alegria, porque se trata de uma nova vida, inocente, indefesa, porém, amada, desde o momento da conceção. É indiscutível que: «As mães são o antídoto mais forte para a propagação do individualismo egoísta. “Indivíduo” quer dizer que não se pode dividir”. S mães, em vez disso, “dividem-se” quando hospedam um filho para dá-lo ao mundo e fazê-lo crescer.» (Catequese, 2015, in FRANCISCO, 2016:99)
Neste “Dia da Mãe”, todos nós, mulheres e homens, temos a obrigação de louvar a nossa Mãe, a nossa esposa e/ou marido, porque é nesta bidimensionalidade e conjugação física, espiritual e sentimental de atos íntimos que o ser humano, desejável e conscientemente, produz: o milagre da vida; o rejuvenescimento da humanidade; e a educação de crianças e jovens para um mundo bem melhor. A Mãe, tal como o Pai, estão no centro deste milagre da vida. Um beijo à minha Mãe, com saudade eterna.

Bibliografia.

PAPA FRANCISCO (2016). Todos os Dias com Francisco. Prefácio, Padre Vitor Melícias. Selecção e Organização, Helder Guégués. Lisboa: Guerra & Paz, Clube do Livro.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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segunda-feira, 1 de maio de 2017

Trabalhador: Recurso Insubstituível

Ponto prévio: ao longo desta reflexão, quando me refiro ao trabalhador, obviamente, estão incluídas as mulheres e os homens. É já um lugar comum afirmar-se que “tal dia é o dia de celebração de um determinado evento”.  Esta assertiva, realmente, é muito utilizada, eventualmente: por um lado, para se desvalorizar o que se pretende comemorar; e, por outro lado, para reivindicar que todos os dias são próprios para tal celebração.
De facto, todos os dias, por exemplo, deveriam ser dedicados, na circunstância, ao “Trabalhador” e, pelas melhores razões, todavia, isto não deve retirar o mérito ao simbolismo e dignificação do que se pretende divulgar e festejar quando há motivo para alegria, ou recordar com dor e nostalgia, outros dias que nos lembram acontecimentos menos bons, por isso, estipular o “Primeiro de Maio” como o “Dia do Trabalhador”, é uma homenagem mais que merecida e que, nesse dia, se concentram todas as dificuldades e vitórias, que eles vão sofrendo e conquistando, respetivamente, ao longo da vida profissional.
Tudo indica que, em Portugal, atualmente, ano de 2017, os trabalhadores já conseguiram reaver parte dos salários que lhes tinham sido retirados, por força de “brutais” impostos, aplicados em consequência das violentas medidas de austeridade, coerciva e unilateralmente fixadas, por entidades estranhas ao país, e com a indisfarçável conivência de muitos responsáveis nacionais.
O clima social e laboral que hoje se vive em Portugal é relativamente pacífico. Existe bastante otimismo quanto ao futuro que se prevê: para os trabalhadores por conta de outrem, em geral; e para os independentes, melhores condições salariais, desde já a partir do aumento do vencimento mínimo nacional que, sendo insuficiente, sempre é bem melhor, porque mais substancial do que nos tempos de uma severidade desumana.
Neste “Primeiro de Maio”, e desde há vários anos, existem, portanto, motivos suficientes para que os trabalhadores, que em Portugal exercem as suas atividades, estejam mais felizes, mais confiantes e saiam para a rua, em manifestações de: por um lado, reconhecimento e gratidão pelos sucessos que já conseguiram alcançar; por outro lado, continuem a reivindicar melhores condições de trabalho ao nível  da higiene e segurança, também na educação/formação, ordenados mais substanciais, um serviço nacional de saúde tendencialmente gratuito, reformas compatíveis com a dignidade humana e por um abaixamento dos impostos que, apesar das alterações introduzidas nos últimos meses, continuam, ainda assim, muito elevados.
Compreende-se, muito bem, que por via dos avanços irreversíveis da ciência e da tecnologia, os trabalhadores, naturalmente: mulheres e homens, como já foi salvaguardado no início, sendo substituídos, frequentemente, por máquinas, já outro tanto não se entende que, após a substituição, os recursos humanos, sejam, desumana e inexoravelmente “descartáveis”, como se se tratassem de simples peças, de uma qualquer engrenagem.
As pessoas não são máquinas, nem objetos inúteis. Elas estão dotadas de dimensões insubstituíveis, tais como: a ambivalência físico-espiritual; a componente axiológica com todo um conjunto de valores ético-morais; o elemento, fortíssimo, que constitui toda uma panóplia de sentimentos e emoções; ainda, e não se fica por aqui, a autêntica e infalsificável dignidade que é própria da pessoa verdadeiramente humana.
Um trabalhador, seja por conta de outrem, seja por conta própria, ou inserido numa sociedade empresarial, de que faz parte, é sempre um recurso com mais valia, desde que lhe concedamos, obviamente, os direitos que legítima e legalmente estão consagrados: não só na Lei Fundamental; como também na legislação avulsa, nacional e internacional, certamente, exigindo-se-lhe, também, o cumprimento dos deveres, inerentes à sua condição profissional.
Um dos direitos dos trabalhadores, é, por exemplo, formação contínua, anal, conforme estipula o respetivo Código do Trabalho. Em Portugal, assistiu-se, durante algum tempo, à implementação de medidas legais, no sentido da qualificação dos trabalhadores de todas as áreas de atividades, quando se executou um projeto de educação-formação de jovens e adultos, que funcionou em todo o país, em mais de quinhentos Centros de Novas Oportunidades e centenas de escolas profissionais.
Mais de meio milhão de Portugueses, tiveram a possibilidade de verem a sua escolaridade melhorada, formação permanente consolidada e, por esta via, progredirem nas suas carreiras profissionais, ascender a diversas formações, cujo nível literário de acesso se exigia superior, ao que possuíam.
Concedendo-se algum benefício de dúvida, quanto a metodologias, estratégias e avaliação, este projeto foi abruptamente destruído em agosto de 2012, ficando centenas de milhares de adultos, trabalhadores no ativo e desempregados, sem a possibilidade de prosseguirem, e concluírem as respetivas habilitações literárias, bem como o Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC), adquiridas ao logo da vida.
Será compreensível afirmar-se, salvaguardando-se alguma eventual imprecisão,  em relação aos respetivos responsáveis, que nessa época quem já “mandava” em Portugal e, tacitamente, nos trabalhadores, eram três instituições: Fundo Monetário Internacional (FMI); Banco Central Europeu (BCE) e União Europeia (UE); e meia dúzia de tecnocratas, a tão tristemente “famosa” Troica, assim escrito, em bom português, dispensando-se o termo estrangeiro de “Troika”.
Os trabalhadores, suas famílias e até centenas de empregadores, mereciam, indiscutivelmente: melhor e mais consideração; respeito e valorização, porque o projeto, “Incitava Novas Oportunidades”, destinava-se a todos os adultos portugueses, mas não só, também estrangeiros legalizados, nomeadamente, todos aqueles oriundos da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa -, estes com o acesso mais facilitado por via da língua comum.
Trabalhadores que em Portugal exerciam as suas atividades produtivas, que pagavam os seus impostos, ficaram privados de evoluírem academicamente. Não se respeitou ninguém, porque, então, mais importante do que as pessoas, eram as estatísticas, os défices, a austeridade cruel, injusta, inconstitucional em algumas medidas legislativas, que se pretendiam impor coercivamente.
Hoje, em grande parte, os trabalhadores já  têm fortes motivos para olhar o futuro com mais credibilidade, um porvir que não lhes negue o pão que têm de colocar na mesa  para sustentar os filhos, a família, por vezes diversos parentes que vivem em comunhão de mesa e habitação, podendo pensar numa vida mais confortável para todos, por isso, neste  “Primeiro de Maio de 2017”, existem boas razões para se realizarem comemorações compagináveis com a dignidade dos trabalhadores, em Portugal e em todo o Mundo Democrático e Civilizado.
Sim, é verdade, todos os dias são “Dia do Trabalhador”, da Mulher, da Mãe, do Pai, dos Namorados e dezenas de muitos outros, mas é evidente que não é viável estar em festa, comemorar todos os dias do ano, a propósito do mesmo assunto, portanto, é excelente que se defina um dia em cada ano para se celebrar um tema, que sempre interessa a uma parte da humanidade.
Neste dia internacional do trabalhador, é importante, e decisivo, que as entidades públicas, empresariais, empregadores e quaisquer outras instituições ligadas ao mundo do trabalho, reconheçam no trabalhador, independentemente do seu estatuto socioprofissional, etnia, idade, confissão religiosa, convicção político-ideológica, valores socioculturais e quaisquer outros elementos, um património insubstituível, indescartável, que deve ser respeitado dentro e fora do seu local de trabalho.
E se a máquina substitui o trabalhador, convém recordar que é o profissional, neste caso, científico-tecnológico, que inventa a máquina, que a repara quando ela avaria e que a substitui, também, por outra mais moderna, mas isto é compreensível para qualquer tipo de ferramenta, enquanto objetos de trabalho.
Ao trabalhador exige-se-lhe: por um lado, que seja competente, produtivo, atualizado, assíduo, que “vista”, inequivocamente, a camisola da sua empresa; por outro lado, deve-se-lhe conceder, sem regatear, todos os direitos legítimos, justos e legais, que por mérito próprio lhe sejam reconhecidos, e assim possa ascender na sua carreira profissional.
É com estas duas componentes: deveres e direitos, que temos a obrigação de festejar o “Primeiro de Maio”, com os trabalhadores, aqui se considerando empregados e empregadores, para eles e para as suas famílias. Para a sociedade de que todos fazemos parte integrante.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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