A Escola para este século XXI, tal como o professor
que a vier a integrar, devem conhecer as diversas culturas, pelo menos aquelas
que transportam os alunos que a frequentam, tornando-se fundamental entender os
seus valores, os modelos de socialização, estilos de aprendizagem e suas
interrelações, a língua, os problemas económicos, sociais, políticos e
religiosos.
A educação, através da Escola, deve reforçar
algumas qualidades sem as quais não sobreviverá no mundo contemporâneo.
Valorizar a autonomia pessoal, a busca do verdadeiro conhecimento (até onde for
possível chegar à verdade), a solidariedade, a humildade, a gratidão, a
generosidade, a lealdade, e a coragem. Como formar este professor, é uma tarefa
que se impõe aos governos, mas também aos próprios, e que passa por um novo
conceito: formação ao longo da vida, com a vida e para a vida; formação
contínua.
Assiste-se, atualmente, a conflitos regionais, que
nos impressionam e envergonham, e por isso, a formação deste “Cidadão Universal” constitui um
indeclinável imperativo, que aos governantes de todo o mundo se exige que
ponham em prática, porque o currículo para a Cidadania pressupõe toda uma
dimensão económica, social, política, religiosa e cultural, que cruza
diferentes objetivos e áreas de conteúdos, assinalada com idêntica ênfase pelo
pensamento moderno e pós-moderno.
Por outro lado, cabe ao estudante, como principal
agente da elaboração do seu próprio projeto de vida, ter a honestidade intelectual
de se autoavaliar nas suas capacidades, nos seus legítimos e íntimos desejos,
nas suas mais profundas aspirações. É certo que neste processo de construção de
um projeto de vida, os jovens necessitam dos apoios indispensáveis da família,
dos professores e serviços especializados.
Neste mundo da pós-modernidade existe um campo
infinito de conceitos, temáticas e assuntos, nas mais diversificadas áreas do
conhecimento e da técnica, que podem e devem ser trabalhados de uma forma mais
intensa e, justamente, adequada a esta sociedade contemporânea, tão exigente e,
por vezes, tão intolerante.
Nesta perspectiva, um dos conceitos que mais pode
influenciar no bem-estar geral da sociedade, o que melhor significado dá ao
sentido da vida humana, naquilo que ela comporta do ser e do agir, em
conformidade com os grandes princípios e valores ético-morais, é o conceito da
Cidadania que, não é igual em todo o mundo, porque ao longo da História e das
culturas, tem merecido diversas abordagens e interpretações: «A cidadania activa através da participação
popular é considerado um princípio democrático, é a realização concreta da
soberania popular, é muito mais que uma actividade eleitoral que se esgota
apenas na escolha do voto, a cidadania activa a que me refiro supõe a
participação da população de forma livre, soberana, visando uma transformação,
consciente e comprometida com a sociedade.» (BARÃO, 1998:38).
Com efeito, ouve-se, e invoca-se, diariamente, esta
palavra mágica, porém, os comportamentos que ela postula não têm sido
compatíveis com a dignidade do conceito, e por muito que o mundo se desenvolva,
em termos científicos e tecnológicos, as inovações sejam cada vez mais, ao
ponto de se tornarem realidades, a maior parte, desejos utópicos do homem, nada
mais será importante se ele, o homem, não conseguir acompanhar toda esta
panóplia de determinismos, (naturais e/ou por si impostos) com rigor, educação,
respeito pelo outro, cumpridor dos seus deveres e responsabilidades.
Considera-se essencial para a sociedade, aprofundar,
o mais possível, toda uma estratégia e metodologias adequadas, em ordem à
valorização da educação para a cidadania, tendo esta como objetivo a preparação
da criança, do jovem e do adulto, para a participação responsável dos cidadãos
na vida pública do país, através de processos de representação política, e do
empenhamento das Instituições da sociedade civil, tendo como base os princípios
e valores fundamentais da Democracia. Como é óbvio, esta participação implica
um conjunto de conhecimentos, competências, capacidades e atitudes, voltadas
para a intervenção ativa, e que também cabe à escola transmitir aos cidadãos.
A educação,
por meio dos seus currículos e procedimentos da vida escolar, tem um papel de
grande importância e responsabilidade no desenvolvimento das competências
cívicas dos indivíduos, o que é decisivo para o Estado de Direito Democrático.
Justifica-se, mais uma vez, a necessidade de os
professores se empenharem apenas em atividades docentes, curriculares e
extracurriculares, porque a educação para a cidadania democrática é, sem
dúvida, fundamental neste novo mundo: repleto de desafios, de interrogações, de
incertezas e de complexidade.
A cidadania abrange uma série de questões
essenciais para a vida em sociedade, nomeadamente: o pluralismo
político-ideológico, a diversidade cultural, a resolução de problemas e
conflitos de forma pacífica; a cultura de um espírito de tolerância, de
equilíbrio entre a mudança e a tradição.
A educação para a cidadania revela-se, portanto, de
uma importância extrema e exige-se que lhe seja dada uma atenção especial, de
imediato à interiorização e praxis de comportamentos assentes na afetividade, a
par com os paradigmas racionais porque, atualmente, a dimensão cognitiva ou o
saber teórico não são suficientes. Na verdade, as vivências pessoais,
emocionais, afetivas e cívicas são, igualmente, muito importantes.
O Professor-formador-educador experiente, sabe que
o currículo para a cidadania pressupõe uma abrangência social e política, que
visa preparar os jovens para o confronto com uma sociedade aberta,
pluri-étnico-intercultural, porque não se pode ignorar que as mudanças envolvem
e afetam profundamente os domínios social, cívico, cultural, político e até
religioso.
É neste contexto educativo, que se revela
fundamental as denominadas atividades extracurriculares que o professor do
século XXI, certamente, se empenhará, se lhe forem dadas as condições para
desenvolver currículos e conteúdos de âmbito informal porque, concordando-se ou
não: «As actividades extracurriculares
constituem uma óptima oportunidade para a escola e os professores demonstrarem
cuidado. A atmosfera informal que normalmente caracteriza estes momentos dá aos
estudantes e professores a possibilidade de interagir fora do esquema
hierárquico que costuma caracterizar a relação professor-aluno. Também o facto
de estarem ambos, professor e aluno, empenhados em tarefas com um objectivo
comum (como, por exemplo, a produção de um jornal escolar) tende a aproximá-los
de uma forma que as actividades da sala de aula raramente proporcionam.»
(HARGREAVES, et. al. 2001:87).
Deve ser cada vez mais significativa a preocupação
com a preparação dos docentes, não apenas na perspectiva académica,
materializada na obtenção de um determinado grau, mesmo que seja na área da
educação, na medida em que tal distinção não constitui requisito suficiente
para se considerar um professor, um profissional.
A formação contínua é fundamental, porém, depende
da dedicação de cada um na sua própria profissão e, antes de tudo, mais
importante que formar é formar-se, até porque todo o conhecimento é, também, autoconhecimento,
e que toda a formação deverá ser autoformação, ao longo da vida, no ativo e/ou
na reforma.
Surge, então, a necessidade de um novo
interveniente no processo educativo-formativo: o professor-formador. A
terminologia pode parecer pouco usual, e nem sempre a separação do professor e
do formador é assim tão nítida, porque o termo “formador” continua a merecer
uma conotação que não se distancia, ainda hoje, dos sistemas de formação
tradicionais, porém, com o avanço tecnológico, designadamente nos espaços de
produção, desenvolveram-se novas necessidades que alteram, significativamente,
a prática de formação e o papel do formador-educador o qual não é, nem pode
sê-lo, no futuro, rotineiro e repetitivo transmissor de conhecimentos, de
conteúdos normativos, previamente selecionados e posteriormente avaliados, a
partir da repetição dos conhecimentos memorizados, embora nem sempre bem
compreendidos e, eventualmente, sem aplicação prática.
Muito mais profundamente: «É preciso que o educador assuma a sua responsabilidade política, com
competência técnico-científica, no contexto de uma pedagogia voltada para a
formação da cidadela ampliada, rompendo a mistificação da ideologia da
cidadania, em consonância com a práxis revolucionária da luta de classes, na
conquista de uma sociedade justa e igualitária.» (DEBREY 1999:650).
O formador tem de se metamorfosear num orientador,
num conselheiro, num organizador de aprendizagens, num colaborador e
programador de saberes, em contextos de formação, também eles possibilitadores
de transformação.
Poder-se-á aceitar que as denominações de professor
(no sentido de investigador, teorizador, divulgador e construtor de novos
conhecimentos) e formador (na perspectiva totalizante, de educar, preparar e
formar, integralmente, o indivíduo para a vida) serão suscetíveis de um
processo eclético, que conduza a uma nova terminologia, a partir da construção
deste novo interveniente.
Trata-se do Professor-Formador, que urge
reconhecer, porque, o tradicional professor, desenvolve: «uma profissão que hoje em dia se considera de risco e/ou está em risco,
caso os professores continuem a afirmar-se como transmissores de conhecimentos
memorizáveis ou como burocratas incapazes de tomar iniciativas pedagógicas
reflectidas, singulares e baseadas em valores humanistas e democráticos.»
(ROCHA, 2005:2).
Bibliografia
BARÃO, G. V. (1998). Educação e Cidadania: a Formação do Cidadão
Activo. Campinas: Pontifícia Universidade Católica de Campinas – Faculdade
de Educação, (Monografia para título de licenciamento em Pedagogia).
DEBREY, J. C. A. (1999).
“Cidadania e Educação”, in Fragmentos de
Cultura. Goiânia – Brasil: Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás –
Sociedade Goiana de Cultura, Vol. 9, (3), pp. 473-762
HARGREAVES,
A.; EARL, L.; RYAN, J. (2001). Educação para a Mudança.
Reinventar a escola para os jovens adolescentes. Tradução Inês Simões.
Porto: Porto Editora
ROCHA, A. F. S. (2005). Abandono Escolar: Respostas Educativas. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar).
Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya. (Não
publicado)
Diamantino Lourenço
Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689
Imprensa Escrita Local:
Jornal: “Terra e Mar”