domingo, 27 de novembro de 2016

A Transitoriedade do Poder

O exercício do Poder, qualquer que seja a sua natureza: parental, militar, político, religioso, empresarial, institucional, social, entre outros, não é imperecível, bem pelo contrário, quantas vezes acontece que o seu período de duração, inicialmente previsto, é interrompido, pelos mais diversos motivos: falecimento, doença grave impeditiva, perda de mandato devida a atos injustos, ilegítimos e/ou ilegais cometidos, indignação dos subordinados com recurso à força, greve e/ou à justiça, para derrubar aqueles que, abusando do Poder, perseguem, humilham, discriminam, negativamente, uns em favor da concessão de privilégios a outros. O Poder é, portanto, efémero.
Quando alguém é promovido, nomeado ou eleito para o exercício de um determinado Poder, não deve ignorar as suas origens pessoais, a proveniência social, profissional e estatutária que ao longo da vida tem adquirido, bem como ter sempre presente que o exercício do Poder, é tanto mais valorizado quanto possibilita a resolução de problemas e situações negativas, que afetam os subordinados do detentor desse mesmo Poder.
Com efeito, prejudicar alguém: física, psicológica, moral, profissional e financeiramente, através do Poder despótico, desumano e persecutório, é próprio de líderes doentes, fracos e cobardes, que se escudam nas competências que, alegadamente, as normas lhes conferem, para dominarem, quantas vezes, impiedosa e ilegitimamente, todas as pessoas que se lhes opõem lealmente, ou não concordam com as suas ideias, ou, ainda, lhes não satisfaçam as vontades, por vezes as mais disparatadas, ou até ofensivas à honra, reputação, bom-nome e dignidade do empregado.
É insuficiente ser-se promovido, nomeado ou eleito para uma específica liderança, se a pessoa que vai assumir o Poder, estiver imbuída de planos, estratégias e métodos ardilosos, que visam interesses próprios ou de “compadrios” ou, ainda, de uma certa “clientela”, em prejuízo dos demais colaboradores.
O exercício do Poder não é compatível com atitudes negativamente discriminatórias, de favorecimento de uns tantos amigos em prejuízo dos restantes colaboradores e, em circunstância alguma, é admissível qualquer tipo de perseguição, represália ou vingança, porque estes comportamentos são próprios dos ditadores, com caráter duvidoso, sem princípios, nem valores nem sentimentos.
Toda e qualquer liderança que promove a divisão, o favorecimento e privilégios para os amigos, e que à mais insignificante falha dos demais, logo aciona os mecanismos para a punição, de forma arbitrária, unilateral e ilegítima, quando não, ilegal, não tem condições para exercer o Poder com dignidade e humanismo.
É sabido que o Poder é efémero: “dura enquanto durar”, por isso, mais cedo ou mais tarde, termina e, muitas vezes da pior maneira para quem o exerceu com autoritarismo, com parcialidade, com abuso, logo, é importante que as lideranças reflitam sobres os processos, estratégias a que recorrem, os objetivos que perseguem, porque não há, não pode haver, pessoas, colaboradores, empregados, cidadãos de primeira, de segunda ou de terceira categorias.
A pessoa humana nasce livre e igual, com deveres e direitos consagrados nas normas sociais, no direito consuetudinário, nas normas jurídicas, nos usos, costumes e tradições. Naturalmente que os preceitos sociais, que não são de cumprimento obrigatório, poderão não ser suscetíveis de punição quando violados, todavia a comunidade poderá produzir a censura que ao facto couber.
O cumprimento dos princípios e normas legais, obviamente, compete sempre, em primeira instância, a quem exerce o Poder, que tem o dever de dar os melhores exemplos para os seus subordinados, sem o que não terá autoridade ético-moral nem profissional, para exigir o que ele próprio não cumpre ou não sabe executar, respetivamente. Não basta mandar, não chega ser-se chefe de qualquer organização ou setor, para impor aos outros o que arbitrariamente lhe vai na cabeça.
A sociedade está cada vez mais repleta de líderes autoritários, em que a vaidade do Poder, lhes perturba a pouca inteligência e as fracas ideias que possam ter. Hoje, há “líderes” que pela sua inexperiência de vida, pelo narcisismo que levianamente alimentam e pelo deslumbramento “bacoco” do Poder, não passam de “criaturas-bestiais”, fracassadas na vida, independentemente dos estatutos: social, profissional, e cultural que possam ter adquirido, lhes sido concedido, ou herdado.
É uma verdade que está provada na sociedade: grande parte das pessoas que exercem o Poder despótico, pensam e agem como se essa circunstância da vida fosse perene e que, uma vez assumido o cargo, jamais alguém os destronará, por isso, nesta “convicção” infundada, atuam indiscriminadamente, segundo a tristemente e célebre máxima: “Quero, Posso e Mando”, pisando tudo e todos os que com elas não concordam, ou se opõem aos seus desígnios maldosos.
As instituições, qualquer que seja a sua natureza, cada vez mais carecem de líderes competentes: com educação e formação ético-moral e profissional, resistente a quaisquer tentativas de violação de princípios, valores, sentimentos, normas, deveres e direitos; pessoas que tenham a clarividência suficiente para exercer o Poder com humanismo, idoneidade e tolerância para com os mais frágeis, ajudando os que revelam mais dificuldades.
Uma liderança forte não é a que exerce o Poder ditatorial, que dentro e no âmbito da mesma instituição, persegue subordinados e que favorece amigos, ou que a todo o custo se agarra ao cargo. Um líder democrático, humanista e habilitado, sabe fazer-se respeitar, sem se impor pela ameaça permanente da punição, e consegue identificar o momento em que deve abandonar a liderança.
Costuma-se dizer que: “Na terra dos cegos, quem tem um olho é Rei”. É provável que nos meios pequenos, em muitas instituições, de facto assim aconteça, que surjam os tais “reizinhos” os quais, rapidamente, se autopromovem a “imperadorzinhos” e assim começam a governar a organização, como se fossem uns “iluminados”, e o cargo ficaria para eles o resto da vida: para eles e para os amigos que passam a “girar” à sua volta, “quais borboletas esvoaçando em redor da lâmpada”, desfazendo-se em bajulações pacóvias.
É muito importante que qualquer candidato, ao exercício do Poder e/ou que o já venha exercendo, tenha a humildade de refletir que será uma situação transitória na sua vida, sabendo-se que quando terminar as respetivas funções, poderá ser bem recebido ou rejeitado pela sociedade em geral; amado ou odiado por aqueles que estiveram sob as suas ordens e que sobre tudo o que esse líder tiver feito de errado, com intenção de prejudicar alguém, terá de prestar contas.
Todo o líder, suficientemente inteligente, sabe que só tem a ganhar se for imparcial, justo, tolerante, humano, compreensivo, um verdadeiro colega, mesmo em relação aos seus subordinados e que, seguramente, estes lhe saberão retribuir sempre que necessário, porque havendo reciprocidade na troca de princípios, valores, sentimentos e boas práticas de relacionamento, a liderança e os liderados sentir-se-ão motivados, recompensados, gratos e realizados.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689

Imprensa Escrita Local:

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 20 de novembro de 2016

Saber e Poder numa População a Crescer

O desenvolvimento científico e tecnológico em curso parece não ter limites e a velocidade com que avança é impressionante, de tal forma que: o que ontem parecia duradoiro, ou até mesmo definitivo; hoje, está ultrapassado, o que coloca em causa uma pretensa e reiterada verdade, sobre um qualquer assunto, acontecimento, equipamento, descoberta, entre muitas outras situações.
Atualmente, afirmar-se que se tem uma cultura atualizada, pode revelar uma posição muito presunçosa que convém evitar, nomeadamente a nível tecnológico, porque não se pode ignorar que se por detrás da tecnologia estará a ciência, não é menos verdade que aquela facilita a investigação, portanto, uma e outra, afinal, complementam-se.
Há quem afirme que: «A cultura tecnológica, que de forma tão radical mudou o nosso ambiente, tem as suas origens nas pesquisas científicas. Essas pesquisas têm sido e são, ainda, o que de mais importante e de mais completo e de mais larga visão se fez em matéria de atividade pensadora, entre todas a que nos dedicamos até hoje. Primeiramente as pesquisas serviram para alargar nossos conhecimentos. Em segundo lugar, para reformar o nosso ambiente.» (KERSTIN e ALFVÉN, 1969:125).
O binómio “Ciência-Tecnologia” existe desde há milhares de anos, desde as formas mais rudimentares do passado até às mais sofisticadas do presente. O homem sempre pesquisou, sempre procurou saber mais, não só para melhorar as suas condições de vida, como também para obter poder e domínio sobre os demais concidadãos, porque: “Saber é Poder”.
É sabido que, por exemplo: «uma descoberta que ameaça toda a humanidade dá muitas vezes grandes vantagens ao descobridor, ao seu laboratório e ao seu país. Essas vantagens, a curto prazo, em regra, sobrepõem-se aos efeitos negativos a longo prazo, uma situação que envolve um dos perigos mais fundamentais para o nosso futuro. Compram-se vantagens pessoais, locais ou nacionais, e por elas paga-se um preço que é uma situação de perigo cada vez maior para todos.» (Ibid.:134).
É claro que é impossível que uma só pessoa tenha total capacidade para dominar, com profundidade e atualidade, todos os saberes, mas outro tanto não acontece com os grandes grupos e organizações diversas, que possuem meios financeiros, laboratoriais, científicos e técnicos para assumirem um poderio local, nacional e mundial, através do qual conseguem atingir objetivos: seja para o bem; seja para o mal, porque, em bom rigor: «O saber, na realidade, está à disposição dos poderosos, e só uma pequena dose poderá servir para nos defender do abuso de poderes. Não é por incapacidade e ignorância nossa que a natureza sofre devastações e é mártir da poluição. (…) Durante a Idade Média, chamava-se à filosofia “ancilla fidei”, “servidora da fé”. Hoje, a pesquisa científica é fiel ao poder e, em regra, é uma servidora silenciosa.» (Ibid.:136).
Aplicar conhecimentos para dominar pessoas, grupos, comunidades, países e o mundo, será cada vez mais difícil, por muitos meios que o detentor do saber e do poder possua, embora se lhe reconheça uma certa vantagem em relação a quem não dispõe de tais recursos. Controlar e dominar uma população terrestre cada vez maior, constitui, eventualmente, uma grande dificuldade, por isso, o melhor caminho a seguir será sempre pelo diálogo, pelo bom senso e pela paz entre os povos anónimos e os dirigentes mundiais
Se houvesse possibilidades económicas e financeiras, situações estáveis de trabalho, serviços de saúde, educação, formação e habitação nas melhores condições de acesso, para todas as pessoas, certamente que neste primeiro quarto do século XXI, o mundo estaria bem melhor e se não houvesse dirigentes que apenas se preocupam com o poder e o domínio sobre os seus concidadãos, então poderíamos ter o “paraíso na terra”, embora este quadro possa parecer uma utopia.
Ao longo da história da humanidade, o ser humano sempre desejou ter e/ou pertencer a uma família numerosa e: «Por isso, nos grandes povos da Actualidade, existe uma longa tradição de fecundidade. Tanto os dirigentes como o povo têm  um sentimento profundamente enraizado de que é importante aumentar a população. Esse sentimento existe até mesmo em unidades menores: a família e a seita veem com bons olhos o seu crescimento e consideram como um desastre a sua extinção. Ainda o mesmo sentimento existe entre raças, em escala maior. A maioria deseja que a raça a que pertence aumente em número de indivíduos e em poder.» (Ibid.: 139-140).
Em muitos países, nomeadamente da Europa, Portugal incluído, é importante que haja condições para a formação de famílias estáveis, numerosas, porque a pirâmide etária começa a inverter-se no sentido de cada vez haver mais idosos e menos crianças e jovens, o que, a curto/médio prazo, poderá trazer consequências gravíssimas em vários domínios: sustentabilidade das reformas e pensões; cuidados básicos e especializados de saúde mais solicitados e especializados para uma população muito específica e fragilizada; mão-de-obra cada vez mais escassa e cara, entre outras situações complexas.
A complexidade da sociedade humana é, possivelmente, implica uma gestão muito exigente, rigorosa, humanista e consensual, porque não se ignora que: «O problema da convivência não é apenas uma questão de estabilidade. Se acharmos uma solução estável no sentido de poder evitar as catástrofes da guerra e da fome, nem mesmo assim teremos resolvido o problema. Há uma exigência tão importante quanto essa: a de dar a todo o homem, dentro do quadro geral da organização, um ambiente digno de seres humanos. É preciso parar com a atual desumanização da vida.» (Ibid.:155).
O ser humano é das espécies que, tanto quanto a ciência e a técnica nos informam, mais tem evoluído no mundo, todavia, tal progresso nem sempre é direcionado para a melhoria das condições de vida das pessoas, para a valorização permanente e consolidação da sua dignidade e, em muitas situações, o desenvolvimento tem sido a mola real para a destruição de seres pessoas inocentes.
O diálogo entre as diferentes comunidades, políticas, religiões, interesses vários, tem de ser permanente e assente nos princípios do respeito, da confiança e da boa-fé, porque: «Os seres humanos dispõem da capacidade de pensar, uma capacidade suficiente para eventualmente despertar o bom senso da espécie.» (Ibid.:156).
É certo que todas as pessoas têm a sua quota parte de responsabilidade: seja nos sucessos; seja nos fracassos da humanidade, porque é sempre um dever e um direito, nas suas diferentes dimensões e contextos, pugnarmos por uma sociedade mais justa, tranquila, humanizada, tolerante e cooperante, porque o resultado final beneficiará toda a população em geral.
Imputar responsabilidades culposas, a uma determinada camada da sociedade quando os projetos correm mal e conceder a outros estratos os louvores quando tudo corre bem, não será justo nem ética e moralmente aceitável, porque afinal, cada pessoa, com as suas competências e oportunidades tem oportunidade para colaborar no sentido do maior e melhor bem para todos, ou seja, para o bem comum.
É claro que, em função das profissões e cargos que as pessoas desempenham e ocupam, respetivamente, na sociedade, assim as poderemos responsabilizar com mais ou menos ênfase, todavia, conceda-se o benefício do mérito a quem de alguma forma revela, por palavras, atos e comportamentos, querer um mundo melhor e, com este desiderato, todos seremos chamados a envolvermo-nos com entusiasmo e determinação.
Admitamos com toda a humildade que: «Seria, contudo, injusto atirar a culpa da atual situação mundial na incompetência dos políticos. Todos nós desejaríamos que os principais políticos fossem mais brilhantes que tivessem perspectivas mais largas e que, acima de tudo, desse ao bem-estar de toda a humanidade a mais lata prioridade. Do mesmo modo desejaríamos que todas as pessoas nos cargos de responsabilidade fossem mais sábias e esclarecidas do que são.» (Ibid.:158).

Bibliografia

(KERSTIN e ALFVÉN, Hannes, (1969). Aonde Vamos? Realidade e destinos da humanidade. Tradução. Jaime Bernardes da Silva. S. Paulo: Círculo do Livro S.A.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689

Imprensa Escrita Local:

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 6 de novembro de 2016

Poder. Sabedoria. Ignorância e Liderança.

É da natureza do ser humano alcançar o poder, qualquer que ele seja: familiar, profissional, político, económico, académico, cultural, militar, religioso e até de influência. O poder seduz com muita intensidade, naturalmente, a umas pessoas mais do que a outras, mas ele é inerente à condição humana e, inclusivamente, a muitos outros animais que connosco coabitam neste planeta.
Quando se aborda o conceito de poder, muitas vezes, o estudo, a conversa, o texto, vai no sentido do “Poder Político”, talvez porque, na maior parte das situações, será a partir daquele que as restantes formas de “domínio” vão ficar subordinadas, por isso, os políticos têm uma responsabilidade acrescida quanto à forma, conteúdos e objetivos de como exercem o poder, porque das suas decisões, depende, em grande parte, a estabilidade, ou não, da sociedade.
O encanto do poder é, portanto, um dado adquirido, ele é, incessantemente, procurado. Com efeito: «É natural que a volúpia do poder seja a deformação profissional mais comum entre os políticos. Muitos acabam sendo vítimas desse que é o mais insensível e o mais desumano dos vícios. Aliás como todos os vícios, o poder também oferece as suas alegrias: é ver as pessoas ajoelharem-se diante de si, é ter condições de humilhar os adversários, é ficar plantado no tapete vermelho, concentrando em si a iluminação dos projetores e respondendo sobranceiramente às aclamações do povo.» (KERSTIN e ALFVÉN, 1969:93).
O poder político, de facto, é, em muitas circunstâncias e para diversas pessoas, a “porta de entrada” para um novo mundo de superintendência sobre os seus semelhantes, sendo certo que, muitas vezes, depois de assumirem as rédeas da influência, do “domínio” e, até, da prepotência e da arrogância, esquecem, totalmente, quem as ajudou a chegar ao “pedestal” do poder político, ou, inclusive, de outros poderes, mas sempre, do poder.
A política será tanto mais nobre e altruísta, quanto melhor servir os interesses das pessoas e mais eficazmente resolver os seus problemas. Ao longo da História, os processos para se chegar ao poder, foram variando desde os mais violentos aos mais brandos e democráticos, embora os primeiros, em alguns regimes ditatoriais sejam os que se impõem e os segundos, por vezes, degeneram em hipocrisia, cinismo, disfarce, para se alcançarem outros objetivos inconfessáveis.
Há muitas “teses” para explicar a proveniência do Poder e também diversos contextos, mas interessa aqui e agora, para já, referir que há autores que defendem fundamentos diferentes das ancestrais fontes Divinas: «Hoje, Deus já não serve como origem de todos os poderes. Os filósofos que nos informaram a respeito, preparadores intelectuais da Revolução Francesa, desempenharam a tarefa fantástica de substituir Deus por “povo” como fonte de todos os poderes. É por isso que em nenhuma das árvores genealógicas dos poderosos de hoje aparece entre os avós um deus. Em contrapartida, atualmente, o pai ou, no máximo, o avô são homens simples do povo.» (Ibid.:95).
O exercício do poder, em princípio, deveria pressupor sabedoria, sobriedade e respeito por todas as pessoas, sobre as quais um determinado domínio se realiza. Infelizmente, o que se verifica é que um elevado número de “poderosos”, ou que buscam a todo o custo o poder, não estão preparados para o assumirem com: isenção, competência, sabedoria e humanismo. Não são líderes democráticos.
A disputa pelo poder, é tanto mais intensa, e traiçoeira, quanto mais importante e influente é a natureza do cargo que concede tal autoridade. Há postos/funções, para determinadas instituições, em que, mesmo entre os associados, quando existem, é muito difícil reunir um grupo de pessoas para assumirem tarefas nos corpos sociais, o que conduz, muitas vezes, a crises de dirigismo, e à extinção de tais organizações.
Em contrapartida, para diversos cargos, de natureza: política, desportiva, social, entre outros, as candidaturas não faltam, o combate entre os diferentes adversários (por vezes até se tornam-se inimigos figadais) atinge proporções de tal forma inimagináveis, que as consequências são imprevisíveis e, muitas vezes, irreparáveis, para grande parte dos candidatos.
A contenda pelo poder, sempre que os candidatos têm meios financeiros para organizarem uma campanha profissional, agressiva e, infelizmente, com alguns pretendentes, direcionada para o ataque pessoal, realmente não olha a meios para atingir os fins: o poder, a qualquer preço.
Com o objetivo de se conquistar o poder, nomeadamente o poder político, bem como o exercício de altos cargos, os concorrentes, comissões de candidaturas e os seus mais diretos apoiantes, aceitam donativos, quotizam-se e contratam as melhores agências publicitárias, naturalmente, em função dos recursos financeiros disponíveis, para implementarem no terreno fortes campanhas eleitorais.
As atuais “Máquinas de Marketing” desenvolvem: «Pressões por vezes extremamente fortes exercidas sobre o povo por ocasião das eleições, com a ajuda dos formidáveis recursos das modernas técnicas de propaganda. Uma eleição, hoje, só em parte é uma luta entre ideologias diferentes. Cada vez é mais uma competição entre diversas agências de propaganda ou organizações semelhantes. (…) Os candidatos passam pela maquilhagem antes de serem apresentados na televisão, e a sua “imagem” é construída com refinados métodos psicológicos. Às vezes é difícil dizer se foi a agência de propaganda ou se foi o partido que conquistou a vitória.» (Ibid.:97).
Construir, artificialmente, um líder, hoje em dia, é relativamente fácil, como igualmente é possível apresentá-lo com valores humanistas e todo um conjunto de qualidades e competências, ou seja: é como vestir a “pelo do cordeiro no corpo do lobo”, ou então, é colocar-lhe uma “máscara” de intelectualidade, cultura, sabedoria e experiências de vida (tudo comprado a preço de ouro).
A sociedade mundial vive preocupada com a falta de lideranças esclarecidas, autenticamente humanas, que saibam hierarquizar os objetivos, as estratégias e os meios para os alcançar. Governantes sensíveis aos maiores flagelos da atualidade, que se coloquem, efetiva e inequivocamente ao serviço de quem confiou nas promessas que durante a “luta” eleitoral fizeram, são poucos.
A humanidade precisa de ver restabelecida a dignidade de cada pessoa em particular, do respeito, dos valores da solidariedade, do conforto, da subsidiariedade, da segurança e da paz, em geral, porque: «Todos nós sonhamos com o dia em que os líderes políticos do mundo se encontrem e ponham em execução um plano com o qual a guerra seja abolida, as armas mandadas para a sucata e a fome e o sofrimento eliminados. (…) Se os políticos, como afirmam, querem apenas, de fato, dar execução aos desejos mais ardentes do povo, por que não utilizam o poder de que dispõem para consegui-lo?» (Ibid.:101).
Mas é claro que não se pode responsabilizar, genérica e totalmente, todos os políticos, ou outros dirigentes de diferentes instituições e objetivos. Todas as pessoas cometem erros, e os políticos são seres humanos, como quaisquer outras individualidades, acreditando-se, inclusivamente, que na maioria dos casos não o fazem com intenção premeditada, para prejudicar os seus concidadãos.
Devemos partir do princípio, enquanto seres humanos e cidadãos na plena obrigação do cumprimento dos deveres e no amplo uso dos seus direitos que: «Todos nós cometemos erros e voltaremos a cometê-los muitas vezes ainda. Aliás, é até bem fácil lançar todas as culpas do que acontece de errado no mundo em cima de alguns pobres políticos que não são mais do que seres humanos, e, na realidade, se não fazem mais é porque não podem.» (Ibid.:119).
É evidente que os erros das outras pessoas não justificam os nossos, todavia, nas mesmas circunstâncias, se há condescendência para determinadas individualidades, que beneficiam de uma qualquer prerrogativa, então todas as demais devem beneficiar de tal tolerância, de contrário haverá dois pesos e duas medidas o que é, manifestamente, injusto e, eventualmente, ilegal.
Por vezes, a ignorância obstaculiza a que se proceda na vida, e nas diversas funções, com o cometimento de alguns erros, nomeadamente, infrações à lei. Ora, a própria lei defende-se a ela mesma, quando prevê que ninguém pode desconhecer as normas jurídicas, sociais e consuetudinárias do local onde vive e/ou para onde vai. Existe a máxima, segundo a qual: “O desconhecimento da lei não aproveita ao seu infrator”. Não é nada aconselhável ser ignorante.
No que à política e seus imensos cargos se refere, a verdade é que: «Se constatarmos que muitos políticos são incompetentes para as tarefas a que se propõem, isso não deverá ser tomado como uma crítica pessoal, mas, sim, à maneira como funciona o sistema político. Um sistema que dá a pessoas demasiado incompetentes posições de demasiada importância é perigosíssimo para a segurança de todos nós.» (Ibid.:119-120)

Bibliografia:

(KERSTIN e ALFVÉN, Hannes, (1969). Aonde Vamos? Realidade e destinos da humanidade. Trad. Jaime Bernardes da Silva. S. Paulo: Círculo do Livro S.A.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689

Imprensa Escrita Local:

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)