domingo, 26 de dezembro de 2021

Poder e Política

Faz parte da existência humana viver em sociedade, de forma organizada, com normas sociais e jurídicas, muitas delas suportadas, e/ou alimentadas pelos usos, costumes e tradições, a que se juntam princípios e valores de vária natureza, nomeadamente: políticos, religiosos, civilizacionais, ético-morais, entre outros, que regulam as diversas atividades profissionais, culturais, e de lazer/ocupação dos tempos livres.


Igualmente, é da natureza de toda a pessoa humana, quando no exercício pleno das suas capacidades psicológicas, intelectuais e físicas, ambicionar posições e estatuto: sócio-profissional, político-influenciador e económico-financeiro e, a partir daqui, alcançar o poder para assim controlar, influenciar e decidir sobre o destino dos seus semelhantes e, inclusive, de grupos de diversas atividades.


O Poder atrai, com maior ou menor intensidade, a esmagadora maioria das pessoas, e haverá processos pelos quais se adquire, sendo no âmbito de uma carreira profissional, eventualmente, o mais frequente – funcionalismo público, quaisquer que sejam os setores; forças armadas e de segurança, empresarial, político, religioso, apenas para referir apenas alguns.


É fundamental, contudo, nunca se ignorar que todo e qualquer Poder é transitório, exerce-se enquanto não se é substituído, ou por motivos de aposentação, ou ainda, por doença impeditiva, temporária ou definitiva, a que se lhe pode seguir a morte ou qualquer outra circunstância imprevisível.


Quem pensar que ao assumir um cargo de Poder, independentemente da natureza deste, vai conseguir fazer o que quer, para o bem ou para o mal, durante o resto da vida, seguramente que poderá equivocar-se, por isso, a melhor forma de conservar o Poder, por longos períodos de tempo, será pela prática do bem, no respeito e consideração pelas pessoas, sem olhar ao estatuto destas.


O exercício do Poder, recorrendo à prepotência, à perseguição, à vingança e à humilhação, revela-se uma prática própria de pessoas inferiorizadas, de baixa ou nenhuma formação humanista, com presumível má educação, caraterísticas de quem procura esconder as suas incapacidades, incompetências, recorrendo, portanto, à arrogância, à vaidade paroquial e, quantas vezes, ao assédio, nas suas diferentes formas.


Frequentemente, já no primeiro quarto do século XXI, deparamo-nos com pessoas que, por diversos processos: uns, legítimos e legais; outros, nem tanto, conseguiram uma situação socioeconómica confortável, exibindo, ostensiva e “babosamente”, os “anéis” conquistados, também, muitas vezes, com apoio substancial de familiares e amigos.


Naturalmente que se reconhece mérito a tais pessoas, quando pela inteligência, trabalho, organização e gestão dos seus bens patrimoniais e financeiros alcançam cada vez mais Poder, todavia, quando se perde a noção: das origens, princípios e valores; da sinceridade, da humildade e da gratidão, estaremos perante os chamados “novos-ricos” que, axiologicamente, continuam a “não ter onde caírem mortos”, não passando, afinal, de “uns pobres de espírito


O Poder, ainda que seja na sua forma de capacidade de sedução, pelas maneiras excessivamente sofisticadas, supérfluas, interesseiras e hipócritas, com o objetivo de “Agradar a Gregos e a Troianos” e, mais concretamente, a outras pessoas consideradas “importantes” na sociedade, não passa de uma pretensão pacóvia, própria de quem não se dá conta do ridículo a que se expõe.

O exercício do Poder a partir da atividade política, é extremamente difícil, na medida em que, o Poder Político é, ainda, mais precário e vulnerável, porquanto se desenvolve por ciclos temporais e, no final de cada período, fica sujeito à votação dos eleitores os quais, pelos mais diversos motivos, tanto podem reconfirmar, como recusar o apoio ao respetivo candidato.

A atividade política, sendo interessante, só será, contudo, gratificante quando através do Poder que ela confere, os problemas das pessoas são resolvidos favoravelmente, a contento das mesmas, porém, importa não ignorar, e sem generalizar que: «No mundo da política é comum deparar-se com determinados homens de poder, revestidos de eminência política e social, superficialmente virtuosos, politicamente respeitados em face do seu acentuado patriotismo, do seu profundo sentimento cívico, de sua grande benevolência. Todavia, quase sempre, essa aparente virtuosidade nada mais é do que um fino verniz mascarando um personagem cínico. Alguns visando assegurar seus interesses, chegam a condenar inocentes, para depois libertá-los da prisão sob a falsa ética de aparente misericórdia. Passando sempre a imagem de integridade moral e social, praticam fraudes psíquicas ininterruptamente, parecendo ser justos sem os serem. A rigor, toda essa vivência alcança o ápice de injustiça.» (SANTANA, 2003:37).

É relativamente fácil, e pacífico, considerar a política como uma atividade que deve ser exercida por pessoas de bem, competentes, isentas, para que posam resolver com sucesso os diversos problemas que afetam as pequenas comunidades em particular, e a sociedade no seu todo. O que acontece, algumas vezes, é que nem todas as pessoas que se dedicam, a tempo inteiro, ou mesmo parcial, à política, o fazem imparcialmente.

É por isso que: «Hoje, mais do que nunca, faz-se necessária a compreensão da arte de governar em benefício do estado e dos cidadãos, com arrojo e determinação, buscando satisfazer os interesses e aspirações da sociedade, resistindo aos insidiosos convites à administração desidiosa.» (Ibid.:40).

A verdade é que, não obstante a nobreza da política, ainda há quem não se adapte a este valor tão importante, e mendiguem aos santos e demónios um lugar na política para alcançarem influência, domínio, estatuto. Com efeito: «Muitos alcançam o poder com a ajuda e a solidariedade dos outros e, logo em seguida, voltam-se contra estes, em um gesto de fria e calculista ingratidão. A criatura volta-se contra o criador.» (Ibid.:42).

A preparação para exercer um cargo político deveria, portanto, ser um dos requisitos preferenciais para toda e qualquer pessoa que pretenda entrar na vida política. A eleição maioritária, ou a nomeação legal, para uma determinada função política, ou técnico-administrativa, respetivamente, por si sós, não garantem que o tal titular, venha a ter um sucesso e, muito menos, os que dele venham a depender.

Acontece, frequentemente, que a ganância pelo poder, muitas vezes, é mais forte do que quaisquer princípios, valores e sentimentos, nestes se incluindo a fraternidade, a amizade, a lealdade e a gratidão. Realmente: «O maior mal que se faz a um amigo sincero é rejeitá-lo em benefício de velhos desafectos. Somente os ambiciosos são capazes de conspirar contra aqueles que lhes deram a mão e emprestaram a solidariedade nos momentos adversos.» (Ibid.:43).

Na política, é inaceitável que se recorra a todo e qualquer expediente para se atingirem determinados fins, como será censurável que quem a exerce altere as suas caraterísticas, princípios, valores e sentimentos, constituintes da sua personalidade, para alcançar objetivos pessoais, quantas vezes obscuros, ilegítimos e, eventualmente, ilegais.

Infelizmente, tem-se conhecimento que haverá pessoas que: «Mudando de personalidade facilmente, à medida que captam sinais do que as cerca, para aparecerem e fazerem-se gostar, são capazes de induzir pessoas de quem não gostam a pensar que são suas amigas. Moldam seu comportamento de acordo com as situações individuais e sociais, a depender das circunstâncias do momento, a partir do que alcançam alto índice de valorização, sobretudo na política.» (Ibid.:44).

 

Bibliografia.

 

SANTANA, Edilson, (2003). Arte da Política Mundana: reflexões sociopolíticas e filosóficas. Campinas, SP: Edicamp

 

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

NALAP.ORG

http://nalap.org/Directoria.aspx

                                                                                                                                                        http://nalap.org/Artigos.aspx 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Natal. Esperança na consolidação da dignidade pessoa humana.

Os sentimentos verdadeiros, puros, incondicionais, certamente que provocam alegrias e tristezas, dor, sofrimento, desgostos, mas também muita felicidade quando vividos com: solidariedade, amizade, lealdade, reciprocidade, estima, carinho, gratidão, humildade e respeito, até porque: «A conexão entre duas pessoas só é plenamente exercida quando a intimidade é vivida pela expressão clara dos sentimentos (…). Como Jesus previu, é preciso pureza de coração para construir um relacionamento feliz.» (BAKER, 2001:130).

Esta caraterística inimitável e infalsificável, que existe em todos os seres humanos, ou seja, os sentimentos, constitui o núcleo mais intenso que, de alguma forma, comanda a vida. Claro que as emoções envolvem, com maior ou menor intensidade, perturbações, reações, conflitos e decisões. No sentimento do amor, inclusive ao nível do “Amor-de-Amigo”, ele será tanto mais genuíno, quanto é acompanhado por um outro que não sendo doentio, é a prova da pureza daquele.

Na verdade: «O ciúme é um sentimento inato com um papel importantíssimo na preservação das relações amorosas e do qual ninguém escapa. Mas o ciúme tem muitas formas e pode até ser um elemento de felicidade, na vida do casal.» (TORRALBA, 2010-orelha da contracapa)

Natal é tempo para tudo de bom que se deseja fazer. É tempo para refletir sobre o passado, tentar descobrir as razões porque correram mal certos projetos, porque se chegou a determinadas situações. É tempo para reparar, para reconstruir, para agradecer, para perdoar, para retomar um novo caminho, lutar por uma nova esperança, de contrário: «Quando nos apegamos às nossas opiniões com agressividade, por mais válida que seja a nossa causa, estamos pura e simplesmente a acrescentar mais agressividade ao planeta, e a violência e a dor aumentam. Cultivar a não-agressão é cultivar a paz.» (CHODRON, 1997:141).

Este é o tempo de se criar uma paz genuína: entre as pessoas, famílias, vizinhos, comunidades, povos e nações. Hoje, mais do que nunca, face às inúmeras e, possivelmente prolongadas dificuldades, de natureza económica, política, social, religiosa e axiológica, é indispensável assumir a paz como um desígnio universal.

 Na verdade: «A verdadeira paz é sempre possível. No entanto requer força e prática, particularmente em tempo de grandes dificuldades. Para alguns a paz e a não-violência são sinónimos de passividade e de fraqueza. Na verdade, praticar a paz e a não-violência estão longe de ser uma atitude passiva. Praticar a paz, fazer a paz viver dentro de nós, é cultivar ativamente a compreensão, o amor e a compaixão, mesmo em situações de confusão e conflito.» (HANH, 2004:8).

Tempo de Natal e da família, no contexto da reunião à volta da mesa da Ceia da Consoada. Dia do nascimento de Jesus Cristo, segundo algumas doutrinas. Dia de alegria para umas pessoas, pelo convívio, pela reaproximação; mas também de tristeza e de saudade para aquelas que perderam ou estão longe dos seus entes queridos, que tanto amam.

Dia para amigos desencontrados se compatibilizarem, se amarem como já se amaram no passado, num sincero e inigualável “Amor-de-Amigo”. Dia para se perdoar os erros e se mostrar solidariedade, amizade, lealdade, reciprocidade, confiança, estima, carinho, respeito e comunhão de valores, sentimentos e objetivos comuns. Dia para recuperar alguma felicidade perdida. Dia para fazer as pazes entre amigos que tanto se gostavam e que por influências ou medos se afastaram.

Neste dia de Natal, tão especial para a esmagadora maioria das pessoas, a mensagem que se deseja transmitir, vai no sentido da renovação da Esperança, em todas as suas dimensões: Esperança na solidariedade entre nações, povos, famílias e amigos; Esperança na (re) conquista e consolidação da amizade; Esperança nas boas-práticas dos valores da solidariedade, da amizade, da lealdade, da humildade, da gratidão, da cumplicidade e da reciprocidade.

Igualmente: Esperança na melhoria das condições de vida para todas as pessoas, onde o trabalho digno, reconhecido, valorizado e estável, garanta um futuro de qualidade; Esperança num mundo de paz, no qual a felicidade seja o denominador comum a todas as pessoas, famílias, povos e nações; Esperança na consolidação da dignidade devida a toda a pessoa humana; Esperança numa nova Esperança de vida; finalmente, Esperança na proteção Divina, para que Deus nunca deixe de amparar a humanidade. Estes são os desejos, totalmente sinceros, do autor desta breve reflexão, que os propaga a todas as pessoas, sem exceções.

Um Natal com verdade, com lealdade, com reciprocidade, com gratidão, seja no seio da família, seja com outras pessoas, com aquela amizade de um sincero «Amor-de-Amigo», com um sentimento de tolerância, de perdão e muito reconhecimento para com todas as pessoas que, ao longo da minha vida, me têm ajudado, compreendendo-me e nunca me abandonando. É este Natal que eu desejo festejar com muita alegria.

 

Feliz Natal. Próspero no Novo de 2022, e seguintes.

 

Bibliografia

 

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu. Tradução, Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.

CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis. Tradução, Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.

HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz. Cascais : Pergaminho

TORRABLDA, Francesc, (2010). A Arte de Saber Escutar. Tradução, António Manuel Venda. Lisboa: Guerra e Paz, Editores S.A., in: MARAZZSITI, Donatella. “E viveram felizes e Ciumentos para Sempre”, Donatella.

 

 

Venade/Caminha/Portugal, NATAL de 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

NALAP.ORG

http://nalap.org/Directoria.aspx

http://nalap.org/Artigos.aspx

https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1

http://diamantinobartolo.blogspot.com

diamantino.bartolo@gmail.com

https://www.facebook.com/ermezinda.bartolo

  

domingo, 19 de dezembro de 2021

Dimensão vaidosa do poder

 A busca, por vezes desenfreada, do poder é, em grande parte das pessoas, uma característica, designadamente, naquele domínio que permite fazer depender de quem detém um cargo, um outro conjunto de pessoas que desejam, e carecem, de ver certas situações e problemas resolvidos e, por isso mesmo, há aqui como que: uma insinuação permanente de “autoridade” de um lado; e uma subserviência, por dependência, do outro, respetivamente.

Esta dimensão “vaidosa” e ostensiva do poder, leva a que alguns atores manipulem: estatísticas, projetos, promessas e pessoas, com o objetivo, óbvio, de se instalarem num “pedestal” que, por vezes, se transforma num “Trono Imperial”, que depois não querem abandonar, recorrendo, então, às mais incríveis e inaceitáveis condutas: «Muitos alcançam o poder com a ajuda e a solidariedade de outros e, logo em seguida, voltam-se contra estes, em um gesto de fria e calculista ingratidão. A criatura volta-se contra o criador.» (SANTANA, 2003:42).

Na verdade, não só na política, como em muitas outras atividades e situações da vida real, acontece a retribuição com injustiça, ingratidão, indiferença e rejeição. A ambição, o egoísmo, a hipocrisia e a bajulação, cegam determinadas pessoas que, para elas, tudo vale para alcançarem os seus fins, por mais obscuros, ilegítimos e ilegais que eles sejam.

Quando nos interrogamos, onde estão os nossos amigos verdadeiros, não raro, pensamos que os temos, e por isso, a eles nos abrimos, os apoiamos, sempre na convicção de que realmente estão a ser solidários, leais e gratos para connosco, porém, a história já nos vem ensinando que: «O maior mal que se faz a um amigo sincero é rejeitá-lo em benefício de velhos desafetos. Somente os ambiciosos são capazes de conspirar contra aqueles que lhes deram a mão e emprestaram a solidariedade nos momentos adversos. Entretanto, ao que se observa, a referida prática é adotada por muitos detentores do poder, para quem o exercício do mal é tão necessário quanto o do bem, porque, para eles, os fins justificam os meios (sejam eles quais forem). (Ibid.:43).

A “vaidade” do poder conduz a comportamentos autenticamente “camaleónicos”, na medida em que as pessoas que assim procedem, conseguem, no mesmo dia, e/ou em certos períodos de tempo, desenvolver várias personalidades, precisamente em função dos objetivos que pretendem atingir e, com esta “capacidade dissimuladora”, própria dos camaleões, rapidamente se adaptam às pessoas e situações, que lhes convém conhecer e dominar.

Infelizmente, não obstante vivermos, na circunstância, num Estado Democrático de Direito, numa sociedade livre, dita civilizada, na qual: a cidadania plena deveria ser totalmente respeitada por todos, em geral; e por aqueles que detêm um qualquer poder, em particular, estamos relativamente longe de podermos manifestar as nossas opiniões, quando discordantes de um determinado poder, e/ou do seu titular, muito embora os seus líderes afirmem que: “é salutar o confronto de ideias”.

Em Portugal, até ao “vinte e cinco de abril de mil novecentos e setenta e quatro”, existiu uma polícia que perseguia, reprimia, violentava e, por vezes, fazia “desaparecer”, fisicamente, muitos cidadãos que se opunham, apenas com as suas ideias, ao poder ditatorial, então instituído.

Hoje, primeiro quarto do século XXI, por vezes parece que: “as paredes têm ouvidos”, os “informadores democráticos” estão por aí, à espera que alguma pessoa, sincera e rigorosamente, faça uma apreciação sobre a conduta de alguém que exerce um poder qualquer, para, de seguida, a fazer chegar, frequentemente, com deturpações, à individualidade visada.

Pois bem, se o analista/crítico vier a precisar dessa pessoa que detém o poder, anteriormente observada, ou “salutarmente criticada”, provavelmente, pode esperar o resto da vida, isto se não lhe surgir uma situação incompreensíbil, um problema complexo, vindo do organismo cujo titular foi comentado. Hoje, todos os cuidados são poucos, porque a falta de humildade de alguns titulares de poder, para aceitarem a crítica, para reconhecerem os seus erros, é evidente e, então, desforram-se naqueles que tiveram a “liberdade saudável”, e sincera, a coragem democrática, de os avaliar.

Hoje, vemo-nos confrontados com muitos alegados líderes, em praticamente todas as atividades humanas, que não têm as mínimas qualidades pessoais, nomeadamente: ético-morais, princípios, valores, sentimentos e condutas humanistas, para estarem à frente de uma instituição e, se nelas continuam, é porque têm o apoio: não já de quem os elegeu; mas de quem é do mesmo nível deplorável que eles.

Qualquer que seja a organização: cívica, religiosa, política, militar, cultural, desportiva, filantrópica, ou outra, o respetivo líder deverá reunir características essenciais para o bom desempenho das funções que lhe foram confiadas, por isso: «O perfil de um verdadeiro líder molda-se a partir de componentes de inteligência interpessoal, como aptidões de coordenar grupos de pessoas e a capacidade de resolver ou evitar conflitos, negociando soluções; de possuir o talento da empatia, na arte do relacionamento, bem como, o poder de detectar sentimentos e preocupações das pessoas. São esses os líderes autênticos e naturais, que articulam, com integridade, a orientação do grupo por ele liderado, para alcance de elevadas metas e objetivos.» (Ibid.:43).

Admite-se que: se por um lado, um perfil tão complexo, quanto rigoroso, não será fácil de encontrar numa só pessoa, por muito boa-vontade que ela tenha, em realizar um bom trabalho, ao serviço da instituição e dos liderados; por outro lado, também há os autoproclamados líderes, que mais se preocupam com a exibição de um narcisismo doentio, uma autoestima que toca os limites da “vaidade bacoca”, afinal, um ego nunca satisfeito.

Para os líderes que colocam os seus egoísmos, acima dos interesses da instituição, e das pessoas, que têm o dever de bem-servir, eles não passam de autênticos “charlatães”, porque: «Mudando de personalidade facilmente, à medida que captam sinais do que as cerca, para aparecerem e fazerem-se gostar, são capazes de induzir pessoas de quem não gostam a pensar que são suas amigas. Moldam seu comportamento de acordo com as situações individuais e sociais, a depender das circunstâncias do momento, a partir do que alcançam alto índice de valorização, sobretudo na política.» (Ibid.:44).

O poder, através do qual se exerce o domínio, a subjugação, a humilhação, sobre os nossos semelhantes, infelizmente, é, assim, utilizado, em diversas circunstâncias, por muitas pessoas, as quais, à falta de atributos e méritos pessoais, procuram liderar um certo estrato da sociedade, ao mesmo tempo que exibem o culto da própria personalidade, sem qualquer atitude de modéstia e de humildade.

Há um velho provérbio que dispõe o seguinte: “Quem não sabe obedecer, não sabe mandar”; ou então um outro, segundo o qual: “Nunca sirvas a quem serviu, nem peças a quem pediu”. O exercício do poder requer, portanto, um equilíbrio psíquico-emocional, acima da média, a interiorização e boas-práticas de princípios, valores e sentimentos, genuinamente, humanistas, porque: «O poder pode ser entendido como a “capacidade que uma pessoa tem de impor à outra a sua vontade”. (…). Poder é ter possibilidade. Dispor de força ou autoridade. Ter força física ou moral. Ter influência. Ter grande influência ou poder sobre.» (Ibid.:49).

O poder é uma situação na vida de cada pessoa que o exerce, mas que não é eterno, bem pelo contrário, o detentor de um qualquer poder, quando menos espera, está a ser destronado, por alguém, por algum grupo, entretanto surgido, com novas: ideias, promessas, recursos. A História tem demonstrado que mesmo os ditadores de longa duração, acabam por cair: seja por si próprios; seja “às mãos” de um outro adversário e/ou inimigo.

Na verdade: «Ninguém é eterno no território do poder. (…). Em última análise sempre se fica sozinho e, um dia, o poder se vai. E aí se começa tardiamente a compreender que o poder não era um bem absoluto: os que o exerceram de forma absoluta não se tornaram maiores que os outros seres humanos, mas sim menores, cruéis, arbitrários; e que, mais cedo ou mais tarde, compreenderam, desencantados: o poder não foi o bastante.» (Ibid.:72).

Deploravelmente, ainda existem muitas pessoas que buscam, incessante, e até ilegitimamente, o poder, apenas para satisfação de vaidades desmedidas, prepotência sobre os seus semelhantes, por quererem alcançar uma notoriedade, eventualmente, imerecida, um estatuto que, de outra forma, talvez, jamais, o conseguiriam.

Também se pode inferir que tais pessoas procuram o poder para exercerem vinganças, retaliações, humilhações e ofenderem, quantas vezes, aquelas outras que lhes deram a mão para alcançarem este “pedestal”, que, afinal, até é efêmero. São líderes com um caráter “mafioso”: sem princípios, nem valores; nem sentimentos; ao contrário das pessoas bem formadas, e de uma sociedade civilizada. São líderes em que a soberba e a vaidade imperam nas suas condutas e posicionamentos diários. Enfim, são líderes, “com “pés de barro e cabeças vazias de caráter humanista”.

 

Bibliografia

 

SANTANA, Edilson, (2003). Arte da Política Mundana: reflexões sociopolíticas e filosóficas. Campinas, SP: Edicamp

 

«Protejam-se. Vamos vencer o vírus. Cuidem de vós. Cuidem de todos». Cumpram, rigorosamente, as instruções das autoridades competentes. Estamos todos de passagem, e no mesmo barco chamado: “Planeta Terra”, de onde todos, mais tarde ou mais cedo, partiremos, de mãos vazias!!! Tenhamos a HUMILDADE de nos perdoarmos uns aos outros, porque será o único “CAPITAL” que deixaremos aos vindouros: “O PERDÃO”. 

 

Alimentemos o nosso espírito com a ORAÇÃO e a bela música:

https://youtu.be/Z7pFwsX6UVc  https://youtu.be/DdOEpfypWQA

 

Muito obrigado. Aproveito a oportunidade para desejar um Santo e Feliz Natal, dentro dos condicionalismos existentes. Que 2022 nos proporcione o alívio desta cruel pandemia.  https://youtu.be/4FbgwdRX8YY

 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

NALAP.ORG

http://nalap.org/Directoria.aspx

http://nalap.org/Artigos.aspx

https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1

http://diamantinobartolo.blogspot.com

diamantino.bartolo@gmail.com

https://www.facebook.com/ermezinda.bartolo

domingo, 12 de dezembro de 2021

Utopia Política

Dando por adquirido, salvo as deploráveis e, eventualmente, cada vez mais exceções, que a Política também se desenvolve na busca da realização de utopias, a verdade é que, muitos são os exemplos de que os sonhos, transformados em promessas, não passam disso mesmo, com graves consequências negativas, para a imagem nobre que a Política deveria transmitir.

A sociedade atual, primeiro quarto do século XXI, é extremamente complexa, exigente, e, cada vez mais, melhor preparada para enfrentar um novo mundo de avanços científicos e tecnológicos, de satisfação de necessidades, nem todas de natureza essencial, porque muitas têm uma dimensão supérflua, que tentam preencher vaidades desmedidas, incompatíveis com o sofrimento, resultante da miséria em que ainda vivem milhões de pessoas.

O conceito, usualmente conotado ao vocábulo “utopia”, de facto leva o Ser Humano a sonhar para além da realidade que o circunda, permite-lhe elevar-se a um mundo que, dificilmente, alguma vez, conseguirá construir, porque: «As religiões prometem esse mundo onde não haverá iniquidade, sofrimento e dor. Um mundo de felicidade, e uma só palavra para paraíso. A política, de igual, promove a crença de que o futuro será melhor do que o presente, satisfazendo as necessidades psicológicas do homem, obtendo renovadamente a adesão do povo.» (SANTANA, 2003:11).

Há quem considere que a “classe política”, aqui entendida no sentido da governação, naturalmente deve apresentar propostas “utópico-realistas” e, passe a aparente contradição, porque são utópicas, no momento em que são desveladas e, não raro, pela primeira vez; mas, também, realistas, porque suscetíveis de serem concretizadas, para o bem-comum, ou seja: o que no passado não existia ou seria mesmo um sonho, hoje pode tornar-se realidade e há bastantes exemplos que tal tem acontecido – a viagem à lua, em 1969, pode aqui ser recordada, que durante séculos foi, efetivamente, uma utopia.

A atividade política, no âmbito de um Governo, que dirige um país, está sempre sob escrutínio e, também, pressionada por interesses de vária ordem que, por sua vez, influenciam os políticos das diversas áreas de intervenção, podendo-se admitir que: «Amordaçada, a classe política é presa fácil dos interesses económicos (deste ou daquele grupo de empresas) ou de interesses de “categorias” de todo o género (da superestrutura tecnocrata que, de fato, controla o país, ou das diferentes “comunidades” regionais, religiosas etc. que o compõem), todos buscando domínio e poder político, para dirigi-lo no sentido de suas ideologias, nem sempre compatíveis com a vontade da nação.» (Ibid.:13).

É sabido que, seja em ditadura, seja em democracia, os povos são governados por uma minoria. Na primeira situação, uma minoria que, pela violência, repressão, perseguição e golpes, os mais diversos, se apoderará, ilegal e ilegitimamente do poder; no segundo caso, uma minoria, porém, eleita pela maioria do povo, em eleições livres, justas e transparentes.

Obviamente que, qualquer que seja o governo: Autocrático, Democrático, Oligárquico, Teocrático, Comunista, entre outras formas possíveis, puras ou híbridas, deveria preocupar-se com o “Bem-Comum”, com a melhoria, sempre renovada e consolidada das condições de vida do povo que pretende servir, ou melhor, que tem o dever indeclinável de proteger, de lhe proporcionar conjunturas favoráveis à realização plena da felicidade.

Nenhum Governo se constrói sem o contributo dos cidadãos (mulheres e homens, naturalmente), e estes são indispensáveis para a realização dos sonhos e das utopias da comunidade em geral, e de cada pessoa em particular. As/os cidadãs/ãos são a parte nuclear da cidadania plena, por isso: «Reduzir o cidadão a mero sujeito econômico é retirar-lhe a condição de cidadania e reduzir a política à luta pelo poder entre as elites; é intolerável à democracia, que não prospera nesse contexto, estando a exigir plena e absoluta independência, caso não queira esfacelar-se em meio à globalização.» (Ibid.:18).

O exercício do poder democrático, implica a disputa eleitoral, observando princípios, valores e condutas ético-políticas, consentâneos com os interesses legais e legítimos do povo, nunca, em circunstância alguma, contra aqueles que, afinal, através da “arma” mais poderosa, em democracia, tem a possibilidade de decidir, que é o voto livre, secreto, direto e responsável.

É comum, embora profundamente inaceitável, que os candidatos ao poder, recorram a diversos expedientes, para conquistarem a adesão e o voto populares, e, nesse sentido, apresentem os seus programas eleitorais, com projetos, por vezes mirabolantes, que, presumivelmente, não serão exequíveis e/ou, pelo menos, de difícil realização. Projetos utópicos, talvez impossíveis de concretizar para terem resultados positivos, na qualidade de vida das pessoas.

A utopia, por vezes, tenta passar por uma realidade possível de materializar, a curto e/ou médio prazos. A verdade é que qualquer cidadão (mulher ou homem), não deveria ignorar a situação do organismo ao qual concorre, salvo se existem aspetos que estão “escondidos”, porém, ainda assim, a probidade e o respeito pelo cidadão eleitor, sempre aconselham a que não se prometa aquilo que não se tem a certeza de poder cumprir no mandato, para que se candidatou.

É do conhecimento generalizado que alguns pretendentes a um cargo político, aquando em campanha eleitoral, recorrem, frequentemente, a “esquemas” ardilosos, para conquistarem o maior número de votos, sabendo eles que estão a faltar à lealdade para com os seus eleitores e, daqui à inverdade é um “salto de pardal”, ou seja, quase nada.

Considera-se serem ilegítimas a opacidade e a ambiguidade de alguns políticos, e outros candidatos a um qualquer poder, para além da imagem negativa e prejudicial que passam para a democracia: «Por conseguinte, a arte da mentira e da astúcia é praticada com êxito na referida ambiência política e não se convencem os mandatários de que não há maior castigo que uma mentira desmascarada. Na verdade, a mentira produz mais mal do que bem para a política, porque, embora possa ensejar sucesso no presente, criará, inevitavelmente, uma atmosfera de suspeita que será sério obstáculo ao sucesso no amanhã.» (Ibid.:24).

Enquanto alguns políticos, e quaisquer outros candidatos a cargos públicos, e instituições privadas, de diversa natureza, onde se incluem as de Solidariedade Social, utilizarem processos de persuasão para a captação dos votos, sem que depois assumam a responsabilidade por cumprir o que entretanto haviam  prometido, não restam grandes dúvidas que a política, em muitos domínios, não passará de uma utopia que, dificilmente, se concretizará em realidade.

Apesar de todas as dificuldades apontadas, é importante, urgente e necessário não descredibilizar a política, e os que dela fazem o seu modo de vida, com rigor, seriedade, “profissionalismo” e humanismo, por isso, é nestes cidadãos (mulheres e homens) que é preciso apostar, acreditar e incentivar, porque: «O político é, antes de tudo, um amante do poder. Para ele, o poder é uma paixão pela qual se sacrifica, arrisca-se e negligencia a própria vida. Sabe conquistar o favor das massas. Desse modo, quem entra em política logo sabe que está jogando com a vida e a morte; aceita esse jogo e não mais controla o seu destino.» (Ibid.:26-27).

Nos tempos difíceis que o mundo atravessa, em que a ganância pelo poder, qualquer que este seja, principalmente quando dele se retiram benefícios pessoais, não olha a meios para se atingir certos fins, logo, há todo o interesse em afastar quem não está imbuído de princípios, valores, dimensões humanistas, sentimentos nobres e projetos para o Bem-comum, porque a carência de cidadãs/ãos íntegras/os, altruístas e desinteressadas/os de notoriedade, mordomias e benefícios materiais será, efetivamente, o ponto de partida para uma sociedade de sonhos, de felicidade, de paz, enfim, de utopias, desejavelmente, possíveis de realizar a curto prazo.

Selecionar as boas pessoas, para o exercício dos diversos poderes na sociedade, deve ser um primeiro requisito, justamente a partir de critérios pré-estabelecidos, e do conhecimento que se tem dos candidatos, nas suas diferentes vertentes humanas, porque: «Hoje, mais do que nunca, faz-se necessária a compreensão da arte de governar em benefício do Estado e dos cidadãos, com arrojo e determinação, buscando satisfazer aos interesses e aspirações da sociedade, resistindo aos insidiosos convites à administração desidiosa.» (Ibid.:40).

Existe a necessidade de acreditarmos nas virtualidades da política, como há toda a conveniência em conservarmos um otimismo moderado, ter esperança de que as novas gerações saberão fazer mais e melhor, todavia, sempre que possível, e apetecível, em colaboração com os moderados das gerações anteriores, porque neste projeto de “Cidadania Plena”, não se pode, nem deve, excluir ninguém.

Todos seremos poucos para construirmos uma sociedade de sonhos, de utopias, enfim, um mundo bem melhor do que aquele que nós, os mais “velhos”, estivemos a tentar construir, certamente com alguns aspetos negativos, mas também com muitos pontos positivos.

É necessário manter ativas/os as/os cidadãs/ãos que desejem participar neste projeto, porque muitas serão as vantagens nesta simbiose de gerações. Seria de uma insensatez imensa, continuar a manter as pessoas mais idosas inativas, a definhar num qualquer estabelecimento de terceira idade, quando muitas delas têm, ainda, muito para dar à sociedade.

É urgente promover o “Envelhecimento Ativo” da nossa população sénior, porque todos temos uma dívida de gratidão para com essas pessoas, além de se vir a perder um património de conhecimentos, experiências e sabedoria, que elas transportam ao longo de décadas.

 

Bibliografia

 

SANTANA, Edilson, (2003). Arte da Política Mundana: reflexões sociopolíticas e filosóficas. Campinas, SP: Edicamp

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

NALAP.ORG

http://nalap.org/Directoria.aspx

http://nalap.org/Artigos.aspx

https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1

http://diamantinobartolo.blogspot.com

diamantino.bartolo@gmail.com

 https://www.facebook.com/ermezinda.bartolo 

                                                                                                                                                    

domingo, 5 de dezembro de 2021

Envolvência Política

A sociedade humana, minimamente organizada, sempre funciona com regras, sejam estas de natureza: social, jurídica ou consuetudinária. As comunidades ancestrais, ao nível das tribos, dos clãs, das famílias e dos Estados, cumprem as normas que estão estabelecidas, sob pena de, não as respeitando, as pessoas que prevaricam, serem punidas.

A organização política, administrativa e territorial de uma nação é da responsabilidade das entidades competentes, nas respetivas matérias, em cuja cúpula está o Poder Político, representado pelos diferentes departamentos que, em função da sua especificidade, assim elaboram as normas jurídico-constitucionais, às quais todos os setores da sociedade ficam subordinados.

Vários e influentes são os diferentes poderes existentes num país: económico, financeiro, empresarial, bancário, político, religioso, cultural, desportivo, todavia, o Poder Político, através das suas principais valências: legislativa, executiva e judicial, (também a moderadora, em alguns sistemas políticos) de facto é o grande interventor na sociedade, por vezes, demasiado controlador e pouco cumpridor.

Hoje, primeiro quarto do século XXI, existe uma política para todas as atividades humanas: comercial, empresarial, financeira, económica, educativa, formação profissional, saúde, emprego, segurança social, defesa, segurança interna e tantas outras, por isso: «Pode-se dizer que a política é uma arte, uma vez que exige do artífice habilidades especiais, uma grande sensibilidade, uma vocação peculiar de quem a pratica no tabuleiro do jogo pelo poder.» (SANTANA, 2003:1).

Mas a política não se fica, apenas, por determinadas habilidades, aliás, os estudos científicos estão muito avançados, e prosseguem em ordem a elevar esta atividade a um nível cada vez mais nobre, porque ela, a política: «Pode ser encarada como uma ciência. Fala-se, nesse caso, de ciência política, porque pode ser sistematizada. Os seres humanos, na luta pelo poder e para nele se manter, são passíveis de observação científica no laboratório das relações sociais.» (Ibid.).

Desde há milhares de anos que a sociedade, por mais rudimentar que seja a sua organização, não pode dispensar a sua estrutura política, da qual emanam as leis em ordem ao equilíbrio das diversas relações, entre os diferentes agentes que a integram, assim como conformar, harmoniosamente, as condutas individuais, por muito legítimas que sejam, ao interesse do todo.

O Direito, na sua componente consuetudinária e, principalmente, na sua dimensão jurídico-normativa moderna, ordena, disciplina e sanciona os comportamentos das pessoas que integram uma determinada comunidade, um território, uma língua, uma história, usos, costumes, tradições e objetivos comuns, ou seja, um País.

O exercício da atividade política, salvo as restrições legais, resultantes de sanções judiciais impeditivas, está acessível a qualquer cidadão no pleno uso dos seus deveres e direitos de cidadania, de resto: «O político, no dizer de Platão, não se diferencia dos demais homens, a não ser por conhecer melhor os fins da pólis, oferecendo uma luz que os guia nas sombras da caverna. Por isso, a atividade política deve ter, necessariamente, uma função pedagógica: a função de transformar os homens em cidadãos.» (Platão, in: Ibid.:4).

É importante referir que qualquer pessoa, enquanto cidadã, tem o dever, e o direito, de participar na vida comunitária, através das diversas instituições, defendendo causas, prosseguindo objetivos, atingindo resultados que satisfaçam as necessidades do bem-comum, nem de outra forma se justificaria o envolvimento na denominada “Coisa Pública”, aqui no seu conceito lato e não estritamente político.

É legítimo que uma pessoa não queira participar na vida comunitária. Mas não será correto que depois passe o tempo a criticar, quantas vezes, negativamente, o trabalho daqueles que, generosa, voluntária e graciosamente desempenham, e/ou assumem funções filantrópicas, a título gratuito, apenas com a satisfação pessoal de bem servir o seu semelhante.

A vida política, nas suas diferentes dimensões, quando levada a sério, ao serviço da comunidade, deve ser prestigiada, apoiada e louvada porque: «a política faz-se presente em todas as instâncias da vida, abrindo canais de participação fora do âmbito do exercício do governo. É esse o entendimento mais amplo da política, como experiência que se reflete na individualidade humana, harmonizando-se ao coletivo social. E, nesse ponto, pode-se dizer que a política é também uma ética – ética das condutas individuais em razão ao coletivo social ou da multiplicidade da pólis.» (Ibid.:5).

Para a maior parte das atividades humanas, existe uma política, como por exemplo, uma política para a: saúde, educação, trabalho, formação, economia, monetária, entre outras. Neste arquitetar de uma política para uma determinada área, devem estar subjacentes os diversos recursos: humanos, financeiros, científicos e tecnológicos, em ordem a conseguir-se os melhores resultados para o público-alvo dessa política.

Estando a política presente em, praticamente, tudo o que a pessoa humana faz, individualmente considerada, ou participando em grupo, a verdade é que: «Em sentido amplo, os políticos são todos os homens, todos os cidadãos. Já político governante é, de igual, gente do povo, mas, temporariamente e por delegação, no exercício do poder. Seu papel é o de dedicar-se à coletividade. Quando essa dedicação é pautada por interesses pessoais, diz-se que houve desvio do poder.» (Ibid.:6).

Na verdade, com indesejável frequência, acontece que muitas pessoas que se candidatam a cargos públicos, ou de natureza pública, sindical, institucional, social, clubística, entre outros, antes de serem eleitos, e durante as campanhas eleitorais, ditas de esclarecimento e convencimento dos eleitores, a manipulação impera, as falsas promessas, de tantas vezes repetidas, até parecem verdades incontestáveis, que levam os potenciais eleitores a acreditar e a apoiar um tal candidato e, desta forma, populista, ilusória e demagogicamente, se ganham eleições.

Ora, a política, para qualquer que seja a atividade, não pode, em nenhuma circunstância, pautar-se pela inverosimilhança, pelo logro, pela promessa fácil que se sabe não vir a ser cumprida, porque: «Em um ou outro caso, o homem estará tomando uma posição política; e a melhor posição é sempre a que privilegia os interesses sociais e o bem comum» (Ibid.:7).

A vida em sociedade pressupõe regras, princípios e valores, uma cultura cívica que impulsione as pessoas à participação ativa, para que muitos dos problemas que o Estado/Governo não consegue solucionar, sejam resolvidos, precisamente, pela sociedade civil, organizada nas suas diversas instituições e, em muitas situações, tem-se conhecimento que os resultados são, francamente, melhores, com menos recursos e mais rapidamente conseguidos.

É por isso que: «quem deseja uma sociedade humanizada, se pretender a extinção ou, pelo menos, a diminuição das injustiças sociais, deverá participar do processo político em todas as suas dimensões, assumindo o papel de cidadão, buscando transformar a realidade, a partir de uma efetiva atuação na vida político-social, de forma crítica e dialética. Jamais poderá ser um mero observador do descalabro que afeta a todos, em seus múltiplos e variados mecanismos de exclusão.» (Ibid.:10).

O mundo vive numa sucessão de crises e contra-crises. Habitualmente, os que mais sofrem as consequências dos períodos críticos são: os que menos podem; que menos influência têm; os mais desprotegidos; também os que não se conformam com determinados regimes político-sociais; económico-financeiros, logo, parte da solução caberá a esses grupos de “excluídos”, organizando-se e “lutando” pelo poder, pela via pacífica e democrática do diálogo e, uma vez assumidos os cargos, reporem injustiças e melhores condições de vida, para a comunidade em geral e, particularmente, para os que, injusta, ilegítima e ilegalmente, mais sofreram no passado.

Recorde-se que: «Os que se dizem acima ou fora da participação política apenas desempenham o papel dos omissos, tão ao gosto das elites dominantes, que, à evidência, os mantêm despersonalizados para, desse modo, melhor poder manipulá-los e dirigir a sociedade sem oposição. Com efeito, irrefutavelmente, essa é a pior opção política, por contribuir para a mantença do conservadorismo doentio. E os que assim procedem são, consciente ou inconscientemente, analfabetos políticos.» (Ibid.:9).

 

Bibliografia

 

SANTANA, Edilson, (2003). Arte da Política Mundana: reflexões sociopolíticas e filosóficas. Campinas, SP: Edicamp

  

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

NALAP.ORG

http://nalap.org/Directoria.aspx

http://nalap.org/Artigos.aspx

https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1

http://diamantinobartolo.blogspot.com

diamantino.bartolo@gmail.com

https://www.facebook.com/ermezinda.bartolo 

domingo, 28 de novembro de 2021

Controlo do Destino Humano

Até que ponto se pode afirmar, e confirmar, que o Ser Humano é dono do seu próprio destino? Que o pode controlar? Trata-se de questões extremamente complexas, de difícil resposta e de poucas ou nenhumas certezas, porque são imensas as variáveis que interferem com a vida humana, com a sociedade e com o mundo, muitas das quais, escapam à previsão, controlo, verificação e resolução do próprio Ser Humano, não obstante o potencial científico, técnico e tecnológico de que dispõe, atualmente, em quantidade e qualidade.

Neste âmbito, poderá existir sim, uma crise que se agrava com a dificuldade em se explicar, cabal e inequivocamente, o “Destino” da pessoa humana, na sua componente espiritual, alma, consciência ou qualquer outra designação, que seja possível adotar, principalmente para quem acredita nesta dimensão que, provavelmente, estabelece a diferença fundamental entre o Ser Humano e um qualquer outro ser, até agora descoberto, e conhecido pela ciência.

Afirmar-se que toda e qualquer pessoa é dona do seu “Destino”, parece excessivo, na medida em que nem tudo depende de cada interveniente na sociedade. Há situações que, embora se possam prever, como por exemplo: certo tipo de patologias, acidentes de trabalho, desemprego, entre outras, a verdade é que nem sempre é possível determinar o momento exato, as circunstâncias em que vão ocorrer e as consequências que daí advirão.

A título, meramente ilustrativo, coloque-se uma hipótese real: uma pessoa que tem necessidade de viajar, todos os dias, na sua própria viatura, para o local de trabalho, ou simples passeio turístico, que dirige obedecendo a todas as normas e precauções, de repente é abalroada por outra viatura, provocando grandes estragos materiais e, eventualmente, ferimentos graves, ou até a morte, no condutor que, sem qualquer culpa, sofreu um acidente.

Seria possível prever esta situação, nas precisas condições em que ocorreu? Claro que todas as pessoas que circulam numa via qualquer, estão sujeitas a acidentes; mas como “adivinhar” que: àquela hora, naquele local, um outro condutor, provocaria uma situação, da qual não temos qualquer culpa nem responsabilidade? Se a resposta for positiva, ou seja, decifrar o que de mal nos pode acontecer, então ninguém pode circular, nem sair de casa, no limite, toda a gente tem de viver recolhida e “estaticamente”, o que, também é impossível e, mesmo assim, continua a não haver nenhuma garantia de que perduraremos vivos.

Neste mundo moderno, em que é possível questionar muitos princípios, valores, situações, comportamentos e até sentimentos, respeitando, todavia, deveres e direitos das restantes pessoas, também é verdade que há determinadas interrogações que continuam sem respostas convincentes, designadamente: aquela célebre e milenar trilogia: “Quem Sou? De Onde Venho? Para Onde Vou?”.

A existência humana é riquíssima, e este mundo moderno em que ela decorre, torna-a, ainda, mais interessante e instigadora, para que sejam introduzidas, cada vez mais, e melhores, condições de vida. Há uma busca incessante, na determinação de uma orientação para se caminhar na direção a um “Porto Seguro”, este construído em cima de valores essenciais à sociedade civilizada.

Ao contrário do que por vezes se afirma, em certos setores, o mundo moderno tem imensos aspetos positivos e: «Como ponto positivo do mundo moderno, deve ser colocado o crescimento, na consciência humana, de alguns grandes valores, como o sentido da dignidade da pessoa humana e das liberdades fundamentais. Também o sentido da tolerância e do pluralismo, por meio do qual o outro é aceito e valorizado por aquilo que é. O sentido da solidariedade, que liga os homens a um só destino, a recusa do racismo e de qualquer discriminação de ordem cultural, política e religiosa. O sentido da igualdade dos homens e da necessidade de que todos gozem dos bens da terra e dos direitos humanos essenciais. A recusa da tortura, da pena de morte e da guerra, aspirando à paz. A preferência dada à democracia como o regime político, no qual o homem é mais respeitado e suas exigências melhor satisfeitas. A valorização da mulher.» (DENNY, 2003:70).

O Controlo do destino da pessoa, enquanto entidade titular de princípios, valores e sentimentos, no espaço físico da Terra é, relativamente, conseguido, e verifica-se grande preocupação em aperfeiçoar os pontos positivos, para que a vida neste planeta seja cada vez mais fácil e aliciante.

Nesta movimentação, que cada vez é mais acelerada, nem sempre se consegue pensar no real sentido da vida humana, o que provoca alguma desestabilização e desorientação, individual e coletiva. Vivemos assoberbados por um “materialismo sufocante” e o mais importante, para um número crescente de pessoas, é o TER, quando talvez fosse fundamental lutarmos, também, pelo SER, porque é no sermos pessoas, que nos podemos realizar, com superioridade e dignidade. É no sermos verdadeiramente pessoas humanas, que nos distinguimos dos restantes seres que connosco coabitam neste planeta.

O mundo moderno, certamente, e não obstante os muitos pontos positivos, não é um “mar de rosas”, ele está, tal como a vida, repleto de “esquinas pontiagudas”, de “montanhas” e “vales” o mesmo é dizer, de “altos e baixos”. Que ninguém pense que vai estar sempre do lado bom da vida, e que nunca vai necessitar do apoio do seu semelhante. A questão radical, por isso mesmo, continua a atormentar-nos.

Com efeito: «Não só diante de acontecimentos dramáticos, mas também na frente do desaparecimento de um ente querido, defronte a um perigo de morte, na presença de uma doença grave, de um desastre financeiro, da falência de uma empresa à qual a pessoa havia vinculado todo o seu ser. Em suma, diante de tudo aquilo que, de um modo ou de outro, faz a pessoa experimentar a fugacidade das coisas, a fragilidade da existência, a futilidade daquilo que se faz, o vazio de toda a aflição para acumular dinheiro, para “vencer na vida”, para impor-se à admiração e atenção dos outros, não se pode afastar o problema do sentido da existência, daquilo que se faz e daquilo que se sofre. Que sentido tem a vida?» (DENNY, 2003 :74).

O controlo do destino humano, ou o sentido da vida, está, realmente, acessível ao poderio científico, técnico e tecnológico do homem? Claro que o homem (este termo é sempre referido aos dois géneros: homem e mulher, enfim, Humanidade), que realmente se preocupa com estas questões, que sabe que é diferente de todos os outros seres, não poderá deixar de viver angustiado, independentemente do que possam afirmar muitos outros seus congéneres.

Uma assertiva, porém, não se pode ignorar: «O homem é pessoa, isto é, um ser inteligente e livre que tem consciência de transcender, com a sua razão e a sua liberdade, o mundo da irracionalidade e do determinismo, e de ter um destino que supera aquele de outros viventes. A vida humana deve ter um sentido próprio e específico. Mas, qual? Para alguns, tal sentido seria imanente à própria vida humana. Ou seja, o sentido da vida seria viver bem, viver feliz. Ora, o que torna o ser humano feliz é ter uma boa saúde e um bem-estar material suficiente, é amar e ser amado, é a cultura, é o gozo dos bens espirituais e materiais que a vida e o mundo oferecem. O sentido da vida estaria em procurar estes bens que tornam o homem feliz, estaria, sobretudo, em gozá-los.» (Ibid.:76-77).

Neste contexto, e com tais pressupostos, poder-se-á afirmar, então, o sentido da vida humana é que toda a pessoa seja feliz, precisamente no conceito de felicidade que se acaba de citar, no qual se incluem os bens materiais, mas também, e afinal, os espirituais, como de resto sempre se tem defendido, ao longo de centenas de reflexões sobre estas temáticas.

O controlo do destino do homem, enquanto rumo e vivência para a felicidade, será, relativamente, possível, sendo certo que ninguém vai ter tudo, mesmo tudo, o que deseja da vida, até porque, é da natureza humana querer sempre mais e nunca se estar satisfeito com o que se tem.

Mas será que a felicidade, depois de alcançada, vai permanecer para o resto da vida? Dificilmente alguém poderá ter uma resposta positiva, porque: «A felicidade humana, também daqueles poucos aos quais nada falta, é, pois, insidiada e, muitas vezes, destruída pelo sofrimento. Este assume formas diferentes, podendo ser físico, espiritual e ético. Pode referir-se ao próprio corpo, ao próprio espírito, ao próprio coração. A pessoa pode sofrer a perda dos bens por uma doença, por um insucesso, por um dano que lhe é feito, pela traição de uma pessoa cara, pela ingratidão de um amigo.» (Ibid.:77).

Aproximamo-nos, portanto, de uma certeza: controlar o destino humano, o sentido para a via, é, praticamente, impossível. Todo o instrumental científico, técnico e tecnológico, o progresso e a inteligência humana, continuam a ser impotentes para dar à pessoa verdadeiramente humana, o que ela mais deseja – a felicidade total e perene, esta composta por todo um manancial de ingredientes materiais e espirituais, até porque, quanto mais não seja: «A estrutura humana faz com que o ser humano seja sempre inquieto, descontente, desiludido. Ele está sempre à procurar de uma outra coisa, se bem que pareça que nada lhe falte ou não deva desejar mais nada.» (Ibid.:81).

 

Bibliografia.

 

DENNY, Ercílio A., (2003). Fragmentos de um Discurso sobre a Liberdade e Responsabilidade. Campinas, SP: Edicamp

  

Para Refletir: https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1/videos/1552897578209315/

 

«Protejam-se. Vamos vencer o vírus. Cuidem de vós. Cuidem de todos». Cumpram, rigorosamente, as instruções das autoridades competentes. Estamos todos de passagem, e no mesmo barco chamado: “Planeta Terra”, de onde todos, mais tarde ou mais cedo, partiremos, de mãos vazias!!! Tenhamos a HUMILDADE de nos perdoarmos uns aos outros, porque será o único “CAPITAL” que deixaremos aos vindouros: “O PERDÃO”. 

 

Alimentemos o nosso espírito com a ORAÇÃO e a bela música: 

https://youtu.be/DdOEpfypWQA 

 

https://youtu.be/RY2HDpAMqEoo  https://youtu.be/-EjzaaNM0iw    https://youtu.be/PRFkpwcuS90  https://youtu.be/Z7pFwsX6UVc  https://www.youtube.com/watch?v=RCDk-Bqxfdc  https://www.youtube.com/watch?v=ispB4WbcRhg

 

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

NALAP.ORG

http://nalap.org/Directoria.aspx

http://nalap.org/Artigos.aspx

https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1

http://diamantinobartolo.blogspot.com

diamantino.bartolo@gmail.com

                                                                                                             https://www.facebook.com/ermezinda.bartolo