domingo, 25 de novembro de 2012

Gerir o Tempo


É, praticamente, um lugar-comum as pessoas dizerem: “Não tenho tempo”, “Quanto tiver tempo eu …”, “Agora estou ocupada/o”, “Vou ver se consigo um tempinho para…”. Sempre a eterna desculpa da “falta de tempo”, quando na verdade o que se deveria dizer é que: “Ainda não consigo gerir o tempo equilibradamente” ou, com toda a humildade, pedir desculpa, quando devido à desorganização reinante, no que respeita à gestão do tempo, não se consegue respeitar os compromissos assumidos.
Com efeito, sabe-se que pelas mais variadíssimas razões e diferentes circunstâncias, o tempo é um bem escasso, que não é suscetível de alterar o seu curso inexorável, porque: “tempo que passa é tempo que não volta”, ele é irreversível, irrepetível e linear, sempre numa sequência lógica de unidades: milénios, séculos, anos, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos. Por isso se atesta, com frequência: “Tempo é Dinheiro”.
Afirmações como: “Recuperar o tempo perdido”, “Ganhar tempo”, “Perder tempo”, “Gerir o tempo”, ouvem-se imensas vezes, e até se tenta executar tal estratégia no sentido de se aproveitar o tempo. Convém notar que a gestão do tempo, em função do que ele representa na vida de cada pessoa, é muito importante e então pode-se dizer que sempre haverá tempo para o que se desejar, certamente que de harmonia com o que se pretende da vida, tendo em conta as prioridades fixadas.
Administrar o tempo é tarefa complexa se não se utilizarem estratégias e metodologias, precisamente depois de se estabelecer prioridades, estas, certamente, em consonância com as exigências da vida moderna e num contexto de imensas solicitações e afazeres, bem como os objetivos que se desejam alcançar, ao longo da existência humana
É sabido que uma incorreta gestão do tempo provoca transtornos e, quantas vezes, graves e irreparáveis prejuízos, não só para quem é responsável por essa má administração do tempo, como também para quem depende, por exemplo, da pontualidade de outra pessoa.
Refletir sobre a inadequada gestão do tempo, no contexto organizacional, seja numa empresa, numa instituição de qualquer outra natureza, família incluída, afigura-se um exercício necessário e pertinente, porém, antes disso, uma breve abordagem sobre a má gestão numa relação entre pessoas.
Na verdade, verifica-se que a má gerência do tempo, pode provocar dificuldades no relacionamento entre duas pessoas que se querem bem, que são amigas de verdade (bom, aqui se realmente há amizade sincera, sempre haverá tempo para dispensar à pessoa que consideramos genuinamente amiga).
Com efeito, se na verdade temos amizade autêntica, se gostamos incondicionalmente de outra pessoa e sabemos que essa mesma pessoa também é nossa amiga, só em muitíssimas poucas circunstâncias é que, transitoriamente, não teremos tempo para estarmos com ela, para a contatarmos, por uma qualquer via. A má gestão do tempo, neste contexto, pode levar à quebra de confiança, à dor, ao sofrimento, ao desgosto, à destruição da amizade da pessoa que sofre esta situação, vinda da parte da/o alegada/o amiga/o.
Muito embora haja a tentação de se chegar atrasado a determinados eventos, presumivelmente porque é “chique”, a verdade é que na maioria das situações o atraso é consequência direta da inadequada gestão do tempo. Esta dificuldade, que muitas pessoas têm, provoca, em determinados âmbitos, desde logo, laborais, grandes prejuízos ao nível, por exemplo, da produtividade.
Sabe-se que: «A perda de produtividade não é o único resultado da falta de pontualidade. As consequências sobre a produtividade de colegas que dependem da pessoa atrasada também devem ser incluídas (…). Devem também ser ponderados outros impactos menos visíveis como: a) as reações negativas de empregados e clientes que esperam (e.g., irritação; menor cooperação; conflitos); b) a imagem de negligência e desrespeito que passa para outros empregados e clientes; c) propagação e incentivo a uma cultura de impontualidade. Alguns outros fazem ainda notar que os atrasos podem ser um dos primeiros passos para outros comportamentos negativos, como o absentismo e a rotatividade.» KOLOWSKY, et al., 1997, in CUNHA, et al., 2010:796).
O incumprimento de diversas obrigações, a ausência, ou a chegada tardia a locais e eventos de vária natureza, porque a gestão do tempo não foi a mais apropriada pode, em certas conjunturas, revelar desconsideração e falta de respeito por quem teve de esperar. O tempo é um recurso natural, cuja boa utilização proporciona a resolução de imensos problemas, (ou agrava situações, quando mal gerido) de resto até se costuma dizer que: “o tempo tudo resolve, tudo cura, que é preciso dar tempo ao tempo”.
Igualmente grave é quando, alegadamente, por falta de tempo, se deixa de conviver com as pessoas que nos querem bem, levando a atitudes que em nada contribuem para o bem-estar e, pelo contrário, por vezes, até prejudicam.
É certo que se vive a um ritmo acelerado, procurando-se fazer várias coisas ao mesmo tempo, assumindo-se compromissos que não se tem a certeza de poderem vir a ser cumpridos, promete-se executar determinadas tarefas, realizar diversos projetos, todavia, como depois nem tudo é feito e cumprido, surge a “tábua de salvação”, abusivamente denominada por: “falta de tempo”. Das duas, uma: ou se assumem compromissos e estes são cumpridos; ou não se deverá comprometer com o que honestamente, e à partida, se sabe ser impossível de concretizar.
Muitas são as teorias para ensinar a gerir o tempo. Ministram-se cursos com tal finalidade. Elaboram-se técnicas de boas-práticas. Há um conjunto muito grande de instrumentos para utilização eficaz do tempo. Compreende-se que seja difícil, de um momento para o outro, corrigir hábitos culturais, porém, compete a cada pessoa saber escolher prioridades, regras, valores e interesses.
A boa gestão do tempo proporciona melhor qualidade de vida, na medida em que facilita a realização do que se deseja. Possibilita melhores relacionamentos pessoais, sociais e profissionais. Ao nível pessoal, que melhor se pode desejar do que uma conversa tranquila, com tempo, com um amigo? Que mais se pode querer do que conviver, direta e presencialmente, com as pessoas de quem se gosta sinceramente, sem ter a violência do cronómetro?
O tempo, bem administrado, vai chegando para tudo o que se considera importante, urgente e necessário. As futilidades também poderão ter o seu tempo, quando os compromissos assumidos estão cumpridos, quando as relações pessoais, especialmente as de amizade, estão satisfeitas, quando as tarefas familiares e profissionais estão realizadas.
O argumento de que não se tem tempo, para com um amigo de verdade, é próprio de quem deseja romper com uma relação pessoal e que pode revelar, também, desprezo e indiferença, para com tal amigo. A má gestão do tempo não deve servir para humilhar ninguém. O tempo, bem gerido, é um dos grandes recursos, a par do capital humano e conduz ao sucesso e à felicidade.

Bibliografia

CUNHA, Miguel Pina et. al., (2010). Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano. 2ª Edição. Lisboa: Edições Sílabo, Ldª.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
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domingo, 18 de novembro de 2012

A Filosofia Estuda-se?


Um outro problema que nos atormenta, nesta segunda década do século  XXI, tem a ver com a possibilidade, ou não, de se estudar Filosofia? E pelo estudo da Filosofia se chegar a alguma conclusão sobre o que é a Filosofia? Há quem defenda que: «A Filosofia estuda-se como outra matéria qualquer, com algum esforço, algum prazer, alguma disciplina. A organização do estudo é fundamental para que os conhecimentos não apareçam dispersos, desligados uns dos outros e, sobretudo, de nós próprios. Só uma boa organização do estudo permite uma boa compreensão e assimilação do que pretendemos. (...) A Filosofia não tem o monopólio destas ou daquelas ideias, embora exista um modo filosófico de as expressar.» (TAVARES & FERRO, 1983:25)
Tem-se constatado, ao longo de diversas reflexões, quão complexa é a Filosofia, face a outras áreas disciplinares, nomeadamente, com as ciências exatas. De facto, a “máquina humana” é, ainda hoje, um labirinto de incógnitas, pese, embora, o esforço das várias ciências humanas, cada uma com o (s) seu (s) objecto (s) de estudo.
À Filosofia, contudo, não é fácil determinar tal objecto, pois trata-se de: «Uma discussão que já vem de longo tempo entre os filósofos no seu conjunto, e os especialistas das regras da acção humana, quer estes sejam filósofos ou não, mas em nome da moral (religiosa ou não) da política, ou de qualquer Teoria do Comportamento.» (LEGRAND, 1983:176)
Por tudo o que fica analisado, não será difícil aceitar que o filósofo, ao contrário de outros intervenientes no processo humano tem, e terá sempre, o seu trabalho dificultado e inacabado. Sabendo-se, ainda, que os tempos contemporâneos não são nada fáceis, nem favoráveis ao desenvolvimento da Filosofia, pelo menos em Portugal, onde uma certa mentalidade tecnocrata, a vários níveis político-institucionais, procura ignorar este saber tão velho quanto o pensamento humano.
Empresários, políticos, governantes, técnicos e muitos outros sectores da actividade económica do país, olham para os licenciados em Filosofia como os "parentes pobres" da pseudo-intelectualidade salvífica, como uns sonhadores que nada produzem, enfim como desnecessários à sociedade. É contra tal situação que nós, filósofos de todo o mundo, nos devemos indignar e exigir o respeito e o reconhecimento devidos.

Bibliografia
 
LEGRAND, Gerard (Dir.), (1983). Dicionário de Filosofia, Trad. De Armando J. Rodrigues e João Gama, Lisboa, Edições 70.
TAVARES, Manuel; FERRO, Mário, (1983). Guia do Estudante de Filosofia. 4a Ed. Lisboa: Editorial Presença

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 11 de novembro de 2012

Justiça, Bússola para a Inclusão


As desigualdades sociais, genericamente consideradas, e nelas se incluindo todas as formas de discriminação, no acesso a bens e serviços públicos, tem sido, ao longo dos séculos, um argumento muito forte para explicar certas situações conflituosas e outras de natureza aparentemente pacíficas, porque se desenvolvem e mantêm no silêncio daqueles que já não são ouvidos pelos responsáveis por muitas destas situações.
A exclusão, qualquer que ela seja, é sempre uma situação deprimente para quem nela se encontra. O processo que pode conduzir a uma certa diminuição deste fenómeno passa pela aplicação de uma justiça retributiva, na distribuição dos rendimentos e da riqueza produzida pela comunidade e/ou a partir da comunidade; passa, também, por uma justiça mais humanizada, na facilitação no acesso e igualdade de oportunidades.
 Como muito bem é sabido, mesmo em tempo de crise, ainda há quem aceda, com facilidade, a certas ocupações, enquanto outros continuam a procurá-las sem conseguirem uma colocação, por mais modesta que seja; justiça, ainda, na avaliação das pessoas, quando no exercício das suas funções profissionais, académicas, sociais, políticas ou outras.
A inclusão plena das pessoas na sociedade é indissociável da aplicação da justiça, porque todo e qualquer indivíduo humano, que seja objeto de injustiças, o que frequentemente resulta é uma certa evolução para a indignação, para atitudes agressivas, violentas, vinganças e perseguições, se não houver uma forma de suster tal progressão, sucessão de práticas que conduzem ao crime, à marginalização, à dificuldade de reintegração na sociedade. Daí à exclusão é, apenas, mais um pequenino ato condenável pela sociedade.
O dever ético-moral e de cidadania consiste, então, na prática de atos justos, de uns para com os outros, das instituições públicas e/ou privadas para com todas as pessoas em geral, sem quaisquer discriminações negativas, aliás, quando se procede ao julgamento de uma pessoa e nele se incluem apenas argumentos negativos, com a intenção premeditada, ou não, de a prejudicar, já se está ao nível da injustiça e, portanto, da exclusão.
A pessoa, em razão de tal apreciação, passa a estar excluída de determinados bens, serviços, liberdades e valores, próprios da sua dignidade, com a consideração que lhe é devida, respeito e solidariedade.
Ora, se a apreciação e consequente decisão fossem justas, provavelmente, as consequências seriam diferentes e no sentido mais favorável e, nestas circunstâncias, talvez não houvesse lugar a nenhuma forma de exclusão.
O conceito de justiça, no sentido da ética kantiana: “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”, parece um bom princípio para cada pessoa aperfeiçoar a sua noção de justiça e agir em conformidade.
Interiorizar este sentimento de justiça, é um projecto que deve começar, o mais cedo possível, na vida das pessoas, e que se vai prolongar por toda a existência, admitindo-se que a justiça, em toda a sua plenitude, não estará acessível ao ser humano, por isso mais uma razão para que sejam feitos todos os esforços para que, pelo menos, não se cometam tantas injustiças, porque se estas forem reduzidas, provavelmente, o número de pessoas excluídas também será reduzido.
Desenvolver um sistema de procedimentos justos em cada cidadão, vai contribuir, a curto prazo, para uma sociedade mais inclusiva. Educar, formar, socializar as pessoas para comportamentos justos, tem de ser um projecto que envolva toda a sociedade em geral e os principais agentes socializadores em particular.
Impõe-se interiorizar no espírito das gerações, a partir da pequena comunidade, até um universo populacional de mais de sete biliões de seres humanos, para as boas práticas de atos justos, em quaisquer situações e circunstâncias, fazendo parte da normalidade e da rotina diárias, naturalmente que é um processo longo, que ocupa a vida inteira de cada indivíduo.
Fomentar-se uma cultura para a “construção de uma nova justiça, não punitiva e igualmente generosa e solidária” (COLETA, 2005:3), sempre que tal for possível e benéfico, conjugadamente com a prática de atos justos e denunciar as arbitrariedades, as discriminações negativas, são comportamentos que ajudam a inclusão das pessoas na sociedade que se pretende, também ela, justa, solidária e inclusiva: uma sociedade de todos, com iguais oportunidades para todos.

Bibliografia

COLETA, António Carlos Dela, (2005). Primeira Cartilha de Neurofisiologia Cerebral e Endócrina, Especialmente para Professores e Pais de Alunos de Escolas do Ensino Fundamental e Médio, Rio Claro, SP – Brasil: Graff Set, Gráfica e Editora.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
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domingo, 4 de novembro de 2012

A Ética do Poder

 
As solicitações que se colocam a cada pessoa, em todos os contextos em que ela se envolve, são cada vez mais exigentes, pressupõem uma permanente atualização nos domínios em que são necessários ao bom desempenho das tarefas inerentes aos diversos papeis que cada uma é chamada a desempenhar.
E se, por um lado: a relação pessoa-máquina já é difícil, devido à tecnologia cada vez mais sofisticada e multifuncional, obrigando, inclusivamente, a uma formação específica e constantes aperfeiçoamentos, atualizações e especializações; por outro lado, o relacionamento interpessoal torna-se, extremamente, complexo, na medida em que a pessoa humana, para além da componente física, visível e relativamente conhecida, tem uma outra dimensão, inefável, que se pode designar, para uma compreensão simplificada, por psíquica, consciência, espírito ou alma.
A formação da pessoa humana é, portanto, muito exigente, postula uma aprendizagem ao longo da vida e que nunca ficará concluída, no sentido de relacionar-se com os seus pares, de forma exata e infalível, pela simples razão de que não há duas pessoas exatamente iguais. Por enquanto existem dificuldades que são difíceis de superar, desde logo, porque há uma grande diversidade de conceitos sobre uma hierarquia axiológica, a sua importância e necessidade.
Com efeito, cada pessoa tem uma noção diferente sobre determinados valores, que regem a sociedade nas suas múltiplas facetas e estruturas. O elevado grau de subjetividade que persiste, na avaliação de determinados valores, dificulta: por um lado, o relacionamento interpessoal; mas também se pode considerar uma análise positiva, justamente, a partir da diferença de conceitos, que talvez conduza a uma perspetiva, eventualmente, mais adequada à sociedade contemporânea.
O ser humano, aliás, tal como muitos outros animais, busca, ao longo da vida, várias situações, designadamente, aquelas que de alguma forma lhe permitem exercer autoridade, poder, influência sobre os seus semelhantes e, até, sobre os restantes constituintes da natureza.
Mas poder significa, principalmente, liderança, porque só se exerce o poder sobre alguém que, voluntária ou obrigatoriamente, obedece, deixa-se conduzir, aceita as ordens, as sanções, positivas ou negativas. De facto, “quem lidera, pode”.
O poder desenvolve-se, com mais destaque, nas pessoas que, de alguma forma, exercem um cargo, seja de que natureza for que, como é sabido: «O mais conhecido poder de posição é o poder do cargo, outorgado a alguém assim que assume determinadas responsabilidades, numa organização. É o poder instituído, convencionado a um cargo específico, referendado diariamente em todos os atos formais na estrutura organizacional.» (ARAÚJO, 1999:94).
 É indiscutível que, para se exercer o poder, é necessária uma preparação muito específica e rigorosa, de resto, até se pode ter em atenção o que rezam alguns aforismos populares: “Nunca sirvas a quem serviu, nem peças a quem pediu”; “Quem não sabe obedecer, não sabe mandar”, “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Portanto, poder e obediência, ou vice-versa, são situações complementares, e nunca será benéfico que sejam entendidas como adversárias porque, estas sim, conduzem ao conflito.
Na relação interpessoal o poder, ainda que sob a forma tácita, está presente, ou então sob uma qualquer outra dimensão: moral, religiosa, política, técnica, científica, económica, empresarial, profissional, paternal, entre outras. Há sempre uma parte que tem mais poder, evidentemente, num contexto de estatutos sócio-profissional, cultural, ou qualquer outro, porque enquanto pessoas humanas, não poderá haver qualquer superioridade: «Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei» (CRP, Artº 13º, nº 1).
Qualquer líder que se preze de exercer o poder, seja qual for, por exemplo: democrático, político, militar, religioso, empresarial, docente, económico, entre outros, sempre que os seus liderados têm sucesso, numa determina ação, todo o mérito deverá ser atribuído a eles, que devem ser elogiados; todavia, em caso de fracasso, o líder deverá saber tomar a atitude correta, porque: «Assumir a responsabilidade é tomar para si o controlo de determinada situação, comprometendo-se com o seu resultado. É muito saudável e vital para relações que se pretendem produtivas.» (Ibid:100)
O exercício do poder não envolve, apenas, determinadas caraterísticas, tais como liderança democrática, prudência, sabedoria, humildade e sentido de justiça. O poder também exerce influência nos sentimentos, quer do líder e, principalmente, dos liderados, na medida em que: «Os sentimentos e, em especial, o medo interferem muito na relação de poder e no desempenho. Sentimentos de frustração, vitória, incapacidade, confiança, humilhação ou reconhecimento estão profundamente conectados com a disposição de enfrentar obstáculos e desafios.» (Ibid.)
O exercício do poder democrático, em qualquer organização, deve obedecer a uma Ética própria, por forma a, em circunstância alguma, humilhar. É importante assumir uma Ética do poder e para isso é preciso merecer o poder e não conquistá-lo a qualquer preço, porque realmente: «Poder, reconhecimento e respeito se conquistam por merecimento. Não vem de graça. São os comportamentos, as ações do dia-a-dia que demonstram quando somos confiáveis, quando merecemos – de facto – o poder que está nos sendo atribuído.» Ibid:173).
O exercício do poder, com Ética, implica, ainda, a exigência de cada pessoa se conhecer a si própria, saber escutar-se e ouvir atentamente o tribunal da sua consciência. As razões que cada pessoa apresenta para justificar as suas atitudes têm de ser escutadas porque: «Ao escutarmos os outros, descobrimo-nos a nós mesmos como seres singulares, distintos, dotados de ideias próprias e capazes de delimitar fronteiras e espaços de convergência com o outro.» (TORRABLDA, 2010:182).
A tentação do exercício do “poder-pelo-poder” é uma caraterística do ser humano, todavia, é essencial que também haja um esforço de grande humildade, de gratidão para com aquelas pessoas sobre quem se exerce algum tipo de poder, porque lideres e liderados são uma única dimensão do poder: uns não existem sem os outros. O apreço deve ser sempre recíproco.
A estima e consideração mútuas, a gratidão, a solidariedade, a amizade, a lealdade, a cumplicidade e a reciprocidade serão, talvez, os melhores ingredientes para que desta relação, entre líder e liderado, frutifique bons e duradouros frutos, entre as pessoas que, realmente se querem bem, independentemente dos estatutos que tenham na vida.
A amizade sincera e incondicional, quando for possível e desejável pelas partes, deverá ser o núcleo duro das relações entre as pessoas, independentemente dos cargos e situações que detenham na sociedade. Assumida uma amizade pura, entre duas pessoas, tudo o resto decorre com alegria e felicidade, com aceitação da crítica justa, amiga, corretora, sempre no sentido do aperfeiçoamento.

Bibliografia

ARAUJO, Ane (1999). Coach: Um parceiro para o seu sucesso. 6ª Ed. São Paulo: Editora Gente
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA, (2004), Versão de 2004. Porto: Porto Editora.
TORRABLDA, Francesc, (2010). A Arte de Saber Escutar. Trad. António Manuel Venda. Lisboa: Guerra e Paz, Editores S.A. 
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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