domingo, 24 de setembro de 2017

Pilares para Educar e Formar

A educação/formação do homem contemporâneo, numa perspetiva de futuro, no sentido de se aperfeiçoar e consolidar uma sociedade moderna, justa, tolerante, solidária e produtiva, pressupõe investigação, conhecimento e prática, eventualmente inverificados ou inconfirmados pelos critérios científicos e tecnológicos, mas não menos credíveis, práticos e úteis, na vida corrente de cada pessoa.
 A fórmula mágica, qual receita milagrosa, para educar/formar pessoas humanas, a ciência e a técnica ainda não a revelaram inequivocamente, o que não impede de se tentar outras abordagens, transmitir algumas práticas e valores: quer pela comunicação tradicional; quer pelas boas-práticas de quem pode e deve ministrar tais matérias, inegavelmente, os professores/formadores, encarregados de educação, Igrejas, numa primeira fase da vida da criança, do adolescente e do jovem; posteriormente, já na idade adulta, também as empresas, entidades formadoras, a própria sociedade.
E se a educação e a formação profissional devem ficar sob a responsabilidade dos respetivos técnicos e avaliada a sua evolução no aluno, e no formando, pelos critérios e instrumentos da ciência e da técnica, outro tanto não será de fácil aplicação, no que se refere aos conhecimentos, comportamentos e integração na comunidade, daquele mesmo jovem e/ou adulto, no tocante aos domínios sócio-culturais e atitudinais.
A seleção de tais conhecimentos e práticas, que possam resultar numa pessoa humana, com um novo perfil do profissional-cidadão, é difícil de se realizar, todavia, a título de uma hipótese possível e verificável, certamente entre muitas outras, abordem-se quatro dimensões ou pilares, que em muito podem contribuir para a construção deste magnífico edifício que é o novo cidadão contemporâneo, justamente, a partir da: liberdade, democracia, cidadania e educação, entre outros igualmente importantes, como a religião, esta considerada no seu expoente máximo que se eleva através do espírito, no sentido de um Absoluto: Deus.
Trata-se de uma construção delicada, complexa, cujo arquiteto não pode, nem deve, orientar os trabalhos à distância, sob pena da construção ficar ao livre arbítrio dos trabalhadores, ou seja, este arquiteto que aqui é substituído pelo professor/formador, família e Igreja, tem de estar presente, envolver-se com os “materiais” que vão ser trabalhados, na circunstância, os educandos/formandos, a partir das técnicas referenciais utilizadas, na oportunidade, os valores da liberdade, da democracia, da cidadania e da educação, que serão os autênticos pilares do grande edifício, consubstanciado em toda a humanidade, a partir da congregação de todos os cidadãos contemporâneos, todos eles no papel de educandos/formandos, considerando que mesmo os professores/formadores, também devem continuar a aprender ao longo da vida e, nesta circunstância, passam à condição de educandos/formandos.
Neste processo, a qualidade superior de cidadão, no contexto de uma cidadania plena, estará sempre presente, porque: «Educar para Cidadania será um bom projecto para tentar encaminhar as camadas mais jovens para um futuro mais promissor do que este que se tem vivido. O tema educar para a Cidadania deve ser abordado pelos professores e educadores, assim como por aqueles que acompanham os jovens no decorrer da sua vida. (…). Este tema é complexo de ser abordado e por isso todo o processo de aprendizagem deve começar desde o início da vida da criança, só assim os jovens poderão protestar mais tarde pelos seus direitos desde que tenham cumprido também os seus deveres.» (TAVARES, 2005: Trabalho de licenciatura sobre a Cultura Democrática).
O primeiro pilar, autêntico baluarte da dignidade humana, valor essencial à vida do homem, desde sempre conhecido e nem sempre respeitado, pode-se designar por Liberdade, porque isto mesmo é reconhecido nos diversos tratados internacionais e nas Constituições Políticas nacionais, sob a fórmula: “Todos os homens nascem livres e iguais”.
A Liberdade é, então, um valor insubstituível e objetivo: ou se tem e se usa, responsavelmente; ou não se tem, porque alguém, prepotente e humilhantemente, impede que dela se faça uso. A Liberdade é sempre definida a partir de um objetivo que se lhe segue sob a forma adjetivada de: liberdade pessoal, liberdade política, liberdade de expressão, liberdade religiosa e muitas outras formas de liberdade.
Além disso, ela só se verifica perante uma relação entre iguais. O homem, vivendo sozinho no mundo, desconheceria este valor e o conceito que lhe está subjacente, como por exemplo: «Para uma pessoa ser livre tem de haver pelo menos duas. A liberdade pressupõe uma relação social, uma assimetria de condições sociais: essencialmente implica diferença social – presume e implica a presença de divisão social. Alguns podem ser livres somente na medida em que existe uma forma de dependência a que possam esperar fugir.» (BAUMAN, 1989:21).
Na verdade, invoca-se muito a liberdade, frequentemente para reclamar direitos, quantas vezes contra a liberdade de outros, e o direito que lhes assiste de, também, livremente, exigirem igual tratamento que os primeiros reivindicam.
Em princípio, todo o ser humano aspira à liberdade, sob qualquer uma das suas dimensões, todavia, muitas liberdades, na prática, e por circunstâncias diversas, naturais ou impostas, são inacessíveis à maioria das pessoas, como a liberdade de consumo, liberdade à privacidade total, liberdade de acesso à educação, à saúde, à justiça, ao trabalho, porque existe um condicionalismo ou opressão, económico ou político, respetivamente, e assim: «O desejo de liberdade nasce da experiência da opressão, isto é, da sensação de não se poder deixar de fazer o que se preferiria não fazer (…) ou da sensação de não se poder fazer o que se desejaria fazer.» Ibid: 81).
Há, portanto, um longo caminho a percorrer, para que este valor essencial da dignidade humana passe da quase utopia para a realidade dos povos, porque enquanto houver pobres, carentes de imensos bens essenciais à vida, a liberdade continuará, para estes, a ser uma utopia, porque tão importante como as outras dimensões ou objetivos da liberdade, é aquela que se prende com a capacidade de, livremente, aceder-se ao que, pelo menos, é básico.
Por isso cabe, em primeira instância, aos governantes criarem: «A liberdade mais como capacidade para nos governarmos a nós próprios do que como desejo de que o governo nos deixe em paz, foi o sonho dos movimentos revolucionários que introduziram o mundo ocidental na sua história moderna.» (Ibid: 152).
Compete, depois, à família, ao professor/formador, à Igreja e à comunidade em geral, educar para a liberdade responsável, precisamente pelo bom uso que estes agentes da socialização dela fazem. Isto transmite-se pelas boas-práticas presenciais, discutidas, criticadas, vividas e sentidas pelas pessoas humanas, diretamente envolvidas, podendo esta educação ser complementada por fórmulas, padronizadas universalmente, e transmitidas à distância, porém, sempre controladas pelo professor/formador.
O segundo pilar ou valor que importa melhorar, aprofundar e consolidar é a Democracia, com todos os seus princípios, regras e valores, indissociável da liberdade, da cidadania e da religião. A democracia, enquanto instrumento político de liberdade de escolha do povo, para o governo das comunidades e do mundo, e que levada a uma análise mais abrangente e simples, se conceptualizaria como: o governo do povo, pelo povo, para o povo e com o povo.
A dificuldade em consensualizar um conceito universal de democracia é, por enquanto, uma realidade que não se consegue escamotear, todavia, é possível admitir algum consenso, no que respeita à sua estirpe popular, segundo a qual, o elemento nuclear para que ela se verifique continua a ser o povo: «Na raiz de todas as definições de democracia, por mais refinadas e complexas, permanece a ideia de poder popular, de uma situação em que o poder, e talvez também a autoridade, pertencem ao povo. Esse poder ou autoridade é geralmente olhado como político, e em consequência toma frequentemente a forma de uma ideia de soberania popular – o povo como autoridade política básica.» (ARBLASTER, 1988:20).
A democracia, considerada no seu sentido amplo, portanto, aplicada não só às atividades e situações políticas, mas também em todas as intervenções humanas: interpessoais e intersociais. O democrata aceita os valores da democracia, no respeito pelos direitos e deveres de cada cidadão e dos seus adversários políticos sem, em circunstância alguma, os caluniar, denegrir, ofender o direito à honra e bom nome, sem intromissão na vida privada.
 Claro que se torna necessário partir de um conceito que sirva, genericamente, o homem integrado na sociedade, desempenhando os inúmeros papéis que ao longo da via se lhe colocam, isto é, interessa refletir, desenvolver e aplicar uma ideia de democracia interativa, porque: «A democracia participativa tem necessariamente implicações na vida social, e é mais correctamente considerada um modo de viver do que apenas um artifício ou processo político.» (Ibid:95).
Um terceiro pilar na construção de um novo cidadão, para uma nova sociedade, mais humana, mais justa e mais solidária, fundada na cultura dos valores cívicos, a partir de uma formação personalista e humanista, promovida pela família, pela escola, pela Igreja e pela comunidade, é erigido pela Cidadania, na perspetiva da liberdade responsabilizante, de cada cidadão assumir os seus deveres e exercer os seus direitos, no respeito integral por iguais compromissos e benefícios dos seus semelhantes.
E se a cidadania implica pertença a uma comunidade de deveres direitos, responsável e democraticamente exercidos, igualmente é verdade que pressupõe participação esclarecida na vida comunitária, em ordem ao bem-comum de todos, sem quaisquer exclusões de uns grupos e concessão de privilégios para outros.
Preparar este cidadão moderno para os valores, princípios e regras sócio-legais, nestes tempos complexos, é uma tarefa que a todos cumpre realizar, muito embora algumas instituições possam dar um contributo maior e mais competente, porque de contrário: «Na ausência dos recursos educacionais e económicos requeridos para exercer os direitos civis ou legais e políticos, a cidadania fica vazia para todos os objectivos políticos. Os direitos sociais como direitos aos serviços sociais e à educação, dão possibilidade aos cidadãos de tomarem parte na comunidade nacional a que o seu status lhes dá direito.» (BARBALET, 1989:109).
É, portanto, em todo este contexto que, uma vez mais, a intervenção da educação e da formação são, sobejamente, reconhecidas como indispensáveis, dir-se-ia mesmo, insubstituíveis, considerando, obviamente, todos os seus componentes ativos, dos quais se destaca o binómio nuclear: professor/formador – aluno/formando.
Pela educação e pela formação profissional se transmitem os conhecimentos e se fomentam as boas-práticas da cidadania competente e eficaz, daquelas se enfatizando: «Acabar com vergonhosas inversões de valores, de méritos e de desequilíbrios entre exagerados ganhos de poucos privilegiados e ínfimos ganhos de grande quantidade de pessoas que prestam relevantes contribuições ao país; resgatar e desenvolver valores e princípios de comportamentos éticos em todos os sectores da sociedade.» e, nesse sentido: «Um novo e forte espírito de cidadania precisa ser desenvolvido nas escolas, nas empresas, em maior número de comunidades, nos condomínios, nos clubes de serviço, nas associações de bairros, nas associações de pais e mestres, nas Igrejas, nos sindicatos.» (RESENDE, 2000: 200-02).
Um quarto pilar nesta grandiosa e magnânima construção é lançado, justamente, pelo sistema educativo e todo o seu potencial de recursos, destes se revelando as infraestruturas físicas, meios financeiros e, o mais valioso de todos, os recursos humanos, estes fortemente assumidos pelos docentes/formadores e apoiados pelos restantes agentes educativos, ou seja: pessoal docente e discente.
É inconcebível idealizar um projeto educativo, mesmo que funcione indiretamente e à distância, sem os elementos humanos essenciais como são os professores e os alunos, os formadores e os formandos, os tutores e os tutorandos. Importa, claramente, valorizar e definir o estatuto sócio-profissional do docente, iniciando-se este processo, por exemplo, com uma: «Revisão dos perfis profissionais dos professores, promovendo a diversificação e a especialização, associadas a uma maior e mais alargada competência pedagógica, no sentido da interdisciplinaridade e integração dos saberes.» (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1996:2).
O homem, como um todo, indivisível e único, dotado de imensas faculdades e habilidades, pressupõe uma educação de alto nível, de qualidade excelente, e em todas as suas intervenções, ele deve estar presente, através da educação: física, moral, intelectual, social, económica, profissional, cívica, politica, estética, religiosa.
A educação e formação deste novo e competente cidadão universal, passa, imprescindivelmente, pelo ensino e formação, quaisquer que sejam as modalidades, sendo certo que um ensino personalizado, ecuménico, presencial e atualizado nas suas estratégias, metodologias e avaliações justas, deve manter-se em permanente aperfeiçoamento.
 Com base numa herança cultural que vem do passado, é essencial aumentar um património tão valioso que vem sendo legado à humanidade. Isto só é possível pela educação, pela formação, pelo estudo e pelo trabalho, porque: «Nenhuma causa é maior, nenhum programa é mais digno de devotamento humano, do que a transmissão da herança cultural. E nenhuma preocupação pode, por isso, sobrepujar a da humanidade pela educação da infância e da juventude, a fim de que, engrandecida, a fortuna cultural se transmita, para que os homens de amanhã a desfrutem, mais a engrandeçam e a transmitam, por sua vez, àqueles que os sucederem no tempo.» (REIS, 1965: 269-70).

Bibliografia

ARBLASTER, Anthony, (1988). A Democracia, Trad. M.F. Gonçalves de Azevedo, Lisboa: Editorial Estampa, Temas Ciências Sociais. (7)
BARBALET, J.M., (1989). A Cidadania. Trad. M.F. Gonçalves de Azevedo, Lisboa: Editorial Estampa, Lda., Temas Ciências Sociais, (11) pp. 31-50.
BAUMAN, Zygmunt, (1989). A Liberdade. Trad. M. F. Gonçalves de Azevedo, Lisboa: Editorial Estampa
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO PORTUGUÊS, (1996). Pacto Educativo para o Futuro (Mensagem do Ministro da Educação). Mem Martins: Editorial do Ministério da Educação
REIS, Sólon Borges, (1965). A Maior Herança. São Paulo: Edição da Gráfica São José.
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark
TAVARES, Raquel, (2005). “Cultura Democrática”, Trabalho de licenciatura em Intervenção Social e Comunitária, 3º ano, Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 17 de setembro de 2017

Complexidade Dramática da Sociedade Contemporânea

Responder, acertadamente, a partir de uma grelha de soluções, previamente elaborada, a questões de natureza afetiva, cognitiva, motora e de cultura geral, não será suficiente para uma adequada educação-formação, em ordem à integração plena do indivíduo humano numa sociedade cada vez mais complexa.
Atingir elevados níveis percentuais de respostas certas, em avaliações psicotécnicas, sociológicas, técnico-profissionais, comportamentais e a outros parâmetros que se procuram avaliar por estes “instrumentos de medida”, não garante, à partida, total e absoluta credibilidade e eficácia sobre a pessoa avaliada, porque esta tem sempre a possibilidade de se preparar para determinado tipo de questões e, assim, falsear, por exemplo, as suas mais profundas emoções, sentimentos, conhecimentos e caraterísticas.
Naturalmente que estes instrumentos de medida, e critérios que determinam a sua utilização, têm suporte científico e sustentabilidade técnica, de resto, este princípio não está em causa, porém, a honestidade intelectual, a perspicácia, a preparação prévia, e intencional, do avaliado, podem deturpar os resultados.
Esta insuficiência deverá ser suprida, ainda assim não totalmente, com a “observação-participante” do técnico, ao longo da atividade para a qual se avaliou uma determinada pessoa, com aqueles instrumentos, porque as reações mais imprevisíveis, podem surgir a todo o momento, face a uma circunstância não prevista e/ou a variáveis que não foram consideradas, aquando da construção do questionário e da grelha de avaliação.
A humanidade entrou no século XXI, envolvida numa eufórica confiança, quase ilimitada, nas capacidades e benefícios da tecnologia e de um bem divulgado cientismo positivista que, alegadamente, tudo resolve.
A auréola técnico-científico-materialista, em que alguns setores da sociedade procuram envolver-se, tem conduzido a situações deprimentes e humilhantes, precisamente para alguns dos povos em todo o mundo, desmistificando, assim, a ideia, segundo a qual, uma educação/formação que integre os domínios sócio-culturais, não tem relevância para o progresso e bem-estar humanos.
Que máquinas, que equipamentos, que objetos têm a capacidade de dialogar, vivenciar, emocionar e sentir os conflitos sociais, étnicos, religiosos, políticos, económicos, culturais, estratégicos e outros?
Encontrar soluções consensuais e aplicá-las, com garantia de resultados favoráveis às partes em conflito? Este tipo de intervenção está, por enquanto, reservado, exclusivamente, ao homem, mas, não a qualquer homem, principalmente, se não tiver uma educação/formação para se abrir, humildemente, ao diálogo, à compreensão, à tolerância, aos valores da solidariedade, da amizade, da lealdade, da cooperação e do altruísmo.
Esta educação/formação não se consegue, apenas, com máquinas, mas também com outros seres iguais, ao longo da vida, em avaliação e formação permanentes. Se o bem-comum, a paz e a felicidade, entre outras necessidades básicas do ser humano, dependessem do potencial da maquinaria e das tecnologias, provavelmente, neste primeiro quarto do século XXI, não haveria fome, guerras, destruição e morte; analfabetismo, desemprego, doença, marginalização e exclusão, esta sob diversas formas, que facilmente se detetam entre diversos grupos: sem-abrigo; desempregados de longa duração; idosos abaixo do limiar da pobreza; crianças abandonadas e abusadas, mulheres violentadas.
O homem-professor, o homem-técnico, o homem-cientista, o homem-cidadão, o homem-religioso, enfim, o Homem em todas as suas dimensões, superiormente dotado, continua a ser insubstituível num mundo tão difícil, complicado, algo desorientado, muito descredibilizado e injusto.
 Assiste-se, com uma periodicidade preocupante, à divulgação de situações em que os amplos privilégios de uns poucos, ofendem, impunemente, a exclusão de muitos outros. O que comprova, à saciedade, que a ambição ilegítima não tem limites, na medida em que se tem vindo a fomentar a cultura do TER, a qualquer preço, não olhando aos meios, desde que se venha a possuir o que se deseja.
Esta mentalidade, que está corroendo a cultura dos valores que mais deveriam dignificar o homem, possivelmente, também é estimulada pelo aparato tecnológico, pela ostentação do último modelo de qualquer coisa, pelo domínio absoluto dos mais privilegiados, sobre um número cada vez maior de excluídos da saúde, da educação, do trabalho, dos cargos, da propriedade privada e, no limite, da própria vida.
Vive-se, portanto, num cenário dramático que urge alterar e, certamente, a intervenção dos homens de bom senso, prudentes e sábios, conseguirá vencer e conduzir a humanidade para o bem-comum, para a paz e para a felicidade. Esta é a realidade atual, não é pessimismo, mas um grito de alerta, porque ainda é possível reverter muitas situações iníquas.
Muito dificilmente as máquinas de ensinar terão capacidade para resolver todas estas situações. Serão os homens, de boa educação/formação, os professores/formadores dos valores, verdadeiramente humanos, a preparar os homens-cidadãos do futuro, por isso eles, os professores/formadores, são parte interessada na busca das soluções para os terríveis problemas que se avolumam sobre a sociedade humana, e até sobre a própria natureza envolvente ao homem: «A felicidade, dizem, não está na moda espécie de voluptuosidade; está unicamente nos prazeres bons e honestos. É para esses prazeres que tudo, até a própria virtude, arrasta irresistivelmente a nossa natureza; são eles que constituem a felicidade.» (MORUS, s.d.:97).

Bibliografia

MORUS, Thomas, (s.d.). A Utopia, Prefácio Prof. Mauro Brandão Lopes, Trad. Luís Andrade, S. Paulo: Editora Escala


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Educação e Formação da Pessoa Humana

Educar e formar pessoas humanas implica conhecimentos, técnicas e avaliações diferentes das que se utilizam na construção de objetos, sejam edifícios, pontes, estradas, máquinas ou simples peças de vestuário e outras inúmeras coisas materiais. Preparar para a vida individual de cada pessoa, e em sociedade humana, não é o mesmo que programar uma máquina.
A pessoa humana: comporta e transporta princípios, valores, sentimentos, emoções, de que resultam atitudes que possibilitam o melhor ou pior relacionamento interpessoal; que promove, havendo para isso vontade, a harmonia, a compreensão, a tolerância e a resolução de problemas sócio-culturais, pessoais e do grupo; que enriquecem as dimensões verdadeiramente humanas, como a ética, a religião, a política, a social e a interrelacional, entre outras.
Educar e preparar a pessoa para a constituição de uma família, desde logo: a começar na escolha do cônjuge, nos princípios, valores e regras a implementar na educação dos filhos; as opções pelo tipo de educação; a profissão que se pretende para o jovem; que direitos e deveres se podem conceder e exigir, respetivamente; que religião e práticas litúrgicas são compatíveis ou desejáveis, face a uma bem caraterizada cultura; enfim, tantos outros aspetos, pormenores e dimensões humanas, que é preciso acautelar, e/ou estimular e praticar, é uma tarefa grandiosa e apenas realizável pelo ser humano, justamente pela educação, formação, instrução e treino.
Educar e preparar a pessoa humana para o governo do grupo, da comunidade, da sociedade e do mundo, pressupõe um vasto conjunto de conhecimentos, de práticas, de experiências, que ao longo da vida, e de forma sistematizada, e orientada, devem ser: ensinadas e aprendidas; exemplificadas e praticadas; interiorizadas e manifestadas, por quem ensina e por quem aprende.
Preparar um técnico, para exercer, no seu domínio, determinadas tarefas específicas, durante um certo tempo da sua vida, em média, cerca de um terço da existência humana, não é a mesma coisa que preparar uma pessoa para intervir integral e sequencialmente, ao longo de toda a sua existência física. Ignorar que a pessoa humana vai muito mais além, do que o simples profissional de uma qualquer atividade, constitui uma visão insuficiente e redutora da dignidade humana.
Educar e formar pessoas humanas é bem diferente de construir engrenagens, máquinas, sistemas, objetos; domesticar e/ou amestrar animais, identificam, igualmente, outras atividades que são insuscetíveis de qualquer comparação, e/ou subordinação à/da pessoa humana.
O professor que aqui se considera necessário, valorizado e insubstituível, prende-se com outros valores, com outras caraterísticas e capacidades singularmente humanas, porque se trata do docente que trabalha e forma pessoas, não objetos, nem animais, nem sistemas, obviamente, sem prejuízo para a complexidade destas atividades.
Defende-se o professor-formador, que em comunhão de princípios, valores, sentimentos e objetivos, coopera com outros seus semelhantes, humanamente considerados, sem superioridade, nem vaidade, nem orgulho fundamentalista, porque esta última sensibilidade continua, hoje, primeiro quarto do século XXI, atual e terrivelmente real: «O orgulho, paixão feroz, rainha e mãe de todas as pragas sociais, opõe uma resistência invencível a essa conversão dos povos. O orgulho não mede a felicidade de acordo com o bem-estar, mas de acordo com a infelicidade alheia.» (MORUS, s.d.:139).
Todo o homem tem consciência que a sociedade perfeita é um sonho, uma utopia, porém, todo o homem tem a obrigação de tornar a sociedade atual, bem assim como a vindoura, menos injustas. Com tal objetivo deve ser, cada um individualmente considerado, e a comunidade no seu todo, preparados de forma superior, nos princípios e valores da sociedade utópica, obviamente, adaptados aos tempos contemporâneos, a partir da «união dos cidadãos consolidada no interior, a excelência e a solidez das instituições defendem a república contra os perigos de fora.» (Ibid.:140) e, se este procedimento se generalizar, deixa de haver quaisquer perigos, sejam de fora ou de dentro.
Verifica-se que a complexidade, ao longo da história da humanidade, na formação da pessoa humana, não é compaginável com quaisquer processos, meios e técnicas que excluam o professor/formador: seja no seu envolvimento direto e presencial; ou seja à distância, defendendo-se, nesta reflexão, a sua intervenção presencial, porque nenhuma máquina robotizada vive, pensa, sente e age como a pessoa humana.
Considerar-se-á uma indignidade educar a pessoa humana, exclusivamente, através de uma máquina, que assim se superiorizaria em relação às mulheres e aos homens, e até os escravizaria, pelo contrário, aceita-se o uso das denominadas máquinas de ensinar, como igualmente o ensino à distância, desde que o homem-professor/formador seja responsável pela programação, pelo controle, pela avaliação e altere, sempre que necessário, e também que, periodicamente, o aluno/formando possa reunir-se, direta e presencialmente, com aquele que, à distância, o vem orientando em forma de tutoria. Nestas condições até se reconhecem muitas vantagens neste tipo de ensino/aprendizagem.

Bibliografia

MORUS, Thomas, (s.d.). A Utopia, Prefácio Prof. Mauro Brandão Lopes, Tradução, Luís Andrade, S. Paulo: Editora Escala

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 3 de setembro de 2017

Paradigmas Pedagógicos

A fragmentação do conhecimento científico, com especial aceleração no último século, tem provocado correspondente necessidade de especializações, de construção de equipamentos, cada vez mais sofisticados, de intervenções técnicas adequadas, e soluções pertinentes, para os problemas entretanto surgidos, que se adicionam a outras situações, ainda não resolvidas, que transitaram para o novo século.
No emaranhado dos conhecimentos, e na luta entre os respetivos paradigmas, surgem as fórmulas pedagógicas, didáticas e técnicas, para se transmitir o volumoso acervo de conhecimentos, que a ciência vem proporcionando, sempre a um ritmo avassalador.
Modernamente, recorre-se, intensamente, à transmissão dos conhecimentos através das tecnologias da informação e da comunicação, - TIC - com suporte informático. Planificam-se e ministram-se cursos à distância, com a mesma garantia de rigor e validação dos cursos presenciais: as engenharias e as tecnologias ao serviço da educação e formação profissional. A utilização de uma linguagem técnico-científica suportada num idioma a caminho da universalização – Inglês -.
Experimenta-se o ensino à distância, inventam-se as máquinas de ensinar, criam-se soluções informáticas para avaliar, rigorosamente, na perspetiva das ciências exatas, matérias e alunos/formandos. A capacidade humana aplicada à ciência, à tecnologia, à criatividade e ao progresso, parece não ter limites.
A qualidade e nível de vida têm vindo a melhorar e reflete-se no desenvolvimento precoce das crianças, em diversos domínios, e no aumento da esperança de vida. Será correto, então, afirmar-se que se vive num mundo maravilhoso? Habita-se num espaço terrestre onde predominam a saúde, a paz, a solidariedade, a amizade, a lealdade, a gratidão, a consideração, o respeito, enfim, felicidade, quaisquer que sejam os seus conceitos?
A força e influência paradigmáticas da ciência e da técnica, conseguem introduzir-se na pessoa, sob fórmulas de princípios, valores, sentimentos e emoções? Interpretam e resolvem questões estritamente do foro íntimo de cada pessoa? Podem as máquinas substituir o ser humano na sua consciência, no exercício da moral e da ética, nas manifestações de alegria e de tristeza, na relação, mais profunda e íntima, entre um homem e uma mulher e/ou entre dois seres humanos? São muitas as interrogações para as quais ainda não existem respostas definitivas e solucionadoras das dúvidas que se colocam.
A humanidade aproxima-se de um entroncamento complexo: em cujo ponto central se interceptam, cruzam e partem cada vez mais caminhos; desconhecendo-se, em muitos deles, a natureza e objetivos a que conduzem; ignora-se o fim, embora se conheça o princípio; são como que uma caminhada sem destino concreto, sem “rumo” ou sem “norte”
Ao nível das alegadas ciências exatas, objetivas e positivas, tais itinerários são incompatíveis com o rigor que as carateriza, embora se saiba que aqueles itinerários existem. Recorrer a algumas disciplinas (ou ciências) humanas e sociais levanta, nalguns setores científicos, dificuldades de aceitação de resultados, ditos não objetivos, devido ao grau de maior ou menor subjetividade, que carateriza o conhecimento adquirido através destas disciplinas (ou ciências) sociais e humanas.
E nos domínios da metafísica e da espiritualidade: onde imperam a crença e a fé; o misterioso e o inefável, como aceitar estes conhecimentos e como transmiti-los? Serão as máquinas inventadas pelo homem competentes para o fazer?
Como atitude intelectualmente honesta e metódica, pode-se dar o benefício da dúvida, e aceitar que constituem mais um bom recurso, a utilizar no ensino à distância, este sim, cada vez mais interessante e que oferece imensas vantagens.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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