Responder, acertadamente, a partir de uma grelha de
soluções, previamente elaborada, a questões de natureza afetiva, cognitiva,
motora e de cultura geral, não será suficiente para uma adequada educação-formação,
em ordem à integração plena do indivíduo humano numa sociedade cada vez mais
complexa.
Atingir elevados níveis percentuais de respostas
certas, em avaliações psicotécnicas, sociológicas, técnico-profissionais,
comportamentais e a outros parâmetros que se procuram avaliar por estes
“instrumentos de medida”, não garante, à partida, total e absoluta
credibilidade e eficácia sobre a pessoa avaliada, porque esta tem sempre a
possibilidade de se preparar para determinado tipo de questões e, assim, falsear,
por exemplo, as suas mais profundas emoções, sentimentos, conhecimentos e caraterísticas.
Naturalmente que estes instrumentos de medida, e
critérios que determinam a sua utilização, têm suporte científico e
sustentabilidade técnica, de resto, este princípio não está em causa, porém, a
honestidade intelectual, a perspicácia, a preparação prévia, e intencional, do
avaliado, podem deturpar os resultados.
Esta insuficiência deverá ser suprida, ainda assim
não totalmente, com a “observação-participante”
do técnico, ao longo da atividade para a qual se avaliou uma determinada
pessoa, com aqueles instrumentos, porque as reações mais imprevisíveis, podem
surgir a todo o momento, face a uma circunstância não prevista e/ou a variáveis
que não foram consideradas, aquando da construção do questionário e da grelha
de avaliação.
A humanidade entrou no século XXI, envolvida numa
eufórica confiança, quase ilimitada, nas capacidades e benefícios da tecnologia
e de um bem divulgado cientismo positivista que, alegadamente, tudo resolve.
A auréola técnico-científico-materialista, em que
alguns setores da sociedade procuram envolver-se, tem conduzido a situações
deprimentes e humilhantes, precisamente para alguns dos povos em todo o mundo,
desmistificando, assim, a ideia, segundo a qual, uma educação/formação que
integre os domínios sócio-culturais, não tem relevância para o progresso e
bem-estar humanos.
Que máquinas, que equipamentos, que objetos têm a
capacidade de dialogar, vivenciar, emocionar e sentir os conflitos sociais,
étnicos, religiosos, políticos, económicos, culturais, estratégicos e outros?
Encontrar soluções consensuais e aplicá-las, com
garantia de resultados favoráveis às partes em conflito? Este tipo de
intervenção está, por enquanto, reservado, exclusivamente, ao homem, mas, não a
qualquer homem, principalmente, se não tiver uma educação/formação para se
abrir, humildemente, ao diálogo, à compreensão, à tolerância, aos valores da
solidariedade, da amizade, da lealdade, da cooperação e do altruísmo.
Esta educação/formação não se consegue, apenas, com
máquinas, mas também com outros seres iguais, ao longo da vida, em avaliação e
formação permanentes. Se o bem-comum, a paz e a felicidade, entre outras
necessidades básicas do ser humano, dependessem do potencial da maquinaria e
das tecnologias, provavelmente, neste primeiro quarto do século XXI, não
haveria fome, guerras, destruição e morte; analfabetismo, desemprego, doença,
marginalização e exclusão, esta sob diversas formas, que facilmente se detetam
entre diversos grupos: sem-abrigo; desempregados de longa duração; idosos
abaixo do limiar da pobreza; crianças abandonadas e abusadas, mulheres
violentadas.
O homem-professor, o homem-técnico, o
homem-cientista, o homem-cidadão, o homem-religioso, enfim, o Homem em todas as
suas dimensões, superiormente dotado, continua a ser insubstituível num mundo
tão difícil, complicado, algo desorientado, muito descredibilizado e injusto.
Assiste-se,
com uma periodicidade preocupante, à divulgação de situações em que os amplos
privilégios de uns poucos, ofendem, impunemente, a exclusão de muitos outros. O
que comprova, à saciedade, que a ambição ilegítima não tem limites, na medida
em que se tem vindo a fomentar a cultura do TER, a qualquer preço, não olhando
aos meios, desde que se venha a possuir o que se deseja.
Esta mentalidade, que está corroendo a cultura dos
valores que mais deveriam dignificar o homem, possivelmente, também é
estimulada pelo aparato tecnológico, pela ostentação do último modelo de
qualquer coisa, pelo domínio absoluto dos mais privilegiados, sobre um número
cada vez maior de excluídos da saúde, da educação, do trabalho, dos cargos, da
propriedade privada e, no limite, da própria vida.
Vive-se, portanto, num cenário dramático que urge
alterar e, certamente, a intervenção dos homens de bom senso, prudentes e
sábios, conseguirá vencer e conduzir a humanidade para o bem-comum, para a paz
e para a felicidade. Esta é a realidade atual, não é pessimismo, mas um grito
de alerta, porque ainda é possível reverter muitas situações iníquas.
Muito dificilmente as máquinas de ensinar terão
capacidade para resolver todas estas situações. Serão os homens, de boa
educação/formação, os professores/formadores dos valores, verdadeiramente
humanos, a preparar os homens-cidadãos do futuro, por isso eles, os
professores/formadores, são parte interessada na busca das soluções para os
terríveis problemas que se avolumam sobre a sociedade humana, e até sobre a
própria natureza envolvente ao homem: «A
felicidade, dizem, não está na moda espécie de voluptuosidade; está unicamente
nos prazeres bons e honestos. É para esses prazeres que tudo, até a própria
virtude, arrasta irresistivelmente a nossa natureza; são eles que constituem a
felicidade.» (MORUS, s.d.:97).
Bibliografia
MORUS, Thomas, (s.d.). A Utopia, Prefácio Prof. Mauro Brandão
Lopes, Trad. Luís Andrade, S. Paulo: Editora Escala
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Jornal: “Terra e
Mar”
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)
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