domingo, 29 de dezembro de 2013

Bálsamo para a Felicidade


É perfeitamente legítimo, desejável e justo, que toda a pessoa, ao longo da sua vida, se esforce e tudo faça, no respeito pela lei, valores, sentimentos e emoções, para alcançar objetivos que se autopropôs, em ordem a conseguir ser feliz, no conceito de felicidade que tiver, porém, sempre no contexto de uma sociedade civilizada, humanista, solidária e pacífica, onde se possa viver com harmonia, na base da saúde, do trabalho, da família, do amor e da Graça Divina.
A vida: tantas vezes extremamente problemática; que impõe situações complexas, de dificuldades, mágoas, dor, sofrimento e desgostos; mas também a vida que, de vez em quando, proporciona alegrias, sucessos, esperança e conquista de amizades, verdadeiramente sinceras, leais, solidárias e para sempre; a vida que, afinal, tudo nos dá e que tudo nos tira, inclusivamente, ela própria, na sua componente física, acaba por morrer.
A passagem física de cada pessoa por este mundo é, relativamente, fugaz, comparativamente com a idade que a Terra habitável terá, por muito longa que se considere uma vida humana, aceitando-se aqui uma esperança média otimista, no futuro, na ordem, por exemplo, dos cem anos. Um tal período de tempo, de facto, é insignificante, portanto, terá de ser muito bem usufruído, evidentemente, em tudo o que depende da própria pessoa.
É frequente dizer-se, e será verdade, que “ninguém tem a vida nas suas próprias mãos” e, com tal assertiva na mente, tomam-se decisões importantes em diversos domínios: no trabalho, negócios, política, organização da própria vida, no projeto que se deseja desenvolver em ordem ao sucesso, ao bem-estar pessoal, enfim, à felicidade, segundo o conceito de cada pessoa. Também é verdade que nem todos os projetos são realizados com êxito, mas tudo isto é vida vivida.
Refletindo, positivamente, sobre a vida, será interessante mencionar a importância de alguns valores, sentimentos e emoções que, com mais ou menos intensidade, influem na sensação de bem-estar, de alguma euforia, de esperança num futuro sempre cada vez melhor, com elementos essenciais ao que se poderia designar por felicidade, a começar na tranquilidade própria de quem está de bem: consigo, família, amigos, colegas, sociedade, mundo e com Deus.
Um dos Bálsamos mais desejados, eventualmente logo a seguir à saúde, poderia ser, por exemplo, a amizade ou, se se preferir, o amor, este considerado nas suas diferentes “tipologias”: filial, paternal, maternal, fraternal, de amigo, neste caso até se poderá designar por: “Amor-de-Amigo”. Este amor, será uma amizade levada ao seu expoente mais sublime, num sentido mais íntimo, aqui com o significado da cumplicidade, do confiar, totalmente, no amigo, tudo o que de mais sensível pode existir em cada pessoa.
Ao longo da vida, quem é que não deseja ter, pelo menos, um amigo íntimo, no qual se possa confiar totalmente: todas as nossas alegrias e tristezas; sonhos, realizações, amores e desamores; dificuldades, sucessos, enfim, o amigo com quem contamos nas horas mais complicadas da vida, a quem pedimos ajuda ou a recebemos, mesmo sem a pedirmos. Estes amigos não se encontram com facilidade e quando se consegue um, então é preciso estimá-lo e amá-lo com um sincero “Amor-de-Amigo”, sem reservas e para toda a vida. Este amigo é um Bálsamo inestimável.
A amizade levada a este nível será, porventura, o núcleo mais importante da vida, no qual e à volta do mesmo: se desenvolvem todas as atividades; desabrocham sentimentos e emoções intensos e inesquecíveis; praticam-se valores verdadeiramente humanos como: a solidariedade, afeição, lealdade, reciprocidade, gratidão e culmina com um sentimento de imensa felicidade, porque sabemos que nunca estaremos sós, desprotegidos, desconsiderados, rejeitados e até marginalizados. O “Amor-de-Amigo” incentiva-nos a viver com entusiasmo, tolerância, compreensão, generosidade e carinho.
A vida, pouco sentido teria sem princípios, valores, sentimentos e emoções, os quais como que constituem os quatro pilares, entre muitos outros, para que se possa ter uma vivência dinâmica, bem ativa e que se tornam numa autêntica panaceia, para se vencer muitos obstáculos que a nossa existência nos vai colocando, ao longo do seu percurso, mais ou menos distendido no tempo, e no espaço, sendo certo que na idade mais madura, depois do período sénior, o aperfeiçoamento é um facto incontornável.
Os bons e os maus momentos da vida ensinaram as pessoas e, em muitos casos, tornam-nas mais sensíveis, mais autênticas, mais prudentes e sábias, na medida em que se chega à conclusão de que determinadas atitudes, valores e sentimentos não fazem sentido, porque realmente a passagem pelo mundo terreno é muito rápida e, das memórias que vamos deixar, interessará perpetuar: sentimentos de amizade, de saudade, de boas ações, em quem vai permanecer cá, por mais algum tempo.
Provavelmente, muitas doenças, talvez possam ser curadas e/ou, pelo menos, controladas com a “medicação” dos valores, sentimentos e emoções, através de um pensamento e comportamento positivos, bem intencionados, dirigidos para o amor e consolidados na felicidade, esta aqui entendida como sendo um: «Estado adquirido de plenitude subjacente a cada instante da existência (…), um estado de bem estar que nasce de um espírito excepcionalmente são e sereno (…), um estado de sabedoria, livre de venenos mentais e de conhecimento, livre de cegueira sobre a verdadeira natureza das coisas.» (RICARD, 2005.15).
Eleger o amor, no máximo das suas dimensões possíveis, poderá revelar-se decisivo para a felicidade global de cada pessoa, família, grupos de intervenção sócio-política, profissional, religiosos, comunitários. Pelo amor e com amor, praticamente tudo se consegue na vida porque: «O amor não é um processo intelectual. É sim uma energia dinâmica que entra em nós e flui todo o tempo através de nós, estejamos nós conscientes desse facto ou não. O fundamental é aprendermos a receber o amor, assim como a dá-lo. Só poderemos compreender a energia envolvente do amor na comunhão com os outros, nas relações, no serviço.» (BRIAN, 2000:64).
É muito interessante, e também extremamente importante, interiorizar-se o sentimento da amizade, independentemente de a elevar aos diversos níveis do amor, porque ela, efetivamente, poderá ser a chave para a resolução de muitos problemas humanos na medida em que: «A amizade é a base na qual a consciência grupal é edificada e a cooperação é aprendida e praticada. O sucesso dos esforços de cooperação e consciência grupal depende da qualidade dos relacionamentos entre as pessoas. Sua nação é uma espécie de amizade, sem amizade não há nação.» (SARAYADARIAN in CARVALHO, 2007:47).
E se a saúde, família, trabalho, estudo, segurança, conforto e a estabilidade são importantes, sem dúvida alguma, também é verdade que sem amor e sem felicidade, a pessoa humana, provavelmente, não se sentirá realizada, porque ela tem de estar de bem: consigo própria; com o mundo; com Deus. Naturalmente que conseguir congregar valores, sentimentos e bens materiais, numa só pessoa, é muito difícil, mas será possível, pelo menos, o maior empenhamento para que tal aconteça.
As pessoas e o mundo, ainda que impercetivelmente, e/ou não querendo admitir, a verdade é que quase tudo gira à vota dos sentimentos e, na vasta panóplia destes, o amor é mais congregador do que todos os outros e, sem dúvida, conduz a melhores resultados.
Por isso é essencial que: «Alguém precisa de nos encorajar a não pormos de lado aquilo que sentimos, a não termos medo do amor e do sofrimento que ele gera em nós, a não termos medo da dor. Alguém precisa de nos encorajar para o facto de esse ponto mais macio em nós poder ser desperto e, ao fazermos isso, estaremos a alterar as nossas vidas.» (CHODRON, 1997:117).
É este bálsamo, poderosíssimo, que está no centro da composição dos restantes bálsamos da vida, como os valores da: solidariedade, amizade, lealdade, carinho, consideração, estima, confiabilidade, cumplicidade e da felicidade. Sem amizade, na sua máxima intensidade e nível supremo, que é o amor, nas suas diferentes dimensões, a pessoa jamais se sentirá verdadeiramente digna, um ser superior, num mundo que ainda não conhece totalmente.
O amor é um sentimento que, quem o possui e o oferece sinceramente, ajuda a resolver a maior parte dos conflitos e dos problemas. É preciso que quem exerce algum tipo de poder e intervenção, tenha amor por aqueles que estão dependentes das decisões dos detentores da influência, esta em todos os níveis da sociedade: da pessoa individualmente considerada, passando pela família, pela empresa, pela política, pela religião, pelo mundo.
Manifestar e exercer, autenticamente, amor pelo próximo não é nenhuma vergonha, nenhuma fraqueza e muito menos qualquer tipo de lamechice. Desenvolver e praticar este sentimento, talvez o maior de todos, afinal só revela a superior condição da pessoa humana, porque se é verdade que no restante reino animal se descobrem comportamentos, entre as diversas espécies, que até se podem comparar ao amor humano, é no seio da sociedade, verdadeiramente humana, que este sentimento será estudado, relativamente conhecido e, tanto quanto possível, racionalmente sentido, vivido e conduzido.
Valores, sentimentos e emoções nobres transportam, inevitavelmente, ao supremo bem que todo o ser humano deseja alcançar na vida e que é a felicidade, com tudo o que ela comporta: alegria e tristeza; sucesso e fracasso; dor, sofrimento e desgosto; mas também esperança, reconciliação, paz e amor solidário; proteção, benevolência, tolerância, generosidade, lealdade porque: «O homem mais feliz é aquele que não tem na alma qualquer vestígio de maldade.» (PLATÃO, in RICARD, 2005:156).
É possível enquadrar a maldade, também, na ausência de valores humanistas, quando entendida numa situação de reciprocidade, ou seja: a pessoa não sendo totalmente maldosa, provavelmente, não será bondosa, quando não reconhece o bem recebido através de valores, sentimentos e emoções que lhe são dispensados por verdadeiros e firmes amigos.
Como corolário, para meditação futura, parece interessante deixar-se a ideia segundo a qual: o sentimento do amor, desde logo a começar no “Amor-de-Amigo”, tem uma dimensão que, no respeito, consideração e sinceridade que se deve adotar, em nada será inferior a outros amores, por isso, a comprovação de quem tem o privilégio de saber-se amado com este amor, será através da retribuição sincera, com atitudes de estima, consideração, disponibilidade para, fielmente, estar sempre do lado do amigo que, generosamente, cultiva um amor tão lindo quanto intenso e importante para a felicidade.
 
Bibliografia

BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
CARVALHO, Maria do Carmo Nacif de, (2007). Gestão de Pessoas. 2ª Reimpressão. Rio de Janeiro: Senac Nacional
CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis. Trad. Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Trad. Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ldª.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 22 de dezembro de 2013

Natal: Confiança no Futuro


Ano após ano, Natal após Natal, a denominada “Festa da Família” repete-se ao longo dos tempos: com rituais idênticos; votos de esperança em melhores dias; alegrias que se repetem; nostalgias que se agudizam; ofertas que se trocam; brindes que se renovam; tudo isto e muito mais para que o Natal seja, de facto, a festa da união, da paz, da concórdia.
Abordar o Natal numa perspectiva positiva, nos tempos que correm (2013) não é tarefa fácil, considerando as dificuldades que atingem todas as pessoas em geral mas, particularmente, as mais desfavorecidas: económica, financeira e etariamente, sem ignorar, obviamente, aquelas que sofrem dos diversos tipos de exclusão: social, laboral, educacional, habitacional, entre outras, porque, ao contrário do que estabelece a Lei Fundamental Portuguesa: «1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a Lei» (C.R.P., 2004:Artº 13º nº 1), na verdade tudo indica que, realmente, não temos a mesma dignidade enquanto pessoas humanas, sujeitas a deveres e a direitos.
O Natal, apesar da crise em que estamos mergulhados, pode, e deve, ser assumido como uma data referencial, agora mais do que nunca, para pensarmos, com muita esperança, num futuro bem melhor para todas as pessoas, independentemente de estatutos, condição sócio-profissional, política, cultural, religiosa ou de qualquer outra natureza, porque o direito a uma melhor qualidade de vida, a um fim de vida tranquilo, são os mínimos exigíveis para o reconhecimento e vivência da dignidade humana.
Neste ano, tal como nos anteriores, desejo aproveitar a quadra natalícia para apelar à concórdia, à tolerância, ao perdão, obviamente sem que isso implique: “apagarmos” dos nossos “corações” as ofensas de que temos sido vítimas; as desconsiderações de que fomos alvo; a rejeição a que alguém nos tenha votado; os desgostos que sofremos, a partir de atitudes de pessoas a quem nós tanto queríamos.
Na verdade, enquanto estivermos lúcidos, é impossível “branquear” o passado, mas é desejável que queiramos aprender com os erros, com as injustiças que cometemos contra aquelas pessoas que por nós tudo dão, generosamente e, sabermos com humildade, pelo menos, pedir desculpa e tudo fazermos para nos reconciliarmos.
E se por um lado, o ano que agora está prestes a terminar (2013), em Portugal, tem sido marcado por vários acontecimentos importantes, com maior ou menor influência na vida das/os portuguesas/es, sabendo-se que as medidas de austeridade, que atingiram um nível perigosamente gravoso, raramente sentido, em épocas anteriores, têm vindo a levar pessoas, famílias, empresas e instituições diversas, incluindo as de solidariedade social, à depauperização de rendimentos, de património, às falências;
Por outro lado, em contexto de grande crispação, de confrontos verbalmente violentos, em algumas localidades do país, decorreu o processo eleitoral para as autárquicas, no qual se destacou, pela negativa, a fusão injusta, inadequada e infundamentada de centenas de freguesias, cujas populações ficaram à mercê de eleitos de outras localidades, e com isso perderam a sua autonomia, a sua dignidade cívica e a própria auto-estima.
Em todo o caso, é tempo de começarmos a viver o futuro, construirmos o projeto que nos conduza ao sucesso coletivo, assente em princípios, valores e bons sentimentos, que sejam compagináveis com uma nova “Ordem Social e Económica”, para que todos nos sintamos verdadeiramente iguais, atentas as diferenças que, inegavelmente, carateriza cada pessoa em particular.
Para iniciarmos um novo ano, com perspectivas de vida mais positivas, é necessário assumir que: «A vida é alegria e felicidade em ajudar a construir um mundo melhor e mais participativo, com equilíbrio e amor. Por isso a ordem é reprogramar o mundo interior para usufruir da arte de viver e para a reprogramação uma das melhores ferramentas encontra-se nas técnicas parapsicológicas». (FRANCESCHINI, 1996:67).
Na verdade, a vida passa muito rapidamente. É essencial termos a consciência de que não vale a pena cogitarmos, desenvolver e aplicar processos maquiavélicos do tipo “caça-às-bruxas”, apenas para prejudicarmos, humilharmos e “pisarmos” os nossos semelhantes. O ódio, a perseguição e a vingança conforme se semeiam, assim se colhem e não são próprios de pessoas com boa formação e sentimentos nobres.
O Natal, enquanto tempo de reconciliação, de coesão da família, também dos amigos, deve ser aproveitado no seu sentido mais altruísta, deixando de lado as preocupações consumistas, as manifestações de poderio económico, de opulência que, por vezes, até ofendem quem mais precisa, quem nunca teve sorte na vida, apesar de a procurarem. Nem toda a gente é ociosa, aliás, a maioria das pessoas quer uma vida digna pelo trabalho.
É claro que não se defende um Natal miserabilista, um Natal de lamúria, bem pelo contrário, deseja-se um Natal de prosperidade, de intensa alegria, de fundadas esperanças no futuro. A harmonia entre prosperidade e otimismo é fundamental para podermos acreditar em nós próprios, nas nossas capacidades, nos resultados positivos que os nossos projetos nos podem proporcionar.
Neste Natal, o núcleo central para o nosso sucesso no futuro é melhorarmos, no que ainda for possível, a nossa auto-estima, sem o que tudo se tornará mais difícil, na medida em que não seremos capazes de implementar ideias, empreender, arriscar. Acreditarmos na nossa auto-suficiência e auto-respeito, constitui uma atitude para o reforço destes dois pilares da auto-estima.
A quadra natalícia que já se vive intensamente deverá, portanto, ter como foco muito importante o desenvolvimento, o reforço e consolidação da auto-estima considerando esta como sendo: «a disposição da pessoa para se vivenciar com alguém competente para enfrentar os desafios da vida e merecedor da felicidade.» (NATHANIEL BRANDEN, in CLARET, s.d.:20).
O futuro que neste Natal poderemos imaginar passa sempre pela felicidade, qualquer que seja a noção que dela se tiver: seja com bases materiais; seja fundamentada na vivência espiritual; seja considerando estas duas componentes, o que, salvo melhor opinião, se afigura a mais apropriada e caraterística da pessoa verdadeiramente humana.
Perspectivar o futuro, com o realismo que a situação social atual nos apresenta, e com todas as nossas experiências vividas: umas, boas; outras, menos boas, parece ser o mais adequado, na medida em que se deve aprofundar o que vivemos de melhor e rejeitar o que foi menos bom, aprendendo, contudo, com os erros cometidos.
Hoje, já próximo do final do ano de 2013, talvez um dos últimos anos mais dramáticos para os portugueses, devido a um injusto conjunto de medidas fiscais, taxas, sobretaxas, cortes salariais e nas pensões e agravamento das condições de vida, com cerca de vinte e por cento da população a passar fome, poderia ter-se razões para não se acreditar no futuro
Uma tal atitude não resolveria nada, pelo contrário, conduziria ao abandono de sonhos, de projetos, de possíveis sucessos, à depressão e, eventualmente, ao suicídio, por isso, vamos lutar contra todas as adversidades que nos estão a colocar, e que se reconhece não serem inevitabilidades, porque outros caminhos seriam possíveis para sairmos da alegada crise, alegada porque não é sentida da mesma maneira por todas as pessoas.
Importa, neste Natal, refletir em três estratos da população, cada vez mais vulneráveis: jovens desempregados que têm de abandonar o país e a família; adultos, ainda em idade produtiva, sem emprego e sem perspetivas de voltarem ao mercado de trabalho e idosos que estão a ser expropriados dos seus mais elementares direitos, adquiridos durante uma longa existência de trabalho e de contributos, mas que agora, no final das suas vidas, sentem uma redução drástica nos seus rendimentos, logo na qualidade de vida a que tinham direito, com toda a dignidade humana.
Por isso, neste Natal, vamos acreditar que seremos capazes de construir uma sociedade e um futuro mais justos, mais prósperos e mais solidários. Não podemos ignorar que somos pessoas humanas e que, conforme começamos esta reflexão: «Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a Lei» (C.R.P., 2004:Artº 13º nº 1), assim a desejamos concluir.

Bibliografia

CLARET, Martin, (s.d.). O Poder da Auto-Estima. São Paulo: Editora Martin Claret
FRANCESCHINI, Válter, (1996). Os Caminhos do Sucesso. 2ª Edição, Revista e Ampliada. São Paulo: Scortecci
ROMÃO, Cesar, (2000). Fábrica de Gente. Lições de vida e administração com capital humano. São Paulo: Mandarim.
VIANA, Marco Aurélio Ferreira, & VELASCO, Sérgio Duarte, (1998). Futuro: Prepara-se. Cenários e Tendências para um Mundo de Oportunidades. 3ª Edição. São Paulo: Editora Gente. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
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domingo, 15 de dezembro de 2013

Os Direitos Humanos ao Longo da História


Ao invocar os Direitos Humanos, como uma das condições para uma vida digna, a grande interrogação que se coloca é sobre a noção, conceito ou, se se preferir, uma definição, sendo certo que, não se pode estabelecer, à partida, limites neste domínio, porquanto, a abordagem oriental ou ocidental sobre esta temática, tem sido diferente, ao longo da História.
Ainda assim e a título meramente contextualizador e, entre muitos outros e diferentes conceitos, acordar-se-ia em ficar com a seguinte ideia: «Direitos Humanos são aquelas condições de vida que permitem que nos desenvolvamos plenamente e que usemos as nossas qualidades humanas de inteligência e consciência e que satisfaçamos nossas necessidades espirituais.» (NAÇÕES UNIDAS, s.d.:2).
Delimitado o conceito, ainda que provisoriamente, inicie-se, então, o estudo da origem dos Direitos Humano, a partir de alguns pressupostos atuais, de entre os quais: a) A condição da pessoa humana tem direitos inerentes, que devem ser reconhecidos, através de legislação própria; b) Os Direitos Humanos devem ser garantidos a todo o ser humano, para assegurar a sua dignidade, independentemente de quaisquer outros aspetos ou situações; c) Aos direitos fundamentais, acrescentam-se outros, resultantes da pertença a uma comunidade de cidadãos, cuja salvaguarda é inerente aos estados democráticos.    
As Declarações de Direitos, ao longo dos tempos, têm vindo a aumentar de forma significativa e, correlativamente, novos direitos são institucionalizados e, sempre que possível, postos em prática, muito embora, não o sejam com a rapidez que seria desejável, por razões que não cabe aqui explanar.
Nesta caminhada, e para além dos direitos inerentes à pessoa e ao cidadão, muito especialmente, os direitos à: saúde, trabalho, educação, habitação, alimentação, liberdade, justiça e paz, todavia, outros se tornam, igualmente, imperativos mundiais e/ou nacionais, tais como os direitos a: ambiente saudável, qualidade dos produtos adquiridos pelos consumidores; património cultural.
A ponte ou o elo comum entre os vários povos, reside na salvaguarda do “princípio da prevenção” sempre que enfatiza a ação antecipativa à função corretiva, conforme o provérbio popular, segundo o qual: “Mais vale prevenir do que remediar”. Resulta, assim, que, cada vez é mais premente que a legislação acompanhe o desenvolvimento e alargamento dos direitos, quer no sentido da obrigatoriedade no seu cumprimento; quer na prevenção sobre os abusos que frequentemente ocorrem, um pouco por todo o mundo.
Tradicionalmente, tem-se admitido que os direitos humanos, na sua origem, embora com a designação de direitos, remontam aos Estóicos, (Corrente Filosófica desenvolvida durante cerca de cinco séculos: 300 a.C. a 200 d.C. na Antiguidade Clássica e que se transportou até aos nossos dias), na medida em que, nas suas obras, se defendem valores como a dignidade humana e igualdade, intrínsecos ao próprio ser humano. Esta postura dos Estóicos constituiu, à sua época, uma espécie de revolução no mundo antigo, considerando-se que a sociedade assentava na escravatura, e os cidadãos eram absorvidos pela moral da cidade.
Admite-se que é difícil referenciar, com precisão, a data em que se tomou consciência concreta sobre os Direitos do Homem, embora e em termos de momento histórico, se indique que as primeiras manifestações teriam ocorrido, de facto, nas civilizações antigas de que são exemplo: O Código de Hamurabi, na Mesopotâmia; as Leis de Sólon e de Péricles, na Grécia; as Leis das XII Tábuas e a Jurisprudência de Cícero, em Roma.
Com a proclamação do Código Justinianeu, ficaram definidas as grandes orientações do Direito Natural, cujo princípio basilar ensina que se deve: «Dar a cada um o que é seu» o que equivale à ideia de justiça comutativa. Estes documentos, de entre outros, constituem referências que não convém ignorar.
No entanto, só mais tarde, com a forte influência do Cristianismo, se verifica, finalmente, que os valores de dignidade humana e igualdade, se interiorizam nos espíritos mais sensíveis, e passam a integrar a cultura ocidental, porque: todos os homens são filhos de Deus, sem distinção de raça ou cor; o Homem é uma criatura que participa do Divino através da Razão iluminada pela Fé.
Este princípio, defende-se hoje, no que respeita à não-discriminção, muito embora a sua prática ainda não esteja consolidada, nem sequer ao mais alto nível de muitos dirigentes mundiais.
O processo evolutivo dos Direitos Humanos conhece na Idade Medieval novos impulsos, concretamente, ao nível dos direitos locais e feudais, nos diversos territórios europeus.
Em Portugal, poder-se-ia mencionar os “Forais” que eram cartas com os direitos e liberdades dos Concelhos, os quais representavam a autonomia do Poder Local, perante o Poder Régio. Em geral e na Europa, também existem alguns documentos significativos dos Direitos dos cidadãos: a Magna Carta, de 1215, que estabelece um amplo leque de direitos e liberdades, limitando o poder soberano sobre os indivíduos; a institucionalização do “Habeas Corpus”, que se traduz no recurso ao Tribunal competente, contra o abuso do poder, por virtude de prisão ou detenção ilegal.
Os direitos avançam, assim, porém, ainda ao nível dos direitos naturais do homem e, o que hoje se consideram os Direitos Humanos, levariam algum tempo a ser reconhecidos pelas sociedades.
Com a Idade Moderna, designadamente com a institucionalização da Justiça e da Razão, o Homem ultrapassa a sua condição divina e se descobre como um ser individual e único, capacitado para assumir-se como um sujeito de direitos.
Os Direitos Humanos são, portanto, intrínsecos ao Homem, são constituintes da sua essência, reconhecidos ao longo do seu processo histórico-evolutivo e realizam-se num sistema de normas e instituições, que têm como fim definir e proteger os diversos aspetos da personalidade, nas circunstâncias específicas da vida social.
Nesta lenta e longa caminhada na implementação, respeito e cumprimento dos Direitos Humanos, chega-se à Idade Contemporânea do último quarto do século XVIII, onde se vão encontrar as grandes Declarações de Direitos Humanos, nomeadamente: a Declaração dos Direitos de Virgínia, dos Estados Unidos da América; a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de França; e, já no século XX, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Organização das Nações Unidas e a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, aprovada em Roma.
Em Portugal, a Constituição da República, aprovada em 1976 pela Assembleia da Constituinte, consagrou, de forma moderna e humanista, os Direitos Humanos constantes da Declaração das Nações Unidas, sobre esta matéria. Com efeito, no seu Título II – Direitos, Liberdade e Garantias, destacam-se, desde logo e entre outros, o direito à vida, conforme se expressa na Lei Fundamental: «a) A vida humana é inviolável; e: Em caso algum haverá pena de morte; b) Ninguém pode ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas cruéis, degradantes ou desumanos; c) A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, à capacidade civil, à cidadania, ao bom-nome e reputação, à palavra e à reserva da intimidade da vida privada e familiar; d) Todos têm direito à liberdade e à segurança; e) Haverá Habeas corpus contra o abuso do poder, por virtude de prisão ou detenção ilegal, a interpor perante o Tribunal.» (ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, 1976: 24).
Por outro lado, verifica-se, também, que ao nível da educação, a Lei de Bases do Sistema Educativo, consagra no seu articulado, direitos fundamentais para o Homem, que se consideram como autênticos Direitos Humanos, porque se o Artº 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem dispõe que: «Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental», preceito idêntico determina a Lei de Bases do Sistema Educativo Português: «Todos os portugueses têm direito à educação e à cultura, nos termos da Constituição da República.» (ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, 1986: Artº 2º). 
Como ideia geral, pelo menos para interiorização, verifica-se que esta temática dos Direitos Humanos, hoje, século XXI: «Tem uma história muito longa, complexa e rica, pontuada por diversos momentos de especial significado e relevância. Proporcionar aos nossos alunos/formandos um maior enriquecimento do conhecimento e reflexão neste domínio, motivadores de novas atitudes e comportamentos, constitui o grande desafio que, sem falsas modéstias, pretende-se alcançar com a compreensão de todos aqueles que se preocupam com os valores fundamentais da: Paz, Liberdade, Igualdade, Tolerância, Solidariedade e tantos e tantos outros.» (Cf. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO PORTUGUÊS, 1992:9).

Bibliografia

ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, (1976). Constituição República Portuguesa, versão de 2004, Porto: Porto Editora 
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA PORTUGUESA, (1986). Lei 46/86, 14/10/1986
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO PORTUGUÊS, (1992). Marcos Históricos dos Direitos do Homem, Vol. I, Lisboa: Comissão para a Promoção dos Direitos Humanos e Igualdade na Educação
NAÇÕES UNIDAS, (s.d.). Direitos Humanos: 50 perguntas e respostas sobre direitos humanos e sobre as actividades das Nações Unidas para promovê-los. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

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domingo, 8 de dezembro de 2013

Educação Sócio-Cultural como Qualidade de Vida


Aceitam-se todos os contributos que tenham por objetivo enriquecer um processo de educação e formação para os direitos humanos e cidadania, cuja finalidade suprema é erradicar a iniquidade e as distorções sócio-económicas que atualmente se verificam na humanidade.
Uma das vias, possível de contribuir para a luta contra tantas incongruências, algumas aberrações e toda uma panóplia de males, passa pela educação sócio-cultural, a iniciar-se em todas as escolas e também por um processo de formação ao longo da vida, incluindo o conceito de “aprender a aprender”.
Partir para um nova ordem mundial, baseada num novo paradigma, que urge desenvolver e consolidar: a Escola Cultural ou, mais abrangentemente, a Escola Pluri-intercultural, a influenciar cada pessoa, o mais cedo possível na vida de cada uma, porque a responsabilidade da escola inter-pluricultural é imensa.
Na verdade: «O paradigma da Escola Cultural é muito favorável à educação para os direitos humanos, quer pelas actividades educativas que promove e aconselha, quer pela sua estrutura pedagógica, quer pela filosofia personalista em que assenta. Com efeito, a Escola Cultural caracteriza-se: a) pela centração da educação na pessoa, que quer ver completamente respeitada na sua eminente dignidade; b) pela concepção cultural da educação, definindo a cultura como a obra do espírito criador e livre do Homem, acrescentada à pura Natureza; c) pela concepção pluridimensional e cultural da Escola; d) pelo funcionamento concreto da Escola, flexível e democrático, aberto à livre e responsável expansão de todos os aspectos estruturais da personalidade dos educandos.» (PATRÍCIO, 1999:98).
Quanto mais não seja, e como base de trabalho, pode-se concordar que a via para a paz, não no sentido de ausência de guerra, mas a paz como situação universal que proporciona à humanidade bem-estar geral, harmonia e felicidade, percorre o itinerário compreendido entre o respeito pelos direitos humanos e o exercício pleno da cidadania democrática, esta na perspectiva da participação ativa e profícua de cada um e de todos os cidadãos, na vida das respetivas comunidades.
A paz, também entendida como erradicação de todo e qualquer tipo de violência: física, psicológica, económica, religiosa, política, ética, cultural e sócio-profissional, entre muitas outras mais subtis, como a chantagem, os assédios, o medo e a superstição.
Impõe-se uma nova cultura que possibilite a implementação de paradigmas que fomentem as boas-práticas, desde o mais cedo possível e ao longo da vida de cada pessoa, que constituam como que um alimento essencial para a vida boa, digna, pacífica, produtiva e verdadeiramente humanista, porque: «O caminho para a paz passa por resoluções criativas do conflito, o que, geralmente, significa a transformação de algumas estruturas, e, através da substituição de culturas de violência por culturas de paz, deslegitima a violência. O uso da violência para punir o agressor não resolve os conflitos nem deslegitima a violência. Pelo contrário, provavelmente congela o conflito e legitima a violência. Por outras palavras, não só não é produtor da implementação dos direitos humanos, mas é mesmo contraproducente…» (GALTUNG, 1994:213).
O apelo à paz, à preservação da vida humana e ao estabelecimento de plataformas de diálogo, para a resolução dos conflitos, sucedem-se um pouco por todo o mundo, e a partir das mais altas instâncias dos poderes nacionais e organizações internacionais, invocando-se, reiteradamente, o respeito pelos Direitos Humanos e pela Cidadania.
Ignorar a riqueza e diversidade dos valores que sustentam toda uma cultura, na circunstância, a cultura dos deveres, direitos e valores humanos, aliada às múltiplas dimensões da pessoa humana, constitui uma atitude que não beneficia o diálogo nem a paz, nem a felicidade da humanidade, porque, em boa verdade, existem valores básicos que facilitam, substancialmente, a construção de uma sociedade efetivamente humana, e que para o ser plenamente, deverá considerar a pessoa como uma unidade indivisível na sua dignidade, mas também cultivar, até por boas-práticas, o seu lado mais inefável, profundo e único – a sua dimensão sobrenatural –, que pela via religiosa pode e deve cuidar.
O ser humano não se extingue com a morte física, na medida em que: «A pessoa humana alcança assim – pela via sobrenatural da Fé e da graça – um coroamento divino de sua vida espiritual. O horizonte e o âmbito das dimensões da pessoa se engrandecem, desse modo, até a infinitude do divino. Sem confundir-se com Deus e sempre essencialmente finita e contingente, a pessoa humana entra assim a participar da mesma vida de Deus: pela aceitação da revelação e a vida da graça nesta vida eterna, pela visão de Deus e a glória da vida imortal.» (DERISI, 1977:54).
O homem que utiliza bem, aqui no sentido da sua própria felicidade, este valor supremo que é a Fé, que se manifesta no seu espírito, estará mais seguro no que respeita ao seu destino último, a sua vida terá sempre um sentido. Os seus ideais e objetivos, certamente, adquirem uma natureza mais sobrenatural, sem descurar a sua posição no mundo material, para o qual tem de estar atento e protegido porque: «Um dos maiores perigos para a nossa vida e a fonte mais justificável de medo é a guerra. Contra esse perigo também o Estado deve tomar precauções…», não devendo ignorar que: «Na vida de qualquer grupo de homens existem divergências inevitavelmente legítimas, tanto quanto tentativas de burla e aqueles podem exigir como último recurso uma solução imparcial.» (MABBOTT, 1968:120-21).
É na união desta existência dicotómica – corpo e espírito – no homem que se pode rentabilizar, para o bem-comum, a ação humana, nomeadamente, através das respetivas organizações sócio-politicas, com destaque para o Estado, aqui assumido no governo legítimo e democrático.
A educação sócio-cultural, que se considera essencial e uma via segura na busca da paz e obtenção da felicidade da pessoa humana, é possível implementá-la, a partir da sociedade organizada e dos seus agentes socializadores, dos quais se enfatiza, nesta reflexão, além da Escola, a Igreja, através da religião que alimenta a Fé. Invoca-se a Fé, afinal, em muitas circunstâncias da vida.
Uma educação sócio-cultural integra nos seus curricula esta dimensão exclusiva do homem e, sem preconceitos nem discriminações, cabe às instituições responsáveis pelos sistemas de ensino e formação apoiar, no sentido do reconhecimento e legalização curricular, as religiões predominantes e secularmente interiorizadas e praticadas pelos respetivos crentes.
Na circunstância, o exemplo que a Fé Cristã vem dando ao mundo, pela assunção de compromissos sociais, poderá constituir-se como um excelente incentivo às demais e grandes religiões que, por quaisquer razões, ainda não conseguiram dar o seu pleno contributo para a paz.
Nesse sentido, o papel da Igreja, hoje, é insubstituível na construção da concórdia, na busca da felicidade e essencial para dar um destino à vida porque: «Nunca foi tão grande a chance da Igreja de participar, de trazer uma colaboração decisiva, e isto por uma razão bem precisa. Nunca se viu com tanta clareza que a solução desses problemas não depende apenas nem principalmente de factores técnicos, mas depende decisivamente de factores éticos e morais. (…) A Igreja anuncia a solidariedade na promoção como o único caminho para a própria sobrevivência da espécie.» (BIGO & ÁVILA, 1983:280).
Elevar os Direitos Humanos e Cidadania ao estatuto de disciplina académica, obrigatória em todas as Escolas de Ensino, Educação e Formação, em todos os cursos, com peso idêntico a outros conhecimentos, tidos por nucleares, é um imperativo que se reclama como um desígnio universal. Envolver o domínio Sócio-Cultural, em todas as suas vertentes, com inclusão das próprias Religiões, será uma estratégia a considerar que, seguramente, conduzirá à Paz enquanto preservação da Vida e Dignidade Humanas.
Uma política universal, sob a forma de uma Nova Ordem Internacional, para a vida e felicidade da espécie humana, não será uma utopia, dentro de algumas gerações, se os atuais responsáveis, em cada país, em cada comunidade, em cada família e em cada indivíduo humano, promoverem e incentivarem uma nova cultura dos valores, dos deveres, dos direitos mais sublimes e específicos da humanidade.
O mundo, com todas as suas riquezas, existe antes do homem, portanto, ninguém deveria arrogar-se o direito de que um determinado recurso lhe pertence, em exclusivo. A distribuição da riqueza deverá ser universal e os que agora se proclamam donos de bens naturais e se consideram ricos, deveriam iniciar o processo de partilha das riquezas que o Criador colocou no mundo, igualmente para todos, sem discriminação, desde logo a começar pelos próprios concidadãos, porque a geração que hoje está no poder, amanhã será substituída por outra e assim sucessivamente.
Todos os descendentes devem ter as mesmas possibilidades de viverem em paz, em abundância e conforto, numa sociedade mais humana e feliz, porque o que hoje, para muitos, poderá ser utopia, possivelmente, num futuro não muito longínquo, tornar-se-á uma realidade, porque é insustentável haver uns poucos, com tanto; e muitos outros, com tão pouco, então, antes que aconteça uma tragédia bem mais catastrófica do que a da Segunda Guerra Mundial, homens e mulheres de todo o mundo, entendam-se, conciliem-se e devolvam à humanidade o que Deus-Criador doou a todos por igual: paz, abundância, recursos, harmonia e felicidade.

Bibliografia

BIGO, Pierre, S.J., & ÁVILA, Fernando Bastos, S.J., (1983). Fé Cristã e Compromisso Social; Elementos para uma reflexão sobre a América Latina à luz da Doutrina Social da Igreja, 2. Edição revista e aumentada, São Paulo: Edições Paulinas.
DERISI, Octávio Nicolás, (1977). Valores Básicos para a Construção de uma Sociedade Realmente Humana, Trad. Alfredo Augusto Rabello Leite, São Paulo: Mundo Cultural.
GALTUNG, Johan, (1994). Direitos Humanos – Uma Nova Perspectiva. Tradução Margarida Fernandes. Lisboa, Instituto Piaget
MABBOTT, J.D., (1968). O Estado e o Cidadão, uma introdução à Filosofia Política, Trad. Jorge Natal da Costa, Rio de Janeiro: Zahar Editores.
PATRÍCIO, Manuel Ferreira, (1999). “Escola Cultural e Educação para os Direitos Humanos”, in Educação para os Direitos Humanos. Actas do Congresso. Ponte de Lima: Amnistia Internacional. 11 a 13 de Março de 1999, 97-101  

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 1 de dezembro de 2013

Mitigação das Mágoas


Acredita-se que em quase todos os seres humanos, ao longo das suas vidas, tenham existido períodos, relativamente longos: anos, meses, semanas, dias ou horas, em que as vivências, mais ou menos otimistas e/ou pessimistas, tenham sido experimentadas, com maior ou menor intensidade, e que nelas se cruzem estados de espírito muito diferentes, que até podem ser divergentes e/ou convergentes, levando a determinadas atitudes e comportamentos, que nem sempre são detetados e compreendidos pelas pessoas em geral, embora quem conheça, minimamente, certas situações, que potenciam aquelas reações, tenha uma visão diferente: de aceitação e tolerância; ou mesmo ajuda, se tal for o caso.
Pretende-se refletir um pouco, sobre as alterações do estado de espírito e o comportamento que elas implicam, que influem na própria personalidade, avançando-se, então, alguns pseudo-diagnósticos sobre alegadas patologias como: comportamento bipolar; transtorno de personalidade e outras situações consideradas anormais, eventualmente, de rutura, definitiva e/ou prolongada, com um modo de viver em sociedade, em família, no trabalho, nos estudos.
Acontece que, por vezes, a origem de transformações, mais ou menos profundas, da personalidade, esta considerada como um conjunto de traços pessoais, relativamente estáveis, que levam as pessoas a reagir com uma certa uniformidade, perante situações idênticas, tem origem em: alterações sócio-comportamentais mais visíveis, que podem estar influenciadas por causas relacionadas com atitudes, valores e sentimentos de outras pessoas, que interferem, intensamente, com o estado de espírito de um colega, amigo ou familiar.
Ao longo da nossa vida, praticamos boas e más ações, a favor e contra nós, familiares, amigos, colegas e a sociedade no seu todo, das quais nos regozijamos ou nos arrependemos, respetivamente. Se adotamos normas e princípios de vida, no sentido do bem e nunca recebemos qualquer reconhecimento, uma palavra que seja de gratidão, ficamos infelizes.
Portanto, se em vez de um agradecimento, recebemos atitudes de: desvalorização, indiferença e, finalmente, de rejeição por parte da pessoa, ou grupo a quem nós fizemos bem, aqui pode surgir um primeiro sentimento de mágoa, tristeza, dor, sofrimento e desgosto, tanto mais profundos quanto mais nós gostávamos da pessoa a quem ajudámos, em vários aspetos, de quem fomos verdadeiros e incondicionais amigos, solidários e leais. Certas atitudes acabam, invariavelmente, por destruir a confiança, o carinho, a amizade e consideração que tínhamos para com as pessoas que receberam de nós os mais nobres e sinceros sentimentos.
A ingratidão, acompanhada da indiferença, da rejeição, da falta de consideração, estima e amizade, de facto constituem um rude golpe na autoestima, na própria honra, nos valores e sentimentos de quem é vítima de tal comportamento que, ferida na sua dignidade mais profunda, pode, inclusivamente, cometer atos irreversíveis.
Nestas circunstâncias, será muito difícil recuperar a alegria, a paz, a felicidade, por vezes a própria saúde, porque as dores psico-sentimentais, causadas pela melancolia, ferida, padecimento e desgosto, são como uma doença física incurável que, em muitas situações, pode conduzir à morte, seja por profunda depressão ou suicídio, cuja responsabilidade moral será sempre da pessoa que, injusta e cruelmente, nos rejeitou, sem qualquer razão para o fazer.
Certamente que as vítimas de ingratidão, insensibilidade, desfeita e repulsa, dentro de determinados parâmetros, e desde que as ofensas não atinjam uma gravidade incontrolável, podem tentar como que uma espécie de mitigação para o sofrimento, adotando medidas que conduzam à separação gradual daquelas pessoas, sem lhes faltar ao respeito, nem entrar em contra-ofensivas, métodos retaliatórios, chantagens, maledicências e hipocrisias. Devem tentar, educadamente, afastar-se, com todo o sofrimento e desgosto que carregam.
No relacionamento que travamos, uns com os outros, existem regras, princípios, valores e sentimentos que devem ser observados. Numa relação de grande amizade, em que já permanece uma bem definida aceitação da outra pessoa, como uma verdadeira e sincera amiga, certamente que nasce um amor muito especial, a que se ligam atitudes e comportamentos muito próprios e distintos dos demais, envolvendo, precisamente, uma disponibilidade total para a generosidade, para a dádiva e para a proteção da pessoa que queremos para nossa exclusiva amiga, e de quem já nos tornamos intensamente cúmplices.
Nesta relação de profunda amizade: «Não podemos esquecer que somos seres temporários, impermanentes, e deveríamos desejar fazer o bem ao maior número de indivíduos possível durante nossa efêmera existência. Esta é a ética da responsabilidade.» (CARVALHO, 2007:102).
Ao assumirmos esta postura, com total sinceridade, evidentemente que não esperando qualquer retribuição, mas desejando receber um sinal de agradecimento, ou mesmo de simpatia, de consideração, se tal não acontecer, esse comportamento entristece-nos, e até nos pode magoar intimamente.
Por vezes, quase que temos motivos para pensar que as pessoas, grupos ou organizações, a quem fazemos bem, elas podem considerar que temos essa obrigação, talvez por se sentirem com um estatuto superior ao nosso, materialmente assim qualificado.
Ora, ninguém tem o direito de exigir que lhe façamos bem, mas muitos de nós temos o dever ético-moral, pelo menos neste domínio, de agradecer, estimar, considerar quem nos ajuda de alguma forma: seja através de valores e sentimentos; seja por via de quaisquer dádivas sinceras e incondicionais.
Por outro lado, também é bem claro que quem pratica o bem não tem o direito de exigir, indefinidamente, gratidão permanente, eterna, atitudes e comportamentos de constante subserviência à pessoa que exerceu atos de ajuda, de apoios diversos. Quem tem atitudes boas, de generosidade e dádiva, fá-lo sem exigir nada em troca, mas seguramente que fica feliz quando verifica haver consideração e estima da pessoa a quem realmente se dedicou de alguma forma.
A solidariedade, amizade, lealdade, consideração, estima e gratidão, revelam-se em pequenos gestos (que até poderão ser, simbolicamente, muito grandes), retribuição de valores e sentimentos, obviamente, com total sinceridade, alegria e humildade. Não é necessário retribuir um bem material recebido de uma pessoa, com outro bem idêntico, de resto, o reconhecimento pela simpatia, carinho, preocupação sobre a situação de quem nos fez bem, é a melhor prova da nossa gratidão.
Nem toda a gente é sensível a certos valores, sentimentos e emoções. Muitas pessoas pretendem manifestar-se com uma alegada racionalidade pragmática, concretizada em comportamentos objetivamente materializados. Criticam, destrutivamente e com grande ironia, quem valoriza atitudes de suaves e meigas relações pessoais, através, justamente, da: correção, boa educação, respeito, consideração e estima.
Entendem que tais relações, assentes em gestos e atitudes de grande amabilidade e nobreza, são pieguices, ornamentos e, eventualmente, efeminados. Tais pessoas, talvez prefiram relações abrutalhadas, supostamente, enérgicas nas palavras, nos gestos e nos comportamentos porque isso será distintivo das alegadas “personalidades” ditas “fortes”.
Quando não recebemos gestos, manifestações, sinais que são indiciadores das pessoas que, para além de nossas verdadeiras amigas, são profundamente gratas e, pelo contrário, nunca, ou raramente, têm uma palavra, um gesto de simpatia e gratidão, estamos perante pessoas que, realmente, nem sequer gostam de nós, e essa perceção que acabamos por sentir, leva-nos a formar uma mágoa muito grande, dor e desgosto, não obstante e porque, eventualmente, a nossa amizade é intensa e verdadeira, é que vamos aceitando o sofrimento e continuamos a preocuparmo-nos com a pessoa ingrata, a fazer-lhe sempre o melhor bem possível.
Hoje, mais do que nunca, precisamos todos uns dos outros, não pode haver lugar a atitudes e sentimentos de: ingratidão, indiferença, rejeição, humilhação; faltas de: consideração, estima, carinho, gentileza, educação e amabilidade, para com quem nos faz bem, para com quem está sempre, e incondicionalmente, do nosso lado, para com quem indubitavelmente nos ama, com um profundo “Amor-de-Amigo”,
Hoje, poderemos estar muito bem na vida, pensar que, ainda assim, temos amigos, que continuam a fazer bem, mesmo que seja apenas através de boas atitudes e ações, valores imateriais e sentimentos sinceros, todavia, num futuro mais ou menos próximo será possível não estarmos tão bem na vida e, apesar disso, aquele amigo continua fiel, solidário, atencioso, delicado e meigo, sempre preocupado com o nosso bem-estar.
A um amigo destes só se pode “pagar” com tudo o que nos for possível, não no sentido da obrigação, de termos que retribuir os bens recebidos, mas com o dever da humildade que toda a gratidão comporta. Se assim procedermos, também receberemos muito mais do que o que damos, porque passamos a receber mais alegria, satisfação e felicidade, porque na verdade teremos um verdadeiro amigo que: tanto recebe, como retribui, com sincera amizade.
Hoje, apesar de todos precisarmos de todos, a verdade é que teremos de saber escolher muito bem os nossos amigos, a partir das qualidades humanas que ele nos pode oferecer, os princípios que professa, os valores que pratica, os sentimentos que vai revelando e as emoções que a nós nos confia. Hoje precisamos de um amigo com quem partilhar tudo da nossa vida, que nos compreenda e esteja incondicionalmente do nosso lado, se preciso for, que esse amigo nos defenda, eventualmente contra aqueles que se dizem amigos, apenas em certas circunstâncias. Por isso é que cada vez é mais difícil, e raro, termos amigos com tais nobres caraterísticas e graus de exigência tão elevados.
Como é da sabedoria popular: “Os amigos verdadeiros, do coração”, são: aqueles que nos visitam no hospital e nos acompanham carinhosamente na doença, dando-nos coragem para enfrentarmos a falta de saúde; aqueles que no infortúnio da vida nos aparecem na cadeia, sem vergonha, compreendendo os atos que levaram a esta situação; aqueles que nas dificuldades da vida: pessoais, familiares, profissionais, económicas e outras, nos apoiam incondicionalmente com tudo o que têm e podem, para que nada nos falte e nos sintamos confortáveis; aqueles que estão sempre do nosso lado, que em quaisquer circunstâncias dão a “cara” por nós, sem medo, nem vergonha, que intercedem por nós, para o nosso bem; finalmente, são aqueles que, se necessário, afastam-se de “supostos amigos” quando se sabe que estes, afinal, não respeitam, nem têm qualquer consideração pelos nossos amigos incondicionais, porque quem não é amigo do meu sincero amigo, não pode ser meu amigo verdadeiro. Será possível termos amigos destes? 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)