domingo, 30 de abril de 2017

Docência com Espírito Apostólico

Exercer a docência com espírito apostólico, começa a ser um imperativo intransponível na formação de uma sociedade de princípios e de valores, que se torna indispensável, num mundo em permanente evolução técnico-belicista, pesem, embora, os esforços de alguns responsáveis mundiais, e pessoas anónimas, para contrariar este surto de violências físicas, psicológicas, egocêntricas, económicas e étnico-culturais, sobre pessoas, populações, nações e continentes.
A luta contra os valores irracionais, que imperam um pouco por todo o mundo, deve ser reforçada, não pela força das armas, sim pela coerência, legitimidade e justeza dos argumentos, através do diálogo sincero e frontal, pela harmonia das posições moderadas, através da compreensão e respeito pelas opiniões diferentes, quando razoáveis, lógicas e sensatas, pela tolerância com que devem ser interpretadas atitudes menos corretas e, finalmente, pela cooperação entre os povos, independentemente das suas virtudes e situação socioeconómica.
É neste quadro que ganha realce o papel do professor-formador, quaisquer que sejam as origens, estatutos e escalões etários dos seus alunos-formandos que, num futuro próximo, serão os cidadãos do mundo moderno e complexo, em que já se vive. Ser professor-formador, para preparar estes futuros cidadãos do mundo, não é tarefa fácil, nem ao alcance de todos os atuais docentes e educadores.
 Neste século, que se iniciou há quase duas décadas, não serão suficientes os conhecimentos científicos e as mais avançadas tecnologias, porque: «Na perspectiva da função missionária da educação, salienta-se a urgência de um projecto educativo que implique princípios filosóficos, um sistema de valores a promover e a defender, objectivos gerais, um perfil de aluno e opções pedagógicas. Nesta lógica de ideias, ser professor, hoje, implica ter amor pelos alunos, agir com carinho e autoridade, ser competente e saber trabalhar em equipa.» (REIMÃO, 2005:230).
Construir este magnífico e transcendente “edifício”, denominado “Cidadão do Mundo”, não é a mesma coisa que fabricar bombas atómicas, elaborar teorias que poucos entendem, muitos ignoram e ninguém beneficia ou, ainda, desenvolver estratégias globais, que apenas aproveitam a poderosos grupos favorecidos e, finalmente, muito menos, idealizar, aprovar e executar leis que privilegiam agregados minoritários, mesmo que, democraticamente eleitos pela maioria, em prejuízo dos mais necessitados.
As transformações sociais mais profundas e justas passam, inexoravelmente, pela construção de um novo cidadão do mundo. Este cidadão-paradigma deve ser formado em permanência, isto é, desde o dia em que nasce até ao dia em que morrer, enquanto pessoa e ser humano único, irrepetível, inegociável e infalsificável.
Vários são os técnicos e agentes chamados para darem o seu contributo nesta magnânima construção: família, Igreja/Religião, empresas, comunidade de vizinhos, organização política e sociedade, entre outros.

Bibliografia

REIMÃO, C. (2005). “Ética da Profissão Docente”, 10ªs Jornadas Psicopedagógicas de Gaia. Resumo das Intervenções sobre o tema: “Deontologia e Desempenho Profissional”, in Psicologia, Educação e Cultura. Carvalhos: Colégio Internato dos Carvalhos. Vol. X, (1), Maio-2006, pp. 229-236


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

terça-feira, 25 de abril de 2017

Flores Revolucionárias

Portugal, decorridos mais de quarenta anos, após a Revolução de vinte e cinco de abril de mil novecentos e setenta e quatro, assumida responsavelmente pelos valorosos “Capitães de Abril”, assim mais tarde designados, vive, atualmente, uma tranquilidade e um desenvolvimento que faz inveja a grandes potências mundiais, para além da liberdade que se “respira” e experiencia na vida corrente dos cidadãos e das instituições.
Está por escrever a História do 25 de abril de 1974, nesta data consubstanciada numa Revolução Democrática, Pacífica e Exemplar, que viria a designar-se por “Revolução dos Cravos”, devido ao facto de nas extremidades das espingardas e outras armas dos militares, juntamente com as munições, terem sido colocados cravos vermelhos, a que se uniria o povo anónimo a distribuir, nas ruas, estas lindas e tão simbólicas flores.
Naturalmente que, como em qualquer revolução, haveria algum confronto entre os apoiantes deste ato, libertador de uma ditadura de quase meio século, para a passagem  a uma democracia, e aqueles que continuavam e desejavam manter o antigo regime ditatorial e, nesta tensão, seria necessário tomar algumas medidas mais robustas, até à rendição dos principais responsáveis governamentais e altos quadros civis e militares, por isso, um reduzido número de disparos, teriam sido realizados, precisamente para intimidar; jamais para ferir ou matar.
Aceita-se, e até se compreende, que existam diferentes versões deste acontecimento extraordinário, que a História e os seus especialistas, investigadores e intervenientes diretos, um dia darão conta aos Portugueses e ao mundo, mas existem realidades que já são verdades e factos incontestáveis, que não carecem de qualquer prova científica, ao fim destas décadas de Democracia.
As consequências, mais evidentes, desta revolução modelar estão à vista de qualquer pessoa, inclusive, das menos informadas política e historicamente, por isso e em jeito de breves tópicos, destacam-se as seguintes: cessação das guerras coloniais; independência das então colónias; restauração dos direitos, liberdades e garantias para todos os cidadãos; aprovação e implementação de uma nova Lei Fundamental, para um Estado Democrático de Direito; eleições livres por sufrágio direto, universal e presencial, para os Órgãos de Soberania: Assembleia da República, Presidência da República e Governo, assim como para as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira e Autarquias Locais: Assembleias Municipais, Câmaras Municipais e Assembleias de Freguesia; entre outras desfechos positivos que se vieram a concretizar pós-revolução, como a famosa trilogia dos “3D’s”: Descolonizar, Democratizar e Desenvolver.
Portugal é, atualmente, primeiro quarto do século XXI, uma autoridade em Democracia, fazendo cobiça, seguramente, às poderosas nações económica e financeiramente assim reconhecidas. Os Portugueses são um povo de fracos recursos naturais, contudo, riquíssimo em recursos humanos, meios culturais, a todos os níveis e, também, em vários domínios da ciência, da técnica, da política democrática, cívica e multirracial.
Os Portugueses, atravessam um dos grandes e brilhantes momentos da sua História, apesar das dificuldades económicas, financeiras e sociais, porque tem passado, nesta primeira década e meia do século XXI, na medida em que foram muitos os sacrifícios impostos à população: austeridade praticamente incontrolada e cruel, que arruinou a classe média e atirou para a miséria mais de quinze por cento das famílias. Todas estas dificuldades têm vindo a ser ultrapassadas com grande coragem, eficácia, realismo e esperança em melhores dias.
Portugal, hoje, é um país pacífico, onde se pode olhar o futuro com otimismo, um território cujo povo se revela profundamente humanista e bondoso, basta analisar a nova política de acolhimento de refugiados, oriundos de países em guerra, de regimes extremistas, nos quais a dignidade e os direitos humanos perderam ilegítima e ilegalmente qualquer sentido.
A dimensão multicultural dos Portugueses, após a Revolução dos Cravos, como que se reforçou no mundo, agora com princípios, valores e sentimentos renovados, eventualmente, compagináveis com uma mentalidade universalista, pós-moderna que, em muitos países sociáveis, tal como em Portugal, releva de uma Civilização Ocidental humanista-cristã, muito embora, igualmente, aberta e dialogante com outras religiões moderadas.
A Revolução dos Cravos, que também poderíamos designar de “Cetim”, - para não repetir o vocábulo “Veludo”, utilizado por Vaclav Havel, aquando da Revolução, não belicosa, de 1989 na antiga Checoslováquia -,  é hoje um bom exemplo de um povo culto, calmo e nobre como são os Portugueses, que bem podem orgulhar-se dos seus militares, libertadores de uma regime inaceitável, que não respeitava os Direitos Humanos, por mínimos que fossem, principalmente, aqueles que se reportavam à liberdade de expressão político-ideológica.
Comemorar, com pompa e circunstância, a Revolução dos Cravos, em Portugal, será sempre um tributo merecido, não só aos militares que correram graves riscos, quer nas suas carreiras profissionais e, até, possivelmente, na vida física, como também prestar uma homenagem ao povo anónimo que, serena e civicamente, se juntou e apoiou os promotores da Revolução.
E se feridas ainda existem, e é natural que sim, designadamente, nos Portugueses que escolheram as então colónias para trabalharem, viverem, educarem os seus filhos e terem um futuro tranquilo e que, de repente, se viram obrigados a fugir, para a então Metrópole, ou para outros países, sendo despojados dos seus bens, que nuca nenhum governo, em Portugal e/ou nos novos países, os ressarciram destes prejuízos tremendos.
Esta será, talvez, a parte menos positiva da Revolução, mas também se compreende que, à época, não seria possível fazer muito melhor. Afinal, os Portugueses oriundos das ex-colónias, acabaram por se reintegrarem na sociedade nacional e: muitos deles, recomeçaram uma nova vida, com mais ou menos empreendimentos, criando, inclusive, postos de trabalho; outros, foram recolocados no aparelho do Estado, bancos e grandes empresas multinacionais. A resiliência destes Portugueses foi outro exemplo que muito nos honrou e correu mundo.
Decorridas mais de quatro décadas, após o dia das “Flores Revolucionárias”, em Portugal, constata-se que o país vive um clima de grande desenvolvimento: de avanços significativos na área da investigação científica; em toos os domínios da tecnologia e da ocupação de cargos importantíssimos a nível mundial, chegando, na circunstância, indicar que uma das mais elevadas posições políticas mundiais foi assumida, recentemente, por eleição e aclamação, por um ilustre Português, refira-se, o cargo de Secretário Geral das Nações Unidas a partir de 01 de janeiro de 2017. É uma grande honra, um privilégio para Portugal, que assim reforça a sua importância, influência e respeitabilidade, num mundo tão complexo.
Portugal recuperou a democracia perdida há décadas e hoje é admirado em todo o mundo, porque sabe fazer bom uso deste valor supremo, porque: «Manter viva a realidade das democracias é um desafio deste momento histórico, evitando que a sua força real – força política expressiva dos povos – seja removida face à pressão de interesses multinacionais não universais, que as enfraquecem e transformam em sistemas uniformizadores de poder financeiro ao serviço de impérios desconhecidos. Este é um desabafo que hoje vos coloca a História.» (FRANCISCO, 2016:79)

Bibliografia.

PAPA FRANCISCO (2016) Todos os Dias com Francisco. Prefácio, Padre Vitor Melícias. Selecção e Organização, Helder Guégués. Lisboa: Guerra & Paz, Clube do Livro.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689

Imprensa Escrita Local:

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 23 de abril de 2017

Amizade: Valores e Exigências

Se há sentimentos essenciais na vida de uma pessoa, a amizade, entre outros, constitui um bem supremo que, depois de obtida, exige total compreensão, abdicação de imposições de uma parte sobre a outra, de adaptação e aceitação, tanto das qualidades quanto dos defeitos. A amizade pressupõe exigência e rigor permanentes, sabedoria para vencer dificuldades, intrigas e interesses obscuros.
A amizade é um sentimento sempre em progressão, em aprofundamento permanente, numa perspetiva dinâmica, inovadora, aberta, leal e resguardada. Ela, a amizade, deve ser preservada na cumplicidade dos que se consideram verdadeiros amigos, dos que comungam um sincero “Amor-de-Amigo”.
«A relação de Amizade é uma grande manifestação do Amor humano. O Amor de Amigos é Amigável, puro e sem hipocrisia. A pessoa escolhe livremente gostar dessa pessoa, amar essa pessoa, a que chama AMIGO. A pessoa não está ligada à outra pelo instinto!
É uma simpatia pela pessoa. Amizade pode existir entre homem e mulher, entre homem e homem, entre mulher e mulher. Neste Amor de Amizade não há! Não existe atracção sexual (…). A verdadeira Amizade, ou seja, Amor de Amigos, traz muita alegria, a pessoa Ama e dá, sem esperar nada em troca. Não Ama o Amigo pelo que ele fez ou faz! Ama independentemente da ajuda, de qualquer coisa que a pessoa Amiga faça.
Nós amamos os nossos Amigos queremos estar perto deles. Desejamos o melhor para eles. Desculpamos os erros. Temos bons pensamentos, boas palavras, bons sentimentos, bons desejos para os nossos Amigos. Desejamos tudo de bom para os nossos Amigos. Somos sinceros! Puros! Amáveis! Honestos! Leais! Verdadeiros! com os nossos Amigos. Esta é a verdadeira relação de Amizade. Gostamos dos nossos Amigos.». (ROBERTSON, 2007, in: http://blogamor.blogs.sapo.pt/30407.html, blog privado, consultado em 21.08.2011).
Uma amizade iniciada e desenvolvida nos valores: solidariedade, da lealdade, da transparência, da cumplicidade, da gratidão e da defesa intransigente do amigo; na exigência do rigor, do frontalidade e da boa formação humana, em quaisquer circunstâncias, muito dificilmente será destruída. O contrário poderá levar à descrença, à infelicidade, à mágoa que se instala no coração do amigo que se sente não correspondido, onde não existe reciprocidade, onde as palavras, as promessas, os pensamentos não são acompanhados dos respetivos e consequentes atos.
Os amigos verdadeiros aceitam-se, decidem em comum, o que é bom para os dois, ambos devem ceder, perdendo e ganhando, desde que o objetivo final seja sempre a amizade sincera, leal, virtuosa, solidária e cúmplice. Devem prevalecer sempre sentimentos nobres como generosidade, carinho, humildade, solidariedade, enfim, a felicidade dos amigos.
Num mundo tão atribulado, ninguém está isento de dificuldades, de carências, da ajuda de um amigo. Nesta complexidade, a vida será tanto mais interessante, quanto mais fortes forem os sentimentos, as emoções, as causas que os determinam a vivência que se interioriza por momentos inolvidáveis. Sentimentos e emoções sempre repartidos pelos amigos, assumindo, sem restrições, nem medos, as respetivas consequências. Emoções que eles devem enquadrar no puro “Amor-de-Amigo”.
Gerir as emoções é uma tarefa difícil, que requer um aperfeiçoamento contínuo da inteligência emocional, de forma a haver um controlo, mínimo que seja, porque isso se torna vantajoso para a felicidade da pessoa. De facto, a vida poderá ser maravilhosa porque: «Nossas paixões quando bem exercidas têm sabedoria, orientam nossos pensamentos, nossos valores e nossa sobrevivência. » (GOLEMAN in RESENDE, 2000:76).
Rentabilizar, portanto, a amizade sincera, aquela que provoca alegria, mas também, por vezes, tristeza. Quaisquer que sejam tais sentimentos, e emoções, eles devem ser repartidos pelos verdadeiros amigos, para que sintam a sua relação mais forte, mais cúmplice e mais determinada. É aqui que a coesão desempenha uma função importantíssima, na defesa da amizade.
Por vezes utilizam-se expressões como: “amigo-do-peito”, “amigo incondicional”, “amigo dileto”, entre outras, porém, se com tais qualificativos se pretende transmitir, ao outro amigo, que se lhe quer muito bem, que este amigo estará sempre acima, à frente, preferencialmente a todos os demais interesses, situações e pessoas, então os termos fazem sentido, os conceitos ajustam-se a uma amizade inequívoca, perene, pura e correspondida pelos amigos.
Em certas circunstâncias, e conveniências, poder-se-á vislumbrar uma pseudo-amizade, casuística e, quantas vezes, de inconfessável oportunismo. A amizade, quaisquer que sejam as conjunturas, é um sentimento inegociável, porque os amigos também se amam, aqui com o significado de: «desejar-lhe o melhor, olhar por ele, tratá-lo de forma excepcional, dar-lhe o melhor de nós mesmos. Significa a outra nossa alma gémea da amizade sincera, dos valores e exigências a ela associados, em suma, trata-se de um amar característico de verdadeiros e incondicionais amigos». (Cf. ROJAS, 1994).
Este amar não pressupõe, e muito menos envolve, quaisquer instintos sexuais, qualquer intenção de aproveitamento de uma situação, eventualmente, mais íntima, no sentido da cumplicidade que uma amizade verdadeira envolve. Este amar é, precisamente, uma permanente atitude de dádiva, carinho, solidariedade, entreajuda e incentivo para a dignificação dos sentimentos dos amigos.
Este amar não pode provocar quaisquer tristezas, mágoas e desgostos, porque se trata de um amor sincero, puro, apenas interessado na felicidade recíproca dos amigos envolvidos. É o amar do verdadeiro “Amor-de-Amigo”: solidário, nobre, leal, sublime, purificador e protetor das emoções irracionais e dos instintos animalescos. Deverá ser um amar para toda a vida, com ternura e prazer.

Bibliografia

RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Autoajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark
ROBERTSON, Maria, (2007). Amor de Amigos. (Disponível em http://blogamor.blogs.sapo.pt/30407.html, blog privado, consultado em 21.08.2011)
ROJAS, Enrique, (1994). O Homem Light. Tradução Pe. Virgílio Miranda Neves. Madrid: Ediciones Temas de Hoy, S.A.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689

Imprensa Escrita Local:

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)



domingo, 16 de abril de 2017

Páscoa: Esperança que Renasce

No âmbito da cultura religiosa cristã, esta festa móvel que se designa por Páscoa, tem longa tradição, principalmente nas aldeias portuguesas, nas quais e no dia previamente estabelecido, pelas entidades competentes, as populações convergem, com devoção, crença e alegria, para as cerimónias específicas, porque segundo os cânones do cristianismo, o evento significa a “Ressurreição de Cristo”.
Este tempo que os cristãos-católicos vivenciam, inicia-se com um período de “luto”, que se prolonga durante quarenta dias, imediatamente, a partir da terça-feira de Carnaval e culminado no “Domingo da Ressurreição”, dia totalmente consagrado à alegria de experienciar a libertação de Jesus Cristo do túmulo, para onde teria sido conduzido após a sua morte na Cruz, na sexta-feira da paixão, conforme rezam os documentos sagrados.
A Páscoa é, também, um tempo de confraternização, de reunião da família, não tanto no conceito e espírito que é vivido, por exemplo, no Natal, (nascimento de Jesus Cristo) mas numa perspetiva diferente, (morte e ressurreição de Jesus Cristo) não significando menos importância ou menor Fé. A Páscoa, nas aldeias portuguesas, no denominado Portugal profundo, é um acontecimento simultaneamente religioso e pagão, onde o sagrado e o profano, como que se alternam, complementando-se, sem conflitos nem incompatibilidades.
Na Páscoa, concretamente em muitas aldeias de Portugal, praticam-se aquelas duas dimensões. A dimensão religiosa, preenchida com todos os rituais inerentes às festividades: Domingo de Ramos, Semana Santa cujos pontos altos são: a Quinta-feira de Endoenças; a Sexta-feira da Paixão, o Sábado de Aleluia e o Domingo da Ressurreição, celebrando-se neste dia a Missa da Ressurreição, a que se segue o “Compasso Pascal”, que consiste na visita às residências, pela comitiva para o efeito constituída: Pároco, mordomos da Confraria do Senhor, Mordomo da Cruz e outros acólitos.
Esta visita pascal às casas de moradia, da comunidade local, é um acontecimento extraordinário, porque a comitiva, depois de entrar na habitação, o pároco procede ao ritual de benzer a sala, onde todo o séquito é recebido, para de seguida o abade dar a Cruz de Cristo Crucificado a beijar aos presentes que assim o desejem e depois confraternizar, comendo-se alguns doces e cantando-se a “Aleluia”. É, de facto, uma alegria imensa para as pessoas que, com profunda Fé, respeito e esperança, recebem Jesus supliciado.
Quanto à envolvente profana, também em muitas aldeias, a tradição manda que no sábado de Aleluia, pela meia-noite, se queime o Judas, sob a forma de fogo de artifício, É uma manifestação de repúdio, de castigo, contra aquele apóstolo que, traiçoeiramente, vendeu Jesus por trinta dinheiros. Judas era um dos doze Apóstolos que seguia Cristo por todo o lado.
É verdade que a Páscoa tem vindo a perder a sua importância, enquanto festa da alegria, do convívio, nas nossas aldeias, já que nas grandes cidades e vilas é muito mais difícil, ou mesmo impossível, visitar dezenas de milhares de habitações, circunscrevendo-se este evento às cerimónias religiosas nas respetivas Igrejas.
Em todo o caso, esta data religiosa e festiva, proporciona, seguramente, a oportunidade para se refletir acerca da nossa práxis neste mundo em que vivemos, nomeadamente, quando assumimos comportamentos atentatórios dos direitos e da dignidade dos nossos semelhantes.
Segundo as narrativas sagradas, Cristo limitava-se a praticar o Bem, a ajudar quem d’Ele precisava, a compreender, a tolerar e a ter compaixão pelos que sofriam, curando, milagrosamente, os mais carenciados de tratamento, sem lhes pedir nada em troca. Praticar o Bem, inclusive, àqueles que, provavelmente, em muitas mentalidades atuais, não mereciam.
Hoje em dia, muitas pessoas vivenciam a Páscoa como um dia normal do calendário, como um domingo qualquer, sem parar uns segundo para refletir no significado deste acontecimento bíblico-cristão. Não podemos, nem devemos criticar, negativamente, estes comportamentos, pelo contrário, manifestar respeito, consideração e um relacionamento amistoso, cordial e sincero, é o mínimo que teremos de fazer, afinal, quem é que está certo nesta vida?
Por outro lado, idêntica atitude se exige dos não-crentes, em relação aos cristãos-católicos que professam esta religião, na medida em que se considera imprescindível, haver reciprocidade entre os responsáveis de comportamentos praticamente opostos, além de que, qualquer situação conflituosa não conduziria à tranquilidade que a sociedade tanto precisa e merece.
Acresce, ainda, que entre as inúmeras religiões, com maior ou menor expressão e número de aderentes, certamente que a Páscoa será celebrada de maneiras diferentes, ou até passará despercebida. Incentivar pessoas, grupos e organizações para aderirem a uma religião ou até trocarem de convicções profundas de Fé e confissões, adquiridas à nascença, não será uma prática proibida, quando depois de um esclarecimento cabal, as pessoas decidem em consciência e com lucidez.
 Páscoa Portuguesa, por exemplo, pode ser um bom argumento para crentes e não-crentes, refletirem, em conjunto, sobre o que realmente importa na vida para a estabilidade do mundo, assim como o diálogo inter-religiões se configura cada vez mais premente, porque é impossível continuar a viver-se neste drama de conflitualidade bélica, que tem levado à fuga de centenas de milhares de pessoas dos seus países, à morte de outras centenas de milhares, não escapando crianças, mulheres, homens e idosos.
Pensemos a Páscoa como uma nova oportunidade para: nos redimirmos dos erros que temos praticado; das discriminações negativas que vamos fazendo; das prepotências, humilhações e descartes ignóbeis contra pessoas que, eventualmente, vamos praticando; assumamos, este evento, como mais uma possibilidade de ajudarmos quem mais necessita de nós: espiritual, ética, moral e materialmente.
Recusemos proclamar a Páscoa: como se fosse um tempo exclusivo dos cristãos, mas antes como um dia privilegiado para a concórdia, para o respeito pela dignidade humana; glorifiquemos a Páscoa como um dia único em cada ano para reconstruirmos a vida, laços familiares, relações de amizade interrompidas ou desfeitas; prestar solidariedade, lealdade e gratidão a quem sempre tem estado do nosso lado, sem quaisquer tipos de reservas mentais, materiais, éticas, morais ou outras.
A Páscoa, para a sociedade, no seu todo, deve ser: um tempo especial, de reconciliação, compreensão pelas dificuldades dos nossos irmãos humanos; de apoio incondicional aos mais desfavorecidos, frágeis e desprotegidos, porque, independentemente das religiões que cada pessoa, grupo, povo ou nação professam, está a dignidade da pessoa humana, que não pode ser ofendida em circunstância alguma.
Celebremos a Páscoa: de todos, com todos e para todos; em união fraterna e solidária; com espirito aberto, de acolhimento ao outro; com benevolência; com caridade e amor. É assim que deveremos festejar a Páscoa, não como se fosse a última Ceia de Cristo com os seus Apóstolos, mas a primeira “refeição” entre todos nós humanos.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689

Imprensa Escrita Local:

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 9 de abril de 2017

Cultura da Cooperação

Interiorizar uma genuína cultura de cooperação lusófona, sem prejuízo dos diversos acordos internacionais, já existentes ou a celebrar, sem deslealdade para com as parecerias que se estabeleceram entre países, e aproveitando, justamente, todas as experiências e sinergias já adquiridas, poderá melhorar, enriquecer e consolidar os níveis de vida dos povos envolvidos, reduzindo tensões, eliminando barreiras físicas e artificialmente construídas, possibilitando, afinal, a irmanação no desenvolvimento das causas nobres, como a paz, a justiça, a saúde, a educação, o bem-comum, obviamente, no respeito por legítimos, legais e justos interesses, das instituições e das pessoas.
Desenvolver uma filosofia educativa, com objetivos culturais, de dinamização de programas conjuntos, nos domínios que facilitem a compreensão dos valores nacionais, intercâmbio de novos conhecimentos, apoio à investigação científica nas áreas de interesse dos povos lusófonos, numa primeira etapa; para uma maior expansão, extra-lusófona, numa etapa posterior; reciprocidade de tratamento para com todos os indivíduos e instituições envolvidos, são algumas exigências que devem ser, já à partida, satisfeitas.
Uma cultura para a cooperação entre pessoas, povos e nações poderá significar o fim dos movimentos migratórios clandestinos, que de forma crescente ocorrem um pouco por todo o mundo, especialmente direcionados para a América do Norte e União Europeia, a maior parte das vezes com fins trágicos para os migrantes e seus familiares, principalmente as crianças, mas também com problemas humanitários, para os países de suposto acolhimento, que se confrontam com situações verdadeiramente desumanas.
A reciprocidade entre todos os países livres, democráticos, humanistas e tolerantes, deve ser a regra de ouro para o acolhimento dos milhares de migrantes, em permanente circulação por esse mundo, à procura de melhor vida, para eles próprios e para as famílias, com base apenas num trabalho digno.
A cultura da responsabilidade é um processo de ensino-aprendizagem e de boas-práticas que exige tempo, disciplina e vontade, que pressupõe uma elevada autoestima do indivíduo responsável, uma noção muito clara dos valores que devem integrar uma cultura da responsabilidade, uma disponibilidade ampla para assumir atividades que aperfeiçoem e valorizem, desde logo, um espírito de doação, sem traição às raízes originais, embora cooperando com outras culturas, outros valores, outras pessoas.
A cooperação, sem barreiras artificiais entre os nove, será um projeto estimulante, desafiador das capacidades das instituições e dos indivíduos e, mais do que isso, motivador para uma solução de irmanização destes povos, os quais têm tudo para, rapidamente, chegarem ao sucesso material e espiritual: recursos naturais, inteligência avançada, instrumentos de comunicação e de cultura idênticos, cumplicidade por um passado comum, ainda que em papéis diferentes (colonizador-colonizado), embora nem sempre assim tão nítidos.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689

Imprensa Escrita Local:

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 2 de abril de 2017

Cooperação Lusófona: Um Projecto Motivador

Este primeiro quarto do século XXI, terminados que foram, no último quarto do século XX, os conflitos, na grande parte dos países lusófonos (à época excetuava-se, ainda, Timor), deverá revelar-se e ser aproveitado, como um período de tempo exemplar e motivador, para a cooperação entre os povos que se comunicam na língua de Camões, através não só dos respetivos Governos, mas também das instituições de qualquer natureza e, no limite, entre os próprios cidadãos, ainda que individualmente considerados.
São várias as portas que se vão abrindo à globalização, que é inevitável e, se devidamente controlada, com justiça social e respeito pelas diferenças, poderá, inclusivamente, constituir-se em imensas oportunidades de trabalho, intercâmbio de culturas e melhoria nas relações humanas entre as diversas etnias, povos e grupos organizados, não violentos.
Governantes e governados que, decidida e sabiamente, enveredam por novos processos de relacionamento, com suporte legal em ações e movimentos de cooperação, revelam, assim, uma atitude profundamente generosa, humanista e responsável, porque se torna, cada vez mais, insuportável viver-se isoladamente, fechados em preconceitos, copiando estereótipos ultrapassados e protegendo-se em dogmas e paradigmas incompatíveis com um novo humanismo da afetividade e do livre arbítrio. É na cooperação cultural, linguística, história, técnica, científica e económica, entre outras áreas, que será possível uma vida verdadeiramente digna da pessoa humana.
 As nações só têm a ganhar com os fluxos migratórios, naturalmente controlados, formados para enfrentar novos valores, novos hábitos e novas culturas e preparados para transmitirem, aos seus semelhantes de acolhimento, idênticos conhecimentos, valores e tradições de origem.
Os povos lusófonos levam uma grande vantagem em relação a outros povos, na medida em que já dominam e comungam dos instrumentos essenciais: língua oficial comum; história parcialmente comum; valores éticos, estéticos e religiosos idênticos, e instrumentos legais ao nível dos Tratados e Regulamentos que, de certa forma, facilitam, embora não instituam, definitivamente, a livre circulação dos respetivos cidadãos entre os países constituintes da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Todo e qualquer projeto de cooperação entre os “Nove da CPLP” (a República de Angola, a República Federativa do Brasil, a República de Cabo Verde, a República da Guiné-Bissau, a República da Guiné Equatorial, a República de Moçambique, a República Portuguesa, a República Democrática de São Tomé e Príncipe e a República Democrática de Timor-Leste), constituirá motivo bastante para o estabelecimento definitivo das condições que ainda faltam para a livre circulação, fixação e cidadania comunitária lusófona. Os Governos em geral, e as instituições em particular, devem cooperar entre si, num contexto de intercâmbios leais, progressivos e consolidados
A cooperação, sem barreiras artificiais entre os nove, será um projeto estimulante, desafiador das capacidades das instituições e dos indivíduos e, mais do que isso, motivador para uma solução de irmanização destes povos, os quais têm tudo para, rapidamente, chegarem ao sucesso material e espiritual: recursos naturais, inteligência avançada, instrumentos de comunicação e de cultura idênticos, cumplicidade por um passado comum, ainda que em papéis diferentes (colonizador-colonizado), embora nem sempre assim tão nítidos.
São, portanto, condições únicas para se desbloquearem as barreiras que algumas pessoas teimam em manter edificadas, porque o povo anónimo, humilde e trabalhador deseja essa irmanização humanista, afetiva e duradoura. As instituições devem, portanto, avançar neste projeto, com solidariedade, com objetivos definidos e sempre com o desiderato último de servir bem as populações onde se inserem.
Os titulares dos cargos políticos de decisão têm de compreender que é necessário apoiar, incondicionalmente, as organizações que desejam desenvolver esta cooperação lusófona, que urge defender a língua portuguesa, dinamizá-la e com ela divulgar as culturas ancestrais dos povos que constituem a CPLP – Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689

Imprensa Escrita Local:

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)