Os verdadeiros e sinceros princípios, valores,
sentimentos e amigos são inegociáveis porque, de contrário, faltar-se-á ao que
de mais autêntico deverá prevalecer nas pessoas que, reciprocamente, se desejam
bem.
Efetivamente, a comunhão daquelas dimensões, nas
pessoas genuinamente humanas, constitui a superior e sublime diferença entre o
ser humano e as restantes criaturas que habitam este planeta. A amizade pura,
sem restrições, é o sentimento que consolida todas relações entre pessoas que
se gostam, dir-se-á, que se amam, aqui na grandeza e generosidade de um genuíno
“Amor-de-Amigo”.
Ao longo da vida, nas diferentes situações, papéis
e intervenções que surgem a cada ser humano, os sentimentos perduram, com maior
ou menor intensidade, de acordo com os níveis de lealdade, reciprocidade e
confiabilidade da pessoa por quem eles se manifestam.
A amizade não pode ficar prisioneira de
conjunturas circunstanciais e, muito menos, de oportunismos e conveniências
pessoais, sociais, profissionais e estatutárias. A amizade é um bem supremo,
pelo qual se deve pautar toda a relação que se deseja sincera, permanente e
fidedigna. A amizade, quando se pauta pela reciprocidade, deverá ser eterna.
Ela só é conciliável com a lealdade, com a solidariedade, com a cumplicidade,
com a reciprocidade e com a firmeza de atitudes.
É praticamente impossível conceber a amizade sem
algum sofrimento. A pessoa que verdadeiramente alimenta um autêntico
“Amor-de-Amigo”, ao longo de uma relação, enfrentará situações complexas, por
desinformação, por dificuldades de explicação, por incorreta interpretação de
uma ou das duas pessoas envolvidas e porque estas se querem bem, preocupam-se,
reciprocamente, com o bem-estar de cada uma, e tudo o que contrarie aqueles
objetivos, causa dor.
Tais desentendimentos, temporários, possibilitam,
depois, um reforço da amizade, justamente, pelo esclarecimento e pela
reconciliação. É nesta dialética relacional que os amigos atingem, com
frequência, a felicidade de se ser um verdadeiro e incondicional amigo.
O amigo será sempre um conselheiro, um confidente,
um cúmplice, no qual se pode acreditar, desabafar, pedir ajuda, dar apoio. O
amigo não vira as costas, em nenhuma circunstância, à pessoa de quem
verdadeiramente gosta, que por ela luta incansavelmente, procurando, a todo o
custo, tê-la sempre do seu lado. Os amigos são para se ouvirem, para se solidarizarem,
para partilharem tudo, sem restrições, nos bons e nos maus momentos. Amigos
incondicionais, para a vida e para a morte.
Há
um princípio na vida das relações pessoais e da amizade que reza o seguinte: “Quem convive, confraterniza e se relaciona
bem, para lá do estritamente profissional, com pessoas que ofendem, a nós e/ou aos nossos amigos, então
quem continua a conviver com tais pessoas, não pode ser nossa verdadeira e
sincera amiga”. Há como que uma incompatibilidade sentimental, afinal e se
se quiser, uma inconfortável “flexibilidade” que, quantas vezes, magoa o
verdadeiro amigo.
Pode-se
transformar aquele princípio na seguinte fórmula: “Se “A” é amigo de “B”; “B” é
amigo de “C”; mas “C” é detractor de “A”; então “B” não pode ser amigo
verdadeiro de “A” e vice-versa. Se assim não for e todos se fazem amigos de
todos, então talvez esteja aberto o caminho da hipocrisia, da falsidade, da
desconfiança.
Dito
de forma mais direta: “O amigo do meu
adversário/inimigo, e/ou que com este convive,
não será, certamente, meu amigo”. Se assim não for, então, as
pessoas envolvidas numa relação desta natureza, fingem que são amigas, elas
cuidam das suas aparências, pretendem fazer passar a ideia de que são “boazinhas”, quais “lobos vestidas de cordeirinhos”. Infelizmente, a sociedade, está
repleta de “cordeirinhos”.
Outras há que colocando, acima de tudo e de todos, os seus próprios
interesses, egoísmos e ganâncias, do tipo: “primeiro
eu, depois eu e sempre eu”, dando, depois, para os outros, com falsa
generosidade, o que já não podem e/ou não querem “comer”, também não parece que possam ser amigas sinceras, do
coração.
Estas pessoas, enquanto a vida corre para o seu lado, tudo fazem para
ganhar as simpatias, convivendo com “Deus e com o Diabo”, porém, quando as suas
ambições e ganâncias se frustram, são as primeiras a “abandonar o barco”,
leia-se, os presumíveis “amigos”, disso não parece existir as menores dúvidas. De resto, até se vão
aproveitando de quem está de boa-fé, com
bons sentimentos e sinceridade.
Desmacaradas tais “falsas amizades”, então vão ficar aquelas/es pessoas que
realmente nos “amam”, como amigas leais, cúmplices e em quem se pode continuar
a confiar, até ao resto da vida.
Por vezes, menosprezam-se amizades que provêm de pessoas simples, humildes,
generosas, que não sabem mentir, nem disfarçar, que dizem, com coragem, mas
lealmente, o que lhes vai na alma. Os sentimentos destas pessoas nem sempre são
apreciados e respeitados.
Pessoas leais, quantas vezes não conseguem transmitir os verdadeiros e
puros sentimentos, e quando pensam que
esse valor, o da lealdade, é apreciado,
confrontam-se, incompreensivelmente, com atitudes de menosprezo, de rejeição, precisamente,
por parte de quem esperavam amizade sincera, carinho e ternura.
Vive-se, em muitas circunstâncias, em meios sociais e profissionais de
cinismo, de falsidades, enfim, de “sorrisos
e falinhas mansas”. Infelizmente não se acredtia nesta realidade, enquanto
é tempo. Algumas pessoas, como que se deixam “seduzir” por estes estilos de relacionamento, em que
os “punhos de renda” enebriam, produzem como que uma “tranquilidade
paradisíaca” e, assim, sem aparentes problemas, preferem esta relação balofa e
hipócrita. Uma “Paz Podre”.
O receio de assumir, inequivoca e publicamente, valores como a lealdade, a
solidariedade, a cumplicidade, a confiabilidade, a reciprocidade, entre outros,
que conduzem a uma amizade firme e duradoura,
é evidente em muitas pessoas, porque temem perder algum tipo de
benefício, situações, interesses e pessoas de que julgam necessitar. Afinal,
ficam cada vez mais prisioneiras dos falsos amigos.
Compreende-se esta posição, mas duvida-se que ela possa vir a ser a solução
para a elevação da auto-estima, para a afirmação da própria dignidade, para a
caracterização de uma personalidade bem definida, pela positiva. O verdadeiro
amigo nunca poderá ficar passivo perante tais comportamentos e, certamente,
pedirá, generosamente, ao seu amigo, para abanodnar este rumo de insegurança.
Com efeito, por vezes, pensamos que precisamos de certos favores, de
determinadas pessoas, colocamos de lado as
nossas próprias capacidades, eventualmente, um saudável orgulho que
podemos e devemos defender.
Recorremos a tais pessoas, mesmo que elas, num passado recente, nos tenham
ofendido, a nós ou a amigos nossos, ou então, que continuem a pactuar e a
conviver com quem nos faz mal. Estamos a
humilharmo-nos.
Outras vezes, exaltamo-nos com os verdadeiros amigos, só porque estes têm a
lealdade e a coragem de nos alertar para certos perigos e, como que castigando
aqueles amigos, redobramo-nos em amabilidades e subserviências para com aquelas
pessoas que, disfarçadas de “amigas”
cuidam primeiro dos seus interesses, ainda que à nossa custa, ou ignorando-nos.
Não se pode hipotecar a dignidade, a competência e a superior qualidade da nossa inteligência, em
troca de uns favores casuísticos, de umas “esmolas”
intelectuais/profissionais. A quem nos ofende e aos que pactuam, convivem e confraternizam
com tais pessoas, nada devemos pedir, nenhum favor, nenhuma ajuda, porque a
nossa firmeza, os nossos sentimentos, o nosso carácter são bem mais importantes
e abonatórios das nossas personalidades.
Por tudo o que aqui fica reflectido, e que cada pessoa, seguramente, já tem
experienciado ao longo da vida, o corolário mais lógico vai no sentido de que:
construir, alimentar e consolidar uma amizade, para a vida e, até, para além
desta, não depende, apenas, da racionalidade de cada pessoa, nem está acessível
a mentes influenciáveis e/ou impressionáveis. Exige verdade, amor e firmeza.
Uma amizade leal, suportada num sincero “Amor-de-Amigo”, entre duas pessoas, independentemente do sexo,
raça, confissão e estatuto, tem todas as condições para frutificar e perdurar,
para todo o sempre.
Dois amigos assim, jamais se deixarão envolver em falsas aparências, em
relações pretensamente amigáveis, em compromissos alegadamente honestos, com
quaisquer pessoas que utilizam
estratégias inconfessáveis. A Amizade verdadeira é transparente e
objectiva.
São
os gestos simples, as gentilezas, a boa
educação e correcção em todos os papéis da vida, as preocupações pelo bem estar
do amigo, a solidariedade sempre reiterada, a lealdade, a cumplicidade, a
confiabilidade e a reciprocidade que sutentam, para sempre, uma amizade pura e
superior, porque, em boa verdade: “Das
pequenas coisas e gestos simples, se fazem as grandes amizades da vida”.
Para
se conquistar um amigo pode-se demorar dias, meses ou anos. Para se perder um amigo,
são suficientes alguns segundos. Por isso, quando se têm provas irrefutáveis,
segundo as quais, uma determinada pessoa é nossa verdadeira amiga e se queremos
a sua amizade, o caminho a seguir é só um: retribuirmos, incondicionalmente,
tal amizade, estarmos, inequivocamente ao lado desse amigo, rejeitarmos,
liminarmente, os “cordeirinhos” e todas as atitudes de quem pretende fazer-se
passar por nosso amigo.
Adaptando
o adágio popular, segundo qual. “vale
mais um pássaro na mão do que dois a voar”, também se poderá dizer que vale
mais um amigo fiel e solidário, em todas as circunstâncias e durante toda a
vida, do que muitos pseudo-amigos em situações pontuais e, quantas vezes, para
exclusivo interesse deles próprios. É importante referir que este trabalho tem
por objectivo levar os leitores a reflectir sobre este inestimável sentimento
que é a Amizade e, neste sentido, apelar para a felicidade que um amigo
verdadeiro pode proporcionar.
Hoje,
ter um amigo confiável, leal, solidário, disponível para nos ouvir, aconselhar
e apoiar, que por nós é capaz de tudo fazer, só para nos ver bem na vida, e
realizados e felizes, pode-se considerar uma verdadeira dádiva, uma autêntica
ventura.
A
amizade incondicional de um amigo assim, é uma das maiores riquezas a que uma pessoa pode
aspirar na vida. Com efeito, a relação pessoal mais pura e nobre entre dois
amigos, só é possivel quando estes se entregam sem reservas, confiando,
totalmente, na força, honestidade e respeito de um sincero “Amor-de-Amigo”.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo