domingo, 31 de agosto de 2014

Cidadão Decisor


Partindo, com muita humildade, da condição, ainda assim privilegiada, de cada um, como um ser limitado, precário, condicionado e insuficiente, o homem tem conseguido, ao longo da sua história, desde o processo de hominização à pessoa humana, que nesta fase pretende ser, avanços extraordinários, inigualáveis para quaisquer outros seres do mundo, que homem e natureza têm disputado, com prejuízo para esta, devido às invenções e intervenções, por vezes irresponsáveis, daquele.
E se as agressões humanas à natureza são graves, algumas irreversíveis, mais complexas e de efeitos devastadores, são os conflitos interpessoais e intergrupos, muitos deles com consequências irreparáveis: morte física de vidas humanas; mutilações insuscetíveis de quaisquer intervenções repositoras e reparadoras; destruição de bens essenciais à vida, pela deterioração do ambiente e dos ecossistemas; desmantelamento de infraestruturas necessárias ao desenvolvimento, ao progresso e bem-estar dos povos.
O homem com todo o seu poderio intelectual, criativo e técnico, consegue ser mais destruidor do que os grandes predadores selvagens. Como, quando e com quê, se conseguirá terminar com este flagelo, em que biliões de pessoas humanas, inocentes, inofensivas e indefesas estão confrontadas, permanentemente, em plena era das grandes realizações, nas alegadas “Novas Ordens Internacionais…”, na tão apadrinhada globalização?
Descobrir, aplicar e validar a fórmula “mágica” para pacificar a sociedade humana são tarefas que, decididamente, não se vislumbram com facilidade, e até se pode questionar se alguma vez isso será possível, pelo menos sem a vontade e determinação de todos os indivíduos. Em todo o caso está sempre nas mãos do ser humano reverter situações negativas para uma nova esperança de vida.
Parece haver todo um longo e relativamente difícil caminho a percorrer, cujo início terá de se estabelecer na base de uma formação inicial, bem cedo na vida, continuando com uma atualização persistente ao longo da existência humana, nos domínios da Cidadania, nesta se incluindo todos os valores que caraterizam a sociedade verdadeira e superiormente humana.
Lançar as bases para uma “Nova Ordem Internacional Cívica”, elegendo a Cidadania como um imperativo universal, no que ela contém de deveres, direitos, valores e princípios, ou, e se se preferir, uma Ética comprometida com a sociedade, uma ética exercida com competência por todos os cidadãos, independentemente do seu estatuto.
Num mundo complexo, habitado por seres igualmente complexos, com interesses, estratégias, metodologias, culturas e valores diferentes, de indivíduo para indivíduo, de grupo para grupo e de povo para povo, o normal será a existência de conflitualidade, de problemas, de situações difíceis e até mesmo aberrantes que, por si sós, poderão não constituir nenhuma tragédia, se quem tiver a responsabilidade e vontade para as resolver, revelar capacidades diversas e dispuser dos recursos para solucionar as diferentes anomalias que surgem na sociedade.
Na verdade: «Grande parte da resolução de problemas implica compreender um determinado conjunto de circunstâncias num determinado contexto. Frequentemente a capacidade para encarar o problema e resolvê-lo satisfatoriamente requer um desvio no processo mental, que permita ver o problema de um ângulo diferente.» (WILSON, 1993:59). 
E se as agressões humanas à natureza são graves, algumas irreversíveis, mais complexas e de efeitos devastadores, são os conflitos interpessoais e intergrupos, muitos deles com consequências irreparáveis: morte física de vidas humanas; mutilações insuscetíveis de quaisquer intervenções repositoras e reparadoras; destruição de bens essenciais à vida, pela deterioração do ambiente e dos ecossistemas; desmantelamento de infraestruturas necessárias ao desenvolvimento, ao progresso e bem-estar dos povos.
 Sendo certo que: «O Estado existe para servir os cidadãos» (…) mas também é verdade que: «importa, igualmente, que os cidadãos disponham de um cabal conhecimento dos seus direitos…» (PRESIDÊNCIA CONSELHO MINISTROS, 1989:5).

Bibliografia

WILSON, G. & LODGE, D. (1993). Resolução de Problemas e Tomada de Decisão: Inovação, Trabalho de Equipa, Técnicas Eficazes. Trad. Isabel Campos. Lisboa: Clássica
PRESIDÊNCIA CONSELHO MINISTROS, (1989). Guia do Cidadão. Lisboa: Direcção Geral da Comunicação Social.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 24 de agosto de 2014

O Homem: um ser limitado


Refletir, elaborar e aplicar um “Código de Moralidade” está ausente dos objetivos do presente trabalho e das preocupações do seu autor, porque incongruente com a natureza humana em geral; e inexequível para o autor, em particular. Reconhecer a incapacidade para assumir uma prática sistemática, traduzida num comportamento moralista, assente na honestidade absoluta, nas tradições dos alegados bons-costumes, na moral e pudor públicos, entre outras posturas, é por si só um ato corajoso, embora incompreensível e criticável pelos puristas, moralistas e perfecionistas, porque atingir absolutos, provavelmente, ainda não é uma faculdade humana, fisicamente considerada, estando reservado a entes espiritualmente divinizados e, obviamente, ao próprio Deus.
A incapacidade para o homem, (obviamente, aqui e sempre referido à humanidade, portanto, homem e à mulher), alcançar os absolutos não significa, de modo algum, uma situação de total relativismo, porque dentro das limitações humanas, existem situações, princípios, valores, sentimentos, emoções, deveres e direitos que não devem ser relativizados, de contrário, duvidar-se-ia das realizações que a ciência, o conhecimento, a técnica e os resultados concretos têm revelado ao homem; este duvidaria, no limite, da sua própria existência. 
O que se pretende alertar é para a precariedade da espécie humana, com o dramatismo que lhe é dado viver, justamente por conhecer as suas próprias insuficiências e limitações concretas. Afigura-se, portanto, difícil, afirmar que uma determinada pessoa é, absolutamente, ética, moral, honesta, perfeita ou qualquer outro atributo sublime. Decididamente, o autor desta reflexão não o é, bem pelo contrário, são mais os seus defeitos do que as virtudes.
Com efeito: «A natureza humana apresenta-se idêntica em todos os homens, que se podem considerar todos como membros da humanidade e como indivíduos formar parte de grupos sociais, relacionando-se uns com os outros e com o todo, como partes subordinadas portanto ao conjunto. Mas pela sua qualidade espiritual, apresentam, cada um, carácter de totalidade que é o estatuto de pessoa, pelo qual subordinam a si todas as outras realidades como meios ao fim e como possuído a possuidor.» (SILVA, 1966:59).
Que alguma pessoa se possa arrogar o direito de ser, enquanto pessoa humana, superior a outra, parece uma atitude incorreta, desfasada da realidade que é dado verificar, pelo estado do conhecimento atual a que foi possível chegar. Qualquer comportamento xenófobo, etnocêntrico, racista, narcisista, isto é, discriminatório, constitui um retrocesso e um perigo para a construção de uma sociedade humana, digna dos indivíduos que a compõem.
Naturalmente que cada indivíduo é uno, indivisível, constitui uma singular personalidade, é irrepetível e infalsificável. A riqueza da sociedade humana reside nesta multipluralidade de indivíduos que, utilizando o jargão popular, por ser simples e compreensível, se pode consubstanciar na fórmula: “todos iguais, todos diferentes”, o que significa, todos com idêntica dignidade, mas também todos com as suas características próprias e únicas.
Hoje nenhum ser humano consegue viver isolado porque ele próprio vem edificando uma sociedade que, seguramente, deseja cada vez mais harmoniosa, mais justa, mais segura, mais fraterna. Em bom rigor: «A reconstrução de laços sociais verdadeiramente inclusivos e democráticos exige-nos uma prática renovada de escuta, abertura e diálogo, e inclusivamente de convivência com outras tendências, sem por isso deixar de priorizar o amor, que deve ser sempre o distintivo das nossas comunidades.» (BERGOGLIO, 2013:115).

Bibliografia

BERGOGLIO, Jorge, Papa Francisco, (2013). O Verdadeiro Poder é Servir. Por uma Igreja mais humilde. Um novo compromisso de fé e de renovação social. Tradução de Maria João Vieira /Coord.), Ângelo Santana, Margarida Mata Pereira. Braga: Publito.
SILVA, A., S.J. (1966). Filosofia Social, Évora: Instituto de Estudos Superiores de Évora.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 17 de agosto de 2014

Gratidão: Geradora da Concordância


Conceptualizar a gratidão como um sentimento, uma virtude, um valor social, um traço da personalidade, uma característica da educação, ou uma atitude de reconhecimento, por um bem recebido, poderá ter interesse na perspectiva argumentativa, no plano teórico da construção de uma tese, no âmbito da demonstração de boas maneiras.
O essencial, porém, poderá ser abordado no plano prático, pela revelação de comportamentos coerentes e permanentes, de reverência e humildade, perante quem e/ou a quem se presta ou deve gratidão, independentemente do tempo, do espaço e das circunstâncias em que se recebeu o benefício, posterior e definitivamente, objeto de gratidão.
Tão importante quanto o conceito teórico será, porventura, a conduta prática de quem é grato ou ingrato. Atualmente, valores desta natureza ou, se se preferir, princípios que se adotam para manifestar certo tipo de posições, face ao outro, ao grupo ou à instituição, de quem se recebe uma atenção, um apoio, um bem, escasseiam cada vez mais na sociedade de consumo, do TER, do conseguir algo, do atingir fins sem se olhar aos meios.
O exercício de um qualquer poder, enquanto permite a quem o detém, auxiliar aqueles que precisam resolver diversas situações, serve, exemplarmente, para se desenvolver o tema da gratidão e/ou, pela negativa, ingratidão. Na verdade, enquanto as pessoas beneficiam de alguém que tem poder, seja de decisão, de influência ou outro, aparentemente (por vezes, fingidamente) demonstram algum tipo de gratidão, pelo menos enquanto têm problemas que podem ser resolvidos por quem detém esse mesmo poder, ou consegue influenciar numa decisão favorável.
Resolvida a situação, ou não havendo mais condições para o exercício do poder, passa-se a um afastamento gradual, à indiferença, ao esquecimento, daquele que numa determinada época tinha poder, ajudava, influenciava, resolvia, sempre com solidariedade, amizade, lealdade e cumplicidade.
Vive-se o oportunismo de cada momento, extrai-se o máximo de benefício e depois segue-se o longo período de ostracismo, porém, em muitos casos, até se invertem os papéis e surge, agora, a situação mais censurável: o que foi ajudado e agora pode ajudar quem o ajudou, pura e simplesmente, ignora e não retribui os benefícios que antes recebeu de quem agora precisa de apoio, solidariedade, amizade, lealdade e compreensão, uma “mãozinha”, como diria a sabedoria popular, a voz do povo.
Graves são as atitudes daquelas pessoas que, depois de eleitas, não só ignoram os que as apoiaram, como as perseguem, bem como às famílias, com “técnicas sub-reptícias” e/ou na desculpa da lei, da transparência, do rigor e da isenção. As pessoas são importantes e valiosas enquanto servem os interesses daqueles que delas precisam, numa determinada época, num contexto muito concreto, com objetivos muito específicos, previa e inconfessadamente determinados.
Refletir sobre esta realidade é o objeto do presente trabalho que, partindo de alguns conceitos, várias situações, facilmente identificáveis na sociedade, se demonstrará que, sendo a gratidão um valor, um sentimento, uma atitude, ela, a gratidão, deve fazer parte da educação/formação da pessoa humana, porque, qualquer que seja o conceito, é fundamental que na prática, em todas as circunstâncias, as pessoas não tenham preconceitos em manifestá-la, em público ou em privado, demonstrá-la sincera e entusiasticamente.
Adotar uma conduta de agradecimento acaba por ser gratificante para quem a recebe e para quem a manifesta, trata-se de uma atitude nobre, de humildade e elevada dignidade, que só engrandece quem a pratica verdadeira e genuinamente, afinal, com total liberdade, amizade e lealdade.
As causas que, eventualmente, possam estar na origem de atitudes e comportamentos mal-agradecidos, acredita-se que sejam de natureza diversa e que, quaisquer que sejam os motivos, não justificam os procedimentos característicos da ingratidão: insensibilidade para reconhecer valores, sentimentos e atitudes recebidas, como, por exemplo: amabilidade, consideração, estima, amizade, solidariedade, lealdade?
Gratidão, gentileza, humildade serão conhecimentos, práticas, princípios, valores, deveres ou quaisquer outras designações que, na mentalidade de quem não os pratica, possivelmente, não se enquadram num saber-fazer que proporciona lucros, dividendos materiais: em numerário, ou de natureza ainda mais substantiva. Como se chega a esta insensibilidade é uma questão que se compreende com alguma clareza, pelas razões já apontadas, entre outras, eventualmente, ainda mais graves.
O humanismo que existe em muitas pessoas pode ser a base de partida para a criação de grandes movimentos e instituições de solidariedade que, simultaneamente, espalham o bem e transmitem a ideia de gratidão para com aqueles que participam nestas instituições, isto é, benfeitores que se solidarizam para com uma situação, uma causa, uma iniciativa humanitária e altruísta, se se sentirem alvo de gratidão dessa instituição, os beneficiários que posteriormente vierem a ser contemplados, pela mesma instituição, sentir-se-ão na obrigação de manifestarem gratidão e reconhecimento públicos. Talvez se gere uma cadeia de solidariedades e gratidões que, dentro de algum tempo, todos possam manifestar esse sentimento tão nobre, quanto humilde.
A virtude da gratidão deve ser uma prerrogativa marcante, da família bem estruturada, na personalidade de cada um dos seus membros. Aliás, como deverá acontecer em relação a todo o processo de socialização, em todas as suas vertentes e fases que conduzem à boa e plena integração do indivíduo humano numa sociedade de princípios, de valores, sentimentos e emoções.
Gestos tão simples como o marido agradecer à esposa uma pequena atenção, um sorriso terno, confiante e amoroso, um olhar embevecido para o seu companheiro e vice-versa, constituem motivos suficientes para o outro cônjuge revelar gratidão, desde logo, retribuindo com idêntica espontaneidade, sinceridade e amor. Igualmente, com as devidas adaptações, o mesmo vale entre amigos que, verdadeiramente, se querem muito bem, que nutrem, reciprocamente, aquele sincero “Amor-de-Amigo”
Utiliza-se, frequentemente, a expressão “gratidão eterna”, pretendendo-se significar um agradecimento para toda a vida, porém, não basta utilizá-la uma vez e não a praticar posteriormente, porque se assim acontecer, entra-se no âmbito da “gratidão de oportunidade”, eventualmente, menos sincera.
Será mais correto, verdadeiro e gratificante, manifestar esse agradecimento ao longo da vida, sempre que as circunstâncias o aconselhem, como por exemplo para elogiar e/ou defender a pessoa que é objeto da gratidão de outra, naturalmente, com total honestidade de consciência e prazer em revelar, publicamente, essa gratidão.
Quem presta gratidão a outrem é porque recebeu algum bem dessa outra pessoa, sob qualquer forma: uma palavra amiga, um gesto de solidariedade, um favor, uma influência para resolver uma situação, enfim, um benefício material ou imaterial; uma atenção que veio ajudar numa qualquer situação, sem a qual, a resolução desta, não seria tão favorável ou nem se teria alcançado.
A pessoa grata sente-se de bem consigo própria e com aquela a quem agradece, o que causa em ambas uma sensação de bem-estar, de tranquilidade e do dever cumprido. Por outro lado, a pessoa que pratica atos e ações, que disponibiliza apoios que conduzem à resolução de problemas de um seu semelhante, igualmente vai-se sentindo realizada e bem relacionada com aqueles a quem presta atenção.
A gratidão é, por isso mesmo, um sentimento que se funda na virtude do reconhecimento, da homenagem e da amizade, porque quem é objeto de gratidão é porque: primeiro, procedeu para com outrem de forma excecional, a que, eventualmente, nem estaria obrigado a tal, então, o beneficiário da atenção recebida, sente-se como que realizado na sua capacidade de agradecer, quando manifestar gratidão, ao ponto de o fazer com um misto de amizade, orgulho e admiração; depois, entre as pessoas envolvidas, estabelece-se, de ora em diante, como que um cordão umbilical duradoiro, de consideração, estima e carinho, pelo qual circulará uma amizade e benquerença que, obviamente, conduz a uma maior harmonia, tranquilidade e realização pessoal. A gratidão não humilha, nem minimiza quem a manifesta, pelo contrário, enobrece e dignifica a pessoa que sabe ser grata.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 10 de agosto de 2014

Gratidão: Um Caminho para a Harmonia


Quem presta gratidão a outrem é porque recebeu algum bem dessa outra pessoa, sob qualquer forma: uma palavra amiga, um gesto de solidariedade, um carinho, um favor, uma influência para resolver uma situação, um benefício material ou imaterial; uma atenção que veio ajudar numa qualquer situação, sem a qual, a resolução desta, não seria tão favorável ou nem se teria alcançado., enfim, uma sugestão, um conselho, uma opinião sincera e amiga.
A pessoa grata sente-se de bem consigo própria e com aquela a quem agradece, o que causa em ambas uma sensação de bem-estar, de tranquilidade e do dever cumprido. Por outro lado, a pessoa que pratica atos e ações, que disponibiliza apoios que conduzem à resolução de problemas de um seu semelhante, igualmente se vai sentindo realizada e bem relacionada com aqueles a quem presta atenção.
Normalmente, entre tais pessoas criam-se uns laços de empatia e sentimentos de amizade sincera e profunda, que se vão fortalecendo e consolidando, num relacionamento verdadeiro, desinteressado e sempre renovado, sem condições prévias nem objetivos inconfessáveis.
Partindo-se do princípio genérico de que a pessoa humana não tem capacidade para viver isoladamente, porque sempre necessita de outras pessoas, de bens que a natureza produz, sem os quais a vida seria impossível, então cada pessoa deverá sentir-se grata a outras pessoas, e à própria natureza, o que faz criar um circulo vicioso de interdependências e, correlativamente, de gratidões. Manter dinâmico e profundo um tal círculo, ou cadeia de amizades, pela via da gratidão, proporcionará, certamente, uma sociedade mais humana, mais tranquila e, naturalmente, feliz.
Hoje ninguém se pode arrogar o direito de afirmar, e demonstrar, que é totalmente autónomo, que não precisa de ninguém: o rico precisa do pobre; o especialista necessita do indiferenciado; o crente em algo que acredite; o homem carece da mulher e vice-versa; em todos os binómios, cada um só se justifica pelo outro. Vive-se um mundo de interdependências e já se tem assistido à queda dos mais poderosos, perante aqueles que antes e por vezes longamente, humilharam, maltrataram e prejudicaram.
A gratidão é, por isso mesmo, um sentimento que se funda na virtude do reconhecimento, da homenagem e da amizade, porque quem é alvo de gratidão é porque: primeiro, procedeu para com outrem de forma excecional, a que, eventualmente, nem estaria obrigado a tal, então, o beneficiário da atenção recebida, sente-se como que realizado na sua capacidade de agradecer, quando manifestar gratidão, ao ponto de o fazer com um misto de amizade, orgulho e admiração; depois, entre as pessoas envolvidas, estabelece-se, de ora em diante, como que um cordão umbilical duradoiro, de consideração, estima e carinho, pelo qual circulará uma amizade e benquerença que, obviamente, conduz a uma maior harmonia, tranquilidade e realização pessoal. A gratidão não humilha, nem minimiza quem a manifesta, pelo contrário, enobrece e dignifica a pessoa que sabe ser grata. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

sábado, 2 de agosto de 2014

Pedagogia Não-Cognitiva para as Virtudes


É óbvio que o saber-fazer é fundamental, imprescindível, à existência humana condigna, essencial à sobrevivência material de cada pessoa, de cada família, de cada instituição, de cada nação. É indiscutível que a Ciência e a Técnica contribuem para a melhoria da qualidade e nível de vida das pessoas. É inegável que sem a evolução do saber-fazer, o mundo não seria o que hoje é, o desenvolvimento não teria ocorrido, pelo menos com a qualidade e quantidade que atualmente se verifica.
Mas o saber-fazer, por si só, não justifica nenhum tipo de supremacia face a outras dimensões e atividades humanas, tais como o Saber-ser, o Saber-estar e o Saber-conviver e relacionar-se com os outros. Pequenos-grandes pormenores, para alguns, podem estabelecer a diferença entre uma sociedade composta por pessoas com formação integral e uma sociedade de tecnocratas, de homens-máquina, de pessoas inumanas. É, portanto, a dimensão axiológica, dos valores ético-morais, das atitudes gentis e cordiais que dão sentido à vida de cada um, independentemente do seu estatuto sócio-profissional, académico-cultural, político e outros.
Pretende-se que esta abordagem seja pacífica, porque é inofensiva nos seus objetivos e estratégias. Deseja-se que se aceite a gratidão sob a perspectiva de uma virtude que pode (e deve) ser cultivada, aperfeiçoada e aplicada ao longo da vida, mas também que é suscetível de ser dinamizada, em quaisquer instituições e em diversas circunstâncias em geral, porém, mais particular e estruturadamente, no seio da família, no grupo de verdadeiros amigos, com a implementação de adequadas e boas-práticas no contexto escolar, em domínios como o Desenvolvimento Pessoal e Social, Cidadania e Mundo Atual, Psicologia das Relações Humanas, Comunicação e Relacionamento Interpessoal.
 Igualmente, numa invocação mais genérica, em quaisquer outras disciplinas e domínios escolares, em todos os níveis de ensino e formação profissional. Mas estas não são as únicas estratégias e pedagogia cognitiva, para estimular e criar boas-práticas de gratidão.
Antes, durante e depois da escola está a Família que não utilizando métodos pedagógicos estritamente cognitivos, recorre, (ou deveria faze-lo) sistematicamente, à transmissão de conhecimentos e boas-práticas, pelo exemplo dos seus membros mais velhos e que os mais novos apreendem por imitação.
Pensa-se que esta pedagogia não cognitiva, nem intelectualizada, pode produzir resultados objetivos espantosos, porque a criança, o adolescente e o jovem transportam, desde que tenham participado nas boas-práticas da família, todos os valores, direitos, deveres e virtudes que nela vão observando nas pessoas dos seus pais, avós, outros familiares mais idosos e até nos verdadeiros e incondicionais amigos, quando revelam boa-formação, princípios, valores e sentimentos nobres.
A virtude da gratidão deve ser uma prerrogativa marcante da família bem estruturada, na personalidade de cada um dos seus membros. Aliás, como deverá acontecer em relação a todo o processo de socialização, em todas as suas vertentes e fases que conduzem à boa e plena integração do indivíduo humano na sociedade.
Gestos tão simples como o marido agradecer à esposa uma pequena atenção, um sorriso terno, confiante e amoroso, um olhar embevecido para o seu companheiro e vice-versa, constituem motivos suficientes para o outro cônjuge revelar gratidão, desde logo, retribuindo com idêntica espontaneidade, sinceridade e amor. Igualmente, com as devidas adaptações, o mesmo vale entre amigos que, verdadeiramente, se querem muito bem.
Atitudes tão bonitas e simples como dizer ao pai ou à mãe um “muito obrigado” por algo que se recebeu, um gesto mais íntimo e profundo, traduzido num beijo carinhoso, um comportamento que orgulhe o familiar objeto de atenção especial, são atitudes que manifestam gratidão, reconhecimento, estima e amor, seja dos filhos para com os pais e/ou destes para com aqueles.
São estas pequenas gentilezas, amabilidades sinceras, genuínas e inesquecíveis que vão criando no espírito da criança, do adolescente, do jovem e do adulto, sentimentos e virtudes que facilitam a harmonia familiar e, mais tarde, as relações sociais na vida pública.
Utiliza-se, frequentemente, a expressão “gratidão eterna”, pretendendo-se significar um agradecimento para toda a vida, porém, não basta utilizá-la uma vez e não a praticar posteriormente, porque se assim acontecer, entra-se no âmbito da “gratidão de oportunidade”.
Será mais correto, verdadeiro e gratificante, manifestar esse agradecimento ao longo da vida, sempre que as circunstâncias o aconselhem, como por exemplo para elogiar a pessoa que é objeto da gratidão de outra, naturalmente, com total honestidade de consciência e prazer em revelar, publicamente, essa gratidão, sem bajulações nem hipocrisias.
Não ofenderá os princípios do gesto gratificante quando o beneficiário de um favor, de uma atenção, de uma atitude de solidariedade, agradecer e manifestar, assim, a sua gratidão, justamente, na mesma medida e natureza do bem recebido, desde que não exista qualquer imposição ou acordo prévio, porque então, nestas circunstâncias, deixa de ser gratidão para passar a ser uma troca, um pagamento de benefícios, favores ou influências.
A nobreza de tão distinta virtude, princípios, valores e sentimentos, como de outras como tais consideradas: respeitabilidade, humildade, consideração, solidariedade, amizade, lealdade, consiste na sua espontaneidade, sinceridade, sem condições prévias para as expressar, como por exemplo: uma pessoa consegue um emprego para o filho de um seu amigo; este, por sua vez, pode manifestar-lhe gratidão, nos mesmos moldes ou, simplesmente, agradecer-lhe com um presente físico, uma prenda material que entender ser do gosto do amigo, partindo do princípio que não houve, previamente, nenhuma exigência, acordo, pacto ou qualquer outra condicionante, sem a satisfação da qual, não haveria a concretização dos benefícios recebidos e desta forma pagos.
Cada pessoa é livre de agradecer, utilizando os recursos e/ou as atitudes que considerar compatíveis e justas com o apoio recebido, sendo certo que qualquer atitude, ação e/ou comportamento menos corretos, justos e atenciosos, ficam, precisamente, com quem os produz.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)