É óbvio que o saber-fazer é fundamental,
imprescindível, à existência humana condigna, essencial à sobrevivência
material de cada pessoa, de cada família, de cada instituição, de cada nação. É
indiscutível que a Ciência e a Técnica contribuem para a melhoria da qualidade
e nível de vida das pessoas. É inegável que sem a evolução do saber-fazer, o
mundo não seria o que hoje é, o desenvolvimento não teria ocorrido, pelo menos
com a qualidade e quantidade que atualmente se verifica.
Mas o saber-fazer, por si só, não justifica nenhum
tipo de supremacia face a outras dimensões e atividades humanas, tais como o
Saber-ser, o Saber-estar e o Saber-conviver e relacionar-se com os outros.
Pequenos-grandes pormenores, para alguns, podem estabelecer a diferença entre
uma sociedade composta por pessoas com formação integral e uma sociedade de
tecnocratas, de homens-máquina, de pessoas inumanas. É, portanto, a dimensão
axiológica, dos valores ético-morais, das atitudes gentis e cordiais que dão
sentido à vida de cada um, independentemente do seu estatuto
sócio-profissional, académico-cultural, político e outros.
Pretende-se que esta abordagem seja pacífica,
porque é inofensiva nos seus objetivos e estratégias. Deseja-se que se aceite a
gratidão sob a perspectiva de uma virtude que pode (e deve) ser cultivada,
aperfeiçoada e aplicada ao longo da vida, mas também que é suscetível de ser
dinamizada, em quaisquer instituições e em diversas circunstâncias em geral,
porém, mais particular e estruturadamente, no seio da família, no grupo de
verdadeiros amigos, com a implementação de adequadas e boas-práticas no
contexto escolar, em domínios como o Desenvolvimento
Pessoal e Social, Cidadania e Mundo
Atual, Psicologia das Relações Humanas,
Comunicação e Relacionamento
Interpessoal.
Igualmente,
numa invocação mais genérica, em quaisquer outras disciplinas e domínios
escolares, em todos os níveis de ensino e formação profissional. Mas estas não
são as únicas estratégias e pedagogia cognitiva, para estimular e criar
boas-práticas de gratidão.
Antes, durante e depois da escola está a Família
que não utilizando métodos pedagógicos estritamente cognitivos, recorre, (ou
deveria faze-lo) sistematicamente, à transmissão de conhecimentos e boas-práticas,
pelo exemplo dos seus membros mais velhos e que os mais novos apreendem por
imitação.
Pensa-se que esta pedagogia não cognitiva, nem
intelectualizada, pode produzir resultados objetivos espantosos, porque a
criança, o adolescente e o jovem transportam, desde que tenham participado nas
boas-práticas da família, todos os valores, direitos, deveres e virtudes que
nela vão observando nas pessoas dos seus pais, avós, outros familiares mais
idosos e até nos verdadeiros e incondicionais amigos,
quando revelam boa-formação, princípios, valores e sentimentos nobres.
A virtude da gratidão deve ser uma prerrogativa
marcante da família bem estruturada, na personalidade de cada um dos seus
membros. Aliás, como deverá acontecer em relação a todo o processo de socialização,
em todas as suas vertentes e fases que conduzem à boa e plena integração do
indivíduo humano na sociedade.
Gestos tão simples como o marido agradecer à esposa
uma pequena atenção, um sorriso terno, confiante e amoroso, um olhar embevecido
para o seu companheiro e vice-versa, constituem motivos suficientes para o
outro cônjuge revelar gratidão, desde logo, retribuindo com idêntica
espontaneidade, sinceridade e amor. Igualmente, com as devidas adaptações, o
mesmo vale entre amigos que, verdadeiramente, se querem muito bem.
Atitudes tão bonitas e simples como dizer ao pai ou
à mãe um “muito obrigado” por algo
que se recebeu, um gesto mais íntimo e profundo, traduzido num beijo carinhoso,
um comportamento que orgulhe o familiar objeto de atenção especial, são
atitudes que manifestam gratidão, reconhecimento, estima e amor, seja dos
filhos para com os pais e/ou destes para com aqueles.
São estas pequenas gentilezas, amabilidades
sinceras, genuínas e inesquecíveis que vão criando no espírito da criança, do
adolescente, do jovem e do adulto, sentimentos e virtudes que facilitam a
harmonia familiar e, mais tarde, as relações sociais na vida pública.
Utiliza-se, frequentemente, a expressão “gratidão eterna”, pretendendo-se
significar um agradecimento para toda a vida, porém, não basta utilizá-la uma
vez e não a praticar posteriormente, porque se assim acontecer, entra-se no
âmbito da “gratidão de oportunidade”.
Será mais correto, verdadeiro e gratificante,
manifestar esse agradecimento ao longo da vida, sempre que as circunstâncias o
aconselhem, como por exemplo para elogiar a pessoa que é objeto da gratidão de
outra, naturalmente, com total honestidade de consciência e prazer em revelar,
publicamente, essa gratidão, sem bajulações nem hipocrisias.
Não ofenderá os princípios do gesto gratificante
quando o beneficiário de um favor, de uma atenção, de uma atitude de
solidariedade, agradecer e manifestar, assim, a sua gratidão, justamente, na
mesma medida e natureza do bem recebido, desde que não exista qualquer imposição
ou acordo prévio, porque então, nestas circunstâncias, deixa de ser gratidão
para passar a ser uma troca, um pagamento de benefícios, favores ou
influências.
A nobreza de tão distinta virtude, princípios,
valores e sentimentos, como de outras como tais consideradas: respeitabilidade,
humildade, consideração, solidariedade, amizade, lealdade, consiste na sua
espontaneidade, sinceridade, sem condições prévias para as expressar, como por
exemplo: uma pessoa consegue um emprego para o filho de um seu amigo; este, por
sua vez, pode manifestar-lhe gratidão, nos mesmos moldes ou, simplesmente,
agradecer-lhe com um presente físico, uma prenda material que entender ser do
gosto do amigo, partindo do princípio que não houve, previamente, nenhuma
exigência, acordo, pacto ou qualquer outra condicionante, sem a satisfação da
qual, não haveria a concretização dos benefícios recebidos e desta forma pagos.
Cada pessoa é livre de agradecer, utilizando os
recursos e/ou as atitudes que considerar compatíveis e justas com o apoio
recebido, sendo certo que qualquer atitude, ação e/ou comportamento menos
corretos, justos e atenciosos, ficam, precisamente, com quem os produz.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
E-mail: bartolo.profuniv@mail.pt
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)
1 comentário:
"São estas pequenas gentilezas, amabilidades sinceras, genuínas e inesquecíveis que vão criando no espírito da criança, do adolescente, do jovem e do adulto, sentimentos e virtudes que facilitam a harmonia familiar e, mais tarde, as relações sociais na vida pública".
Este pequeno trecho do autor é importantíssimo, bem como, altamente pedagógico, pois, como já visto com André Luiz "o lar é o mais vigoroso centro de indução que conhecemos na Terra" estando a representar, sem dúvida, que "a maioria esmagadora de inteligências" em desenvolvimento "retratam, psicologicamente, aqueles que lhes deram o veículo físico, transformando-se, por algum tempo, em instrumentos ou médiuns dos genitores", passando adiante tudo quanto aprenderam nesta sua primeira fase da vida.
De fato é muito importante a primeira educação recebida dos pais em nosso Mundo terreno.
Um grande abraço de:
Fernando Rosemberg Patrocinio
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