Refletir
e assumir uma praxis perante a sociedade, face a circunstâncias, factos,
acontecimentos e situações do âmbito social, constitui uma boa base de
formação, para toda a pessoa que pretende intervir com o objetivo de solucionar
um problema, que afeta uma outra pessoa, família ou grupo.
Estabelecer
os limites, dentro dos quais se concetualiza uma situação social é,
objetivamente, impossível, na medida em que, por uma cultura social, quase tudo
o que acontece na sociedade, e interfere com as vidas individuais e/ou grupais,
pode ser interpretado como uma situação do foro social, considerando aqui a
qualificação social como uma carência que urge satisfazer pelas pessoas e/ou
pelos Serviços e técnicos competentes do Estado e Instituições
Não-Governamentais, vocacionadas para as situações classificadas de sociais.
A
pessoa humana dispõe, atualmente, de muitas oportunidades e tem em si imensas
capacidades para se realizar, justamente, como pessoa digna e portadora de
valores, desde logo, valores sociais. Ao realizar-se numa, ou em diversas das
suas dimensões: política, profissional, religiosa, cultural, social, axiológica
e outras, certamente que alcança uma bem determinada felicidade; e quando se
envolve na participação da resolução de problemas, que afetam as pessoas e
grupos mais fracos ou temporariamente fragilizados, seguramente que a
bem-aventurança é vivenciada com mais intensidade e objetividade.
Com
efeito: «O homem encontra sua felicidade
na vida ao consagrar-se a um desígnio comum. Devemos convidar outros a entrar
nesse desígnio, mas impõe-se a maior cautela para que este convite não se
converta no exercício de um poder inumano.» (KWANT, 1969:209): ([1])
A comunicação e o relacionamento interpessoal, que, cada vez mais, se
tem vindo a tentar intensificar no seio das famílias, grupos, comunidades e
sociedades alargadas, é uma imposição que de forma quase impercetível envolve
as pessoas, ainda que estas, em certas circunstâncias, pareçam demonstrar o
contrário, precisamente, pelo facto de que é impossível ao ser humano viver
isoladamente.
Todo o conjunto de relações nas sociedades modernas, sempre comporta,
com maior ou menor envolvimento, determinados aspetos, pormenores, indícios
sociais. Neste sentido a: «Nossa existência
é social porque podemos realizar nossas possibilidades só dentro do contexto e
através da ajuda do nosso existir junto com outros e também porque não é
possível fazer justiça a qualquer classe de valores fora da nossa coexistência
com outros. Nossa existência é social porque todos nós vivemos de uma herança
comum que impregna tudo o que somos. Ainda nos nossos feitos mais pessoais
estamos sustentados por essa herança comum.» (Ibid. 177) ([2])
A condição social do homem implica reflexões metódicas, rigorosas, como
se de uma outra qualquer ciência se tratasse. Lidar com o fenómeno social, em
sociedades cada vez mais heterogéneas, equivale ao domínio do conhecimento e
práticas de natureza científica, principalmente para o técnico e/ou
especialista do Serviço Social, desejavelmente complementados com outras
faculdades inatas ao nível da sensibilidade, perceção e acutilância para as
situações de verdadeiras incongruências sociais, detetadas nos casos de
necessidade material, mas que o carenciado não tem qualquer iniciativa, pese
embora o facto de possuir condições físicas, intelectuais e profissionais para
melhorar, por si próprio e como seria seu desejo, as condições de vida dele
mesmo e, quantas vezes daqueles que estão na sua dependência.
São situações desta natureza que os diversos sistemas sociais devem
enquadrar de forma justa e, quando e se necessário, sancionatória. Nesse
sentido é perfeitamente compreensível o envolvimento do Filósofo Social,
através das técnicas e teorias que a Filosofia Social naturalmente proporciona:
«A Filosofia Social (tal como a sua
disciplina, a História do Pensamento Social) ocupa-se das várias concepções
sobre a natureza dos sistemas sociais ou sociedades desejáveis e, por vezes,
formula suas próprias propostas sobre o que constitui uma sociedade boa ou
desejável. A avaliação do valor, bem como de outras características, das
ideologias políticas é uma preocupação usual dos filósofos sociais.»
(Ibid:209).
A conceção de ciência como atividade que pressupõe um método e um objeto
de estudo, permitindo alcançar resultados rigorosos, objetivos, previsíveis,
reversíveis, implicando toda uma metodologia e técnicas científicas, também se
aplica à sociedade humana, porém, as dificuldades aqui são bem maiores e,
eventualmente, os resultados não serão tão exatos.
O objeto de estudo das Ciências Sociais e Humanas envolve dimensões do
próprio ser humano, que comportam variáveis, imprevisibilidades e situações que
não são quantificáveis com a mesma objetividade e rigor das alegadas Ciências
Exatas.
O técnico de intervenção social tem a sua vida profissional extremamente
complicada, como igualmente difícil é a tarefa do investigador social: «(…) o homem sempre foi um descontente e um
inquieto; sempre se sentiu em conflito, dividido contra si mesmo e as crenças e
as práticas às quais, em todas as sociedades e em todas as civilizações, ele
dava mais importância, tinham e têm ainda por objectivo, não suprimir estas
divisões inevitáveis, mas atenuar as suas consequências e dar-lhes sentido e
uma finalidade, torná-las mais facilmente suportáveis, ou pelo menos
reconfortá-lo.» (DURKHEIM, 1970:295).
Bibliografia
KWANT, Remy C., (1969). Filosofía Social. Buenos
Aires – México: Ediciones Carlos Lohlé.
DURKHEIM, Emile, (1970).
“A
Ciência Social e a Acção”, Trad. Inês Duarte Ferreira, São Paulo: DIFEL
– Difusão Editorial.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal:
http://www.caminha2000.com (Link’s
Cidadania e Tribuna)
http://www.grebal.com.br/autor.php?idautor=242 http://www.sitedoescritor.com.br/sitedoescritor_escritores_d0045_dbartolo.html
https://www.facebook.com/groups/1664546757100008/?fref=ts https://laosdepoesia.blogspot.ca/search/label/Diamantino%20%20B%C3%A1rtolo
[1] «El hombre
encuentra su felicidad en la vida al consagrarse a un desígnio común. Debemos
invitar a otros a entrar en ese designio, pero se impone la mayor cautela para
que esa invitación no se convierta en el ejercício de un poder inhumano.»
[2] «Nuestra existência es social porque podemos realizar
nuestras posibilidades solo dentro del contexto y también porque no es posible
hacer justicia a cualquier classe de valores fuera de nuestra coexistência com
otros. Nuestra existencia es social porque todos nosotros vivimos de una
herencia común que impregna todo lo que somos. Aun em nuestros hechos más
personales estamos sostenidos por esa herencia común.»