A
atividade social, globalmente considerada, a partir da preparação e intervenção
individual, fora do âmbito dos técnico-especialistas, pressupõe, também, neste
contexto, a posse de alguns requisitos inatos e adquiridos, para que a
intervenção resulte profícua e solucionadora, dos problemas que lhe estão na
origem.
Naturalmente
que, mais tarde ou mais cedo, preferencialmente quanto mais cedo melhor, a
intervenção do especialista, com suporte técnico-legal, será imprescindível.
Entretanto, cada cidadão pode (e deve) preparar-se para acudir àquelas
situações que, numa primeira intervenção, são localizadas, controladas e
apoiadas empiricamente. Evidentemente que esta preparação sumária se consegue
no seio da família, suficientemente estruturada, organizada e consciente de
seus deveres.
Resulta
daqui reconhecer-se a maior importância, e o papel fundamental, que a família
pode exercer na preparação dos seus membros, para boas intervenções sociais,
desde já, em relação a outros elementos da família mais extensa, como na
pequena comunidade de vizinhos, em que ela está integrada.
A
recuperação, com as devidas adaptações, da família tradicional, poderia ser uma
via para a interiorização do dever social que a cada indivíduo compete, face ao
seu semelhante, porque se tem como cientificamente adquirido que: «Nas sociedades tradicionalistas e
estáveis, a família se revela, sempre, instituição forte, de grande influência
no todo social, a ponto de haver quem sustente que a sociedade não é resultante
do agrupamento de pessoas, mas sim de famílias, tão unas e semelhantes a
individualidades se apresentam estas, frente ao conjunto social.» (ROSA,
1972:87).
Indiscutivelmente
que faltará provar que o indivíduo, nascido e criado no seio de uma tal família
tradicional se garanta, por esse facto, como podendo vir a ser um bom técnico
de Serviço Social; a inversa é, igualmente, suscetível de idêntica dúvida,
porque se sabe que, atualmente, a família, entendida no seu conceito clássico,
estará a atravessar dificuldades.
Assim:
«Já na moderna civilização, em que se
observa a presença de uma sociedade extremamente dinâmica, operou-se um
enfraquecimento dos laços de coesão do grupo familiar, submetido a numerosas
tensões oriundas de causas internas e externas, diante da fragmentação de
interesses e a expansão do individualismo e em face das inevitáveis influências
sócio-económicas do mundo actual.» (Ibid.:87).
Na
coerência do raciocínio, igualmente se pode afirmar que um indivíduo nascido e
criado no seio de uma tal família moderna, não possa vir a ser um excelente
especialista no domínio social. Inofensivamente pode extrair-se a ilação,
segundo a qual, independentemente das origens de cada indivíduo, a formação
social é fundamental para, em contexto profissional, ou no âmbito dos deveres
de cidadania, se exercer responsável e eficazmente uma intervenção social
eficiente, casuística ou filantrópico-altruísta.
O
homem, na sua liberdade plena, determina-se por princípios e valores, prévia e
conscientemente selecionados e assumidos, ainda que, num espírito de integração
harmoniosa e inteligente, condicionados por uma cultura, tradições, religião e
todo um edifício jurídico-político.
O
valor Liberdade, no âmbito de uma Filosofia Humanista-Personalista, implica a
observância rigorosa do dever, da responsabilidade, daquele e desta
sobressaindo a intervenção social, que constitui uma prerrogativa especial e
nobilíssima, quando exercida com sentido de justiça e respeito pela pessoa
carenciada de apoio social, seja qual for a natureza daquela e o tipo deste.
É
o mínimo que se exige a esta mulher e este homem cultos, da sociedade
civilizada e moderna, seguindo, e aceitando, a linha do pensamento, segundo o
qual: «A consciência do dever e o sentido
de responsabilidade patenteiam a existência de capacidade pessoal de ser origem
de um sucesso. Porque a pessoa tem iniciativa e é autora de suas acções, tem
que enfrentar as consequências da sua actuação e responder pelo realizado. Por
esta via – a da acção – se introduz a medida do bem e do justo. O acto livre
recebe o seu sentido plenário, não pela simples actuação, senão pela recta
actuação.» (VALLE, 1975:151).
Um
espírito construído a partir de uma Filosofia de Valores, objetivamente
direcionados para o Serviço Social, facilitará a formação intelectual,
axiológica, profissional e prática do técnico interventor na comunidade que,
apoiado nos diversos instrumentos de recolha, análise e avaliação de dados,
poderá produzir um trabalho rigoroso e justo.
Não
basta interpretar e aplicar, literalmente, o preceito jurídico-legal em vigor,
se não houver um certo doseamento de uma sensibilidade, assente em valores
sociais, para apreciar uma determinada situação; será insuficiente o
conhecimento de muitas e belas construções teóricas se na prática elas são
inexequíveis, face aos valores que devem ser observados no respeito devido à
dignidade da pessoa humana, em todas as suas dimensões: social, cultural,
política, religiosa, antropológica, axiológica e outras.
Aliás,
uma bem elaborada e interiorizada axiologia social, dinamizada por princípios
sinceros de “querer-ajudar” o outro,
pode facilitar a tarefa de todos aqueles que, a título profissional ou
voluntário, intervêm na sociedade: «Aquele
que nega todos os valores, nada mais vendo neles do que ilusão, não poderá
deixar de falhar na vida. Aquele que tiver uma errada concepção dos valores,
não conseguirá também imprimir à vida o seu verdadeiro e justo sentido. Também
esse fatalmente falhará na vida, a não ser que o destino benévolo o preserve de
todas as más situações que venha a criar. Pelo contrário, todo aquele que
conhecer os verdadeiros valores e, acima de todos, os do bem, e que possuir uma
clara consciência valorativa, não só realizará o sentido da vida em geral, como
saberá ainda achar sempre a melhor decisão a tomar em todas as suas situações
concretas.» (MONCADA 1946:20-21).
É
óbvio que em qualquer atividade, profissão, ocupação ou intervenção, é
indispensável dominar-se, razoavelmente, os respetivos conhecimentos, técnicas,
recursos e instrumentos de recolha e tratamento de dados e avaliação de
resultados.
Igualmente
evidente é que ao realizar-se uma determinada tarefa, com entusiasmo,
empenhamento e até alguma paixão, os objetivos alcançam-se, naturalmente, pela
positiva e, tratando-se de resolver situações concretas, que afetam a vida das
pessoas, então estas características são muito importantes.
Trabalhar
para as pessoas que, por qualquer motivo, estão envolvidas em situações
socialmente anormais, é diferente de trabalhar para a construção de uma ponte,
de um qualquer equipamento, porque para estes requerem-se conhecimentos,
técnicas, materiais, investigação, atualização; para aquelas, exige-se tudo
aquilo, mais uma formação no domínio de uma Antropologia dos Valores, na
circunstância, Valores Sociais.
Fomentar
uma cultura dos valores é, entre outros, um importante desígnio universal. A
Intervenção Social e Comunitária deve revestir-se, também, de atos culturais no
seu sentido social, despojados de quaisquer indícios elitistas,
intelectualistas e exibicionistas, revestidos, isso sim, da simplicidade
adequada e generosidade bastante que a pessoa humana merece: «Todo o acto cultural consiste na realização
de um valor. Pode tratar-se de um valor de ordem científica, ética, estética ou
religiosa (incluindo na ordem ética o domínio social e jurídico).» (Ibid.
245).
Bibliografia
ROSA, Filipe A. de Miranda,
(1972). Patologia Social, uma Introdução
ao Estudo da Desorganização Social, 4ª Ed., Rio de Janeiro: Zahar Editores.
VALLE, Agustin Basave F. del, (1975). Filosofia do Homem (Fundamentos de Antroposofia
Metafísica), Trad. Hugo de Primio Paz, apresentação de Adolpho
Crippa, São Paulo: Editora Convívio.
MONCADA, Luis Cabral de, (1946). (Título Desconhecido) Coimbra: Coimbra
Editora.
Venade/Caminha/Portugal,
2017
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Jornal:
“Terra e Mar”
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal:
http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e
Tribuna)
http://www.grebal.com.br/autor.php?idautor=242 http://www.sitedoescritor.com.br/sitedoescritor_escritores_d0045_dbartolo.html
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