Ano após ano, a festa tradicional, alegadamente da
família, celebra-se com mais ou menos pompa e circunstância, designadamente,
nas suas principais dimensões: material, religiosa, social; ou conforme os
objetivos de cada pessoa, independentemente dos seus valores, crenças,
tradições e cultura; e, também, ainda há quem passe indiferente por esta festa,
encarando o dia de Natal, como um outro qualquer dia do calendário anual
Na cultura da sociedade Portuguesa, o Natal
continua a ser a festa da família, período de tempo em que se procura reforçar
os laços parentais ou, em muitos casos, a reconciliação dos entes mais queridos
que, por vicissitudes várias da vida, estiverem desavindos durante mais ou
menos tempo.
O reencontro dos familiares, também dos amigos
verdadeiros, naquele dia mágico constitui motivo de grande felicidade e,
quantas vezes, de acerto do passado, da resolução de situações mal resolvidas
ou, ainda, por solucionar, de cedências, desejavelmente, sinceras e generosas,
das partes até então conflituantes.
Natal de todos, para todos e com todos: adultos e
crianças; famílias e amigos; colegas de trabalho e patrões; camaradas de armas,
independentemente de o serem em tempo de guerra ou de paz; tempo para recordar
traquinices de infância, malandrices escolares, paixonetas de adolescentes,
namoros e compromissos, enfim, um mundo de vivências e de recordações, que se
tenta reconstruir, se possível com as pessoas que também as experimentaram connosco.
Mas esta magia, que tão bem carateriza o Natal,
vive-se, ainda mais intensa e sinceramente, no mundo das crianças, que na sua
ingenuidade e simplicidade, aguardam com imensa ansiedade, a “chegada” do
“Menino de Jesus”, precisamente na noite da consoada, em que a família, os
amigos incondicionais, quando convidados, se juntam para tomarem a refeição
tradicional daquela noite mágica, e que varia, relativamente, de região para
região, mesmo dentro do mesmo país.
Em geral, as famílias constroem o presépio, alusivo
ao nascimento de Jesus, implantam a denominada “Árvore de Natal”, que enfeitam
e iluminam, no cimo da qual é colocada a estrela, qual farol que, dias mais
tarde, nos princípios de Janeiro, guiará «Belchior, Baltazar e Gaspar, também conhecidos como os três Reis Magos, viajaram ao encontro do
menino Jesus alguns dias após o seu nascimento. De acordo com a Bíblia, livro
sagrado do cristianismo, essa visita datou de 6 de Janeiro, período do ano até
hoje marcado por comemorações e tradições em diversos países do mundo.
Reconhecidos
como santos pela Igreja Católica no século 8, Belchior da Europa, Baltazar da
África e Gaspar da Índia presentearam Jesus com itens representativos de sua
cultura. Ouro, mirra e incenso simbolizavam realeza,
pureza e fé, respectivamente.» (in: http://vivomaissaudavel.com.br/bem-estar/psicologia-infantil/como-os-reis-magos-sao-lembrados-mundo-afora/ ).
O presépio é, porventura, o símbolo maior e mais
encantador do Natal. Ele como que irradia uma atração irresistível, as figuras
que o integram, parecem reais, com vida e, bem protegida, a cabana onde estão
Maria e José com o seu filhinho, Jesus, aquecidos, naquela noite fria de
Dezembro, pelos animais.
A simplicidade, a humildade e o amor estão ali
expostos para o mundo habitado por uma humanidade que não consegue entender-se,
devido aos mais diversos e, por vezes, incompreensíveis e inaceitáveis
interesses, não obstante todas as pessoas terem perfeito conhecimento que, sem
exceções, a vida físico-intelectual e sócio-material é, tão só, uma passagem
efémera, por um mundo que se renova e morre a cada instante.
O Natal das crianças, também dos adultos, deveria ser
uma quadra de paz, de alegria, de fraternidade e de perdão, quanto mais não
fosse por um futuro melhor, no qual se possa acreditar, que seria: de conforto,
de abundância, de tranquilidade, de segurança, de liberdade, de igualdade, de
justiça, de solidariedade, de amizade, de lealdade e de gratidão, entre pessoas
e povos que habitam um mundo que, afinal, não é deles.
A Quadra Natalícia, tal como a Quaresma por ocasião
da Páscoa, porém, numa perspetiva diferente, designadamente para as religiões
que comemoram estes períodos festivos, reveste-se de um significado muito
intenso, porque vivido com as mais profundas convicções culturais, e uma Fé
muito grande no devir melhor. É um tempo mágico, de esperança.
O Natal, para quem acredita que pode ser uma Festa
da Família, que neste período é possível resolver muitas situações do passado,
proteger um futuro de concórdia, enfim, para quem deseja viver esta festa com o
coração, deve ser encarado como mais uma oportunidade de vida, agora no sentido
de que há sempre uma porta aberta e, quando esta, apesar de tudo, se fecha, é
preciso confiar na possibilidade de que uma janela pode abrir-se para a
bem-aventurança.
Experienciar o Natal, não tanto e exclusivamente
com uma racionalidade materialista, mas também, e por que não, com uma abertura
do coração aos outros, ao mundo, ao futuro que se deseja de amor, de saúde, de
trabalho, conforto, felicidade, justiça e paz, porque o Natal deve ser isto
tudo, e muito mais.
E, já que não parece possível, por falta de vontade
individual e coletiva, viver o Natal todos os dias, então que se faça um
esforço, ou se tenha um gesto de boa-vontade para que, ao menos, neste curto período
de tempo, a denominada Quadra Natalícia, para interrompermos algumas atividades
materialistas, e refletirmos sobre o que está menos bem, naqueles que, durante
todo o ano, não têm nada: casa para se abrigarem condignamente; roupa para se
agasalharem; comida para se alimentarem; trabalho para se dignificarem; saúde para
uma melhor qualidade de vida, enfim, para darem à sociedade o que dela nem
sempre recebem: colaboração.
O Natal pode, e deve, ser vivido, com um coração
magnânimo receptivo às dificuldades, compreensão e ajuda ao próximo. Uma mente
aberta para ajudar quem mais precisa, para reavaliar o passado, corrigindo o
que foi feito erradamente, ou menos bem, e adotar novas posturas para o
presente, porque todos somos irmãos em Cristo (para os crentes, mas não só), até
porque, para os não crentes, somos seres da mesma espécie, pessoas humanas, que
possuem princípios, valores, sentimentos e emoções.
Hoje, primeiro quarto do século XXI, talvez mais do
que em tempo algum, vivemos períodos muito difíceis, situações que, por vezes,
atingem níveis de “bestialidade”, selvajaria, conflitos sangrentos, em que nem
sequer os valores humanos de: tolerância, compreensão, generosidade,
misericórdia e compaixão são respeitados.
Então, pelo menos, neste período tão curto, que
simbolicamente transmite uma nova esperança, através do nascimento do “Menino
de Jesus”, que neste tempo maravilhoso e mágico de Natal, os nossos corações
“amoleçam”, que se deixem penetrar pela caridade, pelo amor e pelo perdão.
É tempo de: cada pessoa por si própria; os grupos,
quaisquer que sejam a sua constituição e objetivos nobres; os povos e as nações
se solidarizarem para o bem-comum, para os valores: da liberdade, da lealdade,
da segurança, da paz e da abundância, se congregarem à volta dos sentimentos do
amor, da gratidão, da estima e consideração, relativamente para com quem é
nosso familiar, amigo, colega, enfiem, para com todas as pessoas.
Hoje, é fundamental disciplinarmos os nossos
corações para o bem, para a ajuda a quem mais necessita, para atendermos a quem
solicita o nosso apoio, a nossa amizade, a nossa presença, a nossa
benevolência, o nosso perdão.
Hoje, é tempo de concedermos aos nossos verdadeiros
e incondicionais amigos, mais atenção, mais carinho, um pouco mais de tempo,
ainda que seja para, com amizade autêntica, tomarmos um, dois, muitos
“cafezinhos”, de solidariedade, de bem-querer e de esperança na recuperação de
sentimentos, entretanto perdidos, abandonados ou, infelizmente, passados à
indiferença, ao ostracismo, pela rejeição e pela humilhação de quem continua,
apesar dos comportamentos, a ser nosso genuíno e “incorrigível” amigo do
coração.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400
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Imprensa Escrita Local:
Jornal: “Terra e Mar”