domingo, 6 de junho de 2021

Leonardo Coimbra (1883-1936)

«Leonardo José Coimbra - (Borba de Godim, Lixa, 30 de Dezembro de 1883Porto, 2 de Janeiro de 1936) foi um filósofo, professor e político português. Enquanto Ministro da Instrução Pública de um dos governos de Primeira República Portuguesa, lançou as Universidades Populares e a Faculdade de Letras do Porto. Como pensador fundou o movimento “Renascença Portuguesa, e evoluiu do criacionismo para um intelectualismo essencialista e idealista, reconhecendo a necessidade de reintegrar o saber das "mais altas disciplinas espirituais", como a metafísica e a religião (http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_Coimbra)

Caráter emotivo, dotes oratórios e a sistematização do seu pensamento, possibilitaram-lhe escrever uma vasta obra, destacando-se o “Criacionismo”, a “Razão Experimental” e a “Rússia de Hoje e o Homem de Sempre”. Da análise das suas obras, poder-se-á extrair o seguinte:

O “Criacionismo” – Consiste na atividade incessante e inesgotável do pensamento humano, atividade de síntese para continuar. O pensamento evolui das noções de Número e Espaço para a Vida, para a Sociedade, para a Pessoa, para a Realidade, que afinal é a Vida, Movimento e Ação. As ciências aproximam-se cada vez mais das realidades.

Filosofia de perspetivas antropológicas com dois termos fundamentais: Homem e Vida -. A Ciência é considerada visão certa e a metafísica reduzida a um complemento da ciência, esta é a síntese de noções e a dialética para o conceito de Pessoa. A Dialética de Noções consiste em chegar à Filosofia pondo de lado os dados da Ciência.

As noções são algo de irredutível em relação às noções anteriores. As Noções são abstratas, quando em ordem às outras que as supõem e se lhes acrescentam, e estas concretas em relação às anteriores. As concretas formam o sistema completo de noções.

O ato de conhecer revela dois elementos irredutíveis: o Sujeito e o Objeto. É indispensável a presença consciente do objeto, o que traduz a presença efetiva do sujeito no ato de conhecer. O conhecimento é uma relação que consiste no Juízo, ou no seu envolvimento.

A Ciência constrói-se por um dinamismo da inteligência, que elabora intuições sensíveis, e opera dialeticamente por sínteses sucessivas e englobantes, produzindo-se uma racionalização que é a Noção. Dado que o pensamento tem uma atividade de síntese, com dinamismo construtivo, dialético, criacionista. Ao nível do Criacionismo o problema de Deus é o problema da moral, do significado humano ou super-humano, mas finito, da moral ou do seu significado absoluto.

Deus é o salto audacioso e só pode ser atingido por um salto ético-religioso. Só a pessoa livre e responsável pode chegar a Ele. O homem é a chave do universo, nele se completa a evolução, e o universo é um saldo de consciências banhadas por Deus.

A dimensão última é o Mistério, perante o qual só fica o valor da Ação Moral, com o recurso à Ética para postular Deus, que fez do universo um oceano nivelado de vida. Deus é harmonia do homem, fonte de ser, um rio que “O” tem na nascente e na foz. Deus é o grande solitário, inacessível para além do Mundo, uma espécie de “Ontológica Saudade”.

O mundo sem Deus para; Deus sem o mundo adormece, porque Ele ao ser amor, precisa de convivência. Deus tem uma dimensão irracional, porque racional por excesso, e Jesus Cristo constitui uma onda de racionalidade. O Criacionismo é, portanto, uma Filosofia da Criatividade Dinâmica do Homem em Liberdade, em Inter-relação com os outros homens, com abertura e convergência para um vértice único, absolutamente perfeito e orientador: Deus.

A “Razão Experimental” – Através desta obra, Leonardo Coimbra traça a linha evolutiva e, simultaneamente, comparativa entre a Ciência e a Filosofia. Se o “Criacionismo” é evolução para a dialética de noções, desta para a pessoa e, finalmente, se chegava ao absoluto pela moral, agora evolui-se da Razão Experimental para o hipotético construtivo, daqui para as hipóteses prováveis ou experiências científicas e, por fim, para a Liberdade Humana.

A experiência humana é irredutível à experiência científica, mas a razão experimental é uma teoria e prática da experiência, porque são duas as atitudes do homem: Teoria que é conhecimento, o saber; e a Prática que é conduta, a ação, o agir. A razão experimental procura criar um vínculo racional entre as experiências e as teorias. A experiência do mundo moderno é sempre científica. A relação que existe entre a Ciência e a Filosofia é que: esta é um ciclista; aquela, o treinador que vai numa mota, à frente do ciclista.

A “Rússia de Hoje e o Homem de Sempre” – É toda uma filosofia da cultura, e uma antropologia filosófica que denuncia o totalitarismo comunista. Do salto ético-religioso, a um lirismo metafísico, impõe-se, agora, a Revelação.

Nesta obra, o sentido da Filosofia deverá permanecer o mesmo. A Filosofia serviria de medianeira entre o Criado e o Incriado, levaria à afirmação do Transcendente, da Divindade, fazendo entrar as disposições morais e o destino pessoal do Homem, o qual perante a vida pode ter três atitudes possíveis: Humanismo Idealista, que é o real idealizado, o homem aspira a este ideal; o Humanismo Cristão, em que o homem tem que emergir a vida na terra, com importância para o trabalho e para a ciência e esta constitui uma promoção do homem católico, o que o homem quer é vida; Humanismo antropológico, que consiste na reforma protestante e ciência, porque esta tornou-se independente da moral, da filosofia e da ética, isto é, tornou-se independente da verdade humana.

Para concluir: através da ciência só é real o que é científico; pela epistemologia o homem é o centro de toda a realidade; e pela ontologia do espírito, o homem encontra o dinamismo da atividade, e o ser gerador dessa atividade.

Na primeira fase, a do Criacionismo, domina a Ciência, e a Filosofia é de um papel secundário; na segunda fase, a da Razão Experimental, verifica-se a parte mais rica, mais autónoma do que a Razão Científica e, finalmente, na terceira fase, constata-se que Leonardo Coimbra nunca reviu os escritos do seu pensamento, que nos seus livros poderia ter revelado toda a sua intuição rica, profunda, sendo a sua obra de difícil interpretação.


Bibliografia


ARRIAGA, José de, (1980). “A Filosofia Portuguesa 1720-1820”, in História da Revolução Portuguesa de 1820, Coleção Filosofia e Ensaios, Lisboa: Guimarães Editores.

GAMA, José, (1983). Filosofia e Poesia no Pensamento de Leonardo Coimbra. In Revista Portuguesa de Filosofia, Tomo XXXIX-4.1983. Braga: Faculdade de Filosofia.

MORUJÃO, Alexandre Fradique, (1983) O Sentido da Filosofia em Leonardo Coimbra, In Revista Portuguesa de Filosofia, Tomo XXXIX-4.1983. Braga: Faculdade de Filosofia.

PRAÇA, J. J. Lopes, (1988). História da Filosofia Em Portugal. 3ª Edição. Lisboa: Guimarães Editores.

SPINELLI, Miguel (1981). A Filosofia de Leonardo Coimbra. O Homem e a Vida. Dois Termos da sua Antropologia Filosófica. Braga: Publicações da Faculdade de Filosofia.

 

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

 

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