sábado, 10 de março de 2018

Como Vencer a Crise



Afirmar-se que a sociedade contemporânea atravessa tempos difíceis, é já um lugar-comum, infelizmente, porém, verdadeiro. Por todo o lado se ouve falar em crise, habitualmente, reportada à economia que, por sua vez, afeta todos os setores de atividade, contudo, também estes provocam impacto negativo naquela.
Vive-se, portanto, num círculo vicioso: economia fragilizada, porque não existe o dinamismo suficiente na produtividade e no escoamento para o consumo sustentável, dizem uns; poder de compra enfraquecido, porque a economia não está a gerar emprego e riqueza suficientes, para melhorar a aquisição de bens e serviços, através do poder de compra dos cidadãos, dizem outros.
Eventualmente, não será necessário ser-se um grande especialista em economia, e/ou conhecimentos afins, para se chegar a esta conclusão simplista. É nos fatos mais elementares, nas decisões fundamentais que, quantas vezes, se resolvem grandes dificuldades. A complexidade da vida já é um problema que se enfrenta todos os dias, nas mais diversificadas situações.
Quanto mais pobre for a pessoa, a família, a instituição e o país, tanto maiores serão as suas fragilidades gerais. Daqui resulta que a crise material nos domínios da economia e das finanças, resolve-se: por um lado, com o maior poder de compra das pessoas, pagando-se--lhes os justos salários e reformas, a que têm direito e, por outro lado, não as sobrecarregado com impostos desumanos e, muito menos, retirando-lhes direitos que fazem parte das suas expectativas de qualidade de vida e para as quais, muitas pessoas, descontam há várias décadas.
Os alegados sacrifícios devem ser assumidos por todos aqueles que, de alguma forma, têm responsabilidades na situação que se vive: sejam os indivíduos, as famílias, as instituições e as nações. Certamente, todos serão culpados, em todo o caso, seguramente, uns mais do que outros.
Mas a crise não será apenas económica e financeira, nas diversas vertentes materiais. Fala-se pouco na crise de valores, talvez porque sendo estes imateriais, não geram riqueza, pensarão alguns. Parece que será, precisamente, o contrário, isto é, quanto mais enaltecidos forem os: princípios, valores, sentimentos, regras, educação e formação das pessoas, maior será a participação das mesmas na busca das soluções que urge implementar; melhor será a sua compreensão para os sacrifícios que lhes são pedidos.
A sociedade ainda não terá acordado para este verdadeiro drama, que é o não-exercício real dos muitos valores que podem alterar mentalidades, e comportamentos para uma atitude positiva, de esperança no futuro, de otimismo e elevação da auto-estima de cada pessoa e de todo um povo que, nos momentos mais difíceis, é chamado a mostrar a sua grandiosidade.
Educar, formar e reconhecer a importância das boas-práticas de princípios, valores e sentimentos, essenciais ao desenvolvimento equilibrado, justo e solidário de toda uma população, deveria constituir a principal preocupação de quem dirige uma instituição: seja a família, seja a empresa, seja o próprio Estado, este representado num governo, democrática e confiantemente eleito pelo seu povo.
 O ser humano tem capacidades inatas para resistir, adaptar-se e vencer as mais complexas situações naturais, e as que são provocadas por ele próprio. Trata-se de uma faculdade que se vem conhecendo cada vez melhor e que, cientificamente, se denomina por “resiliência”. Este poder de adaptação a situações catastróficas, e de algum sucesso sobre elas, é fundamental para a sobrevivência de toda a pessoa que é apanhada em tais circunstâncias da vida.
É bem-sabido que as crises, quaisquer que elas sejam, não se vencem pelo medo, nem com ameaças, nem com o pessimismo, pelo contrário, são os valores da esperança, do otimismo, da capacidade em se acreditar nas próprias faculdades, até porque: «Os seres humanos estão predispostos para a normalidade, que é o que nos sucede habitualmente. Inclinámo-nos a pensar que no nosso dia-a-dia não vamos ter grandes surpresas e, na realidade, é quase sempre assim, por isso nos acomodamos tão bem aos hábitos, aos costumes, às rotinas.» (MARCOS, 2011:91).
A crise de valores, em praticamente todos os estratos da sociedade será, provavelmente, a primeira que se tem de vencer, obviamente, com o apoio das principais instituições envolvidas: família, Igreja, comunidade, empresas, o Estado.
Isoladamente, não se perceberá como se poderá vencer as crises, quaisquer que elas sejam, incluindo-se, aqui, por exemplo, crises de relacionamento interpessoal: seja entre profissionais, entre amigos, entre familiares, ou de diferente natureza e em qualquer outro contexto, se não se recorrer ao exercício pleno de valores como: a solidariedade, a amizade, a lealdade, a reciprocidade, a humildade, a gratidão, a cumplicidade, o humanismo, entre outros, entre pessoas de bem.
Os agrupamentos humanos, habitualmente organizados em função de princípios, valores, regras e objetivos comuns, mantêm-se unidos enquanto acreditarem que é possível atingirem os resultados a que se propuseram e, nesse sentido, o bom relacionamento é como que o cimento que os mantém colados, porque: «(…) a vida seria melhor se pensássemos com mais frequência que a nossa salvação consiste em restabelecer os relacionamentos rompidos. Quando um relacionamento se rompe, a maioria das pessoas se preocupa em descobrir quem está errado. Quando somos feridos, procuramos logo o culpado, querendo que pague por isso.» (BAKER, 2005:51).
 Naturalmente que se podem evitar muitas crises, desde logo se cada pessoa for capaz de desempenhar as inúmeras funções diárias, sem atropelar os direitos e deveres dos seus semelhantes e, até pelo contrário, se tiver a generosidade de estar sempre disponível para o exercício dos valores essenciais à comunidade, como: a saúde, a justiça social, a paz, a educação, a formação, o trabalho, o reconhecimento da dignidade de cada pessoa.
Indiscutivelmente que, antes do todo, estão as partes, e estas devem entender-se nos seus relacionamentos diários, pela via da amizade sincera, da compreensão, da generosidade, da tolerância, do respeito, da consideração, da estima, enfim, dos valores que fazem com que as pessoas se amem verdadeiramente, se disponibilizem para o diálogo, para a priorização do amigo sobre todos os restantes compromissos materiais.
 Espiritualmente e em bom rigor, vencerá quem vem sendo vítima de violências axiológicas, psicológicas e comportamentais, à humanidade, dignidade, e generosidade próprias. As atitudes vexatórias serão vencidas pelo amor, pelo bom senso, pela verdade dos valores: da lealdade, da solidariedade, da reciprocidade, da cumplicidade e da gratidão que, mais tarde ou mais cedo, revelarão toda a força da sua importância e imprescindibilidade. O futuro joga-se neste xadrez axiológico.

Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
MARCOS, Luís Rojas, (2011). Superar a Adversidade, O Poder da Resiliência. Trad. Maria Mateus. Lisboa: Grupo Planeta.

Venade/Caminha/Portugal, 2018

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

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