Com
a evolução da ciência, da tecnologia e do prosseguimento da investigação
biogenética, seguramente que ninguém duvida de onde vimos, como somos
constituídos e nos transformámos fisicamente, porque, felizmente, muitas são as
especialidades médicas, terapêuticas e outras, que ao longo da existência
terrena nos ajudam a ter uma melhor qualidade de vida. Neste aspeto, cada vez
haverá menos dúvidas de onde vimos e, materialmente, como poderemos acabar.
Há
quem pense que a duração física humana não tem limites, por isso, tais pessoas
entendem que o importante será sempre alcançar determinadas posições,
estatutos, bens materiais e poder, no seio da comunidade onde se inserem, não
olhando a meios para alcançarem objetivos, quantas vezes, os mais ignóbeis que
se possam imaginar, passando por cima dos mais essenciais princípios, valores,
deveres, direitos e sentimentos dos seus semelhantes.
Nesta
luta por uma sobrevivência material, a mais faustosa e poderosa possíveis, a
pessoa humana até se esquece de que outros seres, outras forças, o próprio
homem, também constituem obstáculos que ao longo da vida se atravessam no seu
caminho: «O homem, a que nenhuma
catástrofe cósmica ameaça, está ameaçado pelo próprio homem que, por inércia ou
por outra razão a identificar-se, se recusa a racionalizar os processos de
governo, substituindo por novas as velhas estruturas políticas.» (Carlos
Castelo Branco, in KERSTIN e ALFVÉN, 1969:13).
A
nossa origem física, seguramente que se conhece suficientemente bem, sendo
certo que resulta da procriação natural, ou artificial, por isso, sabemos de
“Onde” vimos, assim como temos conhecimento de como nos devemos preparar para
prosseguir ao longo da estrada da vida, com as melhores condições possíveis.
Durante
a nossa permanência física neste mundo, necessitamos de nos entender, uns com
os outros, de respeitarmos os limites de cada pessoa, os seus princípios,
valores e sentimentos, para que elas também tenham idêntico procedimento em
relação a nós.
A
sociedade organiza-se num espaço, com normas sociais, consuetudinárias e
jurídicas, que devem ser cumpridas por todos, para que a harmonia possa reinar
e ninguém se sobreponha, por qualquer processo ilegítimo e ilegal, aos seus
semelhantes, porque como se refere na Declaração Universal dos Direitos
Humanos: «Todos os seres humanos nascem
livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência,
devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.» (Artº 1º,
in http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/cidh-dudh.html
consultado em 10.12.2015 e ONU-ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948: Artº
1º).
Enquanto
pessoas físicas, dotadas de deveres e direitos, convivemos uns com os outros,
também em função do que nos é transmitido pelas gerações anteriores, desde logo
a começar nos nossos pais, educadores, professores/formadores, escola, Igreja,
comunidade, atividades cívico-políticas, entre outras entidades e atividades.
Indiscutivelmente,
os Governos desempenham um papel importantíssimo na nossa Educação/Formação
para a vida, ajudando-nos a preparar um futuro profissional e cívico, obviamente
com o nosso indispensável contributo, que é fundamental e, sem o qual, não será
possível atingirmos qualquer objetivo positivo no seio da comunidade onde nos
inserimos e queremos singrar na vida.
Nesta
caminhada pela difícil “estrada da vida”, nem sempre experienciamos os melhores
momentos e, muitas vezes, também por culpa nossa, porque: «É incrível o desacerto entre o que possuímos e o que fazemos, entre os
meios ao nosso alcance e os emaranhados monólogos a que chamamos diálogos. (…)
Ou nos destruímos integralmente uns aos outros ou acabaremos por transformar o
monólogo em diálogo, e o futuro terá asas luminosas. As ilhas que somos se
agruparão num imenso continente. O individualismo feroz, o grande responsável
por tantos desencontros, cederá lugar a uma consciência coletiva em que todos
agiremos na defesa da dignidade dos nossos semelhantes.» (Sidónio Muralha,
in KERSTIN e ALFVÉN, 1969:22).
Entre
o “de onde vimos” e o “para onde vamos”, existe, portanto, todo um trajeto que
é necessário percorrer, com muito equilíbrio, com enorme bom senso e, acima de
tudo, com dignidade, esta no sentido de começarmos por nos respeitar a nós
próprios, para depois termos idêntico comportamento para com os nossos
semelhantes e estes, por sua vez, nos retribuírem. Não há outra alternativa.
A
vida é um bem precioso, que nenhum ser humano tem o direito de a eliminar, seja
de que forma for, sejam quais forem as razões. A existência humana é demasiado
valiosa, inviolável e insubstituível para ser desperdiçada ou maltratada,
porque ela comporta dimensões que, possivelmente, nenhuma outra espécie tem.
Todos
nós lutamos pela vida, não queremos morrer, salvo as exceções de quem está num
grande padecimento, que deseja a eutanásia como processo de colocar fim à sua
existência sofredora, ou de quem se suicida por motivos “altruístas” e
martirizantes, segundo algumas religiões, ou, ainda, de qualquer outra
natureza, mas é verdade que a esmagadora maioria das pessoas faz tudo, dá tudo,
para poder viver o melhor e o mais tempo possíveis.
Concorda-se,
naturalmente, que: «Viver é evitar a
morte, a morte do indivíduo ou da espécie. Por isso, nenhuma espécie poderá
subsistir sem ter de um lado, a vontade de se proteger – através dos instintos
da fome, do medo e da segurança – e do outro, a vontade de se propagar –
através dos instintos sexual, paternal e maternal. Essas qualidades têm sido
cultivadas no decorrer de milhões e milhões de anos. Por isso, entre os
resultados, temos a refeição e o ato sexual como os grandes prazeres da vida.»
(KERSTIN e ALFVÉN, 1969:29-30).
Evitar
refletir, e/ou conversar sobre a morte, parece cómodo para muitas pessoas que,
elas próprias, entendem que isso nunca lhes vai acontecer, e com esta ideia,
por si só doentia, comportam-se perante os seus semelhantes como se realmente
fossem os donos da verdade, da inteligência e do mundo, atropelando todos os
princípios, valores e sentimentos que são próprios de cada ser humano.
O
problema é que a morte existe, não poupa ninguém: ricos e pobres; arrogantes e
humildes; intelectuais e iletrados; novos e idosos; mulheres e homens. Mas o
mais desesperante é que ninguém consegue afirmar para “onde vai” depois da
morte física do corpo! O que acontecerá a seguir a este desenlace?
Para
os crentes de uma determinada religião, o ser humano, sendo composto por corpo
e alma, esta, depois da morte daquele, dirigir-se-á para um espaço infinito,
onde ficará a “pairar” até uma nova reencarnação. Para outras crenças, o corpo
depois de morto fica numa situação de adormecimento, não se fazendo qualquer
referência à outra possível componente, a alma.
É
esta incerteza: o de não se saber “para onde vamos”, que para muitas pessoas se
torna numa verdadeira angústia, porque muitas delas consideram que têm direito
a um fim “celestial”, junto de um Deus protetor, tolerante e perdoador,
esquecendo-se, por vezes, que enquanto viventes neste mundo, cometeram as
maiores injustiças e atrocidades contra os seus semelhantes.
Afinal,
a possível dimensão espiritual como é constituída? De onde vem ela para o corpo
físico e quando e como sai desse mesmo corpo após a morte deste? É provável que
a ciência e a religião, nos venham a esclarecer, no futuro, quem realmente
somos, de onde vimos e para onde vamos mas, por enquanto, sejamos capazes de
nos conduzir com a dignidade que nos eleva em relação aos restantes seres, que
habitam este planeta.
Do
ponto de vista dos crentes católicos, é evidente que a pessoa humana é composta
por corpo e espírito e, nesta perspetiva, pode-se aceitar, sem grandes
polémicas que: «A situação do homem no
mundo, a capacidade do espírito do homem para encontrar a felicidade, as
relações dos homens entre si, todos estes problemas já foram, então, analisados
com uma agudeza de pensamento e com uma profundidade muito difíceis de
superar.» (Ibid.:38).
Temos,
de facto, e isso ninguém o pode negar, que são várias as dimensões que nos
distinguem e valorizam, portanto: «O
problema vida por fora e vida por dentro é de fundamental importância. É a
essência dos debates de consciência, da liberdade de escolha e da
responsabilidade moral do homem.» (Ibid.:37)
Bibliografia:
(KERSTIN e ALFVÉN, Hannes, (1969). Aonde
Vamos? Realidade e destinos da humanidade. Tradução de Jaime Bernardes da
Silva. S. Paulo: Círculo do Livro S.A.
ONU-ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
(1948). Declaração Universal dos Direitos do Homem, Lisboa: Amnistia
Internacional, Secção Portuguesa, 1998.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689
Imprensa Escrita Local:
Jornal: “Terra e Mar”
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