sábado, 10 de dezembro de 2022

O Drama do Início do Século XXI

O mundo deste primeiro quarto do século XXI, está a experienciar, dolorosamente, situações que, nesta época, já designada por “pós-moderna”, era impensável há alguns anos atrás, considerando que a maioria das nações, e dos seus povos, entendiam que depois dos holocaustos, das duas grandes guerras do século passado, entre outros conflitos regionais, tais genocídios não voltariam a acontecer.

A Ciência, a Investigação e as Novas Tecnologias, estão imparáveis; outros deveres, valores e sentimentos surgem e se impõem em certos territórios que, alastrando a espaços mais frágeis, espalham a desgraça, a dor, a fome e a morte. Tudo vem acontecendo com aceleração, eficácia e frequência quase diária.

Os conflitos regionais, que rapidamente afetam as nações, aumentam assustadoramente. O terrorismo invade, cruelmente, países, cidades, vilas, instituições públicas e privadas, provocando o derrame de sangue humano, de vítimas inocentes, civis e militares, crianças, adultos e idosos. Ninguém escapa a esta fúria de destruição de pessoas e bens.

A complexidade da situação mundial em geral e, particularmente em certas regiões do mundo, preocupa todas as pessoas que, desejando viver em paz, segurança e felicidade, não têm essa garantia, porque, a todo o momento, num qualquer local, o mais inimaginável possível, ou o mais previsível, tudo de mal pode acontecer, com as consequências mais indesejáveis, que se possam imaginar.

A Europa, tem vindo a ser um alvo preferido do terrorismo organizado que, utilizando pequenas células humanas radicalizadas, semeiam o pânico, a destruição e a morte, incluindo, por vezes, os próprios autores dos atentados que nos estão assolando, sem tréguas nem contemplações.

Vencer as nações e as suas populações, pelo medo imposto pela força das armas, é a estratégia mais utilizada. A rendição da Europa a grupos e a autoproclamados Estados extremistas que, alegadamente, pretendem resolver situações sociais, através de ações radicais violentas, é o argumento mais utilizado por este tipo de intervenção autoritária e antidemocrática.

Igualmente, nos países ou territórios de origem dos fundamentalistas, as tragédias sucedem-se contra todas as pessoas que não aderem às ideologias político-religiosas dos radicais, sendo, por isso mesmo, perseguidas, massacradas e grande parte, assassinadas friamente e enterradas em valas comuns, ou então ficando os seus corpos expostos aos abutres e predadores diversos.

O mundo atravessa uma profunda crise provocada por inúmeros interesses: económicos, estratégicos, religiosos, políticos, ideológicos, não escapando, também, a avidez pelo controlo de determinados recursos naturais, como o petróleo, as pedras preciosas, as madeiras valiosas e o domínio da produção e comercialização de armas de guerra, cada vez mais sofisticadas e mortíferas, porque a destruição maciça é avassaladora.

Neste contexto horrível, hoje, poucos serão os países em que a segurança, o conforto e o bem-estar das populações sejam elementos caracterizadores do bem-comum. Pelas mais diversas, incompreensíveis e inaceitáveis razões, o terror espalha-se um pouco por todo o mundo e, quem até agora não sofreu qualquer ataque terrorista, não pode garantir que, num futuro próximo, não seja um alvo preferido, por isso, a vigilância, a coesão e a solidariedade são essenciais.

Abordar o valor da solidariedade, nos tempos atuais e com as situações extraordinárias que vão surgindo, tornou-se um imperativo universal, desde logo para com os milhares de refugiados que, diariamente, são obrigados a abandonar as suas terras, famílias e os seus bens, e a ficarem à mercê de “traficantes” de pessoas humanas.

Salvar a vida é o desígnio principal das pessoas, que a todo o custo têm de fugir de uma morte certa e cruel. Deixar tudo para trás, o que, afinal, foi conseguido ao longo de uma vida de trabalho, de esforços, de poupança e até de sofrimento, é a solução, não desejada, mas que se impõe aos milhares de refugiados que, diariamente navegam no Mediterrâneo, em condições verdadeiramente aterradoras, sem um mínimo de segurança, embarcações sobrelotadas, governadas por pessoal incompetente e desumano, ao serviço dos “traficantes”.

Nos últimos anos, centenas de milhares de pessoas perderam a vida, no que já se denomina pelo “Cemitério do Mediterrâneo”: crianças, adultos, idosos, mulheres, algumas delas grávidas, autênticas tragédias de que já não havia memória, pelo menos nas circunstâncias que envolvem estas situações dramáticas e inadmissíveis, agora em pleno século XXI.

A velha Europa Democrática, cuja Civilização Ocidental, fundada nas três grandes dimensões que são: a Filosofia Grega, o Cristianismo e o Direito Romano e, sustentada nos valores da solidariedade, da fraternidade, da liberdade, da Igualdade, da Cidadania e dos Direitos Humanos, não pode ficar indiferente a esta tragédia humana, não pode construir barreiras, nem muros, nem linhas de arame farpado, para impedir a entrada de seres humanos que sofrem na pele, o que os europeus não desejam para eles próprios.

E se há países, que desde a primeira hora, têm estado recetivos ao acolhimento destes nossos irmãos refugiados, outros não assumem o mesmo posicionamento, muito embora tenham condições económicas e infraestruturas para o fazer, porque, não obstante os “pergaminhos” tantas vezes invocados, o racismo, a xenofobia o egoísmo e o etnocentrismo, entre outras aberrações humanas, ainda prevalecem em diversos países, deste velho continente.

Cabe aqui uma breve referência a Portugal. Com efeito, o Senhor   Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, disse em 06 março 2017: «Que a chegada a Lisboa de 24 cidadãos yazidis eleva para 1.150 o número de refugiados acolhidos por Portugal no âmbito dos programas de recolocação da UE.

O governante falava aos jornalistas no aeroporto de Lisboa, momentos após reunir com o grupo de refugiados yazidis, vindos da Grécia - depois de terem fugido da perseguição do Estado Islâmico no Iraque - «e que ainda tarde vão ser instalados em Guimarães»

Eduardo Cabrita adiantou que: «há um outro grupo de 91 refugiados yazidis na Grécia que já manifestaram "opção de recolocação em Portugal" e deverão chegar em abril, sendo acolhidos em Lisboa.»

Eduardo Cabrita, acompanhado pela vereadora de Ação Social da autarquia de Guimarães, frisou que: «os refugiados são cidadãos livres e que Portugal não terá nenhuma estratégia que leve a qualquer limitação da sua liberdade de circulação».

E continuou afirmando o seguinte: «Temos um processo [de recolocação de refugiados] que é considerado uma referência no quadro europeu e da ONU", (sublinhou Eduardo Cabrita), deixando ainda uma garantia: «Não temos em Portugal campos de refugiados, nunca os iremos ter.»

«Temos um profundo envolvimento das comunidades locais, das estruturas da sociedade civil", de organismos ligados às igrejas e ainda nove dezenas de municípios que "decidiram participar neste esforço nacional de acolhimento» (realçou o então Ministro Adjunto). Eduardo Cabrita salientou ainda: «ter sido objetivo do Governo que ficasse no berço da nacionalidade o primeiro grupo" de cidadãos yazidis que desejou vir para Portugal».

Paula Oliveira, vereadora da Ação Social da Câmara de Guimarães, assegurou, por sua vez: estar «tudo preparado" para "fazer com que [os yazidis] se sintam em sua casa, em segurança e felizes».

Os 24 yazidis vão residir em habitações existentes na cidade e arredores, devidamente preparadas, e vão reunir-se regularmente nos diversos "momentos culturais e de convívio" organizados pela autarquia com o apoio do Conselho Português para os Refugiados e outras entidades locais. Sobre o grupo de 43 refugiados acolhidos em Guimarães há cerca de um ano, Paula Oliveira frisou que: «todos são "cidadãos livres" e duas dezenas deles "abandonaram voluntariamente" o projeto.» ([1]).

Os Portugueses podem orgulhar-se dos seus princípios, valores e sentimentos, porque não obstante as dificuldades que têm passado nos últimos anos, com uma austeridade caracterizada por “brutais impostos”, corte de salários, pensões e reformas, desemprego ainda muito elevado, uma economia que começa, timidamente, a arrancar positivamente, uma dívida pública muito elevada, apesar de todas estas vicissitudes, o país e o seu povo, dão uma lição ao mundo, em termos de solidariedade, tolerância, generosidade, compreensão e apoio aos que mais precisam, sem quaisquer indícios de atitudes racistas, xenófobas homofóbicas, ou outras de natureza negativa e condenáveis.

Este povo, “à beira mar plantado”, bem como os seus dirigentes, em todos os Órgãos de Soberania e respetivos Departamentos, bem pode envaidecer-se, no melhor sentido do termo, obviamente, dos novos feitos, e, tal como no passado percorreu o mundo, emigrou e sofreu, agora é a sua vez de demonstrar que é um povo grato, humilde e corajoso, mesmo com os sacrifícios que tais medidas de acolhimento possam provocar, porque primeiro é necessário ajudar, apoiar, compreender e acarinhar quem nesta fase da vida mais precisa.

Portugal é um país de construir pontes, diálogo, inclusão. Uma nação ancestral na qual os valores da generosidade, da tolerância e da solidariedade são como que a marca universal e indelével, que o identifica. Um país pequeno, pobre, mas grande em ações e rico em virtudes altruístas e comportamento humanitário.

  

“NÃO, à violência das armas; SIM, ao diálogo criativo. As Regras, são simples, para se obter a PAZ”

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Venade/Caminha – Portugal, 2022

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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([1]) http://www.dn.pt/sociedade/interior/portugal-acolhe-1150-refugiados-e-vai-receber-mais-91-yazidis-em-breve-5708121.html  

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