Portugal e o mundo atravessam um período
extremamente complicado, socialmente injusto, como há muitos anos não se
verificava. A “malfadada” crise, argumento para se cometerem muitas e
indesejáveis originalidades, vem ensombrando e dificultando, a já complexa,
vida das pessoas, de tal maneira que as doenças de natureza neuropsiquiátrica e
oncológica estão a conduzir à morte, mental e física, seja naturalmente, seja
pelo suicídio, quem não aguenta as exigências que vão sendo impostas, quase
mensalmente.
A desmotivação, o desânimo e a indignação
instalaram-se nas pessoas, nas famílias e na sociedade. Estamos perdidos, sem
rumo, num mar encapelado de sacrifícios, de sofrimento, de perdas de direitos,
adquiridos há várias décadas e, nesta tormenta de impostos colossais, muitas
pessoas não resistem e, inexoravelmente, vão-se degradando até à morte.
O povo português, provavelmente, não teria sofrido
tanto durante os primeiros anos da democracia, embora vivendo sempre, pelo
menos grande parte da população, com dificuldades diversas mas, ao que os
números oficiais apontam, nunca tantas pessoas estiveram desempregadas, nunca
tantas famílias passaram fome e a emigração começa a aumentar preocupantemente.
As estatísticas oficiais regularmente publicadas, e
no que concerne a algumas situações, nunca foram tão dramaticamente expressivas
e não são desmentidas pelas entidades competentes. Há como que uma vergonha
“encapuzada” em assumir tamanho descalabro. O desemprego é colossal, quase um
milhão de portugueses. Centenas de milhares de famílias a passar fome;
reformados e pensionistas atemorizados, sem estabilidade. Trabalhadores
sujeitos a cortes permanentes nos seus salários.
Quem pode acreditar no futuro de um país, cuja
sociedade, paulatina e irremediavelmente vem sendo delapidada dos seus bens
materiais e dos seus valores culturais? Quem estará seguro numa sociedade em
que o ataque sistemático aos mais fracos, àqueles que durante uma vida inteira,
de mais de sessenta, setenta e oitenta anos, estão a ver os seus recursos
desaparecer, os direitos adquiridos, no início de uma atividade profissional,
são retirados da noite para o dia. Quem estará seguro num país em que o que
ontem era verdade e seguro, hoje não passa de uma inverdade, de uma incerteza?
Onde estão a justiça social, a segurança do
direito, a garantia de uma velhice relativamente tranquila para a qual se
trabalhou uma vida inteira? Será justo que ao longo de uma vida sejam exigidas
determinadas comparticipações, para se auferirem os correspondentes direitos e
que, de um momento para o outro, se fique despojado de bens que se adquiriram
com sacrifícios, muito trabalho, imensa poupança? Será legítimo, justo e legal
que depois de durante uma vida inteira se tenha investido em apoios
complementares a um determinado salário, de repente tais apoios sejam,
liminarmente, retirados?
A sociedade portuguesa, na sua maioria, está a
caminhar para a pobreza extrema, para a mendicidade (situação que já no século
dezanove era proibida), para a miséria, para a fome e para a morte indigna de
quem, condignamente, trabalhou uma vida inteira, com empenho, entusiasmo e
esperança num futuro honroso e compatível com tudo quanto cada pessoa entregou
ao Estado.
Mas que Estado é este que em vez de proteger os
seus cidadãos, os ataca insensivelmente, com uma tal violência de austeridade
que já não se olha a meios para se atingirem objetivos económicos e financeiros,
que são coercivamente impostos pelos credores internacionais, nomeadamente os
mercados mundiais, imperturbáveis aos dramas da sociedade portuguesa?
Portugal é um país pobre. De facto não possui recursos
naturais que lhe permitam uma posição forte na cena internacional do grande
capital. Mas Portugal é uma nação que deve ser respeitada, que deu ao mundo
inequívocas provas da capacidade do seu povo, que nenhuma outra nação foi capaz
de igualar.
O país não pode ser visto nem tratado como o
parente pobre da Europa e do mundo, porque o seu contributo para a civilização
universal do humanismo, da cultura e dos grandes feitos, da educação
além-fronteiras e da recuperação de povos abandonados à sua sorte, para o mundo
humanizado, são factos incontornáveis, que deveriam ser valorizados, premiados
e imitados. Os Portugueses deveriam ser respeitados, acarinhados e fortemente apoiados.
Os Portugueses são um povo pacífico, trabalhador,
honesto, humilde e educado. Não se pode transformar os Portugueses em simples
números fiscais. Não podem ser tratados como elementares fontes de receita e
explorados até à exaustão, por um Estado que coloca a austeridade brutal e
injusta acima dos direitos adquiridos dos cidadãos.
E que futuro para os jovens Portugueses? Quem vai
ajudar as atuais e posteriores gerações nos próximos trinta anos, quando os
pais e avós falecerem? Para onde vai o investimento efetuado nestes jovens,
inteligentes, generosos, ávidos de colaborarem na melhoria das condições de
vida, precisamente dos seus pais e avós, mas também nas suas próprias vidas?
Estes jovens que tanto gostariam de colocar ao
serviço do seu país todas as suas competências, saberes e dinamismo, estão
condenados à possível exploração de uma eventual emigração menos adequada. Como
sofrem estes jovens e como se angustiam os seus pais, avós e a família mais
próxima. Quem é responsável por esta catástrofe humana?
E as crianças Portuguesas, que na sua ingenuidade,
ainda sorriem, ainda brincam, mesmo de “barriga vazia”, apesar de passarem
frio, apanhando chuva e vento, contraindo doenças? Que “bom” que seria
voltarmos todos, mas mesmo todos, a sermos crianças, sentirmos as dificuldades
e a fome de quem hoje já vive nesta dolorosa situação. Seria “bom”, para
valorizarmos o sofrimento dos que se encontram na mais indigna miséria.
É difícil imaginar-se um cenário tão dramático, num
país que está incluído numa Europa civilizada, desenvolvida e humanista, um
“Clube de Ricos”. Esta situação deveria constituir um libelo acusatório, contra
quem, de forma tão impiedosa e brutal, sujeita este povo dócil ao sofrimento, à
penúria, à desgraça, enfim, à redução de frios e cruéis números estatístico/fiscais.
Onde estão a honra, a glória, o prestígio e o respeito devido aos Portugueses?
Portugal tem nove séculos de história, de
fronteiras estáveis, de uma língua que é a sexta mais usada em todo o mundo,
tem cultura antropológica e intelectual, desenvolvidas, em todos os domínios:
do social ao profissional; do religioso ao laico; do económico ao financeiro;
do trabalho à empresa.
Os Portugueses merecem, e exigem, o respeito, mas é
evidente que essa deferência comece dentro das suas próprias fronteiras, entre Portugueses,
independentemente dos estatutos políticos, socioprofissionais e
económico-financeiros, porém: a defesa, a consideração e o respeito, devem
partir, indubitavelmente, de quem possui o poder, seja ele qual for, embora e
em primeira instância, daqueles que legislam, executam e fiscalizam, daqueles
que prometem uma vida digna aos seus concidadãos.
São alguns destes cidadãos, muitos deles, oriundos
do próprio povo anónimo, cujos pais e avós os ajudaram a “subir na vida”, que
agora estão contra os seus mais diretos progenitores, para obedecerem a
estranhos ao país, impondo sacrifícios insuportáveis. Tanta injustiça não é
fácil de se encontrar em muitos mais países, talvez porque uns são poderosos,
outros relativamente autónomos e outros, ainda, porque têm quem os defenda
intransigentemente.
Vive-se numa sociedade muito materializada, ávida e
cega por um poder devastador e cruel para com os mais fracos: crianças, jovens,
desempregados e reformados/pensionistas que, infelizmente, não têm o poder de
fazer parar o país, ou um setor importante das atividades económicas, porque
quanto a estes, os responsáveis vão satisfazendo as insistentes reivindicações,
algumas delas até serão justas, outras, eventualmente, nem tanto.
Portugal, sobreviverá, é certo, porque os feitos
inigualáveis, ao longo da sua história, são a garantia da vitória do povo
anónimo, para provar ao mundo de que, mesmo na miséria, temos dignidade e
seremos capazes de vencer, sem que alguém tenha de nos impor regras, exigências
desumanas, especulação e desrespeito pelos nossos mais elementares direitos.
Somos,
materialmente, pobres mas trabalhadores incansáveis, competentes, honestos,
poupados quanto baste. Precisamos é de oportunidades, de alguém que nos defenda
e esteja verdadeiramente do nosso lado, ao nosso serviço, zelando pelos nossos
interesses, pela nossa nobreza. O povo Português também sabe ser grato para com
quem o ajuda.
Estão em jogo a sobrevivência condigna das nossas
gerações: atuais e futuras, a dignidade de um povo que não é nenhum bando de
ociosos, de criminosos ou de esbanjadores de dinheiros públicos, nacionais ou
internacionais. Restituir a honra, o bom nome e a dignidade aos Portugueses,
devolvendo-lhes todos os direitos, há décadas conquistados legítima e
legalmente, é o mínimo que de imediato se deve fazer.
Claro que é preciso coragem, determinação e
sentir-se bem Português para enfrentar e, se necessário, contrariar quem,
insensivelmente, nos está a impor a brutalidade de uma austeridade cega, quem
apenas vê Portugal como um rico “paraíso” para férias, gastronomia e a hospitalidade
do seu povo.
Os Portugueses são corajosos, determinados,
práticos, “desenrascados”, saberão vencer mais esta afronta. Também não lhes
falta a esperança, a fé e a vontade de vencer esta situação dramática, em que
se encontram, mas para que isso aconteça é fundamental que estejam unidos, que
partilhem do objetivo comum de se autoprotegerem, de produzirem com qualidade,
rigor e quantidade.
A esperança em melhores dias, não nos abandona;
mostrar ao mundo que somos competentes para vencer, que temos força, inteligência,
conhecimentos, experiência, sabedoria e prudência, como os povos das nações
mais ricas e poderosas, também o sabemos fazer. Os Portugueses esperam que
alguém os ajude, compreenda, respeite e saiba esperar, no tempo e no espaço, os
resultados positivos que, sem qualquer dúvida, somos capazes de alcançar.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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