A crítica pertinente à filosofia tradicional,
elaborada por Luís Verney e exposta no “Novo
Método de Estudar”, teve grande repercussão no momento e após ele. A sua
mensagem é reelaborada durante o século XIX, com novas atitudes de ordem
filosófica, que pretendem a naturalização do espírito e a sua concomitante
explicação de tipo naturalista, ou têm em vista espiritualizar, excessivamente,
a matéria, diluindo-a em formas abstratas, herdadas ainda do Aristotelismo
medieval.
Pode afirmar-se que a Filosofia Moderna em Portugal
começa com Silvestre Pinheiro Ferreira, (1769-1846) conselheiro de D. João VI
que, em Paris, tomara direto conhecimento com as doutrinas que se elaboravam
sob a designação de “Ideologia”,
movimento esse resultante dos principais pensadores que, após a Revolução,
reorganizaram a vida intelectual francesa. Também outros nomes saídos da
Congregação do Oratório são dignos de menção, como Teodoro de Almeida,
empenhado na restituição do autêntico Aristóteles, e apaixonado cultor do que
nessa época se chamava filosofia natural.
Descortina-se, na segunda metade do séc. XIX,
quatro tendências dominantes, aparentemente irredutíveis, mas todas elas
convergentes, como tomada de consciência de atitudes afirmadas no estrangeiro:
o sensismo, o ecletismo, o tomismo e o positivismo.
A primeira tendência é assumida pelos discípulos
portugueses de Condillac, cuja “Arte de
Pensar” foi traduzida e publicada, com prefácio dirigido aos portugueses. O
ecletismo é representado por numerosa falange e continua, desse modo, a operar
os malefícios imputados ao manual do Genovense.
Trata-se, em geral, de autores didáticos, que
traduzem ou compõem os seus livros de filosofia, com conteúdos áridos e
dogmáticos, com largas mas imprecisas reputações do panteísmo, do sensualismo e
do idealismo. Cunha Rivara, em 1836, em bem documentado escrito, insurge-se
contra a insuficiência entre nós do ensino da Filosofia.
E, neste aspeto, o mesmo acontecia à corrente
tomista, sobretudo a partir da encíclica “Aeterni
Patris”, de Leão XIII, com o uso e abuso do Manual de Simbaldi. É, porém,
na segunda metade do século XIX que a Filosofia de Comte encontra numerosos
aderentes em Portugal. O positivismo passa a ser considerado como a última
palavra de toda e qualquer atitude que possa valer como filosofia nos tempos
modernos.
Teófilo
Braga e Teixeira Bastos são os principais propagadores do positivismo, e editam
a primeira revista de Filosofia em Portugal. Por influência do positivismo, a
Filosofia torna-se a síntese das ciências. Da escolástica, em nome de Deus e do
Céu, passa-se a uma escolástica filosófico-científica, em nome do homem e da
terra.
A reforma pombalina havia dado um rude golpe na
metafísica aristotélica, postulando o ensino essencial da filosofia, e o
cultivo dos seus autênticos problemas, substituindo-os pela ciência,
considerada na sua forma mais empírica e utilitária. Tratava-se de mais um
movimento de opinião orientado para objetivos políticos, do que uma explanação
filosófica.
Em contestação ao positivismo, outros autores se
afirmam e outras correntes se defendem. Domingos Tarrozo, Amorim Viana, Antero
de Quental, Cunha Seixas e Ferreira Deusdado enriquecem a temática vigente,
carreando materiais, exercitando novas formas de pensamento, proclamando novos
valores: quer defendendo o racionalismo, em oposição às atitudes motivadas por
crença irrefletida; quer propondo nova visão evolucionista do universo e do
homem; quer afirmando novas categorias de sentido dialético para a compreensão
do real e do espírito; quer organizando vasto panorama crítico e sistemático da
galeria das ciências, ordenadas lógica e sistematicamente; quer, ainda,
buscando novas formas que não separem, mas congreguem, os homens no estudo da
nova estrutura da sociedade.
Sampaio Bruno e Leonardo Coimbra, pelo significado
metafísico, antónimo do pensamento, aproveitando as críticas anteriormente
feitas por Antero de Quental e Cunha Seixas, alcançaram triunfo sobre as teses
positivistas e uma transmissão filosófica do pensamento português, desapossando
o positivismo do lugar dominador das escolas, na cultura e na política.
Seguramente que poder-se-á dizer que a filosofia no século XIX, como aliás em
séculos anteriores, oferece uma série de posições ideológicas, cuja estrutura
unitária não é patente.
E nisso consiste o seu valor e o seu significado:
busca motivada pelo amor de saber o que se ignora. As coordenadas com que este
não-saber se relaciona alteram-se com o tempo e com a pessoa, donde se conclui
que é o anseio de busca que é válido, e não o resultado da pesquisa.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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