O exercício de uma atividade profissional, em
contexto de trabalho, em equipa, implica, por parte dos seus membros, a maior
colaboração possível entre eles, tendo em vista alcançar determinados objetivos
que a todos beneficiam: instituição, empresários, trabalhadores, clientes e
fornecedores. A regra de ouro, eventualmente, entre outras, será, portanto, a
coesão da equipa, a lealdade pessoal e profissional dos seus membros.
É certo que, estará provado, a mistura entre
amizade pessoal e o relacionamento profissional não produzirá os melhores
resultados, na medida em que os contextos de relacionamento são diferentes:
enquanto uma relação, uma amizade verdadeira, leal, solidária, em princípio, deverá
ser para sempre; uma relação profissional será mantida enquanto durar o
trabalho de equipa, e/ou no seio de uma mesma instituição.
É verdade que, a partir de uma relação
profissional, permanente, se podem estabelecer laços de amizade que perduram
para além daquela circunstância, inclusive, podem resultar num enlace
matrimonial. Mas também se admite que uma relação profissional desleal provoca,
inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo, um desgaste emocional que afeta a
amizade pessoal.
A questão que se coloca é a seguinte: o que será
mais importante, uma relação pessoal de sincera amizade, com aquele amar
próprio do “Amor-de-Amigo”, em que: «Amar
outra pessoa, também significa desejar-lhe o melhor, olhar por ela, tratá-la de
forma excepcional, dar-lhe o melhor de nós mesmos. Significa a outra nossa alma
gémea da amizade sincera e dos valores a ela associados.» (cf. (ROJAS,
1994), ou uma, quantas vezes, “amizade” ou relação profissional casuística,
oportunista, interesseira, hipócrita e leviana?
Em qualquer dos contextos – pessoal, profissional,
político, social, religioso e outros – é essencial para uma boa relação a
interiorização e boas-práticas de lealdade, porque: «Ser leal é estar comprometido com algo em que acreditamos. E, se
acreditamos, queremos que continue, queremos conservar aquela crença, aquele
estado criado no grupo. A condição de estabilidade assim compreendida tem sido
fugidia.» (Ávila, 2005:12).
Epicuro, filósofo grego, nascido na Ilha de Samos, em 341
a.C., ilha grega no leste do
mar Egeu, afirmava, já ao seu tempo, que: «A
amizade e a lealdade residem numa identidade de almas raramente encontrada.» (http://pensador.uol.com.br/frase/MTI5MTk/,
consultado em 04.09.2011).
Estes dois nobilíssimos valores, - Amizade e
Lealdade - que tanto dignificam o ser humano, são indissociáveis, porque um
implica o outro, em quaisquer situações, isto é, não se pode ser amigo e
manifestar amizade pessoal e ao mesmo tempo ser-se incoerente em contexto
profissional. Poderá ser muito complexo levar para o trabalho a amizade
pessoal, na medida em que esta é um valor que não pode ser colocado ao serviço
do todo, é um sentimento que apenas diz respeito a dois amigos, os quais não
devem permitir que alguém se valha desta amizade para outros fins: influências
à custa daqueles amigos, exibições e autopromoções.
O ideal será, portanto, a ampliação, consolidação
e preservação de uma verdadeira amizade pessoal, e evitar a todo o custo que
esta venha a ser prejudicada por comportamentos profissionais inadequados e até
injustos, mantendo-se sempre, em todas as situações, uma absoluta lealdade, porque
assim se poderá conservar a confiança, a fidelidade, a cumplicidade e a coesão.
Colocar acima de um Amor-de-Amigo”, outros interesses, situações e pessoas,
poderá constituir um autêntico suicídio nas restantes relações.
A lealdade no trabalho exige reciprocidade, isto
é, a lealdade de um colaborador só se justifica se o colega adoptar idêntico
comportamento, - reciprocidade - de contrário e quando se verificar a
infidelidade, então o melhor será a desvinculação do compromisso de
retribuição, mantendo-se, todavia, relações de cordialidade, educação, respeito
e colaboração, profissionais, sob pena dos objetivos serem prejudicados e tudo
ficar em causa, incluindo postos de trabalho.
A inexistência de comportamentos leais,
solidários, cúmplices, em contexto profissional, envolve, eventualmente, um
afastamento pessoal, social e relacional fora da instituição, o que nada tem a
ver com a amizade estritamente pessoal.
Parece incompatível querer ser-se amigo e bem
relacionado fora da instituição, mas com comportamentos encapuzados no âmbito
profissional. A coerência, a verdade, a frontalidade, serão sempre a chave das
atitudes corretas e do sucesso das relações.
Claro que é difícil conciliar comportamentos,
baseados numa verdadeira amizade pessoal, com os que resultam da atividade
profissional. As barreiras a vencer, por vezes, são muitas e, aparentemente,
intransponíveis. É nestas circunstâncias que: «Aprendemos muito mais quando temos de enfrentar obstáculos pela frente,
ou quando estes não são nenhuns. Uma vida com relações difíceis, preenchida de
obstáculos e perdas, representa sempre uma oportunidade para o crescimento da
alma.» (BRIAN, 2000:64).
A componente tempo profissional, corresponde,
sensivelmente, a pouco mais do que um terço da vida de cada pessoa. Adotar
atitudes profissionais que prejudicam uma relação pessoal de amizade sincera,
revela-se improcedente, até pela razão de que muito dificilmente dois ou mais
colegas de trabalho vão conviver toda uma vida enquanto tais. Hoje, os empregos
para toda a vida são, praticamente, inexistentes, logo, não se justificam
comportamentos incorretos que afetam valores extra-profissionais.
A preservação da verdadeira amizade é, portanto,
uma prioridade em quaisquer níveis de relacionamento. Naturalmente que a
manutenção de uma amizade sincera, pura e que se deseja para toda a vida,
envolve alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, felicidade e desventura.
Mas a nossa existência humana é assim mesmo: «O sofrimento faz parte da vida e não temos
de sentir que ele acontece por termos sido nós pessoalmente a dar um passo
errado. Na realidade, aliás, quando sentimos sofrimento, pensamos que algo está
errado. Como estamos dependentes da esperança, sentimos que podemos sintonizar
a nossa experiência, animá-la ou alterá-la de algum modo e continuamos a sofrer
imenso.» (CHODRON, 2007:61).
Resulta que será incompreensível todo e qualquer
comportamento profissional que venha a agravar ainda mais a vida
extra-profissional, concluindo-se que para atenuar, ou evitar efeitos nocivos
na amizade de um ou mais colegas de trabalho, estes devem ter atitudes de
grande abertura, transparência, ajuda mútua e, principalmente, honestidade
intelectual, lealdade pessoal, comunhão, tanto quanto possível de juízos de
valor, quando justos, verdadeiros e pertinentes.
O relacionamento profissional que contrarie
determinadas regras, princípios, valores e condutas, está condenado ao
fracasso, à desilusão, à desmotivação e à improdutividade, o que, uma vez mais,
se reflete na relação de amizade pessoal, nos sentimentos de “amor-de-amigo”,
de carinho, de estima, de consideração.
Caminha-se, então, para a hipocrisia, para o
cinismo, para o “faz-de-conta”, para uma “paz-podre”, que conduz à
infelicidade, à doença, à morte psicológica e física das pessoas sobre quem recaem
os comportamentos desleais dos colegas.
A relação pessoal de amizade extra-profissional é
o “motor” que faz movimentar os mais nobres princípios, valores e sentimentos:
Amor, lealdade, companheirismo, justiça, cumplicidade, motivação, alegria,
comunhão de objetivos.
Como ideia central poder-se-á reter que a amizade
pessoal, quando assente num grande e indestrutível “Amor-de-Amigo”, jamais
deverá ser exposta e muito menos misturada com outras relações, a começar no
contexto de trabalho e noutras atividades que, de alguma forma, atraiçoem aquele
sentimento tão profundo, porque a amizade assumida entre dois amigos que,
descomplexadamente, se querem muito bem, independentemente de estatutos, faixas
etárias, património e outros valores materiais.
Por isso as relações profissionais, também estas,
devem pautar-se pela transparência, pela verdade, pela solidariedade e pela
reciprocidade e, então sim, poderá acontecer que desta surja uma relação
pessoal. O contrário, uma relação pessoal, sincera, íntima, esta no sentido da
cumplicidade, da confidência de situações que afetam os amigos, deve ser sempre
preservada e evitar recorrer a esta relação privilegiada em contextos
profissionais.
Não se devem misturar os planos, porque em
contexto profissional, as funções estão estabelecidas, é só cumprir com as regras:
cada pessoa tem as suas competências; exerce as suas capacidades o melhor que
sabe e que pode; não tem de levar para o trabalho o que é de natureza
particular e, de igual forma, não deve transportar para casa, para o seio de
amigos, as dificuldades laborais e provocar a degradação das relações pessoais.
Não se defende que tudo seja, ou deva ser,
estanque na vida. O que se preconiza é que se evite “misturar” princípios,
valores, sentimentos e emoções em quaisquer contextos. Que se acautele toda e
qualquer possibilidade de magoarmos os nossos verdadeiros amigos, aqueles de
quem temos sobejas provas de que realmente estão sempre connosco, do nosso
lado, preocupados com o nosso bem-estar. Temos de aprender a conhecer os nossos
amigos do coração e não custará nada, se realmente os queremos como amigos,
compreendê-los, considerá-los, estimá-los, acarinhá-los.
A amizade pessoal é um bem preciosíssimo. Quem tem
uma amizade profunda, com um amigo verdadeiro, seguramente que, nas dificuldades
da vida, terá sempre a seu lado uma pessoa doadora, carinhosa, meiga e que atenuará
o sofrimento, qualquer que este seja. Por tudo isto é que a relação pessoal, em
circunstância alguma poderá ser prejudicada pela ligação profissional.
Bibliografia
ÁVILA, Lauro António Lacerda de (2005).
Lealdade nas Atuais Relações de Trabalho, Vale do Rio dos Sinos - Universidade
do Vale do Rio dos Sinos, Cadernos IHU, Ano 3, Nº 14 - 2005
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um
Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa.
Cascais: Pergaminho.
CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis.
Trad. Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.
ROJAS,
Enrique, (1994). O Homem Light. Tradução Pe. Virgílio Miranda Neves. Madrid:
Ediciones Temas de Hoy, S.A.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
E-mail: bartolo.profuniv@mail.pt
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)
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