Num projeto de educação e formação, para a
cidadania plena, tão importantes como o conceito, o currículo, os objetivos e
os resultados, é o desenvolvimento pessoal, social e cultural, na perspetiva da
construção e consolidação da personalidade do cidadão, respeitando, tanto
quanto possível, a vocação própria do indivíduo, face ao que a sociedade
democrática exige.
Cada pessoa tem características específicas,
qualidades inatas, predisposição para certas tarefas, habilidades latentes que,
através da aplicação do projeto educativo ajustado, podem ser potenciadas e
rentabilizadas a favor do próprio, enquanto satisfação individual e alimento da
auto-estima, como também em benefício da comunidade que, num dado domínio, pode
assistir à resolução de problemas e situações mais difíceis.
Construir um projeto educativo, à medida de
determinadas vocações, é um objetivo nobre, que não só dignifica a instituição
escolar como enriquece todos os intervenientes na iniciativa, sejam
educadores-formadores, sejam educandos-formandos e qualquer outro pessoal fora
do contexto escolar, mas que sinta o chamamento vocacional para uma área da
intervenção educativa.
Nesta linha de orientação, o perfil do cidadão que
se pretende para os novos tempos que se avizinham, será o de um interventor
decisivo na elaboração, desenvolvimento prático e validação do projeto
vocacional, para o que, indiscutivelmente, carece de uma orientação credível e
ao longo da vida, a qual será prestada por instituições escolares dos vários
níveis do ensino/aprendizagem e formação, para o efeito dotadas dos recursos
humanos, técnicos e financeiros especificamente apropriados e compatíveis, na
medida em que nestes projetos, e no seu sucesso, se joga, em grande parte, a
felicidade, em todos os sentidos do humanamente possível, da sociedade do
futuro.
Com efeito, caminha-se para uma sociedade cada vez
mais: exigente, instruída, informada, interventora e com poderes decisórios,
porque: «Os jovens se tornam cada vez
mais exigentes na definição do seu percurso profissional, a orientação
vocacional (aqui situada em termos de educação de projectos) desempenham papel
fundamental na construção individual de um projecto de existência.»
(FONSECA, 1994:67).
Um projeto de existência, que dignifique este novo
cidadão, não só enquanto tal, como ainda enquanto pessoa humana, portadora de
princípios, valores, sentimentos, emoções, sonhos e projetos de vida,
certamente, em função da sua cultura. Que maior riqueza e benefício para um
país que, sem preconceitos xenófobos, etnocêntricos, religiosos, ideológicos ou
outros, proporciona a toda a população, autóctone ou imigrante, condições para
cada indivíduo realizar o seu projeto de vida?
Portugal e o Brasil, por exemplo, ainda que por
razões diferentes e em épocas distintas, são hoje dois exemplos vivos, onde se
encontram comunidades tão diversas quanto culturalmente ricas e produtivas.
Impor, obrigar ou exigir que tais grupos sejam uniformemente segregados, por
uma nova cultura, destruindo as culturas originais de cada etnia, grupo social
e comunidades específicas, seria um crime de lesa-cultura universal, um
verdadeiro genocídio cultural.
O património cultural que diferentes grupos étnicos
transportam consigo, e o levam para os países de acolhimento, só pode ser bem
recebido, divulgado e protegido, na medida em que será na troca de culturas, na
diversidade de tradições e na importância dos valores, que a humanidade melhor
se compreenderá e harmonizará.
Neste quadro que hoje se vive, um pouco em todo
mundo, onde a mobilidade social transnacional se desenvolve, sujeita a
restrições e controlos mais ou menos rígidos, exige-se uma intervenção bem
planeada, dirigida a estes públicos, na maior parte das vezes, completamente
desprotegidos, concedendo-lhes as oportunidades não só de se integrarem, como
também para prosseguirem com as suas tradições e desvelamento da cultura que
lhes é própria.
Chamar aqui a escola multicultural para coordenar,
incentivar e consolidar uma educação intercultural, parece uma boa medida, quer
para os nacionais, quer para os imigrantes. O sucesso na aposta da escola
multicultural depende, em primeira análise, dos nacionais residentes: sejam
técnicos docentes; sejam quaisquer outros cidadãos discentes, porque o objetivo
será, no seu resultado final, todos interiorizarem as vantagens de uma
educação, que promova e facilite o relacionamento exemplar entre indivíduos de
culturas diversas, para o que se pressupõem competências, atitudes e abertura
para conviver com situações diferentes das que eram habituais.
Com efeito: «A
competência multicultural diz respeito à ausência de preconceitos raciais ou
culturais e conhecimento de características de diferentes grupos raciais.
Implicitamente, inclui também uma consciência cultural, que diz respeito a um
indivíduo reconhecer que a forma como percepciona a realidade não é universal e
que difere profundamente da percepção que dela têm indivíduos pertencentes a
outras nações ou grupos étnicos.» (FERREIRA, 2003:140).
A capacidade técnico-pedagógica da escola
multicultural, posta ao serviço da sociedade pluricultural, é uma mais-valia na
conjugação de sinergias, em ordem à integração plena da população residente,
oriunda de outros países, todavia, outros intervenientes e parcerias são
desejáveis e que se envolvam neste processo intelectual. O intercâmbio cultural
é decisivo para um melhor relacionamento.
Bibliografia
FERREIRA, Manuela Malheiro,
(2003). Educação Intercultural,
Lisboa: Universidade Aberta.
FONSECA, António Manuel
Fonseca, (1994). Personalidade, Projectos Vocacionais e Formação Pessoal e
Social, Porto: Porto Editora
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
E-mail: bartolo.profuniv@mail.pt
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)
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