Toda e qualquer intervenção pessoal, institucional,
empresarial, política, religiosa associativa e coletiva, deve pressupor,
sempre, determinados requisitos, destacando-se, para o presente trabalho, a
competência na aplicação da Ética, no envolvimento cívico de cada pessoa na
respetiva sociedade em que se integra.
Descrita a questão por outras palavras, significa
que tal envolvimento postula valores de cidadania, compromissos
cívico-político-institucionais, mas também todos os outros, que em cada momento
o homem, por força dos vários papeis que vai desempenhando, tem o dever de
assumir, sempre a partir dos deveres e dos direitos, nos limites, estabelecidos
pela Ética.
A cidadania não impõe apenas cumprir deveres e
exercer direitos, por quaisquer processos, sem regras, sem métodos e sem
valores. Realizar e viver numa sociedade cidadã, requer dos indivíduos e das
organizações competência, considerando que:
«A cidadania é um estado de espírito e uma postura permanente que levam
pessoas a agirem, individualmente ou em grupo, com objectivos de defesa de
direitos e de cumprimento de deveres civis, sociais e profissionais. Cidadania
é para ser praticada todos os dias, em todos os lugares, em diferentes
situações com variadas finalidades. Não se pode confundir cidadania com actos
isolados e eventuais de protestos e reivindicações, muitas vezes justos, porém,
efémeros.» (RESENDE, 2000:200).
A sociedade
há de constituir-se, compativelmente, com a superior dignidade da condição
humana, impondo-se como grande desígnio universal a abolição total e imediata
de todo e qualquer tipo de discriminação, simultaneamente com a moderação dos
interesses individuais, quando colidem com os interesses coletivos; da
redistribuição dos privilégios de alguns pelo todo que integra a sociedade;
enfim, da aplicação ética da riqueza, da justiça, da educação, da saúde, do
trabalho e de todos os recursos naturais e produzidos pelo homem, bem como
daqueles que a natureza oferece ao homem, seja empresário ou trabalhador, dirigente
ou subalterno; qualquer que seja a etnia, a religião, a nacionalidade do
cidadão.
As nações, os povos e os indivíduos tendem,
naturalmente, para a liberdade, entendida esta em todos os sentidos e situações
da vida humana, concretamente, quanto às liberdades: cívica, política,
religiosa, educativa, laboral, intelectual, filosófica e tantas outras formas,
nas múltiplas dimensões humanas.
Mas a liberdade a qualquer preço, exercida sem
regras, sem limites e sem responsabilidade, termina na ditadura de uns sobre os
outros. Deseja-se, então, uma liberdade democrática, no conceito mais nobre que
a democracia pode comportar, do tipo “um
por todos e todos por um”, ou ainda no seu sentido político, igualmente
sublime, como sendo o “governo do povo,
pelo povo, com o povo e para o povo”, porém, dentro dos limites, dos
valores e princípios da cidadania.
A liberdade democrática, para uma sociedade cidadã,
exige competência dos cidadãos para a exercer. Uma liberdade com autoridade, na
medida em que: «É pela autoridade que a
liberdade política se solidariza com o bem comum; é pela liberdade das pessoas
e dos grupos que a autoridade política atinge o bem comum, subsidiário, ou
seja, não há liberdade nem autoridade isentas da funcionalidade para o bem
comum.» (SILVA, 1966:177-8).
Vivenciar e usufruir dos benefícios da cidadania,
numa sociedade democraticamente livre será, porventura, a situação que todo o
cidadão responsável e competente deseja. O cidadão moderno, culto, no sentido
antropológico que o conceito de cultura implica, capaz de utilizar, para o
bem-comum, todas as suas capacidades cognitivas, técnicas e humanas, deverá ser
formado, rapidamente, através e pelas diversas instituições da sociedade
global: família, escola, Igreja, comunicação social, comunidades, vizinhos,
empresas e até pela “Instituição” Natureza que tanto pode ensinar, quando o
homem lhe presta atenção.
A formação deste novo cidadão passa pela adoção de
soluções urgentes, que as referidas instituições, cada uma com os seus próprios
conhecimentos, experiências e recursos, pode, interdisciplinarmente,
contribuir, porque na verdade: «Urge
dinamizar o movimento de cidadania para que a sociedade cumpra suas missões de
promover – abandonando a postura de total dependência de governos salvadores da
pátria – mudanças necessárias ao desenvolvimento económico, social e
educacional do país; de construir uma civilização mais evoluída, de tornar o
país uma nação rica e forte, como permitem seus recursos, bem como a
inteligência e capacidade de trabalho de seu povo.» (RESENDE, 2000:202).
Obviamente que cada país tem seus próprios
recursos, porém, há recursos naturais que, pragmática e materialmente
considerados, proporcionam desenvolvimentos diferentes, todavia, apesar disso,
cada povo tem o recurso mais valioso que existe, traduzido no seu capital
humano, no seu engenho, habilidade e arte. Nos seus valores, usos, costumes e
tradições.
A prova verifica-se pela análise do nível de
progresso e bem-estar que países sem recursos naturais estratégicos, (petróleo,
ouro, diamantes, gás natural, madeiras preciosas, entre outros), usufruem
atualmente, com a agravante de, inclusivamente, alguns deles, serem de reduzida
dimensão territorial. Tais países apostaram na formação dos seus cidadãos, no
seu capital humano, na inteligência, na cultura, na democracia, na liberdade
responsável, na cidadania competente do seu povo.
Indiscutivelmente que são muito importantes a
educação e a formação cívica para se construir um novo mundo, moderno,
humanista: «É necessária uma educação que
favoreça o tecido da sociedade civil (ou seja, civilizada, cidadã). Que a
educação seja um lugar de encontro e empenhamento comum onde aprendamos a ser
sociedade, onde a sociedade aprenda a ser sociedade solidária. Temos de
aprender novas formas de construir a cidade dos homens.» (BERGOGLIO,
2013:86).
Bibliografia
BERGOGLIO, Jorge, Papa Francisco, (2013). O
Verdadeiro Poder é Servir. Por uma Igreja mais humilde. Um novo compromisso de
fé e de renovação social. Tradução de Maria João Vieira /Coord.), Ângelo
Santana, Margarida Mata Pereira. Braga: Publito.
RESENDE, Énio (2000). O
Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda
para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark.
SILVA, A., S.J. (1966).
Filosofia Social, Évora: Instituto de Estudos Superiores de Évora.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
E-mail:
bartolo.profuniv@mail.pt
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal:
http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)
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