Encetar, desenvolver
e concluir um diálogo, entre pessoas de culturas diferentes, utilizando,
embora, o mesmo idioma, nem sempre é fácil, inclusive, dentro de um mesmo
território, na medida em que a significação da palavra, da frase e do texto, no
seu todo, terá interpretações e repercussões diferentes, logrando proporcionar
reações igualmente diversas, o que, em algumas situações, poderá conduzir aos
denominados “mal-entendidos” e, até, a um ou outro conflito.
As relações entre
povos de latitudes diferentes, que comungam princípios, valores, e mesmo sentimentos muito específicos,
não necessariamente idênticos, de uns em relação a outros, por vezes não
produzem os resultados desejados, designadamente, quando o diálogo utiliza uma
linguagem excessivamente técnico-científica, ou sub-reptícia ou, ainda,
sofismática, isto é, vocabulário que determinadas classes socioprofissionais,
político-religiosas, económico-financeiras recorrem, por vezes, para
confundirem,
ou então, negarem o que lhes convém.
Da experiência
recolhida, aquando da passagem por S. Tomé e Príncipe, Angola, Brasil e
Moçambique, das investigações realizadas, e das opiniões auscultadas, penso que
as relações lusófonas, no seu dia-a-dia, designadamente entre os povos colonizadores e colonizados,
na sua esmagadora maioria, entendem-se melhor nos estratos sociais mais baixos,
do que nas altas esferas dos diversos poderes.
Em toda a parte do
mundo sabe-se que, em geral, o povo anónimo, não será conflituoso, nem
agressivo, pelo contrário, é brando, humilde e respeitador, naturalmente,
defensor dos seus princípios, valores, sentimentos e dos pergaminhos da sua
História, território, língua e cultura. É legítimo e justo.
Os problemas, quase
sempre, partem de algumas altas instâncias, por razões de domínio, estratégias,
quantas vezes obscuras, para atingirem objetivos e interesses, eventualmente,
inconfessáveis, sem que com isso o povo beneficie, do que quer que seja, de
resto, em algumas situações, é a parte maioritária da população que mais sofre
em muitos aspetos: integridade física, desemprego, doença, fome e morte.
Importa referir que: quer
os colonos do século XX; quer os povos colonizados, os quais, na maioria das
situações conhecidas, viviam em paz, com abundância de bens de primeira
necessidade, acasalamentos por amor, miscigenação, trabalho conjunto, de que
resultava um desenvolvimento equilibrado e sustentável, para este povo anónimo
que se relacionava, com os alegados invasores, com respeito, sendo, igualmente,
considerado e honrado.
Obviamente que esta
reflexão não pretende, em circunstância alguma, “branquear” eventuais excessos, que se tenham cometido, durante o
período colonial porque, e desde logo, a escravatura, a exploração do homem
pelo homem, os maus tratos físicos e psicológicos, certamente ocorreram em
muitas partes dos territórios ocupados, todavia, e ainda durante a permanência
dos colonos portugueses, um processo revanchista, também terá sido
implementado, não pelo povo anónimo, humilde e sacrificado que, entretanto, já
suspirava de saudade e receava por piores dias, como de facto veio a acontecer,
no pós-descolonização,
em algumas ex-colónias, devido às guerras civis, entre os movimentos políticos,
a situação piorou radicalmente.
Portugal, graças à
iniciativa dos “Capitães de Abril”, e
o apoio incondicional do povo anónimo, desencadeou uma Revolução para derrubar
um regime ditatorial que, durante quase cinquenta anos, mais exatamente, quarenta e
oito anos: oprimiu os portugueses e os povos colonizados;
perseguiu, prendeu, condenou, quantas vezes sem julgamento, nem direito a
defesa, milhares de cidadãos; obrigou, praticamente, todos os jovens em idade
militar, a irem combater para as então designadas colónias, “defender”
interesses e objetivos que não eram os do povo simples e humilde.
Posteriormente à “Revolução dos Cravos”, em 25 de abril de
1974, iniciou-se o processo conhecido pelos “3-D’s”:
Descolonizar. Democratizar. Desenvolver, agora no plano nacional. Quanto à
primeira fase deste projeto – Descolonizar -, o que hoje, se julga saber,
passados mais de quarenta e nove anos, é que a esmagadora maioria do povo:
ex-colonos e ex-colonizador,
ficou a perder. Os primeiros, porque nunca nenhum Governo os ressarciu dos
prejuízos sofridos; os segundos, porque à época, o desenvolvimento,
praticamente, estagnou.
Entretanto,
instalou-se a guerra civil entre os Movimentos de Libertação. A destruição de
bens como: infraestruturas, serviços e projetos em curso, foi quase total. A
morte de pessoas, inocentes e indefesas atingiu proporções alarmantes; durante
mais de uma década, principalmente em Angola, Moçambique e Timor. O povo
anónimo, padecia na pele, o que nunca tinha sofrido durante a vigência do
colonialismo, de resto, ainda hoje a miséria, a fome, o subdesenvolvimento, a
violência e o atraso estrutural, continuam a grassar nessas ex-colónias, para
uma parte significativa das respetivas populações.
Por outro lado, os
Portugueses, da então denominada Metrópole, começaram a ser perseguidos,
saqueados e muitos foram mortos, porque cometeram os crimes de: serem colonos
brancos; investirem nesses territórios o que venderam em Portugal; contribuírem
para o desenvolvimento das colónias. As nossas Forças Armadas, cada vez tinham
menos poder, acabando por se retirarem, digamos que à pressa, dos territórios
coloniais, como que a fugirem para não serem massacradas, uma debandada que, em
certas situações, teria sido humilhante.
O retorno à ainda então Metrópole,
dos civis nacionais e africanos autóctones, que desejaram vir, e tornarem-se
portugueses, tinham esse direito, indiscutivelmente, foi uma vergonha, pese
embora as “pontes aéreas” e a
navegação marítima, que proporcionaram a fuga, quase desordenada, de centenas
de milhares de pessoas, estimando-se que mais de meio milhão tenham sido
obrigadas a fugir, daquele “inferno”
da guerra civil, saques e assassinatos.
Milhares de
Portugueses, oriundos da então Metrópole (Portugal Continental) venderam todos
os seus bens que possuíam, para investirem nas então províncias ultramarinas,
porque governos irresponsáveis, demagógicos e prepotentes, afirmaram, ao longo
dos séculos, que aqueles espaços eram território nacional, parte integrante de
um alegado Império, que se desmoronaria como um castelo de areia.
Em boa verdade,
alguns governantes tinham a obrigação de saber que, mais cedo ou mais tarde,
Portugal seria pressionado a entregar as suas ditas colónias, aos povos que
nelas nasceram e habitavam, de resto, isto mesmo já tinha acontecido com a
independência do Brasil, em 07 de Setembro de 1822, porém, pacificamente,
sem derrame de sangue, e sem que fosse necessário expulsar os Portugueses, pelo
contrário, o povo Brasileiro, e muitos dos seus governantes, ainda acolheram
milhares de Lusitanos, que desejavam fazer vida e futuro naquele maravilhoso país.
Considero
da mais elementar justiça ético-moral, publicar uma referência elogiosa ao
Brasil, na medida em que nunca abandonou o idioma de Camões, ao qual imprimiu
uma melodia que a todos, ainda hoje, nos encanta. Povo humilde, hospitaleiro e
culto. No âmbito da Lusofonia, poder-se-á afirmar que o Brasil, com 200 anos de
independência, tem sido um irmão leal e amigo do seu “mano mais velho”.
A
propósito, Camões convida-nos a manter esta união literária, idiomática e
cultural e o que verificamos hoje, no primeiro quarto do século XXI, no que
respeita à emigração de brasileiros para Portugal, o mesmo já aconteceu no
passado, de forma inversa, por isso, os Portugueses têm a obrigação moral,
fraterna, ética e legítima, de receber os seus irmãos do Atlântico Ocidental.
Outras
grandes potências colonias: Inglaterra, França, Espanha, Holanda, cedo
verificaram que os territórios que também tinham ocupado, ilegitimamente, não
lhes pertencia e, inteligentemente, concederam as respetivas autonomias, sem grandes
conflitos. Portugal, nada aprendeu com os bons exemplos do passado, e dessas
potências.
Obviamente
que se sabia que Portugal não tinha condições para: por um lado, manter um
Império com territórios tão vastos, longínquos e distantes uns dos outros; por
outro lado, as cúpulas dos Movimentos de Libertação, organizavam-se e lutavam
pela autonomia, apoiados pelas grandes potências mundiais, principalmente:
Rússia, China e América.
A
independência dos povos africanos era, portanto, aos olhos do mundo democrático,
justa, legítima e legal, para além de desejada pelos mais altos dirigentes,
apesar do povo anónimo, ao que se julgava, não estar bem esclarecido quanto ao
futuro que os poderia esperar e que, como se viria a verificar, durante longos
anos, foi de uma autêntica tragédia humana, social, económica e cultural.
Decorridos
mais de quarenta e nove oito, no que aos então rotulados de “Retornados” diz respeito, a sua
integração no território nacional fez-se paulatinamente: com bastantes
dificuldades para uns e, também, muitas facilidades para outros, em função das
atividades que desempenhavam no alegado “Ultramar”, porque se verificou a
colocação de muitos em bons empregos; a instalação de milhares de pessoas em
hotéis e pensões; outros, porém, junto com familiares, recebendo algum apoio
monetário; finalmente, havia aqueles que, devido à idade e a terem vendido tudo
em Portugal, valeu-lhes a família e amigos.
Quanto
aos africanos autóctones, que decidiram permanecer nas suas terras, a esmagadora
maioria, não terá beneficiado, rigorosamente nada, com a descolonização e
correspondente independência dos seus países. Os conflitos, mais ou menos
latentes, entre os Movimentos de Libertação e altas individualidades, civis,
políticas e militares continuaram, a miséria aumentaria exponencialmente, fora
das grandes cidades: a subnutrição, a fome, o analfabetismo e o inerente
obscurantismo, ainda grassam.
Tive
a oportunidade de conhecer quatro países que foram colonizados por Portugal: S.
Tomé e Príncipe, Angola, Brasil e Moçambique. Os três últimos detentores de
imensas riquezas: petróleo, gás natural, ouro, diamantes, madeiras, produção
agropecuária desenvolvida, contudo, o fosso entre os extremamente ricos e os
imensamente pobres é, quase, infinito, inaceitável, injusto, imoral,
provavelmente, ilegal.
É
claro que sempre houve, em todo o mundo, e ao longo dos tempos: ricos,
remediados e pobres, todavia, quando se faz uma revolução é para melhorar as
condições e qualidade de vida do povo, em todos os sentidos. Isso não se
conseguiu, ainda, nas ex-colónias, nem em Portugal, embora no território de
Camões, tenha havido melhorias significativas, mas ainda insuficientes.
Portugal,
um recanto tranquilo da Europa Ocidental, “à
beira-mar plantado”, como dizia o poeta, em plena terceira década do século XXI, ainda
há cerca de 17 por cento da população, a maioria, idosa, a viver no limiar da
pobreza, com pensões e reformas equivalentes a menos de quinze euros por dia,
em milhares de situações, isto para não invocar as ainda centenas de milhares
de desempregados, sem quaisquer apoios, e milhares de jovens e adultos que
tiveram de emigrar.
Corresponderá toda
esta situação, em Portugal e nas ex-colónias, aos projetos que os nossos
“Capitães de Abril” de 1974 e o Povo anónimo de então, tanto desejavam, e que
acalentou esperanças na realização do programa apresentado à época: “3-D’s”:
Descolonizar, Democratizar e Desenvolver”? Continuemos, contudo, a acreditar
que, mais cedo ou mais tarde, um “D. Sebastião” surja no horizonte, que, finalmente,
as mulheres e os homens responsáveis pela condução dos países, sejam iluminados
e lutem pelo bem-comum!
Acreditamos que a situação, em vários domínios da vida nacional, está a melhorar, paulatinamente apesar de cada vez haver mais ricos e a pobreza não descolar de elevadas taxas na população. Apesar de tudo, nota-se que a partir do ano de dois mil e dezasseis, as estatísticas com repercussões no tecido empresarial e social, têm vindo a revelar alguns sinais de uma recuperação económico-financeira realista, que permitirá encarar o futuro com mais otimismo.
“NÃO,
ao ímpeto das armas; SIM, ao diálogo criativo/construtivo. Caminho para a PAZ”
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Venade/Caminha – Portugal, 2024
Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras
e Artes de Portugal
http://nalap.org/Directoria.aspx
http://diamantinobartolo.blogspot.com
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