A convivência em sociedade, hoje como sempre, é uma
tarefa complexa, de difícil equilíbrio, onde prevalecem interesses de
diferentes natureza, dimensão e intensidade; individuais, de grupo e coletivos.
Criou-se a mentalidade, adotaram-se práticas, estratégias e objetivos para cada
pessoa tentar sobreviver: umas, não abdicando de princípios, valores,
sentimentos e emoções; outras, com alguma dignidade; outras, ainda, não olhando
a meios para atingirem os fins a que se propõem, porque, para estas, mais
importante do que “Ser”, é “Ter”.
Nas três situações, admite-se e respeita-se,
concordando-se, ou não, com as atitudes coerentes com aquelas posições, embora
existam explicações para os respetivos comportamentos, mais ou menos criticáveis,
pela positiva ou pela negativa, respetivamente, em função dos métodos
utilizados por cada pessoa e, também, dos valores poderem ser idênticos ou
díspares.
Tem-se por adquirido, em largos setores da
sociedade, desde logo, em alguns nichos da política, dos negócios, do trabalho,
de que é importante, quantas vezes decisivo, “saber-conviver-com-os-outros”,
aliás, uma das quatro formas do saber: Saber-ser, Saber-estar e Saber-fazer.
Sim, é importante, mas é apenas uma parte da grandiosidade das diversas
dimensões humanas.
Claro que, como em tudo na vida, existem regras,
mínimas que sejam, uma ética que pode ser moral, religiosa, profissional,
empresarial, política, de entre outras; princípios que devem ser atendidos,
desde logo, o respeito, a consideração, a reciprocidade e também algumas
máximas, desde já, a Kantiana, segundo a qual: “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”. É
evidente de que o princípio de que nem sempre “vale tudo” deve-se ter bem
presente, principalmente quando estão em causa a dignidade humana, a
solidariedade, a amizade, a lealdade, a confiança, a consideração e estima.
Mas, na verdade: não vale tudo, quando determinadas
pessoas assumem comportamentos que colidem com interesses superiores, aos que a
pessoa pretende atingir, por processos duvidosos ou mesmo condenáveis; não vale
tudo, quando se desrespeitam as mais elementares regras da decência, da
coerência, da consideração, da estima, da honra e do bom-nome de outras pessoas
e instituições; não vale tudo, quando se pretende humilhar, desprezar,
vilipendiar e efetivar ataques pessoais, com o objetivo de denegrir a imagem, a
reputação, enfim, a dignidade de alguém.
É sabido, todavia, que nos tempos difíceis que
correm, a palavra de ordem é sobreviver, conseguir o máximo do “Ter”,
negligenciando o “Ser”, dominar o seu semelhante através de um qualquer poder;
demonstrar que se é o melhor; obter notoriedade, quantas vezes a qualquer
preço, mas sempre com o objetivo de sobreviver e, se possível, com a maior
dimensão económica, profissional, social, científica e técnica; corre-se atrás
da fama, do culto da personificação individual, do ego mais exacerbado, quiçá,
inconsciente. Vale tudo, para muito “boa gente”, desde que se consiga atingir
determinados fins.
Mas, certamente, em circunstâncias muito especiais
da vida de uma pessoa, por vezes, vale quase tudo, porém nunca vale tudo, por
exemplo, mesmo quando se luta pela vida, pela saúde, pela salvação da alma,
numa vida espiritual eterna, para os crentes. E em situações-limite, será que
vale tudo: maltratar, injuriar, difamar, desprezar, humilhar, roubar, matar? É
muito difícil dar uma resposta, mas é certo que cada pessoa decide em função da
circunstância do momento, ou de antecedentes acumulados.
Há uma expressão muito interessante, que se utiliza
com muita frequência, para justificar certos comportamentos: “o que importa é levar a vida”, “dar-se bem com todos”, como diz a
sabedoria popular: ”dizer amem, com Deus
e com o Diabo”, ideia que, de alguma forma, tem implícita a atitude do
“vale tudo”, seja nas relações laborais, também na política, nos negócios e,
deploravelmente, nas relações pessoais. Mas ainda há quem defenda uma tal
posição.
É claro que quem assim procede, deverá saber que,
mais tarde ou mais cedo, acabará por enveredar por práticas ambíguas,
descredibilizadas e que, tais pessoas, acabam por perder o respeito e a
confiança que nelas ainda se depositava, na medida em que quem pratica vários
“jogos”, em simultâneo, corre o risco de os perder todos. Mais vale um amigo
para a vida, do que mil para nos bajularem, quando de nós precisam ou em
conjunturas especiais, para eles.
A confiança em alguém só se adquire quando se tem a
certeza de que, quaisquer que sejam as circunstâncias, se pode contar, firme e
inequivocamente, com essa pessoa, para o bem e para o mal, na alegria e na
tristeza, nos sucessos e nos fracassos, na felicidade e no infortúnio.
É difícil confiar numa pessoa, quando ela se
relaciona muito bem com outras pessoas que nos são particularmente indesejáveis
e que nos deixam desconfortáveis. É verdade que toda a gente tem, pelo menos,
uma pessoa, supostamente, amiga, ou até muitas outras alegadas amizades, que
cada amigo, por sua vez, tem outro amigo, e que numa relação alargada haverá
alguém que não é meu amigo, mas amigo do meu amigo, ou vice-versa!
Se por um lado devemos aceitar o princípio, segundo
qual: “o amigo do meu amigo, meu amigo é”, correlativamente, o contrário também
devemos adotar, isto é: “O amigo do meu inimigo, meu inimigo é”. Então como se
deverá proceder? Pode-se confiar num amigo que por sua vez é amigo de um nosso
inimigo, ou pelo menos num nosso adversário, concorrente? Muito difícil de
resolver, não é?
O “Saber-conviver-com-os-outros” implica regras,
críticas, escolhas, assertividade. Ao longo da vida sempre haverá “faturas para
pagar”, precisamente em função do que adquirimos, no mundo das relações
humanas. Obviamente que se nos colocarmos do lado dos “gregos”, ficamos contra
os “troianos”; mas se tentamos ajudar aos dois, e ambos vêm a ter conhecimento
da nossa posição, o mais certo é sermos indesejados por eles e jamais obtermos
a sua confiança.
Igualmente,
ficaremos com a certeza de que nunca vamos poder beneficiar de algum favor de
um dos lados, porque, uma vez mais, não se pode favorecer o amigo do meu
adversário. A solidariedade, a amizade, a lealdade e a reciprocidade, em
relação a uma das partes, revela: coerência, confiança, honradez, caráter,
verticalidade e dignidade.
Neste ponto da reflexão, a questão central que se
nos coloca é saber em quem podemos confiar? Pode-se confiar em alguém, ao ponto
de se divulgar a nossa vida, os n ossos valores, sentimentos, emoções, desejos,
projetos, problemas, até os mais íntimos, com a certeza de que as informações,
os desabafos, ficam com esse alguém que, em princípio, consideramos, por
exemplo, o nosso único, especial e maior amigo?
Existem, de facto, amigos íntimos, verdadeiros,
incondicionais em quem possamos confiar? Em situações-limite, em que há
interesses idênticos, em beneficiar de uma determinada oportunidade, pode-se
contar com o apoio claro desse amigo, que consideramos verdadeiro? Ou, pelo
contrário, haverá situações muito complexas, que nem ao nosso “amigo especial”
se pode dar a conhecer?
Bom, das duas, uma: ou se tem um amigo verdadeiro,
puro, incondicional, especial, e nele se pode confiar totalmente; ou apenas
temos um amigo que o é enquanto lhe convier e que, em certas circunstâncias,
abandona o amigo para se relacionar com outros alegados amigos, para obter
determinados proveitos, ficando, praticamente, contra o primeiro!
Nesta última hipótese, este é o “amigo” em quem não
se pode confiar, porque nos troca, sempre que a situação lhe convém. O amigo
autêntico, solidário, leal, que está permanentemente do nosso lado, aquele que
por nós tem um genuíno “Amor-de-Amigo”, é o mesmo que sabe colocar todas as
situações no seu devido lugar e que, até espera do amigo todo o apoio quando
precisa de resolver algum problema mais complicado, incluindo aspetos do foro
íntimo.
Rejeitar um amigo, trocando-o ou substituindo-o por
outros interesses, situações e pessoas, não é próprio de quem se diz amigo e
pode conduzir, inclusivamente, a grande dor, sofrimento, desgosto e morte de
quem é vítima da deslealdade de uma pessoa em quem se confiou tudo, em quem se
acreditou, de quem se gostou sinceramente.
A vida em sociedade, cada vez mais, pressiona as
pessoas para terem de conviver com todas as outras, se quiserem ter algum
sucesso, numa qualquer atividade, quantas vezes, até para manter um relacionamento
que convém, para se atingir determinados objetivos. Infelizmente, o
“Saber-conviver-com-os-outros” pode transformar-se numa perigosa hipocrisia, em
complicadas deslealdades, em faltas de solidariedade e numa pseudo-amizade, de
inaceitável conveniência. Então e uma vez mais, em quem podemos confiar?
Devemos acreditar que temos capacidade, e vontade,
para sermos verdadeiros amigos de outras pessoas, e que estas, de igual forma,
podem retribuir, com a mesma sinceridade, amabilidade e consideração, incondicionalmente,
a nossa amizade, assumindo atitudes de clara, inequívoca e permanente
solidariedade, amizade, lealdade, confiança e disponibilidade constante para
estar ao nosso lado, com valores, sentimentos, atitudes, objetivos e métodos
idênticos, tal como nós nos revelamos e procedemos para e com essa pessoa.
Funciona o princípio da reciprocidade voluntária.
O
mais importante, hoje em dia, é termos um Amigo do Coração, especial,
responsável por promessas de “Amor-de-Amigo”,
para sempre, juras de solidariedade, de amizade, de lealdade, do: “estar do seu lado” e nunca do lado do “Amo e do Servo”, ou “em cima do muro”, por isso, desejamos
muito este amigo exclusivo, verdadeiro, incondicional. Mas esse amigo existe e
todos nós poderemos ter a oportunidade de ganhar um amigo assim, o que é um
privilégio, diria mesmo, uma Dádiva Divina e que, por isso mesmo, tudo, mesmo
tudo, deveremos fazer para nunca o perder.
Como
é maravilhoso, então, podermos ouvir de uma pessoa que consideramos nossa
verdadeira amiga, frases como: «Querido
Amigo, a minha amizade por si continua a mesma, não estou do lado de Deus e do
Diabo ao mesmo tempo, estou sempre do mesmo lado (Deus), em particular do seu,
poderá sempre contar comigo, seja a nível pessoal, familiar ou profissional em
projetos futuros. Também lhe lanço um desafio, aguardo que no próximo ano lance
um Manual de Ciências Sociais (por um especialista em CS)! Aguardo este manual
e outros livros que venha a comunicar! Obrigado pela sua amizade pura, sincera
e incondicional. Muitos beijos para um amigo especial!».
É
de um amigo puro que precisamos. Um amigo, com as dimensões já identificadas, é
suficiente para sermos felizes no campo da amizade. Quem conseguir conquistar e
consolidar um amigo destes, não morrerá sozinho no hospital, nem na cadeia, nem
no infortúnio e terá as dificuldades da vida muito amenizadas.
Eu
quero um amigo destes! Onde encontrá-lo? Onde estás amigo especial? Eu sei onde
está: tal amigo reside em quem me quer bem, em quem me é solidário, naquela
pessoa que me tem amizade, que me é leal, que confia em mim e que,
inequivocamente, está incondicionalmente do meu lado, tanto: na alegria, na
felicidade, na prosperidade; como na tristeza, na adversidade e nas
contrariedades da vida. Esse amigo existe, certamente, e eu acredito nele.
Podemos e devemos confiar em quem acredita em nós,
em quem nos pede opiniões, em quem nos dá sugestões, em quem partilha connosco
as alegrias e tristezas, êxitos e malogros, projetos, conhecimentos,
relacionamento aberto, sincero e que, acima de tudo, não pactua com quem nos
ofende, com quem nos humilha, com quem nos explora, enfim, com quem não é por
nós desejado, estimado e considerado.
Queremos confiar em quem nos critica para nos
corrigirmos e para nos defendermos dos “lobos disfarçados de cordeiros”.
Queremos confiar em quem se preocupa connosco: na saúde/doença, no
trabalho/desemprego, na riqueza/pobreza. Queremos confiar em quem nos incentiva
para o sucesso, em quem acredita nas nossas potencialidades, em quem nos confia
sonhos, aspirações, projetos, dificuldades, problemas, os mais íntimos, ao
nível da família mais restrita, mas também noutros contextos.
Queremos confiar em quem nos pede que façamos parte
da sua própria família, sem reservas. Queremos confiar em quem temos estima,
consideração e amizade sincera. Queremos confiar em quem nos dirige uma palavra
de carinho, um sorriso de ternura, um gesto solidário, leal, amigo. Nestas
condições é possível confiar em alguém, sim.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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